Rio de Janeiro - RJ
Faz Parte do livro "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, Volume 3", P. 64
Gravura
Texto 1:
O dia 12 de agosto de 1816 é um marco para o ensino das artes no Brasil. Nessa data, um decreto de d. João VI criou a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. Com essa medida, a educação artística foi oficialmente implantada em nosso país.
A fundação da escola estava inserida nos esforços para estabelecer instituições aos moldes europeus no Brasil, recém-elevado à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves. Mas a Escola só começou a funcionar após a independência. A instalação definitiva ocorreu em 5 de novembro de 1826, quando recebeu o nome de Academia Imperial de Belas Artes.
O corpo de professores foi formado por um grupo de artistas que ficou conhecido como “Missão Francesa”, que incluía nomes como Jean-Baptiste Debret, Nicolas-Antoine Taunay e Grandjean de Montigny.
Com a República, a Academia Imperial de Belas Artes passou a se chamar Escola Nacional de Belas Artes (ENBA). Em 1931, a instituição foi incorporada à Universidade do Rio de Janeiro, que se tornou a Universidade do Brasil em 1937. Em 1965, a Universidade do Brasil foi renomeada Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a ENBA passou a se chamar Escola de Belas Artes (EBA).
Texto 2:
A Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios foi criada pelo decreto de 12 de agosto de 1816, com a finalidade de promover e difundir o ensino de conhecimentos considerados como indispensáveis para a “comodidade e civilização dos povos”, abrangendo áreas como agricultura, mineralogia, indústria e comércio.
Os estudos realizados na escola eram voltados para as atividades cuja prática e utilidade dependiam de conhecimentos teóricos das artes e das ciências naturais, físicas e exatas. Para isso, foram empregados alguns profissionais estrangeiros que, segundo o decreto mencionado, buscaram a proteção real de d. João para se dedicarem ao ensino. Na relação que acompanhou o ato figuravam os nomes de Joaquim Lebreton, Pedro Dellon, Jean-Baptiste Debret, pintor histórico, Nicolas-Antoine Taunay, pintor, Auguste-Marie Taunay, escultor,Auguste-Henri-Victor Grandjean de Montigny, arquiteto, Charles-Simon Pradier, gravador, François Ovide, professor de mecânica, Charles-Henri Levasseur, Louis Meunié e François Bonrepos, com as respectivas pensões que seriam concedidas pela Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra.
Em razão dos acontecimentos políticos na França após a derrota de Napoleão em Waterloo, em 1815, vários artistas e pessoas ligadas à arte e aos serviços oficiais do governo francês buscaram outros meios para desenvolver seus trabalhos, como o secretário perpétuo da Classe de Belas Artes do Instituto da França e administrador das Obras de Arte no Museu do Louvre, Joaquim Lebreton. Após conhecer os relatos de Alexander Humboldt, correspondente estrangeiro do instituto, sobre a possibilidade de progresso artístico na América portuguesa, Lebreton propôs ao marquês de Marialva, d. Pedro José Joaquim Vito de Menezes Coutinho, representante de Portugal em Paris, um plano para o estabelecimento de uma Academia de Belas Artes no Brasil.
Depois de muitas negociações com representantes brasileiros, Lebreton e um conjunto de profissionais por ele recrutados viajaram para o Brasil, sendo acolhidos por Antônio de Araújo e Azevedo, conde da Barca , que intercedeu pela criação da escola junto ao príncipe regente. Nesse primeiro grupo, ainda foram incorporados o mestre-serralheiro Nicolas Magliori Enout, o mestre-ferreiro Jean-Baptiste Level, os carpinteiros e armadores de carros Louis-Joseph Roy e Hippolyte Roy, e os surradores de peles e curtidores Pilité e Fabre.
A ideia de organizar uma escola que abrigasse estudos científicos, de belas-artes e de ofícios mecânicos estava de acordo com a indistinção que havia, no início do século XIX, entre as belas-artes e as artes mecânicas, e com a valorização das artes relacionadas aos ofícios. Os estudos desses diversos campos do saber destinavam-se a atender os interesses do Estado, com o objetivo de preparar homens para os empregos públicos, além de formar especialistas em atividades técnicas como construção naval e arquitetura, até então inexistentes no Brasil. O projeto inicial de Lebreton visava estabelecer no país uma instituição nos moldes franceses dos séculos XVII e XVIII. Contudo, o decreto de 1816 não chegou a ser implantado e a escola não funcionou, levando os profissionais a lecionarem para um reduzido número de alunos ou a procurarem outras atividades sob proteção régia.
Posteriormente, o decreto de 23 de novembro de 1820 mandou estabelecer a Real Academia de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil, afastando-se do projeto inicial de 1816, que abrangia mais áreas de conhecimento. Determinava-se que os lugares de professores e substitutos seriam ocupados pelos artistas estrangeiros que recebiam pensão oficial, por aqueles que se distinguissem no exercício e perfeição das referidas artes, e mais pessoas necessárias, cujos trabalhos e ensino seriam realizados em conformidade com os estatutos, que não chegariam a ser expedidos.
No entanto, na mesma data, um novo decreto mandou principiar com outro nome – Academia das Artes – as aulas de pintura, desenho, escultura e gravura previstas pelo decreto de 12 de agosto de 1816, estabelecendo, ainda, aulas de arquitetura e mecânica, juntamente com as de botânica e química que já existiam, representando um retorno ao primeiro projeto. Em seguida, apresentava uma relação com as pessoas empregadas, em que apareciam, como lente de desenho e encarregado das aulas, o retratista português Henrique José da Silva, em substituição a Joaquim Lebreton, falecido em 1819; como secretário, Luís Rafael Soyer; como lente de pintura de paisagem, Nicolas-Antoine Taunay; como lente de pintura histórica, Jean-Baptiste Debret; de escultura, Auguste Taunay; de arquitetura, Henri-Victor Grandjean de Montigny; e de mecânica, François Ovide. Na lista de pensionários de desenho e pintura, figuravam Simplício Rodrigues da Silva, José de Christo Moreira e Francisco Pedro do Amaral; de escultura, Marc Ferrez; e de gravura, Zephérin Ferrez. No entanto, mais uma vez, a Academia das Artes não saiu do papel. Somente em 1826, ela foi aberta e seus estatutos executados, sob a denominação de Academia Imperial de Belas Artes.