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domingo, 22 de dezembro de 2024

Busto de Olivério Bazzani Filho, Arena da Fonte Luminosa / Estádio Municipal Olivério Bazzani Filho, Araraquara, São Paulo, Brasil

 





Busto de Olivério Bazzani Filho, Arena da Fonte Luminosa / Estádio Municipal Olivério Bazzani Filho, Araraquara, São Paulo, Brasil
Araraquara - SP
Fotografia


Há 51 anos (2024), um dos maiores jogadores da história da Ferroviária se despedia do futebol. No centro do gramado da antiga Fonte Luminosa, Olivério Bazzani Filho, o “Rabi”, tirava as chuteiras e a camisa grená que vestiu e conduziu a títulos e campanhas históricas, e encerrava uma carreira cercada de causos, encantamento e muita bola na rede. Foram 758 jogos pela Ferrinha e 244 gols, marcas que dificilmente serão batidas.
Dentista por formação, Bazzani deixou os gramados, mas não abandonou a Ferroviária, onde ainda foi treinador vitorioso e garimpeiro de novos talentos. Aqui vamos relembrar a história no futebol, a passagem pelo Corinthians, o dia em que colocou Pelé no banco de reservas da Seleção Paulista e o chute potente do ex-ponta-esquerda.
O ídolo da "Locomotiva" faleceu em 13 de outubro de 2007, em decorrência de uma luta contra o câncer de próstata. Mas não sem antes receber a homenagem de ter um busto colocado em frente à Fonte Luminosa.
Nascido em Mirassol, foi com a camisa do time da cidade natal que o jovem ponta-esquerda chamou a atenção dos diretores da Ferrinha. Durante um amistoso em 1951, contra a equipe amadora da Ferroviária, uma vitória por 8 a 0, com quatro gols de Bazzani, iniciaria o namoro. Mas ele perambulou por outros clubes por três anos, o extinto Mogiana, de Campinas, Monte Aprazível e Rio Preto, antes de iniciar sua trajetória com a camisa grená.
Em 1953, durante um teste na Ferrinha, foi convencido a ficar e rejeitar uma proposta para atuar pelo Fluminense. Começou no time amador, que seria o equivalente ao sub-20. Fez a estreia no profissional em 1954, marcando um gol na vitória por 3 a 2 sobre o Paulista, e assinou contrato no fim daquele ano, o mesmo em que a Locomotiva perdeu a vaga na Divisão Especial (hoje Série A1) para o Linense, ao ser derrotada por 3 a 0.
No ano seguinte, com Bazzani entre os titulares, outro time de Ribeirão Preto cruzou o caminho da AFE na busca pelo acesso, desta vez era o Botafogo-SP. Na grande decisão, em Araraquara, a Locomotiva atropelou o Pantera e venceu a decisão por 6 a 3, com dois gols de Bazzani. Ainda estudante, no dia seguinte à final foi recebido com festa pelos colegas de classe, entre eles o escritor Ignácio de Loyola Brandão.
A Ferrinha não só se manteve na elite do futebol paulista, como conquistou o quarto lugar no Paulistão de 1959, ficando atrás de Palmeiras, Santos e São Paulo. Nos dois anos seguintes, repetiu o sucesso e foi a melhor colocada entre as equipes do Interior.
Em 1960, Rabi foi convocado para a seleção paulista, conquistou o título brasileiro e deixou o Atleta do Século na reserva. Na partida contra a seleção da Bahia, Pelé estava sentindo dores e Bazzani foi escolhido para formar a linha ofensiva ao lado de Servílio e Pepe. No segundo tempo, o Rei do Futebol acabou entrando e fez quatro gols, mas Bazzani nunca deixou de se divertir com a história.
O sucesso consecutivo por quase dez anos na Ferroviária, um período longo mesmo para a época, teve explicação, além do amor pela camisa grená, ele se dedicava ao curso na Faculdade de Odontologia de Araraquara, que não permitia que jogasse muito longe. Só em 1963 que o Corinthians contratou o craque ao ganhar uma disputa que, segundo o Jornal “Gazeta Esportiva” da época, participaram Vasco da Gama, Portuguesa, Palmeiras, Santos e Flamengo.
Sem ganhar títulos desde 1954 (a fila se encerraria só em 1977), o Timão estava pressionado e mesmo com Bazzani, Cabeção, Oreco e Luizinho, o título não veio nos anos de 1963-64. De acordo com o historiador da Ferroviária, Luiz Marcelo Inaco Cirino, a passagem apagada de Bazzani pelo Timão tem a ver com a mudança de característica do então ponta habilidoso.
- Os técnicos Rato e Armando Del Débbio exigiram que ele marcasse os adversários e desse “botinadas”, o que jamais havia feito em sua carreira. Assim, aquele futebol maravilhoso entrou em declínio – conta Cirino no livro “Fonte Luminosa – Ferroviária”.
Com Bazzani, o Corinthians foi vice-campeão da Taça Rio-São Paulo, em 1963, mas ficou fora de todas as finais do Paulistão até 1965, quando o craque deixou o Parque São Jorge e voltou para a Ferroviária. Os dois estavam arrasados, a Locomotiva havia sido rebaixada. Bazzani conduziu o time de volta à elite em 1966. Foi então que o esquadrão com Teia, Dudu e Bazzani conquistou o tricampeonato do Interior, em 1967-68-69. O feito rendeu a posse definitiva do Troféu "Folha de S. Paulo", criado pelo jornal para premiar a melhor equipe de fora da capital.
Com Bazzani, a Ferroviária também conquistou a Taça dos Invictos, em 1971, oferecida pelo jornal "Gazeta Esportiva". Foram 14 jogos de invencibilidade no Campeonato Paulista daquele ano.
Ao encerrar a carreira, em 1973, ainda trabalhou nas categorias de base do clube, ajudando a lapidar talentos. Concomitante com tudo isso, atendia em seu consultório como cirurgião-dentista e prestava serviços voluntários para hospitais da cidade.
Sua dedicação à Locomotiva o levou a ser técnico do time principal, onde conquistou o vice-campeonato da Taça de Prata de 1980 (equivalente à Série B do Brasileiro a época), e à semifinal do Paulistão de 1985. Ainda foi campeão do Paulista de Aspirantes, em 1993. Figura constante na Fonte, costumava disputar peladas com torcedores e funcionários. Um deles, o hoje monitor do Museu da Ferroviária, Gustavo Ferreira Luiz, conta a emoção que teve de fazer uma tabelinha para um golaço de Bazzani.
- Eu frequentava muito o clube, mas nunca fui jogador. Por isso, eu via muito o Bazzani por lá, mas convivi muito pouco. Como eu tinha muita amizade com os funcionários, e como toda segunda-feira era o dia de folga deles, eles faziam um jogo entre eles nos mini-campos do clube toda segunda-feira, no final da tarde. Eu e mais alguns amigos participávamos das peladas. Um dia eu passei a bola pro Bazzani e ele bateu de primeira. Golaço. Na gaveta. Eu cresci ouvindo do meu falecido pai que o Bazzani era um craque. Quando eu cheguei em casa, a primeira coisa que eu fiz foi contar pra ele: "Pai, eu não vi o Bazzani jogar, mas dei um passe pra ele fazer um gol” – relembra Luiz.
A história de Bazzani na Ferroviária se confunde com a do clube. Não por acaso, cronistas esportivos da época chamavam o ponta de "Pelé de Araraquara". A cidade jamais esqueceu o jogador, dentista, amigo e profissional. Toda vez que a torcida vai à Fonte Luminosa apoiar o clube, tem de reverenciar o busto do craque. Texto de Carlos Alciati Neto / GE.
Nota do blog 1: Monumento instalado em 19/04/2007, obra de Wagner Gallo.
Nota do blog 2: Imagens de 2024 / Crédito para Jaf.