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quinta-feira, 10 de outubro de 2019

A História do Frigorífico Eder / Frigorífico Santo Amaro, São Paulo, Brasil









A História do Frigorífico Eder / Frigorífico Santo Amaro, São Paulo, Brasil
Artigo


Alexandre Eder nasceu em 25 de maio de 1891, na cidade Hohenburg, na fronteira com a França, território da Alemanha, conhecida por seus monastérios beneditinos, homens de formação rígida do “orar e laborar” e que estiveram à frente na elaboração de produtos da gastronomia, tornaram-se conhecedores do “segredo” de embutidos e defumados além de idealizarem bons vinhos de videiras centenárias.
Era uma grande escola para o jovem Alexandre Eder que se especializou no primeiro ramo. Com o advento da Primeira Grande Guerra, com as animosidades acirradas entre França e Alemanha, resolveu partir. Na Alemanha, era técnico em carnes, pesquisava, aprendendo coisas a respeito da industrialização de carnes e seus derivados.
Desembarcou em Pernambuco, no Brasil, em 1914, no apogeu da Primeira Guerra Mundial como marinheiro em um navio com muitos imigrantes. Alexandre Eder acabou permanecendo algum tempo em Recife, onde para viver exerceu trabalho braçal, onde contava:
“Cheguei a São Paulo em 1915, depois de ter passado por várias cidades do interior de Minas, Goiás, Mato Grosso, onde sempre procurei me dedicar à pecuária.”
Em São Paulo existia grande colônia alemã, onde se adaptou com facilidade por sua personalidade e também pelos conhecimentos técnicos adquiridos em sua terra natal. Foi assim que durante a Primeira Guerra Mundial trabalhou em vários estabelecimentos como técnico na fabricação de frios e conservas, mas estava interessado em ter seu próprio negócio. Pressentindo a formidável oportunidade neste campo ainda incipiente no Brasil, planificou as bases de seu sonho de jovem. Uniu-se a outro grande empreendedor, Max Satzke, também natural da Alemanha, nascido em 23 de abril de 1895, relação de amizade quando trabalhavam juntos no Frigorífico Continental, depois Wilson, onde decidiram firmar uma sociedade e trabalharem por conta própria, comprando o Frigorifico Schalfke, de Emma Schalfke, em Santo Amaro, onde residiam muitos imigrantes germânicos, descendentes dos primeiros colonos vindos para o Brasil em 1829 para o projeto do governo imperial instituindo a Colônia Paulista.
Foram estes os primeiros consumidores das salsichas, presuntos e frios produzidos pelos sócios, com a mesma técnica e padrão de qualidade que havia na terra de seus ancestrais, e depois também conquistaram a população local, de várias etnias, com o padrão de qualidade e diversificação de produtos.
Em 1º de junho de 1923 Alexandre Eder e Max Satzke adotaram a razão social “Alexandre Eder & Cia - Frigorifico Santo Amaro” e se esforçaram para ampliar o negócio, adquirindo terrenos para ampliar a nova fábrica no Município de Santo Amaro , que possuía reduzido número de empreendimentos industriais, quando iniciaram as atividades neste pequeno frigorifico, instalado na rua Isabel Schmidt, depois abrangendo a esquina da avenida Adolfo Pinheiro.
Era considerada verdadeira temeridade, pois à época o mercado não era abrangente e ainda não oferecia interesse de pessoas empreendedoras neste seguimento da indústria de frios, um campo a ser conquistado. A visão destes dois homens foi marcante no desenvolvimento industrial da organização que se processou paralelamente ao crescimento industrial de Santo Amaro.
A profunda significação da marca estava estampada em muitos estabelecimentos do segmento de embutidos: “Temos produtos do Frigorífico Santo Amaro”. Esse slogan determinava a preferência do consumidor pela excelência dos produtos que incluía frios cozidos e defumados, salames, presunto, salsichas Viena e salsichões Schubling e Nürenberg, mortadelas que deixavam o frigorífico todos os dias.
Houve uma tentativa de verticalizar a produção na década de 1950, adquirindo uma fazenda no interior do Estado de São Paulo, onde foram introduzidas no Brasil, as primeiras matrizes de porcos brancos vindos da Alemanha, de carne mais tenra e com menos gordura, ideal para o lombo e pernil, mas as dificuldades operacionais levaram a idéia a ser arquivada para uma retomada posterior.
Com o advento da televisão o Frigorífico Santo Amaro cria se a propaganda rápida que era um slogan que marcou época em anúncios de produtos, onde em um desenho animado apreciava-se a conversa entre um boizinho e um porquinho:
“O que você vai ser quando crescer?”
“Salsichas, ué, mas só se for do Frigor Eder Santo Amaro!”
O Frigorifico usava no inicio das atividades as dependências do Matadouro Municipal de Santo Amaro, nas imediações da Praça Oswaldo Cruz,(atualmente denominada Praça Andrea Doria em homenagem ao almirante genovês do século 15) com fachada para a Rua Borba Gato.
O gado era transportado para o matadouro, que muitas vezes se espalhavam por algum descuido a manada invadia casas ou algum desgarrado perde-se no meio do mato. Assim para que houvesse um melhor planejamento, e Santo Amaro desativando as instalações de seu matadouro, o Frigorífico Eder resolveu ampliar suas instalações adquirindo terras para constituir a Fazenda Santa Gertrudes, 118 Alqueires, próximo ao Jardim Campestre, instalando um matadouro próprio no quilometro 26 da Estrada de Itapecerica da Serra, inaugurado no ano de 1964 com a presença de autoridades locais.
Quando a organização fez 50 anos de existência houve o depoimento importante à Gazeta de Santo Amaro, edição de 02 a 8 de junho de 1973, do diretor e jornalista Armando da Silva Prado Netto, com o título:
“Frigor Eder 50 anos acompanhando a história de Santo Amaro”
Há 50 anos quando Alexandre Eder e Max Satzke resolvera fundar a Alexandre Eder & Cia, todas as dificuldades naturais de um empreendimento estiveram à mostra, como um desafio aos dois iniciadores, tendo no trabalho e na dedicação suas principais armas.
Três funcionários apenas com igual número de pequenas máquinas elétricas, levam seus fundadores ao saudosismo: uma fase inesquecível, plataforma para uma estrutura empresarial que foi sendo formada, aumentada e reconhecida com o passar dos anos.
“Uma carroça e um cavalo lindo”, contam os dois, formava a frota de entregas da companhia que erguida em bases simples foi tomando forma gigante em torno de si mesma. Até hoje, meio século depois, já então como Frigor Eder S.A.(passando pela razão social de Frigorífico Santo Amaro S.A.) a empresa mantém-se em Santo Amaro, no mesmo local onde foi fundada na Rua Isabel Schmidt.
Muitas foram as dificuldades encontradas por Alexandre Eder e seu sócio Max, mas, cada adversidade tornava-se um motivo novo para elevarem a qualidade de seus produtos e Alexandre Eder via sempre mais razões para correr atrás da perfeição, tendo como arma para cativar o consumidor o sabor natural de suas mercadorias: “De 3 em 3 anos eu viajava para a Europa, estava sempre a procura de novas fórmulas de novas técnicas”.
A história do Frigor Eder S/A e de Alexandre Eder e Max, está repleta de um romantismo e de uma coragem que a tornam não só peculiar, mas de fato fascinante. A coragem, o apego ao trabalho e a ousadia são seus aspectos mais marcantes.
Em São Paulo, após trabalhar 5 anos como técnico de um frigorifico, Alexandre Eder tomou a decisão de ter o seu próprio negócio, aplicando os amplos conhecimentos de que era possuidor numa iniciativa sua: ”Eu e meu sócio acordávamos as duas horas da manhã, preparávamos os produtos: salsichas, os defumados e dávamos início a sua distribuição”.
Com a carroça e o cavalo, a mercadoria era transportada até a estação dos bondes de carga de Santo Amaro. De bonde, até a Praça da Sé, onde outra carroça os esperava para que os produtos e os derivados começassem a ser entregues. No começo a distribuição visava apenas aos comerciantes do centro da cidade.
“Temos dois fregueses muito importantes, um símbolo para o Frigor Eder, a Casa Godinho , antigamente na Praça de Sé e hoje na Libero Badaró e Alberto Pantel, no Mercado Municipal Central, foram nossos primeiros clientes e o são há 50 anos.”
Trabalhando praticamente dia e noite, vendo dia a dia não só a aceitação com a exigência com seus produtos, Alexandre Eder foi sentindo a dimensão que a sua iniciativa alcançava: “Em 1936, já tínhamos aproximadamente uns 70 empregados e a nossa produção não era suficiente para os pedidos”.
Diante da contínua procura maior do que a oferta Alexandre Eder, viu-se obrigado a adotar novos sistemas, aumentar a produção:
“Em 1936 eu mesmo viajei para a Europa e com base em muitas pesquisas, trouxe uma fórmula para preparar presuntos de 48 horas, depois já estavam prontos para serem servidos. Foi um marco importante para a empresa”.
Tendo sempre como assessores técnicos especialistas na produção de salsinhas - produto base - Alexandre Eder foi sentindo o sucesso de sua iniciativa, mesmo que as dificuldades continuassem quase as mesmas, a necessidade de contratar novos elementos para a nossa indústria.
“Apesar disso, com a procura sempre aumentando, nossa preocupação esteve voltada para a qualidade dos produtos que distribuímos. De nada adiantava ter qualidade para apresentar somente no início e depois não conseguir manter um produto com um nível superior, portanto, com a mesma aceitação.”
No começo, os grandes compradores eram os donos das tradicionais casas de frios, como a Casa Godinho, mercado, os feirantes, os avulsos:
“À medida que víamos as transformações naturais da época se processarem, procurávamos nos adaptar a elas. Não parávamos nunca de pesquisar, de crescer.”
Crescendo sem perder as origens, liderar sem perder a disposição de vir sempre melhor:
“Quando iniciamos no mercado brasileiro, os frios e o verdadeiro presunto eram praticamente desconhecidos, nosso frigorifico se encarregou de tornar esses produtos populares. Hoje podemos nos orgulhar do que fizemos e do que ainda temos por fazer.”
Alexandre Eder e Max Satzke sempre foram homens dedicados ao trabalho e a luta que desenvolveram nos primórdios de sua organização graças ao espírito empreendedor e dedicação transformaram a iniciativa em uma florescente indústria que muitos serviços prestaram a Santo Amaro. Desenvolveram sábia política de entendimento com os empregados da organização, sempre mantendo o bem estar de seus colaboradores, destacando a preocupação pelos seus empregados.
Alexandre Eder foi agraciado com o título de cidadão paulistano pela Câmara Municipal de São Paulo concedido em homenagem aos relevantes serviços prestados a cidade, pelo espírito de arrojo empreendedor, em 16 de junho de 1963, pelo exemplo de tenacidade e de confiança no futuro. Estes homens fizeram o que sonharam e partiram com o dever cumprido Max em 10 de julho de 1973 e Alexandre em 16 de dezembro de 1979.
O Frigorífico Santo Amaro, após os seus idealizadores, continuou a sua produção que já chegava perto de 30 toneladas de frios por dia sendo que a salsicha, que representava 70 % da produção era o “carro chefe” da empresa, o produto mais vendido, principalmente a granel em muitos estados do Brasil.
A indústria empregava na década de 1980 um contingente de 650 pessoas, da área administrativa e de produção, com um capital social de três bilhões de cruzeiros, um aporte respeitável à época. A família assumiu todo o complexo onde passou a ser dirigida por João Eder, Alexandre Satzke, Alexandre Eder Neto, João José Eder e Eduardo de barros Satzke, do patrimônio onde a fábrica em Santo Amaro, na Rua Isabel Schmidt, possuía maior significação, onde tudo se iniciou em terreno de aproximadamente 10 mil metros quadrados e com área construída de 13 mil metros quadrados, um matadouro em Itapecerica da Serra, onde eram abatidos 400 suínos por dia. Os porcos vinham de criadores da região sul do país e possuíam representações em vários locais do Brasil.
Naquele momento a produção era para mercado interno, mas, havia interesse de se globalizar e entrar em outros países, exigentes em qualidade, aliás o que não faltava a organização, fato que necessitava a ampliação das instalações para permitir inclusive barateamento de custos. Os tempos eram outros, e expandir obrigava entrar em novos investimentos financeiros o que deu aos grupos de investidores a posse de um patrimônio ofertado em hipoteca; assim parte deste patrimônio do Frigorífico Santo Amaro passou para os bancos e em 1990 e o restante foi vendido para o grupo Bolsa Nacional de Empresas. Em 1998, o frigorífico Eder Santo Amaro passou a administração e controle de novos proprietários, após completar “bodas de brilhante de existência” não mais brilhava no panorama do local que lhe inspirou o nome como Frigorifico Santo Amaro.
Nota do blog: Imagem 1, data 10/02/1928, retrata o antigo Frigorífico Eder, em Santo Amaro, São Paulo/SP, esquina da rua Isabel Schmidt com avenida Adolfo Pinheiro, encomendada pelo proprietário, Alexandre Eder, para divulgação do seu negócio / Imagens 2 a 6, data e autoria não obtidas.