Sabonete Phebo, o Último Resquício de Civilização em um Mundo de Barbárie
Artigo
O homem ao meio da selvageria
apega-se ao último sinal de refinamento como uma criança aperta contra o peito
seu bichinho de pelúcia favorito. Na mão do homem, bem guardado pelos dedos
cerrados, repousa um sabonete Phebo. Sem dúvida a "magnum
opus" da Granado Pharmacia, empresa responsável pelo sabonete entre dezenas
de produtos, o Phebo é uma joia rara no comércio brasileiro. Sua linha
mediterrânea (“Figo da Turquia”, “Tuberosa do Egito”, Alfazema Provençal”,
“Cedro do Marrocos” e “Limão Siciliano”) transcende a responsabilidade com a
higiene pessoal do corpo, da virilha, do bumbum e atrás da orelha. Os sabonetes
Phebo são uma viagem no tempo, são o cheiro de avós, uma homenagem à tradição.
O tipo de sabão que ultrapassa a pele e limpa até a alma.
Eu não vou julgar se, na intimidade do box
embaçado, você abrir a boca e morder o Phebo. Morde, vai. Mastiga. Sob efeito
do Phebo, você se transporta dessa miséria, do aluguel, dos boletos de contas
empilhados em cima da escrivaninha (cheia de adesivos de marcas de skate) que
você tem desde os 14 anos. Sob efeito de Phebo, você vira um barão balonista
voando pelos ares cantarolando uma melodia do Rimsky-Korsakov. Só a caixinha
dos sabonetes Phebo já é mais elegante e sofisticada que a maioria dos itens de
decoração das nossas casas.
Disco de vinil na parede é o
equivalente decorativo do blazer com camiseta de cultura pop, um equívoco
assustadoramente popular que deixa seu quarto com cara de bar de rock do
interior. Outro cenário recorrente: alguém critica Romero Britto e você pensa “caraio,que artista
de altíssimo calibre intelectual essa pessoa gosta? Rothko? J.M.W. Tuner?” e aí
descobre que ela coleciona toy art, boneco, bonecrinho, hominho. A arte em
E.V.A., mesmo feia, é a menos pior das três, pois já estimulava o lado criativo
da sua tia-avó anos antes da popularização do livro para colorir de adultos. O
fato é que E.V.A., disco de vinil ou toy art: nada chega perto da elegância
tradicional da embalagem do sabonete Phebo.
Talvez seja a classe média impregnada no meu
sangue, mas Ph com som de F é a coisa mais chic que existe, ainda
mais com essa fonte. E a ilustração botânica? O obsoleto ofício que uniu a
ciência e arte repousa agora lindo e melancólico em uma caixa de sabonete.
O produto de 100g custa 3,50
reais e dura entre duas semanas e um mês, um mês e meio, dependendo do seu
comprometimento com a higiene. O preço é um pouco acima da média do mercado,
mas vale completamente. Qual suas outras opções? O exagero clean do sabonete
Dove? A funcionalidade sem charme do Protex?
Mas para o Phebo ser considerado um real
agente da civilização ele não deveria oferecer algo além do que más línguas
reduziriam apenas como “um cheirinho de gente velha”? Pois ele oferece. O
crescimento desenfreado da população é a principal ameaça ecológica e econômica
dos nossos tempos, uma bomba populacional que explode gradualmente e vai
eliminando os recursos do planeta enquanto desencadeia uma variedade de
catástrofes climáticas. O Phebo é a solução.
A média do tempo de banho recomendado por
autoridades em racionamento é 5 minutos. 5 minutos é inviável para ter a viagem
astral consequente do Phebo. Phebo não é sobre cheirar bem, sobre ficar limpo.
É sobre a experiência. Mas você não quer ser um colaborador na destruição da
Terra. O que fazer? Deixar de ter filhos para poder tomar banhos mais longos na
companhia do Phebo.
Uma pessoa gasta 12 litros a
cada 2 minutos de banho. 2.400 litros por mês. A média de gasto numa vida é
2.160.000,00 milhões de litros d’água. Se você não tiver filhos, você
instantaneamente ganha 360 mil minutos extras para tomar banhos longos sem culpa,
sem remorso, entregue ao Phebo, dignificando sua existência. Eu abriria mão de
um filho por mais tempo com o Phebo. Eu tenho certeza que você também.
Alexander Fleming ganhou um Prêmio Nobel em 1945 pela descoberta da penicilina,
diminuindo a mortalidade em 300%, sendo, de certo modo, responsável pelo boom populacional
e pela crise hídrica em que vivemos. Quantos prêmios Nobel os sabonetes Phebo
merecem por solucioná-la?
Fonte : https://resenhado.com.br/sabonete-phebo-o-%C3%BAltimo-resqu%C3%ADcio-de-civiliza%C3%A7%C3%A3o-em-um-mundo-de-barb%C3%A1rie-2cc713036497#.corkcrmg0