quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Casa de Quarentena na Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, Brasil (Casa de Quarentena na Ilha Grande) - Nicolau Facchinetti


Casa de Quarentena na Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, Brasil (Casa de Quarentena na Ilha Grande) - Nicolau Facchinetti
Angra dos Reis - RJ
MASP São Paulo
OST - 50x101 - 1887


Em meados século XIX, o Brasil vivia o império de Dom Pedro II. Foi quando surgiu a necessidade de se construir um novo lazareto (uma espécie de hospital para imigrantes), em lugar apropriado para abrigar viajantes e imigrantes portadores de cólera, normalmente contraída nos navios. Vários estudos vinham sendo elaborados nesse sentido quando o Imperador Dom Pedro II, no dia 5 de dezembro de 1863, fez sua primeira visita à Angra dos Reis. Em seu Diário de Viagem, que se encontra no Museu Imperial de Petrópolis, registrou com desenhos e textos a sua passagem pela Ilha Grande, não escondendo o seu encantamento pela singular beleza da Ilha. É possível que mais tarde, quando se decidiu o lugar onde deveria ser construído o lazareto, tenha prevalecido a sua vontade.
O Imperador visitou a Enseada das Palmas e em seguida a frota parou na enseada do Abraão e sua Majestade pernoitou na Fazenda do Holandês. Durante a sua estadia na Vila de Abraão, deu ao devoto Manuel Caetano de Lima uma esmola para a capela em construção (a igreja na praça central) cuja padroeiro é São Sebastião.
Em 1884 começou a construção do Lazareto, obra que terminou em 1886 e contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da Vila de Abraão que foi elevada a distrito de Angra dos Reis em 9 de maio de 1891.
Também em 1884, a Coroa adquiriu a fazenda do Holandês. A propriedade estava compreendida entre a praia Preta até a atual ponte de atracação do Abraão. Esta área ainda hoje é de propriedade do Governo Federal. Na época, a Fazenda de Dois Rios pertencia à família Guimarães, tendo sido vendida à Coroa também em 1884. A propriedade da Fazenda de Dois Rios, estendia-se desde o Canto da praia de Santo Antônio, próximo a Lopes Mendes até o lugar denominado Mar Virado, perto da Parnaioca. Mais tarde foi adquirida outra área no lugar denominado Bica, próximo a ponta Grossa, ainda hoje propriedade do Governo.
O funcionamento do Lazareto seguia o mesmo critério adotado pelos navios de passageiros com relação as classes de passageiros. Existiam pavilhões de 1ª, 2ª e 3ª classes. Haviam restaurantes, armazéns para cargas e bagagens, laboratório bacteriológico, enfermaria e farmácia, além de belos jardins. O Lazareto funcionou de 1886 até 1913 tendo atendido 4232 embarcações, das quais 3367 foram desinfetadas.
O imperador Dom Pedro II teve três passagens pelo Lazareto: Em abril de 1886, em agosto de 1889 e, logo em seguida na condição de prisioneiro onde aguardou o transporte que o levaria para o exílio.
Após a proclamação da República em 1889, o Lazareto passou por reformas (diga-se de passagem, um curto intervalo de tempo após a sua inauguração, uma rápida deterioração – fato devido à grande velocidade de sua construção). Foi nessa reforma que foi construído o aqueduto (um duto ou canal para transporte de água – ainda existente) com vazão de mil litros por hora.
Encerradas as atividades como lazareto em 1913, as instalações permaneceram desocupadas até aproximadamente meados da década de 30. Voltou a ser usado em 1939 como alojamento pelos fuzileiros navais, por ocasião de manobras militares as quais reuniam cerca de 10 navios na enseada do Abraão. Naquelas noites, os fuzileiros se reuniam e agitavam a comunidade da Vila quando praticavam o “Maracatu” , um tipo de música e dança de origem nordestina.
Em 1903, foi instalada oficialmente a Colônia Penal de Dois Rios que serviu de presídio a pessoas julgadas por crimes comuns.
Em 1940, o Lazareto foi outra vez reformado e modificado para transformar-se então em presídio, Colônia Penal Cândido Mendes, que recebeu os presos comuns que estavam na Colônia de Dois Rios, a fim de que essa última abrigasse os presos políticos da 2ª Grande Guerra Mundial. Essas transferências foram devidas ao fato de que a Ilha de Fernando de Noronha, na qual estavam sendo aprisionados os presos políticos, foi cedida ao Governo americano para utilização como base Aero Naval. Paralelamente à reforma do Lazareto e à de Dois Rios, em 1940, foi iniciada a construção da estrada que liga Abraão a Dois Rios. A construção foi feita com mão de obra dos presos comuns. Tratores foram transportados por navios da Marinha.
A Colônia Penal Cândido Mendes abrigou presos comuns até 1954 quando então foram transferidos de volta para o presídio de Dois Rios que também mudou de nome para Cândido Mendes. Depois disso as instalações foram demolidas por ordem de Carlos Lacerda, que na época era Governador do Estado. O aqueduto foi a única coisa que restou inteira mas o local continua sendo chamado de Lazareto.
É sabido também que políticos, espiões, colaboradores de governos estrangeiros e célebres escritores passaram períodos de suas vidas na Colônia de Dois Rios. Alguns acabaram estabelecendo-se definitivamente na Ilha, outros deixaram para a posteridade, em seus livros, as amargas recordações do cativeiro. Dentre eles estão Graciliano Ramos e Orígenes Lessa (escritores) e os revolucionários, Flores da Cunha, Agildo Barata e outros mais.
O Presídio Candido Mendes, na praia de Dois Rios funcionou até 1994, quando os prédios foram implodidos, no governo Brizola. Na fase final, o presídio tornou-se inviável economicamente e já não havia mais condições de se manterem presidiários nas precárias condições dos prédios. .

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