Caixa D'Água Escocesa, Circa 1930, Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil
Rio Grande - RS
Fotografia - Cartão Postal
O recente (2013) tombamento pelo Instituto de Patrimônio
Histórico e Artístico do Estado da caixa d’água da Hidráulica é uma relevante
notícia no sentido de valorização da arte em ferro em Rio Grande.
A Companhia Hidráulica Rio-grandense, criada em 1872 por Higino
Corrêa Durão e João Frick, legou a cidade do Rio Grande um precioso acervo de
arte em ferro do século 19. São peças oriundas de fundições francesas que
constituem os 4 chafarizes instalados na cidade entre 1874-1878. A fundição
responsável foi a Antoine Durrene da região francesa do Marne. Três destas
peças típicas da arte em ferro industrial que fizeram/fazem parte dos espaços
públicos de diversas cidades do planeta, ainda estão preservados em Rio Grande.
O chafariz das Três Graças na praça Xavier Ferreira, o chafariz dos anjinhos na
praça Tamandaré e o também chafariz dos anjinhos na praça Barão de São José do
Norte, compõem o cenário do espaço urbano local. Existiu ainda mais um chafariz
que foi instalado na Praça Sete de Setembro e que foi removido na década de
1910 desaparecendo do cenário urbano e ficando apenas na memória de mais uma
lenda urbana (esta lenda concretamente existiu...). Também integrando os
chafarizes foram instaladas várias colunas em ferro cuja função era de
luminárias.
A Companhia também instalou uma estátua em ferro na praça Júlio
de Castilhos. A peça foi colocada na parte superior de uma estrutura em que a
água jorrava pela boca de anjos barrocos. A preciosa obra em ferro, pesando 340
quilos, foi produzida pela fundição francesa Val D’osne, sendo transferida para
um lago da praça Tamandaré em 1903. A sedutora figura que reproduz em ferro uma
das representações femininas mais bonitas já esculpidas e que compõe o acervo
do Museu do Louvre (Paris), pode ser observada próxima a esquina das ruas Luiz
Lorea e General Netto.
O objetivo da importação destas obras de arte em ferro foi o
fornecimento de água para Rio Grande, cujas obras, tiveram início em julho de
1873 (140 anos atrás...). O local centralizador dos vários pontos de captação
de água para distribuição em direção a cidade foi na área do hoje denominado
‘bairro hidráulica’, local de grande importância estratégica onde em 1737 foi
construído a Fortificação de Sant’Ana do Estreito. Nesta área foi instalada a
caixa d’água com capacidade para 1.500.000 litros. Seu fabricante foi a
fundição Abbey Works, em Paisley, Escócia e o projeto foi da Hanna Donald &
Wilson, com sede também em Paisley. Conforme a pesquisa de José Francisco Alves
(‘Fontes d’Arte no Rio Grande do Sul’. Porto Alegre: Artfolio, 2009), em Rio
Grande, em 1873, já estavam sendo instalados os alicerces da área que receberia
o reservatório, obra que ficou pronta em fevereiro de 1874. Em 28 de julho de
1876, saíram da Escócia os navios Ocean Queen e Favor com materiais da caixa
d’água de Rio Grande, em 19 de outubro, o Favor. Em fins de janeiro de 1877, o
reservatório já estava quase todo em seu lugar. A Cia Hidráulica Rio-Grandense,
em 31 de julho, deu por concluída a sua construção. Em ‘Saneamento do Rio
Grande’, de Saturnino Rodrigues de Brito, consta sobre esse depósito a seguinte
descrição: ‘as bombas elevam a água para o reservatório de distribuição, que é
metálico, apoiado sobre 45 colunas de ferro fundido. O fundo fica na cota de
12,80; o bordo na cota de 16,65 ou 13,60 metros acima de superfície do terreno
[...] o reservatório de chapas de ferro é também em coroa, tendo o cilindro
externo 22m de diâmetro, e o interno, de 3,75. A altura total é de 3,85. Sua
capacidade útil é de cerca de 1.500.000 litros, fica cheio em 14 horas de
trabalho normal das bombas’ conclui Alves.
A caixa d’água instalada em Pelotas em setembro de 1875,
localizada nas imediações da Santa Casa de Misericórdia, tem a mesma origem
escocesa (fundição Abbey Works) e é idêntica à de Rio Grande. Higino
Durão também era o administrador da Companhia Hidráulica Pelotense, o que ajuda
a explicar a existência de duas estruturas tão sofisticadas construídas, em
cidades vizinhas, pela mesma fundição.
As caixas d’água são duas obras de arte ao ar livre (a de Rio
Grande com acesso restrito) que precisam ser preservadas e, especialmente,
conhecidas pela população. Texto do Professor Torres.