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quarta-feira, 6 de novembro de 2019
Monumento a Pedro Álvares Cabral, Rio de Janeiro, Brasil
Monumento a Pedro Álvares Cabral, Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
Fotografia
O Monumento a Pedro Álvares Cabral está localizado nos jardins no largo da Glória, no Rio de Janeiro - RJ. Obra do escultor Rodolfo Bernardelli, foi inaugurada por Campos Salles, então presidente da república, durante os festejos do quarto centenário de nossa descoberta por Cabral.
São do Dr. Ramiz Galvão as palavras que publicamos a seguir, transcritas do discurso que pronunciou em nome da Associação do Quarto Centenário do Descobrimento do Brasil, no ato inaugural do monumento a Pedro Álvares Cabral, em 1900, fazendo a entrega do mesmo ao prefeito desta capital:
“Esta homenagem prestada à memória do glorioso descobridor da terra de Santa Cruz, por ocasião do quarto centenário que celebramos todos em legitima expressão de júbilo, representa um preito de gratidão ao passado, e um monumento que simboliza a perfeita união de dois povos, filho um do outro, hoje irmãos, indissolúveis amigos. O gênio do artista vazou no bronze um pensamento complexo e grandioso, traduzindo no arroubo de Cabral a opulência inconfundível do nosso país; na piedosa missão de Frei Henrique, a bênção do céu que o protege; na atitude entusiasta de Caminha, a voz da história que o há de levar à posteridade, coberto de louros. Este monumento da grandeza da nossa raça, a Associação do Quarto Centenário do Descobrimento do Brasil entrega-o, cheia de justo júbilo, à capital da República – generoso coração da Pátria Brasileira que tanto colaborou nesta obra santa. Guardai-o, senhor prefeito, guardem-no vossos dignos sucessores, como um protesto da pujança da geração de 1900, como um testemunho eloquente do progresso da arte neste formoso torrão americano, como, uma oferenda imorredoura que os bons brasileiros dedicam à Pátria, sempre nobre, sempre grande, sempre amada”.
A inauguração do monumento que se ergue no Largo da Glória foi incluída no programa das festas comemorativas do Quarto Centenário do Descobrimento do Brasil, celebradas nesta capital no ano de 1900 e assistidas, também, pelo general Francisco Maria da Cunha, embaixador de S. M. o rei de Portugal, em missão especial junto ao Governo do Brasil para representá-lo nas comemorações, chegado ao Rio a bordo do cruzador “D. Carlos”. Entre as solenidades marcadas para o dia 3 de maio daquele ano, figurava a inauguração do monumento, a qual teve lugar pouco depois das 11 horas, após a celebração de uma missa campal, no tablado, em forma de cruzeiro, armado no aterro da Praia do Russell. Terminada esta solenidade cívico-religiosa, o presidente Campos Sales dirigiu-se para o pavilhão construído à esquerda do monumento, acompanhado de suas casas civil e militar, encontrando-se ali o enviado especial do governo de Portugal, o arcebispo do Rio de Janeiro, ministros de Estado, prefeito, os presidentes das duas casas do Congresso, presidente da Câmara Municipal, oficiais superiores do Exército e da Armada, a oficialidade do cruzador “D. Carlos”, altas autoridades e convidados. Toda a praça da Glória achava-se convenientemente adornada com arcos, pavilhões, obeliscos, bandeiras e flores, calculada a multidão ali presente em cerca de 30.000 pessoas. O monumento apresentava-se coberto com um véu. Forças do Exército, da Armada, da Guarda Nacional e da Brigada Policial alinhavam-se do lado da praia, e uma guarda de honra, composta de 60 alunos da Escola Militar do Brasil, sob o comando do capitão Ernesto Marques Machado, e da Escola Naval, às ordens do tenente Paiva Meira, formava em torno do monumento. A banda de música do Corpo de Bombeiros e a charanga do cruzador “D. Carlos” tocavam no local da festa. Decorridos alguns minutos depois das 11 horas, o barão de Ramiz Galvão pediu ao presidente Campos Sales e ao general Cunha que desvelassem o monumento. Dirigindo-se ambos para o pedestal da estátua, o primeiro segurou um cordão de seda verde e amarelo e o segundo, um cordão de seda azul e branco. Todos estavam atentos e aguardando o aparecimento do bronze, mas eis que surge um imprevisto. Havia chovido torrencialmente durante a noite e o nó corrediço, molhado, não se desfez, tornando-se difícil retirar a cortina. A curiosidade da multidão teve alguns minutos de intensa expectativa ante o “impasse”, quando um homem do povo se propôs a galgar o monumento. Subiu até o tope que representa a terra brasileira, mas aí teve um gesto de desânimo. O povo, porém, aplaudiu-o, e o homem adquiriu estímulo novo: lépido, enfrentando o perigo, subiu pela haste da bandeira que Cabral desfralda, vencendo toda a altura da estátua. A um movimento violento que imprimiu, a cortina caiu, aparecendo o grandioso monumento, ao som do Hino Nacional, que as bandas de música executaram, dando as salvas o 2.º Regimento de Artilharia. No pavilhão onde se encontravam as altas autoridades, o Dr. Ramiz Galvão, pela Associação do Quarto Centenário do Descobrimento do Brasil, pronunciou um discurso, entregando a estátua à Prefeitura. Respondeu o prefeito. Em seguida, as forças desfilaram em continência, encerrando-se a solenidade.
Chamava-se Martim Francisco de Paula, foi praça do 7.º Batalhão de Infantaria e era natural do Ceará o homem que subiu à estátua para descerrar a cortina, sendo-lhe dada uma gratificação de 100$000, pela Comissão do Quarto Centenário.
O monumento mede 10 metros, com o pedestal, que é de granito nosso, hexagonal. Representa, em grupo, três vultos: Pedro Álvares Cabral, comandante da frota que aportou ao Brasil em 1500 e efetuou desembarque, tomando posse da terra para a coroa de Portugal; Pero Vaz Caminha, escrivão da frota e cuja carta a D. Manuel, o Venturoso, é a primeira notícia histórica do descobrimento; e Frei Henrique de Coimbra, capitão de bordo, que foi o celebrante da primeira missa na terra descoberta. É de Rodolfo Bernardelli a obra artística, feita por encomenda da Associação Comemorativa do Quarto Centenário do Descobrimento do Brasil. Nas faces do monumento encontram-se as seguintes inscrições, em tipos incrustados no granito:
“Qual a palmeira que domina ufana
Os altos topos da floresta espessa,
Tal bem presto há de ser no Mundo Novo
O Brasil bem fadado.”
(JOSÉ BONIFÁCIO – Ode aos baianos.)
“A terra… em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo…” – (PERO VAZ CAMINHA – Carta.)
“Goza de tanto bem terra bendita, e da Cruz do Senhor teu nome seja.” – (DURÃO – “Caramuru”, VI-59).
Em duas faces do hexágono em granito encontram-se as datas “1500” e “1900”. Na face que olha para o lado do mar está gravado o seguinte: “A Associação do Quarto Centenário do Descobrimento do Brasil mandou erigir este monumento”.
Fonte: Publicado na edição de 31 de outubro de 1943 do jornal Diário de Notícias.
Em 1900, na festa dos 400 anos da descoberta do Brasil, o Rio iria inaugurar, no largo da Glória, seu monumento a Pedro Álvares Cabral. A estátua, de Rodolpho Bernardelli, tinha um pedestal de 10 m de altura. Sobre este, desfraldando a bandeira portuguesa, um Cabral de 3,5 m, secundado por Pero Vaz de Caminha, nosso primeiro historiador, e frei Henrique, celebrante da primeira missa. Tudo coberto pelo véu a ser descerrado pelo presidente da República, Campos Salles, quando este proferisse a frase “Viva a pátria brasileira!” e puxasse o cordão.
Pois foi o que Campos Salles fez. Proferiu, puxou o cordão —e nada. O véu não se mexeu. Proferiu de novo, puxou —e, mais uma vez, neca. Tentativas seguintes de proferir e puxar resultaram debalde. Vexame total. Campos Salles, furioso; o embaixador português, a ponto de se retirar; a comissão da estátua, saindo de fininho.
Foi quando alguém na multidão —um homem depois identificado como Martim Francisco de Paula, cearense, soldado— pediu licença. Escalou o pedestal, subiu pelo que deviam ser o Caminha e o Henrique, e desatou o nó que impedia o Cabral de vir a nu. E, então, isso gloriosamente aconteceu. Ovação popular. Campos Salles, com suas mãos enluvadas, bateu discretas palmas silenciosas para aquele brasileiro que lhe salvara o dia, mas lhe roubara o show. Brasileiro —e, por acaso, negro.
A Associação dos 400 Anos, ao descrever o fato, omitiu o detalhe da cor. Por sorte, os jornais o registraram. Hoje este seria um episódio a explorar no Carnaval: Cabral descobriu o Brasil mas foi um negro brasileiro que descobriu o Cabral...
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