Divisa dos Municípios de Mariana e Ouro Preto - MG
Faz parte do livro "Viagem Pitoresca Através do Brasil", Gravura 71
Gravura
A obra “Lavagem do minério de ouro”, de Rugendas é a mais detalhada e importante imagem da atividade mineradora de Minas Gerais do início do século XIX. Por isso, ela merece uma leitura visual mais cuidadosa que permita explorar mais a fundo suas informações.
A imagem mostra a extração aurífera em uma lavra na qual o trabalho é organizado em grande escala com aparelhamento para a lavagem do ouro. Cerca de 30 escravos trabalham na lavra sob o olhar atento de 7 ou 8 feitores brancos, uma vigilância rigorosa para evitar que os escravos roubassem o proprietário da lavra.
A lavra situa-se na região montanhosa de Minas Gerais, nas proximidades das cidades de Mariana e Ouro Preto (antiga Vila Rica).
O pico do Itacolomi, com 1.772 metros de altitude, o ponto mais alto da Serra do Espinhaço, era chamado de “Farol dos Bandeirantes” pois servia de referência para os antigos viajantes da Estrada Real que ali passavam a caminho das Minas Gerais.
A região é repleta de nascentes, rios e cachoeiras em meio à densa vegetação da Mata Atlântica.
O ouro é de aluvião, encontrado em meio ao cascalho, areia e argila que se forma nas margens ou na foz dos rios.
Na imagem de Rugendas, vê-se dois locais de exploração do ouro de aluvião: no canal escavado, em primeiro plano, e na área alagada pela cachoeira, no fundo à esquerda. Há, também, um terceiro ponto, na encosta da montanha, onde foi escavada uma galeria para extrair ouro incrustado na rocha.
Rugendas descreve a cena da seguinte maneira : "Escavam-se longos canais condutores a fim de trazer a água até o lugar que se deseja explorar. Gradis aí colocados retêm as pedras mais grossas, deixando passar, com a água, a areia e o pedregulho ou cascalho. Esses reservatórios, chamados mundéus, são constantemente remexidos para que o ouro, se purifique e, ao depositar-se no fundo, esvazia-se a água a qual carrega o cascalho. Pode-se também recolher o ouro, ou melhor a areia aurífera, em couros de bois ou cobertores de lã grosseira sobre os quais o minério é depositado pelas águas vindas da montanha. [Os faiscadores] entram na água até a cintura e recolhem a areia do rio numa bateia. Remexendo a bateia à superfície da água, deixa-se sair a terra e o cascalho, ficando o ouro, mais pesado, no fundo cônico da bateia. Outros faiscadores preferem amontoar a areia dos rios, fazendo correr por cima um pouco de água para retirar as partes mais leves. O restante é levado para uma panela chata; aí lava-se e remexe-se esse amontoado de areia, fazendo-o passar por cima de um couro de boi; finalmente tudo é colocado de novo em uma gamela para uma última lavagem.
Em primeiro plano, à esquerda, um escravo mergulha um grande de couro na água do reservatório. O couro será depois batido – como se vê à direita – para soltar as pedrinhas de ouro que se prenderam a ele. O ouro extraído é pesado e se for de bom peso, a descoberta é comemorada como parece indicar a cena em segundo plano, à direita. Mais ao fundo, há duas negras com uma gamela ou tabuleiro à cabeça. O trabalho nas minas era masculino mas era comum negras, em geral libertas, circularem nos arraiais de mineração vendendo doces, frutas, queijo, fumo etc. Eram as chamadas “negras de tabuleiro” ou “quitanteiras” que vendiam suas mercadorias recebendo em ouro e diamantes, o que permitiu a muitas delas acumular uma certa fortuna e adquirir bens, inclusive escravos".
O apogeu da mineração no Brasil Colonial ocorreu na primeira metade do século XVIII, alcançado seu ponto máximo em torno de 1760.
O ouro provocou grandes transformações na colônia contribuindo para o povoamento do interior e o crescimento demográfico do Brasil.
Levou à fundação de numerosas vilas e cidades e, com elas, a proliferação de mercadores, artesãos, taberneiros, boticários, cirurgiões-barbeiros, tropeiros etc.
O ouro permitiu construir igrejas imponentes e revestiu seus altares e tetos. Mas enriqueceu poucos. A riqueza acabou se acumulando de fato nas mãos dos comerciantes, locais e forasteiros. A pobreza marcou a sociedade mineradora.
Esgotadas as minas, o declínio foi relativamente rápido e, em 1780, a renda da mineração era menos da metade do que fora no auge.
A queda da extração aurífera, contudo, não acarretou uma decadência econômica, como afirmava a visão tradicional.
A economia mineira, a partir da segunda metade do século XVIII, diversificou-se com a produção de alimentos, atividades artesanais e um vigoroso comércio.
A produção de carnes, derivados da cana-de-açúcar e do leite, milho entre outros alimentos cresceu a partir das necessidades de abastecimento, oferecendo importantes oportunidades comerciais.
Além disso, a extração de ouro e diamantes não desapareceu, sua produção diminuiu sem dúvida, mas as lavras continuaram sendo exploradas e muitos faiscadores ainda lançavam suas bateias nos riachos.
Foi essa situação que Rugendas encontrou em Minas Gerais quando ali esteve por volta de 1824.
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