quarta-feira, 4 de maio de 2022

Região da Baixada Santista, Sítio da Família Von Schaffausen, Estado de São Paulo, Brasil (Região da Baixada Santista, Sítio da Família Von Schaffausen) - Benedito Calixto

 



Região da Baixada Santista, Sítio da Família Von Schaffausen, Estado de São Paulo, Brasil (Região da Baixada Santista, Sítio da Família Von Schaffausen) - Benedito Calixto
Estado de São Paulo - SP
Coleção privada
OST - 58x47

Campanário da Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil


 

Campanário da Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia

Antiga Igreja Nossa Senhora do Rosário, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil


 



Antiga Igreja Nossa Senhora do Rosário, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Porto Alegre - RS
Fotografia

Em 3 de maio de 1817 foi lançada a pedra fundamental da Igreja Nossa Senhora do Rosário. Francisco José Furtado, tesoureiro da Irmandade, teve a ideia de construir uma igreja própria onde os negros pudessem manter seus rituais nas festas em homenagem à padroeira. Isso porque o Padre José Inácio dos Santos Pereira proibiu formalmente, por volta de 1810, as danças e batuques na Igreja Matriz.
Vista em perspectiva diagonal da antiga igreja de Nossa Senhora do Rosário. Prédio em estilo barroco colonial com fachada simples. O corpo central, com frontão em curva, é ladeado por duas torres quadradas com campanário. Na parte inferior esquerda, um telhado. Do lado direito da igreja, parte de prédio comercial.

O Que é Depressão e Como Buscar Ajuda e Tratamento Para Você ou Outras Pessoas - Artigo


 

O Que é Depressão e Como Buscar Ajuda e Tratamento Para Você ou Outras Pessoas - Artigo
Artigo




"É assustador, mas comum que, não importa o que você diga sobre sua depressão, as pessoas não acreditam, a não ser que você pareça agudamente deprimido", resumiu o escritor e jornalista americano Andrew Solomon, no best-seller O Demônio do Meio-Dia.
Os obstáculos para diagnosticar e tratar a depressão são enormes, afirma a Associação Brasileira de Psiquiatria, mesmo que essa condição médica seja comum, recorrente e crescente em seus mais diversos sintomas e impactos. Estima-se, aliás, que até 2030 ela deva afetar mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão afeta atualmente quase 12 milhões de pessoas no Brasil, ou 5,8% da população, taxa superior à média mundial (4,4%) e abaixo apenas do líder Estados Unidos (5,9%). Essa condição, que não tem causa única, atinge as pessoas independentemente da idade, classe social, profissão, raça/etnia ou do gênero.
Em linhas gerais, a depressão é descrita por especialistas como um transtorno biológico no qual a pessoa se sente deprimida ou perde o interesse ou prazer em relação a algo que tinha antes, afetando diversas áreas de sua vida (profissional, pessoal, familiar, social etc.). Mas o diagnóstico é complexo: não passa por exames, mas pela análise clínica de profissionais de saúde especializados com base em sintomas, critérios diagnósticos (há quanto tempo persistem os sintomas, por exemplo), histórico familiar, gatilhos, comorbidades, entre outros pontos.
E por que é tão difícil identificar e entender os sintomas e as causas do chamado "mal do século 21"? Que profissionais fazem esse diagnóstico? O que especialistas recomendam para quem busca ajuda e tratamento para si mesmo ou para outras pessoas? E quem não tem condições financeiras de pagar atendimento particular ou plano de saúde? Luto pode desencadear depressão? Por que os pacientes são estigmatizados como fracos ou sem força de vontade, por exemplo? Todos precisam tomar remédio? Fazer terapia basta para os casos mais leves?
Abaixo seguem respostas de especialistas e entidades de psiquiatria e psicologia para algumas das dúvidas mais buscadas sobre depressão.
E para responder brevemente às duas últimas perguntas, a Inglaterra decidiu mudar as diretrizes do sistema público de saúde nacional (uma espécie de SUS) para pessoas diagnosticadas com depressão leve. Antes de iniciarem tratamento com antidepressivos, esses pacientes devem primeiro ter acesso à terapia e a exercícios físicos em grupo, por exemplo.
O novo protocolo surge em meio ao aumento das prescrições de antidepressivos no país no fim de 2020 (alta de 6% em relação ao ano anterior), mas isso não significa, obviamente, que o tratamento com remédios como um todo esteja sendo questionado.
Um estudo publicado no fim de setembro no periódico científico The New England Journal of Medicine apontou que pessoas que permanecem usando medicamentos antidepressivos a longo prazo têm menos chance de sofrer recaída do que aquelas que decidem parar de tomá-los.
O que é depressão e quais são os principais sintomas, segundo especialistas:
Uma das formas mais comuns de problemas de saúde mental, a depressão é descrita como transtorno, doença, síndrome, sentimento ou melancolia (antigo nome que se dava a ela).
"A depressão se caracteriza por uma tristeza profunda e prolongada, que faz o indivíduo perder o interesse por coisas que anteriormente eram prazerosas. Além da tristeza, que é o sintoma mais conhecido e falado, o padecente pode sofrer com alterações no sono, podendo dormir demais ou ter insônia, distúrbios alimentares, irritabilidade, fadiga, pensamentos de suicídio. Cabe ressaltar que os sintomas variam de pessoa para pessoa", explica Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, em entrevista à BBC News Brasil.
A necessidade de encontrar uma definição para uma condição tão complexa quanto a depressão é fundamental quando se deseja instituir um diagnóstico, pois só então é possível traçar um tratamento adequado, seja com remédios, terapia ou ambos, por exemplo.
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria, traz uma série de "pré-requisitos" para caracterizar o diagnóstico formal de depressão, como a presença de cinco ou mais sintomas da lista abaixo ao mesmo tempo durante pelo menos duas semanas. São eles, de forma simplificada:
Sentir-se triste ou deprimido;
Ausência de interesse e prazer em atividades que antes eram prazerosas;
Fadiga e perda de energia;
Alterações no apetite e no peso (ganho ou perda sem relação com dieta);
Dificuldade para dormir ou o oposto, dormir muito;
Sentimentos de inutilidade e culpa;
Problemas para pensar, se concentrar ou tomar decisões;
Aumento da atividade física sem propósito, como ficar balançando as mãos ou os pés, andar de um lado para outro, não conseguir ficar parado em pé ou sentado;
Pensamentos suicidas.
Mas o diagnóstico vai muito além de preencher ou não os critérios acima. Segundo Silva, "cerca de 50% a 60% dos casos de depressão não são detectados pelo médico clínico e muitas vezes o tratamento prescrito não é suficientemente adequado".
Há diversas variáveis biológicas, neuroquímicas, ambientais, genéticas e emocionais envolvidas — e diversos tipos de depressão e de transtornos mentais. Por isso cabe a um profissional especializado investigar e identificar qual problema de saúde está afetando ou não cada paciente.
"Um aspecto relevante, por exemplo, passa pelas comorbidades. Muitas vezes, o paciente não tem só depressão. É muito comum o paciente ter depressão e problemas relacionados ao uso de substâncias, ou transtorno de ansiedade associado a um transtorno alimentar, transtorno de personalidade… A importância da avaliação, do diagnóstico apropriado com um profissional especializado se dá porque na maioria das vezes os transtornos mentais não aparecem sozinhos", disse à BBC News Brasil Wilson Vieira Melo, presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas.
A avaliação não é feita apenas por todos esses sinais, mas também pela exclusão de sintomas, demandando diagnósticos diferenciais com outras condições médicas, como deficiência de vitaminas, alterações na tireoide e tumor cerebral, que podem apresentar sintomas semelhantes aos da depressão.
"O psiquiatra é quem pode avaliar o quadro e identificar o desenvolvimento de uma doença mental, intervindo de forma precoce e evitando seu agravamento. Sempre que notarmos o prejuízo no comportamento do indivíduo, ou seja, que os sintomas começam a atrapalhar a vida da pessoa, é a hora de buscar um psiquiatra para tratamento e manejo correto", afirma Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Como buscar ajuda e tratamento para si mesmo ou outras pessoas?
O psiquiatra ressalta que familiares e amigos são fundamentais na busca por ajuda e no apoio ao tratamento. Muitas vezes, são os primeiros a perceber que há algo de diferente e apontar a necessidade de buscar auxílio psiquiátrico ou psicológico.
Além dos sintomas listados acima, há outros sinais de mudança em pessoas que podem precisar de ajuda psiquiátrica e/ou psicológica, como evitar contato com familiares e amigos, se machucar, apresentar autoestima mais baixa, uso de substâncias ilícitas, desenvolver dores físicas sem causa aparente ou sentimentos persistentes de irritação, preocupação, melancolia, vazio ou anedonia, uma espécie de perda do prazer que se sentia em atividades ou eventos antes prazerosos.
"A depressão é um transtorno mental sério, quando a gente percebe que tem alguém que está com sintomas que justificam uma atenção clínica maior, o ideal é que faça, que essa pessoa possa buscar ajuda profissional", afirma Melo, da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas. "Às vezes ações como convidar um amigo que está deprimido para ir ao cinema ou ao parque, caminhar, são coisas terapêuticas. Não é terapia, mas é terapêutico. Pode ser que a pessoa não esteja aberta a isso. Nesses casos, buscar um acompanhamento profissional seria o mais indicado."
Segundo especialistas, se você acha que alguém que você conhece tem depressão, a coisa mais importante a fazer é ouvir. Muitas vezes, apenas falar e compartilhar seus sentimentos pode ser uma grande ajuda para alguém com depressão. Tente ouvir sem julgamento.
Você também pode encorajar a pessoa a buscar atendimento médico especializado ou encontrar outras formas de apoio. Seja paciente: não diga a alguém para "sair dessa" ou "se animar", pois isso não é algo que uma pessoa com depressão é capaz de fazer por si só.
Além disso, há diversos obstáculos sociais e psicológicos antes de se chegar ao diagnóstico e tratamento especializado, como a falta de recursos e o estigma em torno da depressão.
O sistema de saúde pública do Reino Unido recomenda que todas as pessoas que apresentam os sinais listados neste texto por mais de duas semanas deveriam buscar atendimento médico.
Mas como isso funciona na prática?
"Devido à psiquiatria ser uma especialidade médica, a primeira consulta com um psiquiatra tem muito em comum com aspectos de outras consultas médicas. O primeiro passo é realizar a anamnese, ou seja, colher um histórico clínico do paciente. Este histórico deve ser bastante detalhado. Além disso, nesse processo são analisados hábitos como relacionamentos pessoais e familiares, ambiente de trabalho, atividades de lazer e hobbies", diz Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Em seguida, o psiquiatra pode requisitar exames para identificar outras doenças ligadas aos campos da neurologia e da psiquiatria, como Alzheimer. E ao longo de todo esse percurso, desde a entrada no consultório, se dá o exame psíquico, com base em elementos como a observação do comportamento, discurso, humor ou atenção, explica Silva.
"O exame psíquico é essencial, pois a grande maioria dos transtornos psiquiátricos não são visíveis, a não ser por suas manifestações clínicas. Nesses casos, os sinais e sintomas são detectados a partir de técnicas e metodologias específicas de avaliação, com calma e cuidado."
E o que o paciente deve dizer nessas consultas? "A abertura total é importante. Você deve conversar com seu médico sobre todos os seus sintomas, marcos importantes em sua vida e qualquer histórico de abuso ou trauma. Informe também o seu médico sobre o histórico de depressão ou outros sintomas emocionais em você ou em membros da família, histórico médico, medicamentos que você está tomando (prescritos ou não), como a depressão afetou sua vida diária e se você já pensou em suicídio", orienta Alan Gelenberg, professor emérito da Universidade do Arizona, em guia sobre depressão da Associação Americana de Psiquiatria.
Quais são os tipos de depressão?
Antes de explicar os diferentes tratamentos, é importante esclarecer que há diversos tipos de depressão. Os mais comuns são a depressão maior ou unipolar, depressão pós-parto, depressão bipolar e transtornos depressivos induzidos por outras substâncias ou medicamento.
"Todos precisam de acompanhamento médico adequado, pois se não tratados podem levar a pensamentos suicidas", afirma Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria.
O "transtorno depressivo maior" ou depressão unipolar, por exemplo, é o tipo mais conhecido e se caracteriza pelos sintomas mais conhecidos relacionados à depressão, como tristeza e falta de interesse persistentes, além de problemas de sono e apetite. É geralmente associada a fatores genéticos, mas pode ser desencadeada por eventos traumáticos, como a perda de um emprego, o fim de um relacionamento ou o surgimento de uma doença grave.
Outro tipo comum de transtorno é a depressão pós-parto. Segundo a Associação Americana de Psiquiatria, mulheres têm maior probabilidade de sofrer de depressão do que os homens. Alguns estudos inclusive apontam que um terço das mulheres passará por um episódio depressivo grave durante a vida. E parte delas enfrenta isso logo após o parto.
O Ministério da Saúde brasileiro define a depressão pós-parto como um quadro de tristeza, desespero e falta de esperança que se manifesta depois do nascimento de um filho. Segundo a pasta, "é importante ficar atento pois a condição pode afetar o vínculo da mãe com o bebê. Entre as causas estão a privação de sono das puérperas, falta de apoio familiar, isolamento, alimentação inadequada, vício em drogas. Ausência de planejamento da gravidez, depressão anterior, histórico familiar de depressão e violência doméstica são alguns dos fatores de risco".
Quais são os tratamentos para depressão?
Conforme o estágio e a intensidade do quadro de saúde, há tratamentos com medicamentos específicos. E, a depender de como o paciente se sente e quais motivos levaram ele à condição atual, haverá linhas psicoterapêuticas mais adequadas para tratar.
Um dado positivo é que, segundo a Associação Americana de Psiquiatria, a depressão é um dos transtornos mentais mais tratáveis. Entre 80% e 90% das pessoas com esse problema de saúde respondem bem ao tratamento.
Grosso modo, há três linhas principais de tratamento: a psiquiátrica, a terapêutica e a farmacoterápica, que combina psiquiatria (uso de medicamentos) e psicoterapia geralmente para casos de depressão moderada ou grave. Mas tudo vai depender do diagnóstico e da gravidade do quadro.
Como dito acima, a grande maioria dos casos de depressão leve pode ser tratada sem remédios, por exemplo. "Nesses casos, a primeira indicação pode ser a psicoterapia porque não tem efeito colateral, tem uma resposta mais rápida do que aquela com fármacos, porque antidepressivos precisam de pelo menos um ano de uso para tratar depressão. Então, se fizer psicoterapia nesses casos, você consegue melhorar mais cedo e ainda trabalhar outras coisas que não envolvam só a depressão", afirma Melo, da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas.
O tratamento terapêutico pode acontecer seguindo correntes como terapia cognitiva comportamental, psicanálise, terapia analítica (junguiana), gestalt-terapia, sistêmica, psicodrama, entre outras.
Algumas vão recorrer a simbologias e interpretação dos sonhos, como a terapia junguiana, por exemplo.
Outras terapias buscam focar nas ações do presente (em uma espécie de diferenciação de tratamentos como o psicanalítico, em que esse mesmo paciente seria recebido em consultório pelo analista, que o escutaria sobre episódios da infância, por exemplo), como analítico-comportamental, gestalt e terapia cognitivo-comportamental, uma das abordagens mais comuns para casos de depressão, que por meio da conversa entre paciente e terapeuta ensina o paciente a identificar e lidar com pensamentos, crenças e sentimentos negativos, quebrando o ciclo em torno deles.
Outras se dedicam mais ao autoconhecimento, em que o paciente faz associações livres por meio da fala e sem interrupções do terapeuta, como a psicanálise, que incentiva o paciente a acessar seu inconsciente e trazer à consciência o que está lhe afetando no quadro depressivo.
No caso da psicanálise, seus efeitos são estabelecidos na chamada "transferência" entre sujeito e analista, ou seja, grosso modo, no momento em que o paciente permite ao especialista (analista) a ajuda e se entrega de fato ao processo analítico. E isso pode contribuir no tratamento da depressão como contribui com outras modalidades de sofrimento psíquico: analisando a singularidade da experiência daquele paciente com esse diagnóstico, evitando generalizações.
Além disso, há outras terapias alternativas para casos mais leves de depressão, que incluem meditação, programas de exercício físico, arteterapia, entre outras. Caberá aos profissionais especializados identificar e acompanhar quais são mais adequadas para cada paciente.
"Em casos mais leves, o tratamento pode ser realizado somente com psicoterapia. Mas quadros moderados a graves precisam também de intervenção com medicamentos e, caso haja ideação suicida, a internação pode ser considerada", afirma Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria. Segundo ele, quase 70% das mortes associadas à depressão podem ser prevenidas com tratamento correto.
Em linhas gerais, os antidepressivos fazem alterações químicas no cérebro para reequilibrar o humor e a energia, por exemplo. Mas algumas vezes isso se dá com efeitos colaterais, inclusive dependência, algo que gera medo e hesitação entre pacientes.
Só que esses medicamentos acabam não surtindo efeito para algo em torno de 10% a 30% dos pacientes, diagnosticados posteriormente com depressão resistente ao tratamento, refratária ou não responsiva.
Uma das abordagens usadas para esses pacientes específicos é a estimulação magnética transcraniana (EMT), uma técnica não invasiva que estimula o cérebro com ondas magnéticas. O paciente fica acordado durante as sessões.
Outra abordagem para esses tipos de casos mais graves ou refratários é a ECT (eletroconvulsoterapia, popularmente conhecida como eletrochoque), tratamento destinado a pacientes com depressão mais severa ou que já experimentaram outros tratamentos sem apresentação de melhora. Apesar de todo o estigma e preconceito em torno desse tipo de tratamento, ele é considerado seguro, indolor e eficaz.
Nesse tipo de terapia, uma baixa corrente elétrica estimula o cérebro e provoca uma convulsão no paciente sob anestesia, ajudando a aliviar os sintomas da depressão por meio de alterações químicas no cérebro. Ela é realizada em hospitais ou clínicas especializadas em séries de 6 a 12 sessões.
Há também o spray de escetamina (ou esketamina), derivado do anestésico cetamina aprovado em 2020 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Esse remédio inalável estimula as áreas do cérebro ligadas às emoções.
Por fim, há diversas pesquisas promissoras em andamento em torno do uso de psicodélicos para tratar depressão e outros transtornos mentais, mas esses tratamentos ainda estão em fase experimental.
Como ter acesso a tratamentos para depressão pelo SUS?
Segundo a OMS, a depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribui de forma significativa para a carga global de doenças. Segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Brasil, foram 576,6 mil afastamentos por transtornos mentais e comportamentais em 2020.
"Ainda precisamos de um sistema público em saúde mental no Brasil que ofereça todo o suporte necessário ao padecente de transtornos mentais, que deve contar com o princípio de integração entre os diversos serviços, constituindo um sistema integrado de referência e contra referência no qual as unidades devem funcionar de forma harmônica, complementando-se, não se opondo nem se sobrepondo um ao outro, não concorrendo e nem competindo entre si", afirma Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria.
No SUS, pacientes podem buscar orientação e tratamento em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), Centros de Convivência e Cultura, ambulatórios multiprofissionais, Unidades de Acolhimento (UAs), hospitais especializados e hospitais-dia de atenção integral. Parte dos medicamentos está disponível na rede de Farmácia Popular.
Segundo o Ministério da Saúde, há 2.742 CAPS espalhados por 1.845 cidades do país. Eles atendem todos os casos de depressão e isso inclui os quadros moderados e severos.
O atendimento não é feito apenas por médicos nessas unidades, mas também por psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, entre outros profissionais de saúde das equipes multidisciplinares.
Se os casos forem mais graves, os pacientes são encaminhados para hospitais especializados. Se houver diagnóstico da forma mais leve do transtorno, pode haver um direcionamento para uma Unidade Básica de Saúde (UBS).
Além da rede pública de saúde, é possível também buscar orientação e tratamento em iniciativas de atendimento psicológico gratuitas ou de baixo custo (valor social), como aquelas oferecidas por universidades (como USP, UFBA, UFSC, UFPR e UFPA), entidades de classe (como Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo e Associação Brasileira de Psicodrama), entre outros.
Por fim, Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria, lembra que os pacientes, depois de todos os obstáculos para conseguirem diagnóstico e tratamento, ainda precisam enfrentar o estigma em torno da depressão, uma "discriminação que pode ser tão incapacitante quanto a própria doença" e afeta inclusive a recuperação e reabilitação do paciente.
"O combate ao estigma é primordial para que o portador de doença mental viva de forma independente e autônoma, tenha oportunidades de trabalho, persiga suas metas e usufrua de oportunidades com dignidade e plena inserção social."

Como São as Bactérias no Intestino de Quem Tem Depressão - Artigo

 


Como São as Bactérias no Intestino de Quem Tem Depressão - Artigo
Artigo


Se atribui a Immanuel Kant a frase "a mão é o cérebro exterior do homem". É verdade que o controle destas extremidades ocupa uma enorme parcela da função cerebral: basta olhar para as representações do "homúnculo".
Evidentemente, são essenciais tanto para a recepção da realidade externa quanto para a expressão de nossas ideias. No entanto, não são órgãos vitais. O intestino, sim, e sua relação com o cérebro vai muito além.
Que conexão existe entre o cérebro e o intestino?
Um estudo publicado na Nature pelo gastroenterologista Emeran A. Mayer explica como ambos os órgãos, cérebro e intestino, estão conectados.
Esta interação entre eles tem relevância não apenas na regulação das funções gastrointestinais, mas também no humor e na tomada de decisão intuitiva.
Em primeiro lugar, vamos lembrar que existe uma complexa rede de terminais nervosos que revestem todo o sistema digestivo, especialmente o sistema intestinal (chamado sistema nervoso entérico).
Este deriva evolutivamente de células que migram da crista neural e se instalam definitivamente no intestino.
Há, por sua vez, estruturas no sistema nervoso central que poderiam ser chamadas de parte encefálica do sistema intestinal.
A comunicação entre o cérebro e o intestino é estabelecida por meio de vias nervosas, especialmente pelo nervo vago. Mas também pela corrente sanguínea, é claro.
Por outro lado, há outras células intrínsecas localizadas nas camadas mais internas do tubo intestinal (células enteroendócrinas ou enterocromafins) que são repletas de neurotransmissores.
Por exemplo, contêm peptídeos (que também se encontram no cérebro) e serotonina.
Na verdade, o intestino é o local da anatomia humana em que se encontra a maior quantidade de serotonina (mais de 90%). O restante se encontra nas plaquetas e apenas 1% no cérebro.
Mas o intestino não é apenas um tubo com neurônios próprios e neurotransmissores mais ou menos conectado com o cérebro e com neurônios específicos e neurotransmissores.
Nele, também vive uma grande quantidade de micro-organismos. Juntos, eles formam a chamada microbiota.
Trata-se de uma série de bactérias (mais numerosas do que nossas próprias células) que nos ajudam na digestão, no combate a outros patógenos e em muitos outros processos.
Sintomas físicos derivados da ansiedade e depressão:
Muitos de nós já constatamos que estar estressado (por ter que falar em público ou fazer uma prova) nos predispõe, não só de forma aguda, mas também crônica, a vômitos, náuseas, diarreia ou constipação.
Na verdade, como é evidente, os sintomas seguem o estímulo estressante (que, às vezes, não precisa ser negativo). Há até uma expressão muito particular para definir estar apaixonado: "sentir borboletas no estômago".
A ansiedade e a depressão são os dois representantes mais claros dos problemas de estado de espírito.
Na verdade, é um dos motivos mais frequentes de consulta não só na clínica psiquiátrica, como também na atenção primária.
A depressão é cada vez mais frequente, e é um dos principais problemas de saúde pública.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) — e este já era o caso anos antes da pandemia —, será o principal problema de saúde do mundo em 2030.
Graças a estudos como o de Mayer, o papel do estresse nessas doenças está se tornando cada vez mais conhecido. Assim como nas alterações em neurotransmissores específicos e má regulação do sistema imunológico.
Mas um número significativo de pacientes é resistente aos tratamentos farmacológicos disponíveis para a depressão, que devem sempre ser acompanhados de psicoterapias.
E é por isso que existe uma necessidade premente de aumentar o conhecimento da sua fisiopatologia para desenvolver estratégias terapêuticas mais eficazes.
O estresse e sua influência na microbiota (e vice-versa):
Nas últimas duas décadas, foram apresentadas inúmeras evidências científicas, em modelos animais e em humanos, indicando que quando um indivíduo sofre estresse, ocorre uma alteração no intestino e a composição da microbiota pode, inclusive, ser modificada.
Inversamente, a alteração experimental da microbiota também pode induzir mudanças comportamentais.
Sabemos que o cérebro influencia a microbiota a partir de estudos nos quais foi demonstrado que o estresse nos estágios iniciais da vida diminui a concentração de Lactobacillus e faz emergir a concentração de bactérias patogênicas ao romper o equilíbrio fisiológico entre as diferentes populações de microrganismos.
Em contrapartida, a diferente composição da microbiota pode influenciar no comportamento: algumas bifidobactérias melhoram o comportamento depressivo em ratos.
O estresse também produz inflamação?
Nos últimos anos, inúmeros estudos indicaram que a inflamação crônica de baixo grau também pode estar desempenhando um papel na fisiopatologia da depressão.
A partir desta informação, buscou-se saber se poderia haver uma relação entre a inflamação de origem intestinal e o estresse.
Assim, vários estudos realizados por um grupo da Universidade Complutense de Madrid (Espanha) e outros pesquisadores mostram como o estresse (um importante fator de risco para a depressão) pode produzir um desequilíbrio intestinal.
Isso pode levar a uma instabilidade na barreira intestinal (tornando-a mais porosa) e, portanto, à passagem de componentes da parede bacteriana do intestino para a corrente sanguínea e outros órgãos.
É um processo chamado translocação bacteriana. Estes componentes podem ser tóxicos e desencadear uma resposta inflamatória generalizada.
Além disso, estes estudos mostraram que a composição da flora bacteriana fica alterada em pacientes com depressão, em comparação com a flora de indivíduos de grupos de controle saudáveis.
Em geral, a diversidade bacteriana diminui em casos de depressão. No entanto, ainda não entendemos a associação entre a microbiota e a inflamação detectada na depressão.
Agora sabemos que o dano celular oxidativo (que é a consequência final da inflamação) é maior em pacientes com um episódio ativo de depressão.
Além disso, estas pessoas também apresentaram níveis elevados de um componente de bactérias intestinais que está muito relacionado à resposta imune: o lipopolissacarídeo de bactérias do gênero Bilophila e Alistipes, diminuição da Anaerostipes e desaparecimento completo da Dialister.
Estas alterações não aparecem em pacientes em fase de remissão da doença.
Resta saber ainda se as toxinas das bactérias presentes na microbiota de pacientes com depressão podem circular por todo o sistema e chegar a sinalizar algumas estruturas do cérebro.
Por enquanto, sabe-se que em modelos animais estas bactérias são capazes de chegar ao cérebro e ativar receptores de resposta imune em neurônios e em outros tipos de células deste órgão.
E, além disso, que no tecido cerebral de pacientes com depressão que morreram por suicídio, é identificada uma hiperativação da resposta imune.
Mas ainda estamos longe de poder afirmar que existe uma causalidade entre estes fenômenos e a fisiopatologia da depressão.
No entanto, o desafio está lançado, e o trabalho da ciência biomédica é desvendar todos esses mecanismos para oferecer aos pacientes novos e melhores soluções de tratamento.

Albânia, o País que Construiu Mais de 100 Mil Bunkers Durante a Guerra Fria - Artigo

 







Albânia, o País que Construiu Mais de 100 Mil Bunkers Durante a Guerra Fria - Artigo
Artigo




É uma manhã de primavera e o sol já está a pino. Estou atravessando as ruínas de Orikum, um assentamento da era romana que fica no extremo sul da baía de Vlore, na costa adriática da Albânia. Trata-se de um patrimônio cultural incrivelmente bem preservado, que inclui um teatro que ainda mantém muitos dos seus degraus de pedra.
Mas não estou aqui por isso.
Há uma outra ruína próxima ao assentamento em Orikum, embora com menos de meio século de vida e muito menos celebrada. Ali, funcionou a caserna da base naval de Pasha Liman, que pode ser vista do outro lado da estrada.
Meu guia, Elton Caushi, brinca que estamos ignorando uma ruína de 2 mil anos em favor de uma outra de 40.
Entre as ruínas da caserna e a estrada, há um punhado de bunkers. São atarracados e cinzentos, com espaço suficiente apenas para duas pessoas. Estão aqui desde os anos 1970, quando a Albânia era um dos países mais isolados da Terra.
Os bunkers foram ideia de Enver Hoxha, que governou a Albânia do pós-guerra por 40 anos com mão de ferro. Seu regime era tão brutal quanto surreal.
Convencido de que todos, desde a vizinha, a antiga Iugoslávia, até a Grécia, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e até mesmo seus ex-aliados na União Soviética queriam invadir seu país, Hoxha deu aval à construção de milhares dessas estruturas por todo o país - uma estimativa conservadora gira em torno de 100 mil.
Até hoje, estão por todo o lugar, desde o interior até praias desertas, passando por vales montanhosos, encruzilhadas e praças. Seu legado, portanto, não é apenas físico, mas também financeiro: cada um deles teria custado o equivalente a um apartamento de dois quartos, e sua construção, sem dúvida, ajudou a transformar a Albânia em um dos países mais pobres da Europa.
Hoxha cunhou um termo para descrever esse estado de prontidão dos albaneses: gjithmone gati, ou "sempre prontos". Tal sentimento veio em parte de suas experiências na Segunda Guerra Mundial.
As forças armadas pequenas e mal equipadas da Albânia foram esmagadas quando a Itália fascista invadiu o país em 1939. O conflito terminou oficialmente depois de apenas cinco dias. Mas a resistência, não.
A Albânia é um país montanhoso, perfeito para a guerra de guerrilhas, e seu povo ganhou a reputação de resistir ferozmente a invasores ao longo dos séculos. Com o avanço da guerra, um movimento partidário albanês, ajudado por camaradas na Iugoslávia ocupada e seus aliados britânicos e americanos, começou a atacar os ocupantes italianos e alemães.
Entre os principais integrantes da resistência, estavam os comunistas liderados por Hoxha.
Quando o vento passou a soprar a favor dos Aliados, a resistência albanesa cresceu, ganhando força nos esconderijos das montanhas. Na época em que libertaram a capital, Tirana, em novembro de 1944, esse exército de comunistas e nacionalistas chegava a 70 mil homens.
Depois que a Segunda Guerra Mundial terminou, Hoxha consolidou-se no poder, exterminando impiedosamente facções rivais e até mesmo alguns de seus colegas líderes da resistência. A Albânia tornou-se um Estado comunista alinhado com os soviéticos.
O pequeno país passou, então, a sofrer uma crise diplomática após outra. Em 1947, Hoxha rompeu relações com a vizinha Iugoslávia, sob o argumento de que os iugoslavos estavam se desviando do verdadeiro caminho do socialismo.
Em 1961, a Albânia voltou a causar um problema para si mesma, depois de Hoxha criticar o sucessor de Josef Stalin, Nikita Khrushchev, de instinto reformista, no comando da União Soviética. Os soviéticos e os outros países do Pacto de Varsóvia congelaram as relações com os albaneses, forçando-os a se alinhar com a China de Mao Tsé-Tung.
Mas essa lua de mel também teve vida curta. Furioso com as boas vindas de Mao ao então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, que visitou Pequim em 1972, Hoxha tratou de esfriar as relações com os chineses. Em 1978, a China já havia retirado todos os seus diplomatas do país, deixando a Albânia sem aliados - e tornando-a o país mais isolado do mundo.
Foi nesse cenário que a "bunkerização" começou. O socialismo linha-dura o tornou vulnerável, pensou Hoxha, aos ataques da Otan vindos da Itália ou da vizinha Grécia. Mas ele também havia transformado antigos amigos em inimigos. Uma invasão poderia vir até mesmo da Iugoslávia.
As pequenas forças armadas da Albânia não teriam poder de fogo suficiente para repelir um ataque. Pensando nisso, Hoxha convocou a população para formar uma imensa resistência. Grande parte das pessoas passou por treinamento militar básico.
Durante a Segunda Guerra Mundial, isso teria sido feito a partir de esconderijos nas montanhas, onde pequenas unidades realizariam ataques aos postos avançados italianos ou alemães em terrenos mais baixos. Mas Hoxha queria ter certeza de que qualquer invasor em potencial seria impedido de atacar primeiro, e criou uma vasta rede de bunkers. Assim, os albaneses passaram a conviver com eles em praias, vilarejos e encruzilhadas.
Essa resistência a nível nacional exigiria um projeto de construção de grande vulto. A Albânia se tornaria uma terra coberta de bunkers.
Os mais numerosos foram o QZ (Qender Zjarri ou "posição de tiro"). Projetado para acomodar apenas uma ou duas pessoas, eles foram construídas com concreto armado.
Seu projetista foi Josif Zagali, um engenheiro filiado ao partido comunista de Hoxha durante a Segunda Guerra Mundial. Zagali montou uma cúpula arredondada no topo do bunker, de modo que balas e fragmentos de granada pudessem ser repelidos, dando ao QZ sua forma característica.
Esses bunkers seriam construídos em pequenos números que poderiam se defender mutualmente. Suas peças foram projetadas para serem pré-fabricadas e depois montadas no local.
Já os bunkers maiores, de comando artilharia, conhecidos como PZs (Pike Zjarri ou "ponto de disparo") tinham mais de 8m de diâmetro. Em caso de guerra, eles atuariam como postos de comando para fileiras de QZs menores.
Bunkers ainda maiores foram construídos para proteger os civis em caso de ataque. Cada cidade ou distrito teria bunkers de concreto subterrâneos grandes o suficiente para abrigar centenas de pessoas.
Em 2016, numa viagem anterior à Albânia, visitei um dos antigos abrigos em Gjirokaster, uma cidade de 25 mil pessoas a cerca de três horas de viagem ao sul de Tirana. Era grande o suficiente para acomodar facilmente centenas de pessoas.
Um dos encarregados da construção dessas estruturas foi Pellumb Duraj, comandante de um destacamento de engenharia baseado em Burell, no norte da Albânia.
Ele se formou como engenheiro civil em 1973 e foi um dos primeiros recrutados diretamente para trabalhar no Exército. "Fui designado para lá. Não tive escolha", ele me diz, tomando café do lado de fora de uma padaria na capital.
"Havia uma necessidade de maior proteção porque a Albânia deixou o Pacto de Varsóvia, e nós estávamos sozinhos em nossa perspectiva política e tínhamos medo de bombas atômicas e da ameaça americana, então, essa situação levou o governo a defender a construção de bunkers. Isso aconteceu em 1968, quando saímos do Pacto de Varsóvia".
"Esse processo se deu com maior intensidade a partir de 1975. Tivemos de fazer os estudos dos projetos para preparar o caminho para a construção dos bunkers. Até então, o Exército não tinha engenheiros civis, contratavam-nos de vez em quando", conta.
Era parte do trabalho de Duraj garantir que as peças do bunker não fossem apenas produzidas e transportadas para o lugar certo, mas também que houvesse pessoas suficientes no local para montá-las. E essa não foi uma tarefa simples: a divisão do Exército à qual Duraj foi designado tinha 13 mil bunkers de vários tamanhos para construir.
Construir os bunkers foi uma missão tão monumental que quase todas as grandes fábricas da Albânia se envolveram. Fábricas de cimento produziam placas de concreto pré-fabricadas que um exército de trabalhadores montaria in loco. Com a ajuda da China, uma nova e monumental fábrica de aço foi construída em 1974 para produzir metal, grande parte com o objetivo de reforçar os bunkers de Hoxha.
Duraj teve de negociar com as associações encarregadas pelos assentamentos rurais, organizados de forma muito parecida com as fazendas coletivas na União Soviética.
"Não tínhamos experiência, então, foi o começo de um novo desafio, muito difícil. De certa forma, poderíamos dizer que todo o país estava envolvido nesse processo. A administração coube aos militares, mas a população se responsabilizou pelo trabalho pesado. Empresas de construção civil produziriam os bunkers, as empresas de transporte público os transportariam para o campo e, então, teríamos que contratar pessoas in loco de acordo com suas habilidades. O trabalho não qualificado era feito por soldados", relembra.
Os pequenos bunkers QZ eram apenas a ponta do iceberg no que dizia respeito às responsabilidades de Duraj.
"Além dos pequenos bunkers, dos firepoints, tínhamos de também construir posições para armas antiaéreas e para artilharia, e também armazéns e depósito para a munição, tivemos de construir as trincheiras conectando todos os prédios de armazenamento e os bunkers. Tivemos de lidar com todas as comunicações entre eles. Também lidamos com pontos de comando para todos os militares, túneis ou construções subterrâneas. O armazenamento de munições foi construído por nós, assim como depósitos de combustível, alimentos e roupas e depósitos de produtos químicos."
Até as localizações dos bunkers implicariam mudanças em seu design, diz Duraj. "Na parte ocidental, começando pelo mar, construímos bunkers de peça única que eram pesados, pesavam cerca de sete toneladas, porque estávamos com medo de que uma invasão provavelmente viesse pelo mar. Essas estruturas tinham uma placa de ferro reforçada que os protegeria de mísseis e balas."
"Nas montanhas, os bunkers eram mais leves porque eram projetados para serem carregados por mulas e homens, e o componente mais pesado pesava 100 kg. Mas construir um bunker do tipo montanha necessitaria 70 componentes diferentes. Então, tivemos de conectá-los com ferro e cimento."
Engenheiros como Duraj estavam realizando uma tarefa sem comparação no mundo moderno. Buscando inspiração, observaram algumas das imensas fortificações construídas na Europa antes e durante a Segunda Guerra Mundial, como a Linha Maginot, que os franceses construíram em meio ao medo de uma invasão alemã na década de 1930.
"Estudamos o que eles fizeram, mas o que construímos não foi uma fortificação de uma linha, mas a fortificação de todo o país - do litoral até o topo da montanha."
Duraj diz que a empreitada da Albânia consumiu 80% dos recursos do exército durante esse período. Construir bunkers era mais importante que cultivar alimentos. A linha oficial do partido, diz ele, era de que "a defesa era considerada o dever acima de todos os deveres, enquanto a agricultura era considerada uma questão para todos".
"Enver Hoxha diria que a fortificação do país era o investimento mais eficiente do suor de nossa nação, e cada gota de suor consumida pelas fortificações é uma gota de sangue salva no campo de batalha."
O trabalho tinha de ser realizado em todos os tipos de clima, as partes mais pesadas puxadas por tratores ou por caminhões soviéticos Zil da Segunda Guerra Mundial, e depois montadas à mão. "Quando o tempo estava bom, podíamos construir até quatro bunkers por dia", diz Duraj, "mas em condições precárias... às vezes, víamos os caminhões Zil atolados na lama até o chassi, e então precisávamos de um trator para tirar o caminhão dali. Também tivemos acidentes com guindastes caindo, matando pessoas acidentalmente".
O museu BunkArt, em Tirana, estimou que o programa de construção dos bunkers custou 100 vidas por cada ano durante as construções. Duraj diz que esses números são muito altos, mas concorda que houve acidentes fatais.
Mais de 25 anos após a queda do regime comunista, Duraj teve bastante tempo para refletir sobre o valor estratégico da bunkerização promovida por Hoxha. A Albânia estava realmente sob uma ameaça tão grave que precisava construir tantos? "Se você me perguntar, foi exagerado. Construímos bunkers no topo das montanhas, nas rochas. Em lugares pelos quais nem as cabras passariam."
Os bunkers nasceram em fábricas como a que eu e meu guia, Caushi, visitamos em Gjirokaster.
Há poucos sinais dela, contudo, e nada parece lembrar os velhos tempos quando cúpulas de concreto eram produzidas ali 24 horas por dia. A fábrica foi demolida há muito tempo, deixando pouco a não ser entulho e pórticos suspensos. É uma imagem da decadência pós-comunista.
Perto da fábrica em ruínas está Adi, que administra um ferro-velho local, cheio de pilhas de metal triturado e operários com fuligem nos rostos queimando fios de plástico. Quando Adi comprou o terreno, acabou herdando a antiga fábrica nas proximidades. É um pouco irônico - um dos trabalhos de Adi é desmantelar os bunkers.
Às vezes, ele e seus operários viajam para as montanhas que se erguem sobre Gjirokaster, a quatro horas de carro. São necessários 10 deles trabalhando um dia inteiro para desmantelar um bunker.
Adi, de 38 anos, lembra dessas estruturas quando era menino. "Brincávamos em cima deles, jogamos futebol como se nossos adversários fossem alemães. Agora, encontramos as lembranças daqueles dias e, graças a Deus, não entramos em guerra."
Um dos empregados de Adi, Nico, também se lembra de ter viajado para as montanhas com seus amigos e brincar nos bunkers, muito tempo depois de o regime comunista que os construiu desaparecer na história. Naquela época, os bunkers já tinham sido colonizados por cobras, embora Nico esteja convencido de que um dia encontrará um cheio de tesouros.
"Tesouro" de um tipo diferente apareceu em um bunker em 2004. Cerca de 16 toneladas de botijões de gás mostarda foram encontrados em um bunker a apenas 40 quilômetros de Tirana - os EUA tiveram de pagar ao governo albanês cerca de US$ 20 milhões (R$ 80 milhões em valores atuais) para descartar as armas com segurança.
Enquanto Adi ganha dinheiro desmantelando os bunkers para usar o metal e o concreto em outros tipos de construção, a Albânia não tem o dinheiro - ou a mão de obra - para removê-los em larga escala. Os QZs e os PZs, ao contrário, permanecem como reminiscências de algum exército há muito vencido.
Os albaneses deram novos usos a essas lembranças silenciosas do passado comunista do país. Nas áreas rurais, os bunkers foram transformadas em abrigos de animais ou usados para armazenamento de alimentos.
Outros, brilhantemente pintados, tornaram-se partes de parques infantis do centro da cidade. As estruturas que antigamente guardavam o litoral ensolarado da Albânia foram, em alguns casos, transformadas em pizzarias, cafés e bares improvisados, embora muitos também tenham sido removidos - frequentemente usando tanques aposentados como veículos de reboque - para abrir caminho para novos empreendimentos.
Mas os bunkers continuam a atrair estrangeiros, tanto turistas quanto artistas, desejosos de registrá-los para a posteridade.
David Galjaard é um fotógrafo holandês que viajou várias vezes à Albânia para filmar os bunkers.
"Estava trabalhando em uma série sobre bunkers da Guerra Fria na Holanda, quando um jornalista do jornal para o qual ambos trabalhamos (NRC Handelsblad) me disse: 'Ei! Se você gosta tanto de bunkers, deve ir para a Albânia ", diz Galjaard por e-mail. "Quando li sobre os bunkers e sua história, mal podia esperar para ir. Era dezembro naquela época. Então, esperei até a neve derreter (na Albânia) e entrei no meu carro."
"Antes de chegar pela primeira vez à Albânia, imaginei um país cheio de cicatrizes. Sentia pena dos albaneses por eles terem essa recordação viva do difícil período comunista. Mas quando cheguei e perguntei sobre os bunkers, as pessoas deram de ombros. Não tinham problemas com isso, a menos que essas estruturas atrapalhassem suas vidas."
As três viagens de Galjaard à Albânia tornaram-se o projeto de fotos Concresco, que foi publicado como livro em 2012.
"A maneira como o povo albanês lida com os bunkers diz muito sobre o país", diz Galjaard. "O modo como eles são ignorados, ou usados para outro fim, ou destruídos. É por isso que os usei como uma metáfora visual para não só contar uma história sobre os bunkers, mas sobre o próprio país."
"Na maioria dos países, grande parte dos vestígios da Guerra Fria nunca foi visível para a maioria das pessoas. O que é único na Albânia é que a paranóia e a xenofobia daquela época sempre foram e ainda são claramente visíveis."
Caushi ganha a vida, em parte, apresentando essas relíquias da Guerra Fria como parte do que torna a Albânia única. Ele administra uma empresa de turismo, a Albanian Trips, que inclui visitas a algumas das memórias mais icônicas da paranóia de Hoxha.
"Eu e meu amigo suíço Didier Ruef, que é fotógrafo, fizemos uma viagem de três semanas pela Albânia, em busca dos bunkers", diz Caushi. "Encontramos vários que estão sendo usados como casas, abrigos para animais, mas também muitos bem localizados, perto da praia ou das montanhas. Didier já havia me dito que achava que a Albânia se tornaria um grande destino turístico um dia e que os bunkers desempenhariam um papel nisso. Mas nunca lhe dei muita atenção."
"A ideia ganhou força depois que passei a me concentrar em viagens e turismo, começando por volta de 2007, em tempo integral. As pessoas não paravam de perguntar sobre os bunkers. Comecei a conhecer construtores, autores, recicladores, demolidores, coletores de sucata e a quantidade de informações se tornou cada vez mais importante."
Caushi e eu passamos alguns dias viajando pelo país, encontrando inúmeros bunkers nas estradas de Tirana até Gjirokaster. Na última década, ele desenhou um mapa dos exemplos mais simbólicos. Mas, pouco a pouco, os bunkers de Hoxha estão desaparecendo.
"Não sobraram muitos em relação a 15 anos atrás", diz ele. "Foram demolidos. Tanto para sucata ou porque ocupam espaço."
Ele costuma levar turistas para os bunkers que ficam dentro do cemitério principal de Tirana. Ali, eles parecem se misturar aos túmulos e lápides. Outros só podem ser alcançados por barco. Depois, há os túneis, as cavernas subterrâneas e as áreas de armazenamento esquecidas após a Guerra Fria, sendo agora redescobertas à medida que o turismo abre o país.
"Há um enorme em um local que não vou contar: está cheio de uma colônia de milhares de morcegos. Muito estranho entrar nele. Você caminha sobre uma espessa camada de excremento de morcego e eles voam por toda a sua cabeça e, às vezes, vêm tocar o seu cabelo. Na entrada, podem-se ver slogans relacionados à propaganda stalinista e conselhos técnicos sobre como atirar no inimigo que um dia tentará invadir."
Caushi, que deixou a Albânia na década de 1990 para estudar na Suíça antes de retornar alguns anos depois, tem sentimentos contraditórios sobre o legado duradouro de Hoxha. "Eu odeio e amo eles (bunkers) ao mesmo tempo. Eles são estranhos e se tivesse algum poder para impedir sua construção, certamente teria feito isso. Mas como estão aqui e pagamos com tanto sacrifício por eles, acredito que a melhor maneira de punir quem nos forçou a pagar e trabalhar para construí-los é dar uma nova roupagem a essas estruturas, de forma a satirizar o projeto original: afastar o inimigo. Vamos tentar atrair o 'inimigo' para eles."
"É uma abordagem tragicômica e, acredito, saudável. Da barreira original que deveriam ter sido eventualmente, podem se tornar abrigos para o 'inimigo' vir, se divertir, explorar e aprender com eles. Aprenda com esse grande erro e tente não deixar que isso aconteça novamente no futuro."
Para aqueles que os construíram, os bunkers talvez representem os anos perdidos decorrentes da paranóia de Hoxha. Ao visitar a fábrica abandonada em Gjirokaster, Caushi começa a conversar com um grupo de operários que constroem um muro perto dali. Um deles, Isa, diz a ele que o molde de ferro usado para construir as cúpulas do bunker é agora um tanque de água no jardim do vizinho de sua irmã. Ele nos convida a subir e tirar uma foto.
Bebendo um destilado caseiro, ele e seu cunhado relatam os incontáveis verões em que, servindo ao Exército, construíam bunkers arrastando de placas de concreto pesando 40 kg cada uma.
"Enquanto o resto do mundo construía foguetes para enviar homens à Lua, construíamos bunkers", resmunga o cunhado. "Que loucura."

Propaganda "Dodge Charger R/T 79, Para Quem Está Sentindo Falta de Uma Grande Emoção", Dodge Charger R/T, Chrysler, Brasil


 

Propaganda "Dodge Charger R/T 79, Para Quem Está Sentindo Falta de Uma Grande Emoção", Dodge Charger R/T, Chrysler, Brasil
Propaganda

Quiosque, Início do Século XX, Praça Eufrásio Correia, Curitiba, Paraná, Brasil


 

Quiosque, Início do Século XX, Praça Eufrásio Correia, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Fotografia

Nota do blog: Esses quiosques vendiam doces, frutas, tabaco, jogos de azar, etc. Ao fundo vemos a Estação Ferroviária (atual Museu Ferroviário).




Vettura Auto Motrice Michelin / "Michelina", 1932, Linea Ferroviaria Roma-Ostia, Itália



Vettura Auto Motrice Michelin / "Michelina", 1932, Linea Ferroviaria Roma-Ostia, Itália
Fotografia


Descrizione: Il brillante esperimento della "Michelina" sulla Roma-Ostia.
Articolo riportato su “Le vie d’Italia” (rivista periodica pubblicata dal Touring Club Italiano dal 1917 al 1968): “Nei primi tre mesi di esercizio sperimentale, la vettura auto motrice Michelin con pneumatici ha compiuto un servizio perfettamente soddisfacente sulla linea Roma San Paolo – Ostia Lido, confermando le sue qualità di velocità (100 km-ora), regolarità e marcia silenziosa. Durante tale periodo furono compiuti 12.000 km, con un consumo medio di benzina di 22 litri per ogni 100 km. compiuti a carico completo di 24 persone, e senza necessità di alcun ricambio dei pneumatici. Questo nuovo mezzo di trasporto si prospetta quindi come particolarmente indicato per le linee secondarie che hanno bisogno di trasporti frequenti e veloci.” Anno: Novembre 1932.
Sullo sfondo il Castello di Giulio II Ostia Antica.

terça-feira, 3 de maio de 2022

Propaganda "Sim, há uma Diferença...a Manutenção deste DKW-Vemag Está a Cargo da Comercial Itupava Ltda", Comercial Itupava, Curitiba, Paraná, Brasil


 

Propaganda "Sim, há uma Diferença...a Manutenção deste DKW-Vemag Está a Cargo da Comercial Itupava Ltda", Comercial Itupava, Curitiba, Paraná, Brasil
Propaganda

Nota do blog: A propaganda acima era utilizada por diversos segmentos comerciais, como forma de dizer que o serviço que prestavam aos seus clientes era melhor do que o de seus concorrentes. Utilizava-se da diferença óbvia existente entre meninos e meninas para, de forma bem humorada, ressaltar a "diferença" dos seus serviços. Tal propaganda, na maioria dos casos, era fornecida em forma de um adesivo/colante. Quando eu era "de menor", achava isso "coisa de velho", gostava de adesivos/colantes com outra temática, mais voltada ao público da minha idade. Hoje, mais experiente (velho), acho divertido e uma bela sacada do pessoal daquela época. Infelizmente nos dias atuais o grau de fanatismo e jeguice de parte significativa da população é tão grande que, caso alguma empresa utilizasse de recurso semelhante, seria taxada de coisas abomináveis, sendo "cancelada" pelos idiotas de sempre (que na maioria das vezes não são consumidores dos produtos da empresa).