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terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Bar e Confeitaria Stuart / Atual Bar Stuart, Rua Comendador Araújo, Curitiba, Paraná, Brasil

 


Bar e Confeitaria Stuart, Rua Comendador Araújo, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Fotografia


Hoje falaremos sobre o Bar Stuart, o bar mais antigo do Paraná e um dos mais tradicionais da cidade de Curitiba. Essa tradição está estampada na própria fachada do bar, que traz sua data de fundação: 1904.
Em 1904, na Rua Comendador Araújo, foi idealizado por Joseph Richter e fundado pelo casal Stuart (origem do nome do bar) o Bar e Confeitaria Stuart. Inicialmente também levava o nome de confeitaria pois o estabelecimento vendia doces, salgadinhos, sorvetes, entre outros. Tinha como funcionários os irmãos Afonso e Leopoldo Mehl.
Em 1934 os irmãos Mehl compraram o Bar, e ele passou a funcionar na esquina das Ruas Voluntários da Pátria e XV de Novembro, na Boca Maldita. Na década de 1950, o dono do prédio em que o bar estava alocado, Artur Hauer, decidiu por demoli-lo. Constâncio Bocardin, outro comerciante da região, fez aos irmãos a proposta de ceder a eles o seu ponto - onde ficava uma farmácia.
Os Mehl aceitaram a proposta, e o bar se transferiu, em 1954, para o local onde está até hoje - em frente à Praça Osório, esquina com a Alameda Cabral. Três anos depois, em 1957, o prédio que estava sendo construído no antigo lugar do bar ficou pronto, e o proprietário convidou os irmãos a voltarem para lá.
Eles não entraram em consenso quanto à proposta e a sociedade entre os irmãos foi desfeita. Afonso ficou com o Bar Stuart e Leopoldo abriu a Confeitaria Iguaçu.
Alguns anos depois, Afonso passou o Bar para seu cunhado, Ronald Abrão (de apelido “Ligeirinho”), que já havia trabalhado no Stuart quando criança/adolescente. Abrão, por sua vez, fez sociedade com o italiano Dino Chiumento, que já trabalhava há anos no Stuart.
Dino Chiumento começou a administrar o bar em 1973. Lá ele já trabalhava como garçom desde 1949. Ele chegou em Curitiba, vindo da Itália, com 14 anos. Trabalhava em um restaurante de Morretes até ser convidado por Leopoldo Mehl, proprietário à época, para vir trabalhar no Stuart. Aceitou a proposta, começando a trabalhar como garçom e depois passando a administrar o bar.
Ele ficou à frente do Bar até 2008, quando Nelson Ferri o comprou. Ferri era muito conhecido entre os frequentadores do bar e aparece na maioria das fotos mais recentes tiradas no bar, principalmente as com famosos, que estão estampadas nas paredes do estabelecimento.
Ferri veio a falecer em abril de 2021. Ele lutava contra um câncer no pulmão e havia contraído COVID-19, ficando dez dias internado e dois dias entubado.
O bar tem também seus garçons tradicionais, que acabam se tornando amigos dos clientes, entre eles Jorge (o Alemão), Dino Chiumento (que mesmo após não estar administrando o bar continuou como garçom) e Joelson.
Como sabemos, bares são espaços em que as sociabilidades se manifestam, em que os frequentadores se sentem à vontade para conversar sobre os mais diversos assuntos.
Com o Stuart não era diferente. Além disso, o Bar ficava próximo à redação de vários jornais da capital paranaense. Diversos jornalistas eram presença frequente no bar, e muitas vezes escreviam as próprias matérias dos jornais de dentro do bar. É o que conta Ronald Abrão, em relato presente no livro “Bares e Restaurantes de Curitiba: décadas de 1950 e 1960”:
"O quadro jornalístico de Curitiba botei dentro do Stuart. Quem fazia os jornais antigamente, fazia dentro do Stuart. Era o Milton Carvalho de Oliveira, o Renato Ribas, o Carlos do Valle, que era dono da Gazeta do Povo, o Zanello, do Paraná Esportivo, o Charchetti, um dos maiores repórteres que Curitiba teve, três vezes ganhador do Prêmio Esso de Reportagem, o Aurélio Benitez. Essa raça fazia as reportagens dentro do Stuart."
Além dos jornalistas, o Bar também já recebeu diversos políticos e celebridades. Já visitaram o bar tanto políticos de tempos mais remotos como Bento Munhoz da Rocha e Manoel Ribas como de tempos mais atuais, como o ex-presidente Lula e os ex-governadores do Paraná Roberto Requião e Jaime Lerner. Ex-Jogadores de futebol, como o falecido Sicupira - presença frequente - e Romário também já passaram pelo bar.
Artistas, como o poeta curitibano Paulo Leminski, eram frequentadores assíduos do bar. Leminski tinha sua mesa habitual onde costumava se sentar, à entrada do bar, e escrever suas poesias com papel, caneta e um copo de vodca.
Ligeirinho, em sua época à frente do bar, começou com a tradição de realizar um sorteio diário de uma rifa valendo algum animal, como um leitão, peru, frango, etc. Um dos pratos mais famosos do bar é o de testículos de boi, introduzido na década de 1970 e o mais conhecido do bar. Ele pode ser servido ao molho ou à milanesa. O prato começou a ser servido na época em que Chiumento estava à frente do Stuart.
Conta ele que a ideia partiu de um fazendeiro do interior. "Ele trouxe a carne para a gente. Preparamos e servimos. O pessoal gostou. Só falamos o que era depois que as pessoas perguntaram", relatou Dino para a Gazeta do Povo em 2014.
Com diversas sedes e diversos proprietários ao longo de sua história, o Bar Stuart mantém-se há 117 anos na vida dos curitibanos como um patrimônio da capital paranaense, preservando décadas de tradição e levando o título de bar mais antigo do Paraná. Texto Turistória.

O Encerramento das Atividades do Bar Stuart, 2023, Curitiba, Paraná, Brasil

 


O Encerramento das Atividades do Bar Stuart, 2023, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Fotografia


Porta fechando e lágrimas caindo diante de um cenário triste como um copo quebrado. O Stuart, o bar mais antigo do Paraná, o segundo do Brasil, e um dos mais tradicionais da Curitiba, encerrou um ciclo de 119 anos nesta segunda-feira (04/12/2023). A esquina da Praça Osório com Alameda Cabral, no Centro, ponto de encontro de curitibanos famosos ou anônimos, ficou silenciosa. A expectativa é que o local venha a ser reaberto no primeiro semestre de 2024 com novos donos.
Aos clientes que passam na frente do Stuart, olhares curiosos e desconfiados para dentro do bar. Com as portas e garrafas de bebida fechadas, o clima é de apreensão quanto ao futuro. Será que o Stuart vai perder sua identidade? Os quadros que comprovam a linha história de Curitiba e personagens folclóricos serão retirados?
O cardápio com iguarias como testículos de touro, a carne de rã, o rabo de jacaré irão acabar? E o Jorge, mais conhecido como Alemão, garçom das antigas que tira o chope na régua foi demitido? Perguntas que pairam no ar…
Os questionamentos acima devem permanecer ainda nos próximos dias, pois não se divulgou oficialmente quem vai “tocar” o negócio. Especula-se que uma rede com bares em Curitiba tenha realizado o negócio. O Stuart Bar chegou a estar à venda em 2018, naquela época por Nelson Ferri, que cobrou R$ 1,1 milhão. Ninguém comprou. Nelson Ferri morreu três anos depois, após perder uma luta contra o câncer.
Em 1904, na Rua Comendador Araújo, Joseph Richter e o casal Stuart (origem do nome do bar), fundam o Bar e Confeitaria Stuart.Levava também o nome de confeitaria, pois o estabelecimento vendia doces, salgadinhos e sorvetes. Tinha como funcionários os irmãos Afonso e Leopoldo Mehl.
Em 1934, os irmãos Mehl compraram o Stuart, e passou a funcionar na esquina das Ruas Voluntários da Pátria e XV de Novembro, na Boca Maldita. Na década de 1950, o dono do prédio em que o bar estava alocado, Artur Hauer, decidiu por demolir o edíficio. Constâncio Bocardin, outro comerciante da região, faz aos irmãos Mehl a proposta de ceder a eles o seu ponto , onde ficava uma farmácia.
Os Mehl aceitaram a proposta em 1954, e o bar se transferiu para o local onde está até hoje, em frente à Praça Osório, esquina com a Alameda Cabral. Três anos depois, em 1957, o prédio que estava sendo construído no antigo lugar do bar ficou pronto, e o proprietário convidou os irmãos a voltarem para lá.
Eles não entraram em consenso, e a sociedade entre os irmãos foi desfeita. Afonso ficou com o Bar Stuart e Leopoldo abriu a Confeitaria Iguaçu.
Alguns anos depois, Afonso passou o Bar para seu cunhado, Ronald Abrão, o “Ligeirinho”, que já havia trabalhado no Stuart quando criança/adolescente. Ligeirinho foi um dos ícones dos bares curitibanos, começou com a tradição de realizar sorteios diários de rifas valendo algum animal, como um leitão, peru e frango aos clientes na mesa. “Vai rodar a rifa”, gritava animado no tempo em que se anotava tudo no papel e uma boa caneta que ficava no avental.
Ao lado do Ligeirinho estava o italiano Dino Chiumento. Chegou ao Stuart em 1949, garçom de formação de um restaurante de Morretes, no Litoral do Paraná. Foi convidado por Leopoldo Mehl, proprietário na época para trabalhar no Stuart. Aceitou a proposta, carregou por anos a bandeja prateada e depois passou a administrar o bar.
Ligeirinho saiu da sociedade para montar o próprio comércio, e Dino ficou no comando até 2008, quando Nelson Ferri assumiu. Com uma simpatia peculiar, Ferri retomou eventos aos sábados no Stuart, atraindo novos clientes e turistas.
Ferri veio a falecer em abril de 2021 de Covid-19.
No posto, assumiu o Carlos, filho de Nelson Ferri, que conta com a colaboração de amigos como Luiz Carlos de Carvalho, Arno Grahl e tantos outros expoentes da boêmia e da boa conversa.
O Stuart foi ponto de apuração jornalística. A notícia muitas das vezes estava ali, no meio de uma porção ou outra, jornalistas saiam dali com uma bomba. O bar também recebeu políticos como Roberto Requião, Jaime Lerner (falecido), o governador Ratinho Junior e o pai Ratinho, o atual presidente Lula, ex- jogadores de futebol, como Romário e o saudoso Sicupira.
Artistas, como o poeta curitibano Paulo Leminski, eram frequentadores assíduos do Stuart. Leminski tinha sua mesa habitual onde costumava se sentar, à entrada do bar, e escrever suas poesias com papel, caneta e um copo de vodca.
Bar Stuart, um patrimônio paranaense de 119 anos. Como diria Leminski em suas passagens pelo recinto, “ O Rio é o Mar, Curitiba, o bar”. Que a porta fechada venha a ser apenas um até breve. Já sentimos saudade!
Texto da Tribuna do Paraná.