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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Construção do Palácio Monroe, 1906, Rio de Janeiro, Brasil


 



Construção do Palácio Monroe, 1906, Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
Fotografia

A imagem mostra a construção do Palácio Monroe mas não só isso: mostra uma cidade que estava sendo revitalizada, embelezada. Notem os postes de iluminação importados, o traçado, as calçadas, etc.
O Rio de Janeiro, então capital do Brasil, iria se tornar uma cidade linda, um lugar para as pessoas viverem com qualidade, beleza e segurança.
Mas, passados quase 120 anos (2025), tal cidade não existe mais. Ao contrário, o Rio de Janeiro é conhecido pela violência, bagunça, corrupção, impunidade, tráfico de drogas, favelas, etc.
Quase esqueci: nem o Palácio Monroe existe mais, demolido por políticos idiotas.
Em resumo, o retrato do Brasil atual...
Nota do blog: Data 1906 / Autoria não obtida.

sábado, 15 de fevereiro de 2025

O Desmonte do Palácio Monroe - Artigo

 


Obras do metrô na Cinelândia carioca. A foto foi tirada próximo ao antigo chafariz, em primeiro plano, perto da Câmara dos Vereadores. Ao fundo, o Palácio Monroe, data maio de 1972.


Destruição do Palácio Monroe, data não obtida.


Destruição do Palácio Monroe, data não obtida.


Destruição do Palácio Monroe, data não obtida.


Planta do 1º pavimento do Palácio Monroe, data não obtida.





O Desmonte do Palácio Monroe - Artigo
Artigo


As cidades, estes aglomerados urbanos que no mundo contemporâneo podem chegar a abrigar vários milhões de pessoas configuram-se como entidades dinâmicas que, especialmente no mundo de hoje, podem passar por transformações radicais aos olhos de quem vive nelas em um curto período de tempo. Embora movimentos espontâneos relacionados às decisões e transformações vindas dos próprios habitantes também ocorram, em geral as mudanças na paisagem urbana decorrem de interesses de grandes grupos econômicos – muitas vezes ligados à especulação fundiária ou imobiliária – ou políticas de ocupação urbana específicas.
O Rio de Janeiro, capital do Brasil colonial, Imperial e Republicano (até 1960), apresentou ao longo dos seus quase 500 anos diferentes aspectos, perfis, facetas. As vielas e o casario colonial deram lugar a avenidas e edifícios grandiosos que simbolizavam o advento da República, que por sua vez não cansou de remodelar seu centro de poder em pleno Estado Novo. Nas últimas décadas, a fisionomia da cidade-metamorfose continuou a se alterar. Um dos aspectos a chamar a atenção para os processos de alteração na sua paisagem diz respeito à imagem que é projetada do Rio de Janeiro e seu papel como catalizador de cultura e de movimentos políticos, mesmo sem ser a capital do país. A cidade não apenas permanece como ímã mais poderoso para o turismo internacional no Brasil mas se oferece como palco para eventos como a ECO-92 (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento em 1992) e a sua versão 20 anos depois (Rio+20), o Pan-Americano de 2007 e as Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016, a XXVIII Jornada Mundial da Juventude em 2014, o Primeiro Fórum de Financiamento de Cidades Sustentáveis do C 40 em 2016, a reunião dos BRICS de 2019, e o G-20, que ocorre em novembro de 2024.
Os processos de alteração na paisagem urbana – grandes reformas, revitalização, qual seja o nome – costumam desalojar milhares de pessoas de forma autoritária, mesmo em décadas mais recentes. Se a destruição de patrimônio público e de logradouros caros à população – comuns especialmente na primeira metade do século XX – ocorrem em escala bem menor, não se pode dizer o mesmo do pouco caso com que a população é tratada durante tais processos.
Um exemplo de destruição do patrimônio em nome de projetos políticos alheios à quaisquer outros interesses que não sua própria consecução foi a derrubada da igreja (tombada pelo antigo SPHAN, Serviço de Patrimônio Histórico) de São Pedro dos Clérigos em 1944 para dar espaço para a abertura da avenida Presidente Vargas. A praça Onze, tradicional reduto do samba, desapareceu para dar lugar a uma árida esplanada, também nos anos 1940. Já na década de 1970, em plena ditadura militar, há o exemplo trazido por esta matéria.
No início do século XX, período em que as Grandes Exposições atraíam um grande público e se espalhavam pelas várias cidades do mundo, o Brasil enviou a Saint Louis (EUA) um edifício desmontável para ser seu pavilhão na Exposição Universal de 1904. Responsável não apenas pelo projeto – que, aliás, foi um dos mais visitados do evento – mas pelo seu traslado de volta para a Capital Federal, o engenheiro Souza Aguiar também fora encarregado do grandioso prédio a abrigar a Biblioteca Nacional. O palácio criado para a exposição recebeu o nome de Monroe em 1906, depois da sua reconstrução na então avenida Central (atual Rio Branco), recém-inaugurada, em homenagem a John Monroe, ex-presidente dos Estados Unidos. Embora obedecendo ao projeto original, apenas parte do material original foi utilizado em sua reconstrução.
Entre 1914 e 1922, o Palácio Monroe foi sede provisória da Câmara dos Deputados, enquanto o Palácio Tiradentes era construído. Com a inauguração deste, durante as comemorações do centenário da independência, o Senado Federal passou a utilizar o Monroe como sua sede. Com o Senado fechado em virtude da ditadura varguista a partir de 1937, o edifício ficou sem uma destinação formal e a partir de então passou a ser relegado a um crescente ostracismo, com modificações arquitetônicas espúrias que descaracterizavam o projeto original em estilo eclético. Sua localização privilegiada, ao final da avenida que corta o centro da cidade e termina na Cinelândia, já muito próximo da linha do mar, era alvo de críticas variadas, que expressavam claros interesses imobiliários ou especulativos na região, ou dirigiam-se especificamente à falta de utilidade e descaracterização do prédio. Também mencionavam que o enorme edifício impedia a visão da baía de Guanabara a partir da Cinelândia.
O fato é que desde os anos 1960 o imponente palácio foi alvo de uma cruzada que culminou em uma campanha oficial e artificial, articulada pelo próprio presidente-general Geisel na década seguinte. Jornalistas, urbanistas, arquitetos passaram a verbalizar ostensivamente seu desgosto com o Palácio Monroe, chamado então de “monstrengo.” A construção da estação Cinelândia do metrô foi vagamente citada como causa para seu eventual desmantelamento, o que foi desmentido pela própria empresa responsável pelas obras.
Toneladas de pedra e ferro resultaram da demolição, finalizada em 1976, sem falar nas estátuas e preciosos vitrais, e muito do material retirado das obras teve uma destinação desconhecida. Não se sabe até hoje a real motivação para demolição do palácio – alguns defendem inclusive que o general Geisel simplesmente nutria profundo ressentimento pela família de Souza Aguiar, em virtude de rivalidades dentro do exército. O que se sabe é que o injusto linchamento coletivo de um marco urbano histórico em plena ditadura militar deixou um vazio na região, que de todo modo abriu a visão local para o Pão de Açúcar e a Guanabara. Texto do Arquivo Nacional.
Nota do blog: Data e autoria das imagens, quando obtidas, abaixo de cada uma.

terça-feira, 21 de março de 2023

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Palácio Monroe, Rio de Janeiro, Brasil


Palácio Monroe, Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
D29
Fotografia - Cartão Postal



Os cariocas mais velhos se lembram com saudosismo e os mais novos nem sequer ouviram falar. O que existe hoje no final da Avenida Rio Branco, entre a Cinelândia e a Baía de Guanabara, são apenas um estacionamento subterrâneo e uma praça feiosa e pouco frequentada. Não se vê nenhum vestígio do imponente Monroe, o palácio que abrigou o Senado entre 1925 e 1960. A construção foi demolida em 1976. Desapareceu como se nunca tivesse existido.
A mudança para o Palácio Monroe ocorreu há exatos 90 anos. Os senadores trocavam o antiquado e deteriorado Palácio Conde dos Arcos por um edifício que conseguia transmitir as ideias de solidez e poder.
Com traços afrancesados, o Monroe era emoldurado por 36 colunas e coroado com uma cúpula monumental. Cada uma das duas portas de entrada era vigiada por um par de leões de 2,5 metros de
altura talhados em mármore de Carrara. Por décadas, foi um dos cartões-postais do Rio.
A sessão inaugural foi em 3 de maio de 1925. O Arquivo do Senado, em Brasília, conserva
os discursos que os senadores fizeram naqueles primeiros dias. Os trabalhos foram abertos pelo presidente da Casa, Estácio Coimbra. Ele não era senador. Por ser vice-presidente da República, acumulava a Presidência do Senado, como ditava a Constituição.
Coimbra anunciou: — Depois de um ano e meio de contínuo labor, a Mesa [do Senado] recebeu do governo o edifício do Palácio Monroe inteiramente remodelado, com todas as condições de asseio, conforto e decoro, compatíveis com as altas funções do Senado.
A história do Monroe, porém, começa muito antes da chegada do Senado. O palácio foi originalmente construído nos Estados Unidos, em 1904, como o pavilhão do Brasil na Exposição Mundial de Saint Louis, no estado do Missouri. Na era pré-globalização, esse tipo de exposição servia para que os países apresentassem ao mundo o que tinham de melhor, com o intuito de alavancar as exportações e atrair investidores estrangeiros. No caso brasileiro, o pavilhão funcionou como vitrine para o café. Estima-se que a cada dia tenham sido servidas 5 mil xícaras aos visitantes.
O governo incumbiu o engenheiro Francisco Marcelino de Sousa Aguiar (que dá nome a um dos hospitais públicos mais conhecidos do Rio) de projetar o pavilhão em Saint Louis. Ele já era experiente nesse tipo de missão. Sousa Aguiar havia assinado o pavilhão do Brasil na Exposição Mundial de Chicago, em 1893. Na segunda vez, entretanto, havia uma exigência: o pavilhão teria de ser desmontável, de maneira que pudesse ser reconstruído no Rio. O engenheiro foi ousado e optou por empregar estrutura metálica, uma tecnologia que o Brasil não conhecia.
O futuro Monroe venceu o principal prêmio de arquitetura da feira. Numa edição dominical, o jornal The St. Louis Republic dedicou toda a primeira página à obra brasileira. Era pura exaltação:
“Observando, procura-se em vão uma simples falha, um ponto onde a vista sinta a aspereza de uma linha, onde uma curva, uma janela, qualquer decoração desagrade. Essa construção representa um poema”.
Teteia de açúcar branco:
O presidente Theodore Roosevelt visitou a exposição e inspecionou o prédio do Brasil. O St. Louis Globe-Democrat informou:
“O Brasil galhardamente sobressaiu na recepção à distinta comitiva presidencial. Roosevelt se recordará do Brasil e da exposição por toda a vida”.
Exageros à parte, o fato é que o edifício era, de fato, bem mais refinado que os pavilhões de nações como Cuba e Guatemala. Assim, o futuro Monroe cumpriu seu papel. Fez o mundo crer num Brasil moderno e civilizado, capaz de grandes feitos, adiantado em comparação com os vizinhos.
Encerrada a exposição, o pavilhão foi desmontado e despachado num navio cargueiro para o Rio. Ele seria erguido no ponto mais nobre da capital da República: a Avenida Central (atual Rio Branco), que ainda estava em obras. O prefeito do Rio, Pereira Passos, havia demolido cortiços e criava uma versão tropical da Champs-Élysées, o sofisticado bulevar parisiense. O palácio foi montado em questão de meses, entre 1905 e 1906. O Jornal do Commercio o chamou de “teteia de açúcar branco”.
Os arredores da Praça Floriano (hoje mais conhecida como Cinelândia) logo passariam a ostentar belos exemplares da arquitetura eclética. Depois do pavilhão vindo dos EUA, ficariam prontos o Theatro Municipal, a Escola Nacional de Belas Artes e a Biblioteca Nacional (outro projeto de Sousa Aguiar).
Em termos simbólicos, aquelas linhas rebuscadas dos edifícios públicos ajudavam a compor a cara que os líderes políticos queriam dar à República, implantada em 1889 e ainda em consolidação. A ideia era varrer da paisagem da capital tudo que remetesse ao passado imperial.
No Rio, o pavilhão ganhou o nome de Palácio São Luís, em alusão à cidade de Saint Louis. Sua primeira missão foi abrigar a terceira edição da Conferência Pan-Americana, em 1906, que congregou presidentes e ministros do continente. O edifício mudou de nome durante o evento, passando a Palácio Monroe. Era uma homenagem a James Monroe, o antigo presidente americano que pregava “a América para os americanos”, isto é, livre do colonialismo europeu. O novo nome era uma forma de o Brasil mostrar que queria entrar na órbita de influência dos EUA.
Nos primeiros anos, o Palácio Monroe não teve um papel definido e funcionou como uma espécie de salão de festas do governo. Nele se realizaram bailes, banquetes, formaturas, congressos e até velórios. Em 1914, tornou-se a sede provisória da Câmara dos Deputados. Em 1922, recebeu o escritório do governo encarregado das comemorações do centenário da Independência.
A decisão de transformá-lo no Senado foi tomada logo em seguida, diante da pressão dos senadores para sair do Palácio Conde dos Arcos, um solar que havia sido construído na época da Colônia e abrigava a Câmara Alta desde sua criação, em 1826, no Império. Os senadores reclamavam que o edifício estava em estado tão precário que poderia desabar a qualquer momento. Quando o bonde passava, de acordo com eles, as paredes todas estremeciam.
Olhando para o teto, vi que já está rachando em diversos lugares. Em outros, a pintura dos afrescos já se vai quebrando, fragmentando. E também há muito já está o teto caindo aos pedaços sobre as nossas cabeças, queixou-se o senador Irineu Machado (DF) em junho de 1923.
Havia uma dose de exagero. O velho Senado não corria o risco de ruir. Tanto que o prédio está de pé até hoje e nele funciona a Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na realidade, os senadores queriam um espaço que fosse confortável e pomposo e, ao mesmo tempo, não remetesse aos ultrapassados anos da Colônia e do Império.
Senador desgostoso:
O presidente Artur Bernardes aceitou transferir o Monroe para o Senado. Antes, entretanto, o interior do prédio teve de ser totalmente reformado. As obras duraram um ano e meio. Colunas internas foram removidas, andares novos foram criados e dois elevadores foram instalados — uma grande novidade na época, com portas que precisavam ser abertas e fechadas manualmente. No Plenário, por precaução,
reservaram-se três assentos para o Acre, que poderia ser elevado de território a estado a qualquer
momento (isso só ocorreria em 1962). O gabinete do presidente do Senado foi instalado no ponto mais privilegiado do prédio, voltado para a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar.
Os parlamentares ficaram satisfeitos com o resultado. Em maio de 1925, logo após a mudança, Mendonça Martins (AL) comemorava no Plenário: — Dispomos agora de uma sede onde não nos sentiremos diminuídos pela falta de higiene, privados do menor conforto e em risco da própria vida, como acontecia no velho edifício colonial do Conde dos Arcos, que, se fora uma casa de aluguel, há
muitos anos estaria interditado pela Saúde Pública.
O único que ficou desgostoso com a mudança foi Alfredo Ellis (SP). Por designação do Senado, ele havia dedicado boa parte de seus 22 anos de mandato a negociar com o governo o terreno e a verba para a construção de uma sede. Os senadores chegaram a fazer uma cerimônia para lançar a pedra fundamental no Campo de Santana. Por falta de dinheiro, a obra nunca saiu do papel. Discursando pela primeira vez no Monroe, Ellis deu a entender que se sentia traído: — O que é censurável é que tenham aplicado na simples adaptação do Monroe quase a totalidade da soma que seria destinada à construção de um novo edifício para o Senado. Em seguida, apontou problemas na sede que se inaugurava, como o tamanho do Plenário: — É curioso que no Brasil, uma das maiores nações do mundo em área, o recinto do Senado Federal fique reduzido a uma pequeníssima e insignificante sala de cinema, menor do que o
de qualquer Senado do mundo. Essa foi uma das últimas falas públicas de Alfredo Ellis. O senador
morreria dois meses depois da transferência para o Monroe.
Durante 35 anos, o palácio assistiu aos mais decisivos debates da política brasileira, à exceção dos anos da ditadura do Estado Novo (1937–1945), quando Getúlio Vargas proibiu o funcionamento do Senado.
Curiosamente, meses depois de ser derrubado da Presidência, Vargas voltaria à cena política como senador.
Nos anos 50, o Palácio Monroe já se mostrava pequeno para o Senado. Chegou-se a fazer um concurso de projetos para a nova sede. O velho palácio seria derrubado e um arranha-céu com mais espaço para os senadores seria levantado no mesmo lugar. Veio Brasília, e o projeto foi engavetado.
Na última sessão do Senado no Rio, em abril de 1960, os parlamentares se revezaram na tribuna para fazer pronunciamentos emocionados sobre o Monroe.
— Os nossos discursos, os debates calorosos, os pequenos incidentes, o rumor dos nossos passos subindo e descendo os degraus deste recinto, este teto sóbrio e nobre, estas colunas romanas, a agitação dos taquígrafos, a curiosidade indiscreta dos jornalistas e o ruído dos tímpanos, tudo que lembramos
transmuda-se em saudades tão intensas que nos levam a dizer que esta casa, ao cerrar as suas portas, guardará também alguma coisa de nossa própria vida — discursou Argemiro de Figueiredo (PTB-PB).
Decadência:
O Monroe, então, passou a servir de sucursal do Senado no Rio. Parte dos funcionários públicos continuou na velha capital, especialmente os que estavam perto da aposentadoria. Os próprios senadores ainda faziam reuniões no palácio. Mais tarde, três andares foram cedidos ao Estado Maior das Forças Armadas.
Nos anos 70, diante do esvaziamento e da degradação do prédio, começaram a ventilar a ideia de que o Monroe precisava ser demolido. Havia vários argumentos. O fim do palácio, por
exemplo, desafogaria o trânsito do centro e abriria uma área verde numa zona dominada pelo concreto. Outra justificativa era a necessidade de se reduzirem gastos públicos — com Brasília já consolidada, não fazia sentido o Senado ainda manter uma custosa repartição no Rio. Afirmou-se que o prédio tinha
de ser eliminado porque impediria a construção da linha do metrô entre o centro e a zona sul.
O caminho era a demolição. Para que isso não ocorresse, o metrô desviou o trajeto dos trilhos, antecipando uma curva que originalmente seria feita nos subterrâneos do Monroe.
Por fim, veio a questão estética. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) recebeu uma proposta de tombamento de todos os prédios públicos da Cinelândia. O arquiteto e urbanista Lúcio Costa, célebre por ter projetado Brasília, manifestou-se ferozmente contra a proteção do Monroe. Na visão dele, tratava-se de um prédio sem valor arquitetônico, apenas uma “presença estorvante” na cidade. Lúcio Costa era da opinião de que a arquitetura brasileira se resumia à colonial, como a de Ouro Preto, e à moderna, como a de Brasília. Tudo que existisse entre as duas, como o estilo
eclético, não passaria de reles imitação de estilos estrangeiros.
O Rio se dividiu:
O jornal O Globo se posicionou pela demolição. O Jornal do Brasil, contra. Os defensores diziam que, ainda que a arquitetura não fosse genuinamente nacional, o palácio tinha um valor histórico inquestionável. A sociedade não chegou a fazer manifestações públicas, pois ainda eram os anos da ditadura militar.
No final, o Iphan deu ouvidos aos argumentos de Lúcio Costa e negou o tombamento do Monroe.
Em 1975, o Senado decidiu devolver o edifício ao governo federal. Tribunais, repartições do governo e entidades de engenheiros se ofereceram para reformar e ocupar o prédio. Tudo em vão. Por ordem do presidente Ernesto Geisel, o palácio que havia sido premiado em Saint Louis em 1904 foi posto no chão.
A demolição se arrastou por meses. Em junho de 1976, um trator derrubou a última parede.
A notícia repercutiu em Brasília, especialmente entre os senadores da oposição. Itamar Franco (MDB-MG) disse ter assistido “com tristeza à destruição daquele prédio, em que várias figuras desta nação militaram”. Segundo Benjamin Farah (MDBRJ), “infelizmente, no país, tudo o que é tradicional é destruído”.
Trauma coletivo:
O arquiteto e historiador Fernando Atique, da Universidade Federal de São Paulo, lançará nos próximos meses o livro Arquitetura Evanescente, sobre o desaparecimento de edifícios históricos. Para ele, a demolição do Monroe pode ser explicada, em parte, pelo fato de os brasileiros desconhecerem a história: — As pessoas em geral não sabem da existência do Palácio Conde dos Arcos nem dos Palácios do Itamaraty e do Catete, que foram as sedes da Presidência da República no Rio. Isso é muito perigoso porque só podemos preservar aquilo que conhecemos.
Em 2002, o então prefeito do Rio, Cesar Maia, propôs a construção de uma réplica do Palácio
Monroe no mesmo lugar do original. Após acalorados debates, a ideia não vingou.
Algumas peças do Monroe se salvaram. A empresa contratada para a demolição vendeu as que tinham valor. Dois leões de mármore hoje estão expostos no Instituto Ricardo Brennand, um museu de arte em Recife. Os outros dois enfeitam uma fazenda em Uberaba (MG). Um ornamento da fachada se encontra no Museu de Arte do Rio (MAR). Outra parte dos objetos pode ser vista no Museu do Senado, em Brasília, como as mesas de madeira, com microfones acoplados, que acomodavam os senadores no Plenário
Na avaliação do cineasta Eduardo Ades, que ainda neste ano lançará o documentário Crônica
da Demolição, sobre o Monroe, o ressurgimento do tema de tempos em tempos tem explicação: — Não houve um motivo único para a demolição. Foram vários motivos paralelos, alguns obscuros. Quando a população carioca perdeu esse palácio, que era um elemento da identidade do Rio, sem saber ao certo os motivos, o que ficou foi um trauma coletivo. É mais ou menos como os nossos traumas pessoais. Quando não compreendemos plenamente algum episódio da nossa vida, ele fica voltando para nos assombrar.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Palácio Monroe, Rio de Janeiro, Brasil


Palácio Monroe, Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
Fotografia - Cartão Postal

Demolido por administradores idiotas em 1976.
Nota do blog: Data efetiva não obtida (cartão postal circulado em 1921) / Autoria não obtida.