O Fantasma de Botujuru - Artigo
Artigo
O Fantasma de Botujuru é uma lenda sobre
o fantasma de
um engenheiro assassinado,
Henry J. Beeck, que supostamente assombraria parte da linha
7- Rubi da CPTM, mais
especificamente o túnel entre as estações de Francisco Morato e Botujuru. A
lenda é baseada em diversos fatos reais, contando, por exemplo, com uma
placa in memoriam colocada em uma das entradas do túnel.
A lenda diz que quando a ferrovia estava sendo construída, a
construção do túnel de Botujuru era chefiada pelo engenheiro chefe Henry
J. Beeck, inglês e empregado da São Paulo Railway. Conta-se que o
sistema de trabalho imposto por Beeck era particularmente enérgico, sendo
pequenas faltas dos empregados punidas com medidas disciplinares, humilhações e
ofensas pessoais. A maneira de Beeck lidar com os trabalhadores levou o
engenheiro a ser odiado por todos que trabalhavam em sua equipe. A raiva dos
funcionários levou ao sentimento de vingança e a um complô para eliminar o chefe
que tanto os atormentava. Finalmente, no dia 23 de abril de 1898, os
trabalhadores teriam realizado uma emboscada e, próximo ao túnel, o engenheiro
teria sido surpreendido e assassinado a sangue frio. Depois do assassinato, os
trabalhadores teriam enterrado seu corpo na mata. Existem diferentes versões para o paradeiro do corpo do engenheiro, uma delas diz que o corpo nunca foi
encontrado. Outra de que o corpo foi encontrado e posteriormente
sepultado ao lado do leito da linha férrea, onde hoje existe uma lápide com
o nome do engenheiro e na entrada do túnel um local para serem colocadas velas
para a alma atormentada. Diz-se ainda que, devido ao crime
bárbaro, desde de datas antigas, fatos sombrios ocorrem na região do Túnel
de Botujuru. Ainda hoje, em altas horas da noite, pessoas relatam
ouvir os ruídos das batidas de uma pá contra a terra, gemidos e o barulho de um
corpo caindo em uma cova. Outros relatos dizem que no trecho compreendido pelo
túnel de Botujuru, em noites com muita neblina, pode ser visto o vulto de Beeck, que flutua sobre o leito da ferrovia, como se estivesse procurando por algo ou
inspecionando a ferrovia. O mesmo vulto já foi
visto parado na entrada no túnel, como se vigiasse a entrada e as pessoas que
adentram o local.
Assim como várias lendas, a lenda do engenheiro assassinado é
baseado em fatos reais. Na entrada do túnel, ao lado da linha férrea, existe
uma lápide onde lê-se em inglês, “In Memorian - Henry J. Beeg -
Assassinated April 23, 1898”.
Embora a datada de 1898 seja bem posterior à construção da
ferrovia (foi finalizada em 1867) e não corrobore a versão do engenheiro
supervisionando a construção, de fato, no final do século XIX, o Túnel de
Botujuru, então conhecido como Túnel Belém, passou por uma duplicação, sendo
construído um segundo túnel paralelo ao original. E, assim como na
lenda, havia um o engenheiro inglês responsável pela obra chamado Henry J. Beeg
e não "Henry Beeck". Outro fato que bate com a lenda é o
assassinato deste engenheiro por um funcionário, possivelmente motivado por
atritos trabalhistas. Beeg foi morto em seu escritório, próximo ao túnel, com
um tiro no tórax e outro na cabeça, na noite de 23 de abril de 1898. O inquérito
do crime apontou o italiano Antônio Madaloni, que trabalhava como carpinteiro
pro-empreitada, como possível autor. Segundo uma notícia veiculada no
jornal Estado
de São Paulo, a investigação constatou que antes do assassinato Beeg havia
demitido Madaloni e cancelado o contrato de empreitada sem qualquer
ressarcimento e uma espingarda encontrada próxima a cena do crime foi apontada
por pessoas interrogadas como sendo pertencente ao empregado demitido.
Ao contrário do que diz a lenda o corpo do engenheiro foi
encontrado e levado a São Paulo.
Outro fato que corrobora a lenda é a ocorrência de vários
acidentes fatais durante a construção do túnel, situação que indica condições
de trabalho precárias.
A São Paulo Railway foi a primeira estrada de ferro construída
no Estado de São Paulo, entre 1862 e 1867, por investidores ingleses. Tinha
inicialmente como um de seus maiores acionistas o Barão de Mauá. Ligando
Jundiaí a Santos, transportou durante muitos anos o café produzido no Estado e
outras mercadorias, além de passageiros do interior para o porto, sendo um
verdadeiro funil que atravessava a cidade de São Paulo de norte a sul.
Outro fato que colabora com a lenda é a ocorrência de vários
acidentes fatais durante a construção do túnel, além dos que acontecem ali até
os dias de hoje. Frequentemente se lê nos jornais notícias sobre corpos
encontrados naquela área. Devido a esses fatos, dizem que o túnel é amaldiçoado e que o
engenheiro chefe é o responsável por estas mortes; que faz isso por vingança ao
que aconteceu a ele, e que seu espectro vaga eternamente pelo túnel atrás dos
vivos.
Texto do relatório oficial da São Paulo Railway de 25/04/1898:
“ Para evitar o perigo de um eventual colapso do túnel, que
resultaria na paralisação completa do tráfego, foi resolvido injetar-se com uma
bomba comum, argamassa de cimento puro e água, na proporção de 1:10, com a
densidade homogeneizada por meio de um misturador com palhetas de madeira,
construídos no local.
Este serviço foi executado à noite, pois na época não havia
tráfego noturno e deu excelentes resultados, mas perdurou por todo o mês de
agosto de 1897. A referida parede transformou-se num bloco monolítico com
aproximadamente 30m de comprimento, e a saliência surgida foi cortada à
ponteiros, restabelecendo-se o gabarito primitivo do túnel velho.
Após esse fato, foram tomadas as necessárias precauções para
que outros acidentes dessa natureza fossem evitados e, mesmo na parte em pedra
do lado de Jundiaí, onde estava se procedendo ao alargamento do túnel novo,
intimou-se a firma contratada a empregar três cartuchos de dinamite em cada
mina, no máximo.
A princípio, os empreiteiros protestaram alegando que isso lhes
causaria prejuízos e, em lugar de pleitear cavalheiristicamente um reajuste de
preços que compensasse os efeitos daquela restrição, continuaram a empregar
maior número de cartuchos do que havia sido recomendado.
Então o Engº Beeg nomeou um fiscal para obrigá-los ao
cumprimento da ordem restritiva que havia sido emitida. De nada valeu, no
entanto, esta última medida e o Engenheiro, cansado das burlas dos empreiteiros
e evitar que algo anormal pudesse acontecer ao túnel velho, veio à São Paulo e
conseguiu do Engenheiro Chefe a rescisão de contrato com a firma referida, e a
continuação do serviço por administração utilizando o mesmo pessoal da ex-empresa.
Jubilante de satisfação, retornou o Engenheiro ao acampamento
e, reunindo seus auxiliares explicou a situação pedindo a cada um que
auxiliasse na execução da tarefa.
Isso se deu no fim de março de 1898 e a firma Cassina &
Madaloni recebeu prazo de 15 dias para liquidar os seus negócios e retirar-se
do acampamento.
O serviço não ficou prejudicado no princípio, apesar de terem
continuado a trabalhar todos os empregados do sócio Antônio Madaloni, mas, a
seguir, incitados pelo ex-patrão, começaram a dar sinais de negligência em
todos os setores de trabalho.
Como estava em jogo o brio de ambas as partes, foi dispensada
uma parcela do pessoal culpado e engajados novos elementos.
Tal fato dava assim, a certeza à ex-firma que o caso estava
liquidado e exacerbou o sócio Antônio Madaloni que, cego de ódio, planejou a
eliminação do Engenheiro Beeg.
Às 20 horas da noite de 23 de abril de 1898, o citado
indivíduo, da crista do corte fronteiriço ao barracão de madeira situado junto
ao poste do Km 122, que servia de escritório, alvejou o Engenheiro com uma
espingarda de caça, carregada com chumbo grosso, no momento em que ele estava
parado à porta, falecendo na hora..."
Seu corpo foi enterrado com honras da Diretoria da São Paulo
Railway no local de sua morte, próximo ao Túnel no qual exerceu com
determinação o seu último trabalho.
Nota do blog: As versões estão acima. Acreditar é por conta de cada um...