Paulo César Pereio, 1940-2024, Brasil
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Texto 1:
Morreu hoje (12) o ator Paulo César Pereio aos 83 anos. O artista permanecia no Retiro dos Artistas desde 2020, quando começou a pandemia da covid-19.
A causa da morte não foi divulgada. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa de Cissa Guimarães, que foi casada com o artista, e pelo ator Stepan Nercessian.
Nercerssian, responsável pelo Retiro dos Artistas, compartilhou uma despedida nas redes sociais. "Adeus Pereio. Te Amo. Sempre", escreveu o ator ao mostrar uma foto em que posa ao lado do colega.
Pereio trabalhou na TV, no teatro e no cinema, participando de mais de 60 filmes. Arnaldo Jabor, Glauber Rocha e Hector Babenco estão entre os famosos cineastas que já trabalharam com o artista. Em 1978, participou do filme "Assim Era a Pornochanchada".
Artista também se destacou em novelas. Entre os principais trabalhos na televisão estão "Partido Alto", "Roque Santeiro", "Mandala", "Salvador da Pátria", "A Viagem" e "Duas Caras".
O ator foi casado com Cissa Guimarãs durante 15 anos, entre 1975 e 1990. Tornou-se pai de Tomás e João, conhecido como João Velho, durante o relacionamento. Em setembro de 2023, o jornal Extra registrou uma visita da atriz ao ex-companheiro no Retiro dos Artistas.
Cissa Guimarães homenageou ex-marido nas redes sociais: "Eu te agradeço por tanto aprendizado e amor. Eu era uma menina e você me mostrou o mundo e o amor pelo nosso ofício."
Pereio também foi casado a atriz Neila Tavares na década de 1970. Durante o relacionamento, tornou-se pai de Lara, sua primeira filha. Após romper com Cissa Guimarães, ele ainda se casou com Suzana César de Andrade e teve um quarto filho, Gabriel.
Ator recebeu diversas indicações e prêmios no Festival de Cinema de Gramado. Ele foi o principal homenageado da edição de 2010, ano em que recebeu o Troféu Oscarito.
Paulo César Pereio também trabalhou com publicidade. "Levo muito a sério e considero tão artístico como qualquer outro trabalho. De vez em quando, os publicitários fazem obras de arte em 30 segundos", disse em 1981 ao programa TV Mulher. Texto do Uol.
Texto 2:
Morreu neste domingo (12) o ator Paulo César Pereio, aos 83 anos, um dos nomes históricos do cinema brasileiro. Ele foi levado a um hospital do Rio de Janeiro nesta madrugada, em estado grave. O ator e diretor tratava uma doença hepática em estágio avançado.
A informação da morte foi confirmada pelo também ator Stepan Nercessian, que administra o Retiro dos Artistas, onde Pereio morava desde 2020, por meio de uma publicação no Instagram.
Paulo César Pereio nasceu em Alegrete (RS), em 19 de outubro de 1940. Ele atuou em mais de 60 filmes, além de ao menos uma dezena de novelas. Foi casado por cerca de 15 anos com a atriz e apresentadora Cissa Guimarães, com quem teve dois filhos.
Pereio vivia no Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, desde o início da pandemia de Covid-19.
Pereio começou a carreira no cinema em 1964, no filme “Os Fuzis”, dirigido por Ruy Guerra. No entanto, seu primeiro reconhecimento veio em 1975, no filme “As Aventuras Amorosas de um Padeiro”, pelo qual recebeu o Kikito de “Melhor Ator Coadjuvante” no Festival de Gramado.
Marcado em filmes de pornochanchada, o ator também foi um dos principais representantes do Cinema Novo, um movimento cinematográfico brasileiro que surgiu nos anos 1960 e que buscou criar um cinema mais realista e crítico em relação à sociedade brasileira.
Visto como rebelde, foi um defensor da liberdade de expressão e da crítica social. Texto CNN Brasil.
Texto 3:
O ator Paulo César Pereio morreu na tarde deste domingo (12), no Rio de Janeiro. Ele tinha 83 anos. A informação foi confirmada pelo Hospital Casa São Bernardo, onde ele estava internado.
De acordo com a unidade de saúde, o ator estava em tratamento de uma doença hepática avançada e foi levado ao hospital durante a madrugada, já em estado grave.
Paulo César Pereio nasceu em Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 19 de outubro de 1940. Tem trabalhos marcantes na TV, teatro e no cinema, onde atuou em mais de 60 filmes. Trabalhou em filmes de cineastas importantes do cinema brasileiro como Glauber Rocha, Hector Babenco, Arnaldo Jabor, Hugo Carvana e Ruy Guerra.
Citando alguns trabalhos, Pereio atuou em “Terra em transe”, de Glauber Rocha. Com Arnaldo Jabor, esteve em “Toda Nudez Será Castigada”, filme baseado na peça de Nelson Rodrigues, e “Eu te amo”.
O ator estava no elenco de Roda Viva, peça de Chico Buarque encenada por Zé Celso Martinez Corrêa no fim dos anos 1960.
O ator foi casado 3 vezes e teve 4 filhos, dois deles com a atriz Cissa Guimarães.
Em entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto, o artista afirmou que construiu a própria imagem pública de pessoa controversa.
"Construo este mito, para ser pouco incomodado. É uma espécie de self-art. Pereio, na terceira pessoa, é obra minha. Posso ser considerado no Brasil uma celebridade. As pessoas me reconhecem na rua. Mas posso me dar ao direito de sair sozinho por aí, subir morro, andar na banda podre e na baixa sociedade, tranquilamente. Sei como não ser vítima disso. Conheço atores brasileiros que têm de fingir que são outra pessoa para sair na rua”, destacou o ator.
Sobre a convivência com Nelson Rodrigues, ele reunia histórias.
"Às vezes, Nelson ia ao meu camarim para fumar e tomar cafezinho escondido, porque tinha uma médica não deixava. Mas ela não podia entrar nos camarins e ele podia. Aí ele ia no meu camarim e dizia barbaridades assim: ‘Pereio, todo canalha é magro!’. Respondi: ‘Isso é arbitrário!’. E ele: ‘Em 97% das vezes em que sou arbitrário, eu estou certo’. Ele deu 3% de gorjeta”, disse Pereio.
Pereio afirmou que, ao longo do tempo, se transformou em uma mais tranquila e equilibrada. Principalmente após os 60 anos.
"Não me lembro de ter sido tão equilibrado. O desequilíbrio sempre produz certa ansiedade. Tenho momentos de calmaria que são muito bons. Baboseiras de que “minha infância foi uma coisa muito boa”. A juventude só é boa porque a gente tem tesão e não brochou. Mas serenidade, tranquilidade e a ideia de momentos felizes passei a ter depois dos sessenta anos. E tenho melhorado! Tenho muito orgulho de ter saúde, apesar de tudo o que fiz”, afirmou.
No documentário "Tá rindo de quê?", sobre o humor na ditadura militar, Pereio falou sobre a dificuldade do ator para driblar a censura.
"Eu improvisava muito. Eu vou improvisar? Tem que dizer um texto enviado para a censura, carimbado, e tem que ser aquele texto. E qualquer improviso será castigado", disse Pereio.
Entre os trabalhos na televisão, Pereio atuou em "Partido Alto", "Roque Santeiro", "Mandala", o "Salvador da Pátria", "A Viagem" e "Duas Caras", entre vários outros trabalhos.
Conhecido pela voz grave, Pereio fez muitos trabalhos na publicidade.
"É um trabalho que eu levo muito a sério e considero tão artístico como qualquer outro. De vez em quando, os publicitários fazem obras de arte em 30 segundos. E acho que a publicidade influencia a linguagem de cinema e televisão", disse Pereio em entrevista ao programa TV Mulher, em 1981.
Pereio vivia no Retiro dos Artistas desde 2020, no começo da pandemia de Covid-19. Em entrevista ao Jornal Extra, ele disse que buscou a entidade para se sentir protegido.
"Estou aqui desde o começo da pandemia, dessa crise do coronavírus. Achei que vir para cá seria uma maneira de me salvar. Vim para sobreviver. Eu moro em São Paulo, tenho meu apartamento lá. Não teve outro jeito. Mas estou bem de saúde. Nunca na minha vida trabalhei por dinheiro. Trabalhei bastante e nunca fiquei nem estou na penúria. O fato de eu estar aqui pode dar a ideia de que o cara está retirado, mas não estou. Ando aqui com uma tranquilidade absoluta, o que eu não poderia fazer na rua. Aqui tenho comida, sou bem cuidado e estou protegido", afirmou Pereio.
O ator Stepan Nercessian lamentou o falecimento do amigo.
“Era um irmão. Eu digo que a morte não é do feitio dele. Pereio é vida. A gente contracenou pouco no palco, no cinema. Mas, se a vida é um eterno palco, talvez tenha sido o ator com quem eu mais trabalhei", disse Stepan.
A atriz Zezé Motta também lembrou o legado de Pereio.
"Perdemos um ícone do nosso cinema. Descansa meu amado Pereio. Quantos trabalhos icônicos e marcantes na TV, teatro e no cinema. Paulo César Pereio era residente no Retiro dos Artistas. Foi muito bem cuidado e amado. Já deixa saudades", afirmou a atriz. Texto G1.
Texto 4:
Paulo César Pereio completou setenta anos de idade em 2010.
O fato de um brasileiro completar setenta anos poderia parecer uma feliz banalidade, se o dono dos setenta anos não se chamasse Paulo César – o Pereio.
Neste caso, os 70 anos deixam de ser uma banalidade para se transformar num milagre da natureza.
Pergunto se ele se considera um sobrevivente. O bicho responde que se considera um “resistente”.
A escolha da palavra não é casual. Depois de desafiar a resistência do corpo com um catálogo de extravagâncias que faria Keith Richards soltar uma exclamação de sincero espanto, Pereio chega “são e salvo” aos setenta. Resistiu exemplarmente aos sacolejos, turbulências e terremotos da travessia.
Ainda bem.
Surpreendentemente, confessa que só depois dos sessenta é que teve momentos de legítima serenidade.
Se não tomar cuidado, terminará contratado para anunciar planos de saúde para a terceira idade.
É uma figura onipresente nas telas. Estava no elenco de ”Terra em Transe”, o clássico de Glauber Rocha. Brilhou como um cafajeste em “Toda Nudez Será Castigada”, grande filme de Arnaldo Jabor. Em “Tudo Bem” e “Eu Te Amo”, ambos igualmente dirigidos por Jabor, Pereio dá show de bola.
O rosto exibe aquele ar de tédio. A voz merece, como poucas, o adjetivo “inconfundível”.
Aquele ruído que Pereio produz no fim das frases sempre me intrigou. Eu nunca soube se o ruído é um comentário crítico sobre a espécie humana, um grunhido de espanto contra a conspiração mundial da mediocridade ou um suspiro de tédio diante do estado geral das coisas. Quem saberá ?
Parto em direção à fera, numa gravação marcada para as dependências da produtora Multipress Digital, em plena muvuca da rua República do Líbano, no centro do Rio.
Pereio não perdoa: ataca.
Uma entrevista com Pereio é sempre um espetáculo televisivo: o homem eleva a voz, faz pausas dramáticas, emite suspiros enigmáticos, encara a câmera com um olhar irônico que vale por mil palavras. Um dos melhores momentos: quando Pereio faz uma antologia de situações que viveu ao lado de um gênio brasileiro – Nélson Rodrigues, morto há exatamente trinta anos, em dezembro de 1980. Pereio escala,também, Glauber Rocha na galeria de gênios brasileiros. Não são tantos.
Trechos da entrevista:
“Gênio não é eterno. Depois que ele morre, jamais nascerá outra coisa igual. O medíocre a gente nem percebe que morreu. E, já no dia seguinte à morte de um medíocre, aparece um igualzinho no lugar. A mediocridade, então, é eterna! O gênio, não: todos os gênios são perecíveis”.
“Durante a filmagem de “A Dama do Lotação”, faltou luz. Não tinha luz nem para filmar nem para o ar-condicionado. Eu e Sônia Braga ficamos pelados na cama, no calor, à espera de que a luz voltasse. Éramos amigos: a nudez passa a ser coisa de irmão. Não tinha essa carga de erotismo que o proibido dá. Nem eu nem Sandra botamos roupa, então. Estava coçando o saco. De repente, chegam Nelson Rodrigues e Jorge Dória - que diz: “Meu Deus, o que é aquilo? “. E Nelson: “Pereio é acima de nossa compreensão! Diante de Sônia Braga, aquele monumento, ele fica coçando aquele saco cor-de-rosa! ” . Repare o detalhe do cor de rosa! Nélson não saiu falando “Pereio ficou coçando o saco”. Disse: “Coçando aquele saco cor de rosa!”. Que fantástico! Detalhes assim é que davam a genialidade a Nelson”.
“Trinta dias depois de a peça “Anti-Nelson Rodrigues” entrar em cartaz, Nelson quis mudar o título para “Sexo é Para Operário”. Nelson odiava o fato de eu ter chamado José Wilker para fazer o papel de Oswaldinho, o personagem principal. Nelson me dizia: “José Wilker é autor. E nenhum brasileiro consegue ser autor de teatro sem, primeiro, me achar uma besta…”.
“Nelson ia ao meu camarim para fumar e tomar cafezinho escondido, porque a médica não deixava. Dizia coisas como “Pereio, todo canalha é magro!”. Respondi : “Todo magro é canalha ? Isso é arbitrário!”. E ele: “Em noventa e sete por cento das vezes em que sou arbitrário, eu estou certo”. Ou seja: Nelson nos dava três por cento de gorjeta….”
“A relação que tenho com outros atores – no cinema, na TV, no teatro ou na puta que o pariu – é de simpatia ou antipatia. Há atores que são considerados do c...mas detesto. Por exemplo: odeio Sean Penn. Não gosto daquela boquinha que ele faz. Mas dizem que é um baita de um ator. Aliás, parece que ele andou dando porrada em Madonna. Eu, então, até livro a cara de Sean Penn por conta disso. Também não suporto Elizabeth Taylor”.
“Eu me considero um resistente. Vou dizer uma coisa: eu recomendo os setenta anos ! Não me lembro de ter sido tão equilibrado. O desequilíbrio sempre produz certa ansiedade. Tenho momentos de calmaria que são muito bons. Baboseiras de que “minha infância foi uma coisa muito boa”… picas! A juventude só é boa porque a gente tem tesão e não broxou. Mas serenidade, tranquilidade e a ideia de momentos felizes passei a ter depois dos sessenta anos. E tenho melhorado! Tenho muito orgulho de ter saúde, apesar de tudo o que fiz”.
“A fama (de criador de casos, maldito e cafajeste) é merecida. Mas é uma coisa cultivada . Construo este mito para ser pouco incomodado. É uma espécie de self-art. Pereio, na terceira pessoa, é obra minha. Posso ser considerado no Brasil uma celebridade. As pessoas me reconhecem na rua. Mas posso me dar ao direito de sair sozinho por aí, subir morro, andar na banda podre e na baixa sociedade, tranquilamente. Sei como não ser vítima disso. Conheço atores brasileiros que tem de fingir que são outra pessoa para sair na rua”.
“Sou temperamental. Fico puto. Depois, perdoo. Brigo, me encrespo. Mas baixo a bola e volto para o meu estado de falta de felicidade – que não quer dizer sofrimento nem dor”. Trechos de entrevista de Paulo César Pereio a Geneton Moraes Neto, em 10/12/2010.
Nota do blog: Sempre fazia papel de porra louca, maldito, cafajeste e bêbado nos filmes, era muito bom nisso, parecia extremamente verdadeiro na tela. Lembro de ter visto um filme com ele, não me recordo o nome, ele estava com uma mulher, bêbado, em uma discussão de relação ou coisa parecida, acho que de cueca, e soltou: "Porra, caralho!" Não precisou dizer mais nada...rs.
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