quarta-feira, 4 de abril de 2018

Coronel Francisco Schmidt, O "Rei do Café", Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil


Coronel Francisco Schmidt, O "Rei do Café", Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia


Francisco Schmidt, ou Franz Schmidt (1850-1924), seu nome original, é um dos personagens mais fascinantes da história de Ribeirão Preto. Imigrante alemão que fez fortuna com o café, foi ele quem por mais anos ostentou o título de “Rei do Café”, dado pela imprensa para o fazendeiro que liderasse o ranking anual de produção de grãos – medida em arroubas.
Ele nasceu a 3 de outubro de 1850, em Osthofen, então um pequeno vilarejo (hoje uma pequena cidade) do distrito de Alzey-Worms, que naquele tempo pertencia ao Reino da Prússia, mas que hoje encon­tra-se no estado da Renânia­-Palatinado, na Alemanha. Fugindo da crise econômica na Europa, a família Schmidt che­gou ao Brasil ainda na época do Império, em 1858.
Seus pais Jakob e Gertrud Schmid, trabalharam inicial­mente como colonos na Fazen­da Ibicaba, que hoje pertence ao município de Cordeirópolis – antes ficava em terras de Li­meira. Foi nesta propriedade que Francisco Schmidt, aos oito anos de idade, entrou em contato pela primeira vez com o café, ajudando seus pais no cultivo de cafezais da tradicio­nal família Campos Vergueiro, proprietária da terra.
Poucos anos depois a famí­lia Schmidt se transferiu para a colônia São Lourenço, na Fazenda Felicíssima, de pro­priedade do comendador Luís Antônio de Sousa Barros, em São Carlos do Pinhal (atual São Carlos). Em 1873, aos 23 anos, Francisco Schmidt casou-se com Albertine Kohl (nascida em Cubatão), de família prus­siana oriunda da Turíngia, com a qual teve oito filhos.
Após o matrimônio, o casal trabalhou na fazenda de Antô­nio Leocádio de Mattos, e, em 1875, mudou-se para a fazen­da de Rafael Tobias de Aguiar (brigadeiro Tobias de Aguiar – que dá nome para as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, a Rota, tropa de elite da Polícia Militar (PM) paulista –, ambas localizadas em Belém do Des­calvado (atual Descalvado).
Em 1879, Francisco Sch­midt adquiriu um armazém de secos e molhados, ainda em Descalvado. Neste período, começou a trabalhar também como corretor de café para a Theodor Wille & Co (sediada em Hamburgo, na Alemanha, com filiais em Santos, São Paulo e Rio de Janeiro), empresa que seria por toda a vida a principal parceira de negócios e referên­cia em logística para o alemão.
Em 1889 Francisco ven­deu o seu estabelecimento em Descalvado e compra a sua primeira fazenda, denominada Bela Paisagem, no município de Santa Rita do Passa Quatro. Aproveitando o período de alta no mercado do café, passou a investir na compra e venda de fazendas, conseguindo com isso aumentar o seu capital. Em 1890, comprou, em sociedade com o coronel Arthur de Aguiar Die­derichsen, a Fazenda Monte Alegre, em Ribeirão Preto, até então de propriedade de João Franco de Moraes Octávio.
Poucos dias após a compra, adquiriu a parte de seu sócio na Monte Alegre, para onde se mudou com a família – a casa­-grande da fazenda é o hoje Museu Histórico Plínio Tra­vassos dos Santos, no campus Monte Alegre da Universidade de São Paulo (USP), na Zona Oeste – ao lado foi construído o Museu do Café Francisco Schmidt, uma homenagem ao alemão. Com o financiamento Theodor Wille Co. (de Ham­burgo, Alemanha), comprou inúmeras fazendas nos municí­pios de Ribeirão Preto, Franca, Brodowski, Orlândia, Arara­quara, Sertãozinho e Serrana, entre outros.
No auge, ele chegou a pos­suir 62 propriedades (22.461 hectares), onde 7.361 colonos cultivavam mais de 16 milhões de pés de café. Em 1913, Fran­cisco Schmidt já era o maior produtor do Brasil e por isso recebeu o título de “Rei do Café”. Apesar da predominân­cia do produto, investiu na diversificação de atividades, implantando o primeiro en­genho de açúcar da região, no município de Sertãozinho, em 1906 (Engenho Central, atual Pontal).
Com a morte de sua es­posa em 1917, organizou com seus filhos (Gertrudes Schmidt Whitaker, Anna Schmidt Ferrei­ra Ramos, Guilherme Schmidt, Jacob Schmidt, Albina Schmidt Whately, Arthur Schmidt, Mag­dalena Schmidt Villares e Er­nesto Schmidt) a Cia. Agrícola Francisco Schmidt.
Em 1901 Francisco Sch­midt foi nomeado, pelo então presidente da República Cam­pos Sales, coronel-comandante da 72ª Brigada de Infantaria da Guarda Nacional. Era um títu­lo honorífico, concedido pelo governo aos cidadãos mais proeminentes (leia-se ricos). Francisco Schmidt foi verea­dor em Ribeirão Preto por seis legislaturas, sendo nomeado presidente da Câmara Munici­pal duas vezes.
Em 1899 apresentou uma indicação à Câmara Muni­cipal para aquisição da mata existente na Chácara Olympia, localizada no então chamado Morro do Cipó. A proposta foi aprovada e graças à iniciativa do alemão hoje existe, no co­ração de Ribeirão Preto, a Área de Preservação Permanente (APP) Morro do São Bento – o Morro do Cipó mudou de nome. Não haveria o zoológi­co do Bosque Municipal Dou­tor Fábio de Sá Barreto se não fosse por Francisco Schmidt.
Em 1895, ele liderou a mo­bilização da elite cafeeira que culminou com a construção do Teatro Carlos Gomes, inau­gurado em 1897 – e demolido em 1942.
Na época áurea do café, a imprensa tinha o costume de designar como “Rei do Café” aquele fazendeiro que os­tentasse a condição de maior produtor do grão que fazia a riqueza da cidade. O primeiro a ser assim chamado foi Jo­aquim José de Sousa Breves. Depois, Henrique Dumont, pai de Santos Dumont. O terceiro, que por mais tempo ostentou o pomposo “título”, foi Fran­cisco Schmidt, sucedido pelo quarto e último “monarca”, o italiano Geremia Lunardelli.
Apesar de derrotado durante toda a sua trajetória política nos principais embates como o coronel Joaquim da Cunha Diniz Junqueira – ambos eram do Partido Republicano Pau­lista (PRP), que então mono­polizava a política nacional –, Francisco Schmidt deu o troco depois de morto. Isso porque, de Joaquim da Cunha, o popu­lar Quinzinho da Cunha, nasci­do aqui mesmo em Ribeirão Preto e falecido na terra natal em 1932, não resta uma só recordação relevante.
Uma pequena praça, ao lado do Mercado Municipal, o “Mercadão”, que tinha seu nome, deu lugar primeiro ao terminal de ônibus Antônio Achê, e depois ao Centro Popular de Compras (CPC). A praça “Coronel Joaquim da Cunha Diniz Junqueira” simplesmente desapareceu. Porém, a menos de 200 metros dali, segue imponen­te, ainda que sem o brilho do passado, a praça Francisco Schmidt, homenagem de Ribeirão Preto a seu terceiro “Rei do Café” – um alemão imortalizado na história da cidade, ao contrário de seu desafeto, que o derrotou em vida mas levou o troco após a morte.
Trajetória política:
Nascimento: 03 de outubro de 1850 – Osthofen, Alemanha
Falecimento: 18 de maio de 1924 – São Paulo (SP), Brasil
Filho de Jacob Schmidt e de Gertrudes Rauskolb Schmidt
Vereador na 7ª legislatura da Câmara de Ribeirão Preto (1892-1896)
Vereador (suplente) na 8ª legislatura da Câmara de Ribeirão Preto (1896-1899)
Vereador e vice-presidente da Câmara na 9ª legislatura (1899-1902)
Vereador na 13ª legislatura da Câmara de Ribeirão Preto (1911-1914)
Vereador e presidente da Câmara na 14ª legislatura (1914-1917)
Vereador e presidente da Câmara na 15ª legislatura (1917-1920) –
renunciou em 1917.
Fazenda Monte Alegre:
A partir de 1890, sob adminis­tração de Francisco Schmidt, teve início um novo período na história da Fazenda Monte Alegre, marcado pela prosperidade econômica e pelo desenvolvimento estrutural. Nos úl­timos anos do século XIX e no início do século XX, o alemão construiu não só a nova tulha – hoje Sala de Con­certos do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Univer­sidade de São Paulo (DM-FFCLRP/ USP) –, como também ampliou e melhorou a estrutura geral da casa grande, sede da propriedade.
A área hoje é ocupada pelo Museu Histórico Plínio Travassos dos Santos e pelo Museu do Café Francisco Schmidt. O alemão que virou “monarca” em Ribeirão Preto morreu em 1924 e não viu a derro­cada do produto a partir da crise de 1929 na Bolsa de Nova York (EUA). Seus herdeiros venderam a Fazen­da Monte Alegre para João Marchesi (nascido Giovanni Pietro Marchesi), empresário, fazendeiro, usineiro e banqueiro italiano radicado desde criança em Sertãozinho.
Em 1940, a fazenda foi adquirida pelo governo de São Paulo que, em 1942, instalou ali a Escola Prática de Agricultura. Quando a unidade fe­chou, o Estado cedeu o prédio para a instalação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, em 1952, embrião do que se transformou no campus Monte Alegre da Universidade de São Paulo. Texto de Nicola Tornatore.

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