Artigo
São duas cidades, portanto, duas histórias.
A primeira cidade teve vida curta. Surgiu em 1550, foi oficializada em 8 de Abril de 1553 e chegou ao fim em 1560. Esta cidade era a Vila de Santo André da Borda do Campo, dos personagens João Ramalho, Cacique Tibiriçá e sua filha Bartira. Uma cidade que teve pelourinho, poder constituído, atas e que ficava num ponto do atual ABC paulista. E cuja população foi transferida para São Paulo de Piratininga, dos jesuítas do Pátio do Colégio, juntamente com toda sua documentação, representada por vários livros de atas hoje arquivados em São Paulo.
A Vila de Santo André da Borda do Campo deve ser lembrada por sua importância histórica no planalto e como uma referência do quinhentismo. Nada tem a ver, no entanto, com a segunda cidade, o Município de Santo André dos dias atuais.
Santo André de hoje nasceu no século XIX, com a passagem da Estrada de Ferro São Paulo Railway, a SPR ou Inglesa, que começou a ser construída em 1860. No ano seguinte, começou a ser formado o primeiro povoado do atual território de Santo André, denominado Alto da Serra ou Vila de Paranapiacaba. Paranapiacaba pode ter sua fase inicial dividida em três partes: 1861, data do início da formação da Vila Velha; 1862, ano em que se inicia a formação da parte alta (morro); 1898, início da formação de Vila Nova.
Paranapiacaba pode ter sua fase inicial dividida em três partes: 1861, data do início da formação da Vila Velha; 1862, ano em que se inicia a formação da parte alta (morro); 1898, início da formação de Vila Nova.
O atual centro histórico de Santo André nasce em 1867, a partir de um povoado formado muito lentamente ao redor da estação férrea São Bernardo, inaugurada naquele ano e que somente nos anos 30 do século passado viria a se chamar Santo André.
A Estação São Bernardo serviu, a princípio, à sede da Freguesia de São Bernardo, hoje centro de São Bernardo do Campo, a oito quilômetros de distância.
A Freguesia de São Bernardo abrangia, praticamente, toda a área do atual ABC e sempre teve sua sede junto ao velho Caminho do Mar, depois Estrada do Vergueiro e hoje rua Marechal Deodoro, em São Bernardo. A Freguesia foi criada em 1812, sendo elevada a município autônomo em 12 de março de 1889, sempre abrangendo toda a região do ABC.
A denominação Santo André, em alusão à antiga e desaparecida Vila de Santo André da Borda do Campo, foi retomada apenas em 1910, com a criação do Distrito de Santo André, instalado em 18 de Abril de 1911 no então denominado Bairro da Estação, hoje centro de Santo André.
O Bairro da Estação, à época da criação do Distrito de Santo André, já se destacava como o principal polo de industrialização do Município de São Bernardo. Atraía, ao mesmo tempo, fábricas de várias modalidades e um operariado vindo basicamente do interior do Estado. Também atraía muitos moradores da Vila de São Bernardo, em sua maioria italianos, interessados em melhores condições de trabalho no parque fabril que se formava.
A proximidade com a estação ferroviária, as terras planas ao longo do Vale do Tamanduateí, os estímulos fiscais, a facilidades de comunicação com a Baixada Santista e Capital foram alguns dos fatores que podem explicar o rápido crescimento do parque industrial de Santo André. Em poucos anos, Santo André passou a ser a maior força econômica da região, seguido por São Caetano (também servido por estação ferroviária), e só depois pela Vila de São Bernardo, sede do Município.
A força econômica, maior arrecadação, maior número de trabalhadores localizavam-se em Santo André. Mas a sede o Município continuaria na Vila de São Bernardo até 1938, quando um decreto estadual provocou duas mudanças drásticas: a troca do nome de Município de São Bernardo para Município de Santo André e a transferência da sede do Município também da Vila de São Bernardo para o Distrito de Santo André. A solenidade de troca de nome e transferência de sede ocorreu no feriado de 1 de Janeiro de 1939.
Durante seis anos todo o ABC se chamou Santo André. Em 1944 o então Distrito de São Bernardo (incluindo Diadema) obteve a emancipação político-administrativa, separando-se do Município de Santo André e sendo instalado em 1 de janeiro de 1945 com o nome de São Bernardo do Campo. Em 1948 foi a vez de São Caetano, que separava-se surgindo o C de ABC, São Caetano do Sul. Em 1953 foi a vez de Mauá e Ribeirão Pires (incluindo Rio Grande, atual Rio Grande da Serra) obterem suas independências.
Hoje o município de Santo André corresponde ao espaço central do antigo Bairro da Estação, às áreas de Utinga e Capuava e à vasta área do setor de mananciais da região Sudeste da Grande São Paulo, incluindo Paranapiacaba, Campo Grande e 18 loteamentos além da represa Billings.
Historicamente, somente em 1989 a Prefeitura assumiu, na prática, a área de mananciais, criando posteriormente o Escritório Regional da área de Mananciais, com sede no parque Represa Billings-gleba 2, inaugurado em 24 de Fevereiro de 1991, e sub-sede em Paranapiacaba, inaugurada em 8 de Março do mesmo ano.
Santo André conseguiu, no caso de Utinga, provar que a estrada de ferro nunca rompeu o território andreense, nem o dividiu.
Cruzando e acompanhando o vale do Rio Tamanduateí, os trilhos ferroviários provocaram a implantação do processo de industrialização em Santo André. As primeiras fábricas foram implantadas nos entornos da estação e as áreas próximas, de ambos os lados dos trilhos receberam os grandes loteamentos urbanos, em especial a partir dos anos 20 do século passado, quando se estabelece, nitidamente, a vocação e o perfil de uma cidade moderna, industrializada e de trabalhadores.
As grandes levas de imigrantes, a partir de antigos agricultores do interior de São Paulo, descobriram este espaço urbano e construíram a cidade. Inicia-se uma interação cultural que hoje pode explicar e descobrir a própria identidade da cidade. Uma interação onde a própria barreira física da estrada de ferro deixa de ser problema.
Na verdade, o desenrolar histórico da cidade já mostrava esta integração até antes da construção da ferrovia. A Estrada do Oratório, via penetração em direção à Zona Leste paulistana, é uma sequência da própria malha central de Santo André, a partir do Ipiranguinha (por onde passava o histórico Caminho do Pilar), rua Senador Fláquer (do I Grupo, hoje Museu, e o reativado Cine Theatro Carlos Gomes), rua Coronel Oliveira Lima (do ramal ferroviário que demandava a São Bernardo), rua General Glicério (que abrigou uma hospedaria dos imigrantes no fim do século XIX), rua Bernardino de Campos (dos grandes comícios dos Candidatos de Prestes, Armando Mazzo à frente), estação, avenida Antonio Cardoso e estrada do Oratório.
É em torno deste eixo que a cidade se implantou, sem barreiras geográficas, ofuscada timidamente, vez ou outra, por estranhos e fisiológicos movimentos que tentam, ou tentavam, quebrar o que o antropólogo José Guilherme Magnani chama de “a lógica do pedaço”.
Santo André comemora, anualmente, em 8 de abril, o aniversário da instalação oficial da Vila de Santo André da Borda do Campo e não do atual Município. Isto porque a vila quinhentista de Ramalho, formada em 1550, oficializada em 8 de abril de 1553, chegou ao fim em 1560, quando seus moradores e autoridades transferiram-se daqui para o Pátio do Colégio, na São Paulo de Piratininga;
O Município hoje, tem consciência de que sua formação, enquanto espaço urbano, que origina sua nova História, começa em 1861, quando da formação do primeiro povoado local, no Alto da Serra, primitivo nome de Paranapiacaba, parte integrante de Santo André. Até 1861, quando começa a ser formada Paranapiacaba, a região do atual Município de Santo André possuía, meramente, uma população dispersa que ocupava sítios e outras propriedades rurais, sem um sentido coletivista na concepção mais moderna do termo. Esta população, então recorria à sede da Freguesia de São Bernardo ou então à Capital da Província;
Hoje, Santo André tem também consciência de que seu território não se limita à sede e ao Distrito Capuava. Há um avanço para fora do eixo do vale do Tamanduateí, atingindo as áreas de mananciais, onde a cidade incorpora e administra bairros ao longo da represa Billings, entre os quais o Parque Represa Billings, Jardim e Parque das Graças, Jardim Joaquim Eugênio de Lima, Rio Pequeno,etc., atingindo os antigos Campo Grande e Paranapiacaba. Os escritórios da área de mananciais mostram, claramente, que Paranapiacaba, por exemplo, é Santo André, como o são os bairros do porte de uma Vila Bastos, ou Parque das Nações, estes mais centrais.
Criação e desmembramentos ocorridos em Santo André:
1812 – Foi criada a Freguesia de São Bernardo, por aprovação régia do bispo diocesano e por alvará de 12 de outubro. A Freguesia, espécie de distrito de São Paulo, abrangia área que não tinha limites exatos. Não equivale ao território atual da Região do Grande ABC, pois dela não fazia parte o bairro rural de São Caetano.
1890 – Foi instalado o Município de São Bernardo, abrangendo toda a área da atual Região do Grande ABC, com sede em São Bernardo.
1896 – Criação do Distrito de Paz de Ribeirão Pires (incluindo os atuais Municípios de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, parte de Mauá e o atual Distrito de Paranapiacaba).
1907 – Criado o Distrito de Paranapiacaba.
1910 – Criado o Distrito de Santo André (incluindo o atual Município de Santo André, São Caetano e parte de Mauá).
1916 – Criado o Distrito de São Caetano.
1934 – Criado o Distrito de Mauá.
1938 – O Município de São Bernardo passou a denominar-se Santo André. O Distrito Sede do Município passa a ser o Distrito de Santo André, englobando o Distrito de São Caetano, mantendo as demais divisas distritais.
1944 – O Distrito de São Bernardo é elevado à Município com a denominação de São Bernardo do Campo. A instalação do novo Município ocorreu em 1º de janeiro de 1945.
1948 – O subdistrito de São Caetano é elevado à condição de Município com a denominação de São Caetano do Sul.
1953 – O Município de Santo André, inicialmente termo da Comarca de São Paulo, obteve pela Lei nº 2.420 de 18/12/1953 sua autonomia jurídica, criando assim a Comarca de Santo André.
1954 – Os distritos de Mauá e Ribeirão Pires (incluindo o atual Município de Rio Grande da Serra), são elevados à condição de Município.
1958 – É criado o Município de Diadema.
1963 – É criado o Município de Rio Grande da Serra. 1985 – Em parte da área do 2º Subdistrito é criado o Distrito de Capuava.