Rua do Rosário / Casa de José Hauer, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Fotografia - Cartão Postal
Na Rua do Rosário, no Largo da Ordem, uma estrutura chama a atenção: quase na esquina com a Travessa Nestor de Castro, com ares de castelo, está o Palacete Hauer, como hoje é conhecido, com dois pavimentos visíveis e um porão. Datado de 1895, foi a residência de José Hauer, o primeiro da família alemã a pisar em terras brasileiras, em seus últimos anos por aqui antes de voltar para a Europa. Depois sediou o Colégio da Divina Providência – atualmente parte do Grupo Bom Jesus – e hoje é um dos campi do Centro Universitário Internacional Uninter.
Apesar de cumprir uma função totalmente diferente da que foi originalmente feito para cumprir, o palacete conserva algumas joias do tempo residencial, que permitem imaginar o dia a dia de quem morava ali. A começar pela torre de cerca de 15 metros que, rezam todas as lendas, foi encomendada por Hauer para que pudesse ver a Serra do Mar, em cuja construção trabalhou como cozinheiro e por onde chegou a Curitiba – a pé.
Para chegar a ela, são quatro lances da escada central, em madeira, que segue imponente. A divisão de ambientes também pouco mudou. No térreo, onde hoje funcionam áreas administrativas, permanecem intactas no teto molduras em bronze e madeira maciça, que antes davam base para lustres, e sancas com trabalhos em alto relevo.
Na sala de professores, é recomendável olhar para cima: um céu azul pintado com anjos se abre no teto de todo o local. Em uma das paredes, azulejos brancos de mais de cinco centímetros de largura mostram os fundos de uma antiga lareira, preservada no cômodo ao lado, onde hoje funciona o departamento jurídico acadêmico da Uninter.
Por fora, o jardim também conserva características iniciais, com uma jardinete ao lado dos dois volumes que avançam na calçada. Ao lado, o verde se estende como um corredor, que convida a olhar para o fundo. Do outro lado do terreno, em frente à Alameda Dr. Muricy, segue de pé a antiga sala de música de Hauer, que mais tarde virou um coreto para as alunas do Divina e que, hoje, cumpre a função de manter viva uma das memórias da residência.
Por que Hauer pediu uma casa com ares de castelo é uma incógnita. Fato é que foi levantada em uma época em que o ecletismo estava com tudo por aqui. “Eram aceitas múltiplas formas e ornamentos”, explica a arquiteta e historiadora Elizabeth Amorim de Castro. De acordo com ela, mais importante do que enquadrar a construção em um estilo arquitetônico, é analisar o cotidiano representado por ela. “Reproduz um modo de vida mais abastado e denota a incorporação de preceitos higienistas, com a casa solta no terreno”, afirma a pesquisadora. O fato de estar solta no terreno, com jardins em volta – e não grudada nas casas ao lado -, mostra que havia preocupação com a ventilação e insolação corretas, conforme explica Elizabeth.
Muitas histórias circundam o retorno de José Hauer à Alemanha em 1905. Algumas dão conta de que os filhos não aceitaram o segundo casamento do pai, ocorrido em 1902, após ter ficado viúvo, fazendo com que o patriarca fosse embora com a esposa. Há até quem diga que eles nunca mais se falaram.
Não é o que acreditam o coordenador de Etnias da Fundação Cultural de Curitiba, Carlos Hauer Amazonas de Almeida, 54, e pelo empresário José Augusto Leal Hauer, 53, pesquisadores da família e, respectivamente, bisneto de Roberto Hauer (irmão de José) e tataraneto de José Hauer. Segundo a dupla de especialistas na história familiar, diversos cartões postais trocados entre Hauer já na Europa e os filhos provam que a relação continuou.
Antes de ir, vendeu a casa onde havia morado pelos últimos 10 anos às Irmãs da Divina Providência. No mesmo ano de sua ida, a congregação passou a ocupar o local e a oferecer escola às meninas alemãs católicas. Durante os 53 anos em que esteve ali, o colégio cresceu e adquiriu os terrenos ao lado.