Humor
Blog destinado a divulgar fotografias, pinturas, propagandas, cartões postais, cartazes, filmes, mapas, história, cultura, textos, opiniões, memórias, monumentos, estátuas, objetos, livros, carros, quadrinhos, humor, etc.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
Escola Prática de Agricultura Getúlio Vargas / Atual Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Escola Prática de Agricultura Getúlio Vargas / Atual Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia
Implantação das Escolas Práticas de Agricultura no Estado de São Paulo e Sua Arquitetura / EPAs / Escola Prática de Agricultura Getúlio Vargas / Atual Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Implantações das Escolas Práticas de Agricultura no Estado de São Paulo e Sua Arquitetura / EPAs / Escola Prática de Agricultura Getúlio Vargas / Atual Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia
Em algumas cidades do interior paulista, a arquitetura de tendência neocolonial se manifestou primeiro, em meio rural, associada a uma política de desenvolvimento agroindustrial. No início dos anos de 1940, o governo do Estado de São Paulo planejou a implantação de dez Escolas Práticas de Agricultura (EPAs) em seu território das quais seis foram construídas e se tornaram exemplares neocoloniais remarcáveis. Apresentamos aqui, o contexto político que originou tal projeto estadual e como a atuação de Fernando Costa como interventor do Estado de São Paulo foi determinante para a construção das EPAs segundo o modelo da Escola Nacional de Agricultura, no Rio de Janeiro. Analisamos a arquitetura das EPAs construídas em Pirassununga, em Bauru, em Guaratinguetá, em Itapetininga, em Ribeirão Preto e em São José do Rio Preto. E, finalmente, mostramos como, por intervenção do poder público, a arquitetura neocolonial ligada à agroindústria e ao meio rural se manifestou tardiamente no interior paulista e ajudou a difundir essa linguagem pela região, inclusive no meio urbano.
A figura chave no planejamento e implantação das escolas agrícolas no Brasil e das EPAs no Estado de São Paulo foi o agrônomo Fernando Costa, que ocupou vários cargos públicos. Em 1938, foi indicado para Ministro da Agricultura, onde permaneceu por três anos, antes de ocupar o cargo de Interventor do Estado de São Paulo, de 1941 a 1945. A partir de sua presença nos assuntos do governo relacionados à agricultura, a política mudou de enfoque, o que foi bem interpretado por Teles & Iokoi (2005, p.63), através da metáfora do Jeca Tatu: era inconcebível no projeto de Fernando Costa (…) a imagem criada por Monteiro Lobato do Homem do campo. A figura do Jeca Tatu preocupava esses dirigentes, de um lado, por considerá-la preconceituosa, e, de outro, por perceberem que de fato a monocultura e o latifúndio haviam apartado o camponês, o trabalho rural e o pequeno sitiante dos benefícios que os fazendeiros obtinham do fundo público do país. A preocupação, naquela altura, era, pois, combater a imagem do camponês abandonado pelo poder público. Passou a ser importante levar a instrução aos trabalhadores do campo, através de instituições que foram implantadas em localidades distantes dos centros mais desenvolvidos e das capitais. Nesse contexto, sob o mandato de Fernando Costa no Ministério da Agricultura (1938-1941), projetos para construção de escolas e de instituições ligadas à agricultura, pecuária e veterinária tomaram novo impulso. Houve investimentos no setor, reformas e reorganização das instituições, como podemos verificar pelas palavras do Ministro: “desde há muitos anos constitui objeto de preocupação nos meios técnicos o aparelhamento e articulação dos trabalhos de pesquisa e experimentação agrícolas, (...) para maior eficácia e preparo do pessoal técnico”. (COSTA, 1939, p.141). Várias escolas de agricultura foram implantadas e melhoradas em diversas regiões do país, dentre as quais nos interessa a construção da Escola Nacional de Agronomia, à margem da estrada Rio-São Paulo, no Estado do Rio de Janeiro (1939). No relatório de 1940, do Ministério da Agricultura ao Presidente da República, Fernando Costa refere-se à Escola Nacional de Agronomia nos seguintes termos: A Escola Nacional de Agronomia, que está sendo construída em Santa Cruz, no quilômetro 47 da estrada de rodagem Rio - São Paulo, é uma das maiores realizações do Ministério da Agricultura (…). Obra grandiosa, já pelo seu aspecto arquitetônico, já pelas instalações que foram projetadas tendo em vista os progressos do ensino agronômico, ela há de marcar uma época nesta fase de renovação econômica do país (COSTA, 1941, p.17). E continua, com algumas menções às construções, dizendo que o projeto das instalações fora aprovado pelo chefe da Nação: êsse plano, organizado segundo as exigências da técnica moderna, compreendia numerosos edifícios dispostos em zonas distintas, ligadas por um grande parque paisagístico (...). Obras de grandes proporções, ela será um centro irradiador de ensinamentos agrícolas (COSTA, 1941, p.59-61).
Após a nomeação de Fernando Costa como Interventor do Estado de São Paulo, em 23 de julho de 1941, os jornais noticiaram uma reunião da Secretaria da Agricultura com os representantes dos lavradores de 45 municípios paulistas, para a discussão dos principais problemas, como as vias de comunicação, crédito agrícola, assistência técnica, redução de impostos, educação e assistência sanitária. Era pretensão do governo “tornar o homem do campo apto a encontrar no meio em que vive elementos para o seu progresso econômico e para sua perfeita estabilização social e que lhe possa proporcionar uma existência digna e feliz” e, era urgente combater “as endemias reinantes em diversas regiões, como a maleita (...). O sr. Fernando Costa declarou que está disposto a tomar todas as providências necessárias” (REUNIÃO..., 1941). Tanto jornais de cidades do interior paulista como jornais da Capital, naquele momento, abordavam assuntos relacionados ao novo programa de governo, entre os quais, o ensino agrícola. Foi um quadro sintomático, num período em que o sistema de produção do café já havia decaído e era preciso encontrar alternativas viáveis para produtores e trabalhadores rurais. Agrônomos… (1941), retrata as expectativas quanto ao assunto, como se vê: a presença do Sr. Fernando Costa no governo de S. Paulo acendeu as esperanças de que agora se intensificará (...) a campanha de racionalização agrícola que dará às nossas terras fertilidade permanente e que fixará as populações (...) cessando enfim a era do nomadismo econômico que caracteriza o Brasil e S. Paulo.
Esse artigo finaliza prenunciando o que seria feito pelo novo interventor: “dividindo-se o Estado em blocos de cinco ou seis municípios, bastariam cinquenta agrônomos para formar uma rede completa”. No ano seguinte, Fernando Costa lança um projeto que dividiria o Estado em regiões e instalaria, em cada uma, uma escola agrícola. Além da implantação das Escolas Práticas de Agricultura (EPAs), ainda na década de 1940, o Ministério da Agricultura e as Secretarias de Agricultura dos Estados construíram também Casas da Lavoura, promoveram as Semanas Ruralistas e implantaram os Postos Agropecuários. O Estado parecia, finalmente, ter voltado os olhos para o Jeca Tatu. No dia três de junho de 1942, portanto, o Decreto-Lei Estadual nº 12742 determinou a criação das EPAs. Fernando Costa colocou em prática seu projeto, seguindo a intenção de estabelecer uma escola em cada uma das zonas administrativas nas quais o Estado de São Paulo foi dividido. Em 1945, cinco das EPAs foram inauguradas: as de Bauru, de Guaratinguetá, de Itapetininga, de Pirassununga e de Ribeirão Preto. Embora Teles & Iokoi (p.64, 2005) afirmem que as demais não chegaram a ser construídas, em parte pelos problemas relacionados à Segunda Guerra Mundial e à crise do Estado Novo, consta que, em 18 de Agosto de 1944, através de um novo decreto, nº 14.13930, o interventor estadual criou a EPA de São José do Rio Preto, já prevista pelo primeiro decreto. As outras quatro EPAs – as de Amparo, Araçatuba, Marília e Presidente Prudente – não foram construídas. O projeto e a construção das EPAs foram entregues à antiga Diretoria de Obras Públicas (DOP) do Estado de São Paulo (Lourenço, 1999; Teles & Iokoi, 2005). O aparecimento de várias instituições de ensino e apoio à agroindústria no período em que Fernando Costa esteve no Ministério da Agricultura são indicadores que demonstram, além da necessidade de promover um sistema produtivo mais diversificado, a tendência política em expandir a ocupação do território e em potencializar a exploração de recursos naturais e agropecuários. Indica também investimento na educação agrícola (TELES & IOKOI, 2005), associada à educação nacionalista – característica do governo Vargas, como se sabe –, efetivada com a ajuda da linguagem arquitetônica. Várias das instituições federais, criadas e reformuladas naqueles anos, utilizaram a arquitetura neocolonial, como, por exemplo, a Escola Nacional de Agronomia. Assim, apesar de o neocolonial não ser a linguagem exclusiva adotada pelo Ministério da Agricultura, verificamos que, entre os anos de 1938 e 1945, aproximadamente, configurou-se um segundo momento de contato entre o Estado e uma expressão arquitetônica que se propunha tradicional brasileira, passível de servir a certos propósitos nacionalistas. Esse momento é tardio, em relação à campanha neocolonial, que teve início nos anos de 1910 e cujo último debate tinha acontecido no início da década de 1930. Fernando Costa, como Ministro da Agricultura e como Interventor do Estado, manteve e estendeu a oficialidade dessa arquitetura por, aproximadamente, mais uma década, a partir de 1938, contribuindo, assim, para que a linguagem neocolonial tenha se difundido por um longo período. Ao observar a arquitetura das EPAs, constatamos que o projeto de “construção da nacionalidade” atingiu a esfera estadual e beneficiou-se das ideias lançadas, quase duas décadas antes, por Severo e Mariano Filho, pois todas elas foram construídas segundo os preceitos da arquitetura neocolonial. Teles & Iokoi (2005) descrevem rapidamente como deveriam ser as estruturas das EPAs: As plantas seguiam rigorosamente o estilo colonial brasileiro, em perfeita harmonia com as paisagens onde seriam instaladas (TELES & IOKOI, p.74, 2005). Observamos também a prática do ritual nacionalista associado à arquitetura, na ocasião da inauguração da EPA de Pirassununga: A festa de inauguração foi uma atividade cívica e ufanista, com pompas militares, desfiles, hasteamento do Pavilhão Nacional, hino e apresentação da Banda da Força Policial e da Guarda Civil de São Paulo. Evidentemente, essas manifestações, bem ao gosto do regime, faziam parte de todo um aparato destinado ao engrandecimento das figuras políticas e do nacionalismo, que vinha sendo despertado em diferentes países desde o final da Primeira Guerra Mundial (Teles & Iokoi, 2005, p.64) Assim, notadamente nas décadas de 1930 e 1940, a ideologia nacionalista envolveu a criação e a construção das escolas agrícolas, fato que se refletiu na arquitetura. A linguagem neocolonial - possivelmente pelo sue teor tradicionalista - foi adotada para melhor expressar os propósitos oficiais da época.
Segundo Lourenço (1999, p.192,) o DOP foi o órgão responsável pela construção das instalações da EPA “Getúlio Vargas”, de Ribeirão Preto, atual Campus da Universidade de São Paulo, cujo projeto é do arquiteto Hernâni do Val Penteado. O processo de extinção dessa EPA deu-se entre 1952 e 1954. Inicialmente, parte do prédio da escola agrícola foi cedida para uso da Universidade de São Paulo e, finalmente, dois anos mais tarde, recebeu a Faculdade de Medicina desta universidade. A EPA “Paulo de Lima Correia”, de Guaratinguetá, foi inaugurada em 1945. Foi doada à União em 1950 e, posteriormente, transformada na Escola de Especialistas de Aeronáutica. O processo de mudança, porém, ocorreu sob protestos dos moradores da cidade, como mostra o artigo do jornal Diário de São Paulo, de 29 de outubro de 1949. O artigo, intitulado “Contrários à Transferência da Escola Prática de Agricultura” traz a notícia de que a população se organizou e realizou um abaixo-assinado de 450 assinaturas, pedindo à Assembleia Legislativa do Estado “que não prive esta localidade, e mesmo toda a zona, de tão útil, valioso e necessário estabelecimento de ensino agrícola, que tantos benefícios vêm prestando em prol do reerguimento agropecuário da região”. Notícias de teor equivalente encontram-se no jornal Correio Paulistano, dos dias 29 de outubro de 1949 e 05 de novembro de 1949. Apesar de toda a movimentação em favor da manutenção da escola de Agricultura, em 1954, a escola de aeronáutica já estava em pleno funcionamento. A EPA “Dr. Fernando Costa”, de Pirassununga, foi inaugurada no dia 05 de junho de 1945. Seu projeto e execução estavam a cargo da DOP e, provavelmente, o autor do projeto foi o arquiteto Hernani do Val Penteado. Em 1956 foi fechada e em cinco de novembro de 1957, “o governador Jânio Quadros cedeu às pressões contrárias dos políticos e das associações rurais de Pirassununga” e criou o Izip – Instituto de Zootécnica e Indústrias Pecuárias -, através da Lei nº 1.763 (TELES & IOKOI, 2005, p.89). As palavras das autoras mostram que, também nessa cidade, houve resistência à transformação da Escola Prática Agrícola, ainda que ela se tornasse outra instituição de ensino, anexa à Universidade de São Paulo. Atualmente, suas instalações são ocupadas pela Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP. A Escola Prática de Agricultura “Gustavo Capanema”, de Bauru, foi, igualmente, criada em 1942. No dia 19 de abril desse mesmo ano, o Interventor Fernando Costa assina a ata de lançamento da pedra fundamental. Desde 12 de junho de 1955, é utilizada como Instituto Penal Agrícola “Prof. Noé Azevedo”, um presídio de regime semi-aberto para detentos de bom comportamento ou em cumprimento final de pena. A Escola Prática Agrícola “Dr. Javert de Andrade”, de São José do Rio Preto, foi apenas parcialmente construída, pois em 1949 suas instalações foram finalizadas pelo então governador Adhemar de Barros; porém, ao que parece, nunca chegou a funcionar. No Diário Oficial do Estado de São Paulo, do dia 28 de novembro de 1951, encontramos o protesto do deputado Alberto Andaló, de São José do Rio Preto, contra a instalação de um presídio agrícola nas dependências do que deveria ter sido a Escola Prática Agrícola daquela cidade: verificamos o caso como realmente ele se apresenta. Existem 3 prédios semi-construídos pelo interventor Fernando Costa, nos terrenos da Escola Prática de Agricultura. (...) Agora vai ser reformado o prédio (...) e, então, irão para lá (...) trinta ou quarenta condenados [que] posteriormente irão reformar o outro prédio (...) situação «maravilhosa»: Rio Preto perdeu os terrenos; perdeu aquilo que era produção imediata para o consumo da cidade, perdeu a Escola Prática de Agricultura e recebeu, em compensação, os presos que irão (...) cultivar a terra (SÃO PAULO (ESTADO), 1951, p.30). Afinal, o instituto penal agrícola foi instalado, e continua em funcionamento. A Escola Prática de Agricultura “Carlos Botelho”, de Itapetininga, também foi criada em 1942, mas foi inaugurada no dia cinco de junho de 1945, com o nome de “Escola Técnica no Bairro Capão Alto”. De 1955 a 1959, durante o governo de Jânio Quadros, foi utilizada como instituto penal, fato desaprovado pela população, que reivindicava o retorno da escola. Em 1969, foi finalmente re-inaugurada como “Escola Técnica Agropecuária Estadual Prof. Edson Galvão”, uma das escolas dos Centros de Educação Tecnológica Paula Souza (Ceeteps). Fernando Costa permaneceu como Interventor do Estado de São Paulo até 27 de outubro de 1945. A partir de então, seus sucessores não mantêm a mesma política de interesse no projeto das EPAs. A partir de 1950, os usos aos quais foram destinados os prédios das EPAs foram alterados. A morte de Fernando Costa, em 1946, anunciaria uma fase de decadência que, associada às condições políticas e históricas, levou ao esgotamento do projeto de ensino agrícola nos moldes então implantados. Essa fase de declínio aparece na crítica do deputado Aníbal Furlan, registradas também no Diário Oficial do dia 28 de novembro de 1951: quero (...) dar o meu testemunho pessoal a respeito das chamadas Escolas Práticas de Agricultura. Em Ribeirão Preto há uma Escola Prática de Agricultura suntuosa, um verdadeiro monumento que honra o Estado de São Paulo. Acontece que, na prática, é o mais retumbante fracasso que já vi. O indivíduo sai da fazenda, entra na Escola e fica vagabundo, porque durante os três anos de permanência na Escola, se acostuma com água quente, com cinema, teatro, etc. Nunca mais voltará para a fazenda de onde saiu filho de colono. Dessa forma penso que o problema da Escola Prática de Agricultura, como se situa hoje, é um problema superado. Não dá, absolutamente, resultado algum (SÃO PAULO (ESTADO), 1951, p.30).
Descontando o enfoque pejorativo do discurso do deputado, observamos que o projeto do interventor Fernando Costa não frutificou conforme o esperado. Mais adiante, o debate entre deputados continua pondo em causa a ociosidade e os grandes custos que as instalações das EPAs passaram a gerar para os cofres do Estado, considerando, portanto, que seria melhor destiná-las a outros usos do que manter seu uso original (SÃO PAULO (ESTADO), 1951, p.30). Isso viria a acontecer, de fato, a partir de 1950, com todas as cinco escolas construídas. Finalmente, o projeto das EPAs foi ambicioso. Suas unidades contaram com estruturas de grandes capacidades, conforme afirmam Teles & Iokoi (2005, p.69): “cada escola receberia trezentos alunos internos e 150 semi-internos, capacidade que poderia ampliar-se, pois o projeto previa a ampliação das instalações”. Porém, já de início esse grande projeto foi implantado apenas parcialmente, uma vez que das dez unidades planejadas somente foi realizada a metade. Cada escola levou aproximadamente três anos para ser concluída – de 1942 a 1945 todas estavam em obras - e formaram as primeiras turmas por volta do final da década de 1950, quando os grupos dirigentes haviam sido mudados e, com eles, a política para essas escolas rurais. A formatura da primeira turma da EPA “Gustavo Capanema”, de Bauru, por exemplo, aconteceu em junho de 1949. Portanto, o que deveria ter sido um projeto de longo prazo - pelos altos recursos, tempo e variáveis envolvidas -, agonizou em, praticamente, cinco anos. Como disseram Teles & Iokoi (2005, p.84), “Retornava a metáfora do Jeca Tatu”. Todavia as construções foram preservadas e nos dão um testemunho eloquente da adoção da linguagem arquitetônica neocolonial naquele período.
As informações levantadas sobre as EPAs nos permitem visualizar as circunstâncias que envolveram sua implantação e construção. Por estarem localizadas em áreas rurais, houve exigências e dificuldades de toda ordem a serem vencidas: desde a abertura e adequação dos terrenos aos projetos, passando pela ligação das unidades com centros maiores através de vias e meios de transporte para trabalhadores, materiais de construção, alunos e funcionários, até o abastecimento de energia elétrica e água - que, quando não podiam ser trazidos de redes próximas, deviam ser produzidos no local, por geradores e poços. Assim, a construção do projeto das EPAs demandou grandes esforços e recursos, em nada condizentes com o tempo em que funcionaram. As instalações das EPAs, além de incluírem campos para cultivo, criação de animais e represas, eram formadas por um conjunto de edificações, entre as quais as destinadas ao prédio principal, aos alojamentos, ao ginásio de esportes, ao salão social, aos laboratórios, aos estábulos, ao laticínio, ao matadouro, às casas para funcionários e professores etc.
Essa estrutura, em cada unidade, era envolvida por um planejamento paisagístico que se assemelha ao projeto de Ângelo Murgel para a Escola Nacional de Agronomia, no qual podemos identificar elementos dos jardins ingleses. Características como as de grandes gramados, tanques de água, traçados sinuosos e caminhos com bifurcações para favorecer certas visuais são encontradas nos projetos paisagísticos das EPAs. Um traço recorrente é o acesso por caminhos que nunca vão diretamente até a edificação principal, mas abrem-se e circundam pelas laterais de um gramado frontal, em formas ovais ou elípticas.
Os traçados paisagísticos para as EPAs diferem, porém, dos jardins ingleses, no emprego de alguma simetria, como no caso da EPA “Dr. Fernando Costa”, de Pirassununga, que exibe um eixo frontal à edificação principal, embora, de uma perspectiva mais ampla, os traçados de cada lado do eixo sejam diferentes. No caso da EPA “Gustavo Capanema”, de Bauru, existe simetria em frente a cada edificação, mas o traçado geral é assimétrico e sinuoso. O responsável por esse projeto foi João Schmid, vinculado à Construtora de Jardins «São Paulo», que ficava à Rua Tutoya, 343. Atualmente, parte do traçado está descaracterizada. Desde que passou a ser utilizada como instituto penal, foi necessário adaptar os espaços. Encontramos um projeto, da década de 1970, para instalação de alambrados ao redor de três dos principais prédios para impedir a circulação. A disposição dessas barreiras não respeitou o arruamento do projeto original e desfiguraram por completo o ajardinamento anterior.
As fotos aéreas da Escola de Especialistas de Aeronáutica, de Guaratinguetá, antiga EPA “Paulo de Lima Correia”, mostram que, no decurso de transformação de uma instituição para outra, a taxa de ocupação cresceu consideravelmente, fazendo com que o traçado original se extinguisse. Apesar disso, ainda é possível distinguir alguns elementos do projeto paisagístico original: o acesso lateral ao prédio principal, o acesso por vias sinuosas à casa principal do conjunto e uma rua curva que leva às antigas casas dos funcionários. Sobre as outras três EPAs construídas não encontramos informações que permitissem uma análise sobre sua implantação e seus jardins.
Apesar da clara referência à arquitetura barroca, feita nos prédios das EPAs, o mesmo não se deu em seus projetos paisagísticos. Poderíamos supor, seguindo a mesma lógica, que o traçado para esses espaços fosse inspirado na simetria e no emprego de desenhos geométricos dos jardins franceses que coincidem com o período Barroco. Porém, a identidade com o aspecto romântico e pitoresco prevaleceu na composição geral dos traçados para os entornos dessas escolas. Talvez isso se tenha dado pelo fato de as escolas se situarem em áreas rurais, condicionante ligada à idéia romântica de idealização do campo. Além do que os prédios, em sua concepção neocolonial, também estão associados ao espírito romântico e pitoresco. O modelo para as EPAs foi o projeto desenvolvido pelo arquiteto Ângelo Murgel para a Escola Nacional de Agronomia, atual Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. O fator determinante para que esse modelo fosse utilizado nas EPAs foi a nomeação de Fernando Costa como Interventor do Estado de São Paulo. A Diretoria de Obras Públicas (DOP) desenvolveu dois projetos tipo para as EPAs, com um ou dois pavimentos. Esses projetos tipo são, claramente, versões simplificadas do projeto para a Escola Nacional de Agronomia. Como evidência maior, encontramos no arquivo do Instituto Penal Agrícola “Prof. Noé Azevedo” (antiga EPA de Bauru), a planta do primeiro andar do prédio de “escola e administração”, projetada pelo arquiteto Hernani do Val Penteado, com uma observação importante na prancha de desenho: “adaptação do projeto dos Engos. Mario Whately & Cia.” para a Escola Nacional de Agronomia, segundo Rumbelapager (2005, p.102). Especialmente, é na compleição das entradas principais que verificamos uma grande semelhança: na Escola Nacional de Agronomia a entrada se faz por um antecorpo destacado e um pórtico. O antecorpo é composto por um grande frontão curvo e interrompido, com coruchéus laterais, uma janela falsa central elíptica preenchida por um painel de azulejos e três portas-balcão que dão para uma sacada em forma de taça e de guarda-corpo maciço. O pórtico, igualmente, apresenta grande frontão curvo com ornamento em painel de azulejos, coruchéus sobre três grandes arcos. Detendo-nos na análise, notaremos que o projeto tipo um (2 pavimentos) das EPAs, é muito semelhante à descrição acima, embora sem o espaço que forma o pórtico. O projeto tipo dois (1 pavimento) também é muito semelhante, porém, por sua vez, sem o espaço que forma o antecorpo. No mais, outras componentes do partido, como a sequência de janelas laterais nos três pavimentos, alas que partem perpendicularmente à fachada principal, e a simetria, são traços que tornam evidentes as semelhanças entre os prédios. Podemos ainda citar os telhados, as arcadas, os azulejos e os adornos, como elementos de construção que foram empregados tanto em uma, como noutras obras oficiais. Bauru e Ribeirão Preto receberam o projeto com dois pavimentos e assemelham-se no destaque do volume central, que avança em relação à fachada, por onde se dá o acesso principal. No prédio principal da escola de Bauru, um grande frontão tripartido, com volutas e coruchéus nas laterais, sobrepõe-se a três aberturas de arco abatido e a três arcos plenos.
Uma das aberturas é uma porta-balcão, cuja sacada semicircular possui uma balaustrada com elementos que evocam as madeiras torneadas, itens muito utilizados nas manifestações arquitetônicas neohispânicas. As duas laterais da fachada são marcadas por duas grandes sequências de janelas, no piso superior de arco abatido e no inferior de vergas retas. Na Escola de Ribeirão Preto, diferentemente, o frontão do antecorpo em destaque na fachada é triangular, mas, de maneira similar, apresenta três aberturas: três janelas no piso superior e duas janelas elípticas e uma portada central decorada com motivos evocativos da arquitetura barroca. As laterais do prédio são compostas por arcadas no pavimento inferior, e uma sequência de janelas de arcos abatidos no superior, que chegam, dos dois lados, a outros dois volumes destacados. Em planta, os prédios das duas unidades, de Bauru e de Ribeirão Preto, são em forma de “E”, com três alas partindo perpendicularmente à fachada principal. Os portões de entrada das unidades de Bauru e Ribeirão Preto seguem o mesmo projeto e são praticamente iguais, com rusticação nas pilastras de entrada, arco pleno e janelas elípticas.
As EPAs “Paulo de Lima Correia”, de Guaratinguetá, “Dr. Fernando Costa”, de Pirassununga, e “Dr. Carlos Botelho”, de Itapetininga, foram construídas segundo o tipo de projeto de um pavimento. Os prédios principais das duas primeiras escolas têm a fachada simétrica e também possuem um antecorpo central destacado, por onde se faz o acesso através de três arcos encimados por um grande frontão, curvo e abatido, decorado por telhas capa e canal, e um painel de azulejos mostrando uma cena rural. A fachada continua, para a esquerda e para a direita, com um ritmo de abertura marcado por três janelas de vergas retas de cada lado.
O prédio principal da escola de Itapetininga é quase idêntico, mas difere levemente na forma do frontão e do painel de azulejos, na ausência de telhas sobre a cimalha desse elemento, e no ritmo de abertura das laterais da fachada, que possui três janelas pequenas e agrupadas, e uma maior, de arco pleno a cada lado. Esse prédio e o de Guaratinguetá têm cunhais decorados com aplicação em pedra. Todos os prédios principais dessas três unidades assemelham-se em planta, cuja forma pode ser descrita como uma cruz de quatro travessas. As alas intermediárias possuem dois pavimentos compostos por arcos alongados, em que a curva fica apenas na fachada do pavimento superior; aí, os guarda-corpos empregam as meias-luas decorativas. Nessas alas estavam localizados os dormitórios.
Diversos outros estilemas são recorrentes tanto na Escola Nacional de Agronomia como nas EPAs, como portadas decoradas; cartelas; volutas; coruchéus; arcadas; telhados de telha capa e canal, beirais revirados e telhas de ponta, azulejos e ainda outros. Todos esses traços de semelhança ajudam a constatar que o modelo para as EPAs foi, de fato, a Escola Nacional de Agronomia, embora neste trabalho não tenhamos a possibilidade de analisar todos eles.
A campanha neocolonial, que teve início na década de 1910 e foi encabeçada por Ricardo Severo e José Mariano Filho, não se limitou nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Ao contrário, a linguagem e as características próprias da arquitetura ligada a essa campanha se reproduziram rapidamente. A imagem identificada como neocolonial tomou grande visibilidade e foi rapidamente assimilada como representação de modernidade, de originalidade, de tradicionalismo e de status. E, finalmente, chegou a ser uma importante opção do poder público para edifícios oficiais. Durante as décadas de 1920, 1930 e 1940, diversos edifícios públicos foram construídos seguindo a estética neocolonial em diversos lugares do país. Apesar de não ser um fato ignorado, a presença do neocolonial – e das derivações dessa linguagem – fora dos principais centros, como o Rio de Janeiro e São Paulo, foi pouco estudado.
Por isso, sabíamos pouco sobre o processo de difusão para essas regiões mais distantes dos centros de onde a campanha foi originada. Sabíamos ainda menos que a nova política paulista de desenvolvimento agroindustrial (anos de 1940) teve influência nesse processo e que obras remarcáveis, construídas para atender a essa política, teriam desempenhado um papel importante na difusão da linguagem neocolonial. Assim, a vinda de Fernando Costa do Ministério da Agricultura para a Interventoria do Estado de São Paulo determinou a Escola Nacional de Agricultura como modelo para as EPAs, tanto no que diz respeito à ideia de educação agrícola como à reprodução da arquitetura neocolonial. Tendo sido um projeto de grande envergadura, ligado à política nacionalista do período, as EPAs não passaram desapercebidas. Apesar de terem sido construídas em áreas rurais, estiveram fortemente presentes nos espíritos da população. Foram obras que representavam uma nova e promissora fase para a agroindústria e que, portanto, gozaram de boa reputação. Dessa forma, foram tomadas como referência para a reprodução da tendência arquitetônica neocolonial, em vários graus de complexidade ou simplificação, tanto para edificações em áreas urbanas como rurais do interior paulista.
Parque do Anhangabaú, São Paulo, Brasil
Parque do Anhangabaú, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Prugner N. 70
Fotografia - Cartão Postal
Fotografia - Cartão Postal
Nota do blog: Data não obtida.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2020
BMW 327 1938, Alemanha
BMW 327 1938, Alemanha
Fotografia
Estrela do Salão de Berlim de 1936, o modelo 326 foi o primeiro automóvel da Fábrica de Motores da Bavária (BMW) criado com ênfase na aerodinâmica.
Desenvolvido pelos engenheiros Fritz Fiedler e Alfred Böning, o bem-sucedido sedã serviu de base para um dos mais belos esportivos dos anos 30: o BMW 327.
Apresentado em 1937, o conversível trazia linhas ainda mais harmoniosas, do projetista Peter Szymanowski.
Os cuidados com a fluidez aerodinâmica eram identificados nos faróis, integrados entre os para-lamas salientes e a grade bipartida, introduzida em 1933. As saídas de ar laterais do capô eram mantidas.
A bela carroceria era produzida pela Ambi-Budd em Berlim e então enviada para a fábrica da BMW em Eisenach e, então, montada num chassi com entre-eixos 12 cm mais curto que o do modelo 326.
Uma de suas maiores inovações era a lubrificação central, acionada pelo motorista por meio de um pedal.
O 327 cupê chegou em 1938 com o mesmo para-brisa inclinado e bipartido em ângulo, outro indício de uma aerodinâmica apurada.
Sua principal diferença para o conversível eram as portas com abertura invertida, conhecidas como suicidas. A traseira era tomada pelo estepe e não havia acesso externo ao porta-malas.
Bem construído, o interior trazia bancos individuais e alavanca do câmbio no assoalho, como convém a um esportivo.
Por trás do volante de três raios, um painel de instrumentos com fundo claro, com velocímetro, marcador de combustível, termômetro de água, manômetro de pressão do óleo e um pequeno conta-giros.
Sob o capô estava o motor M78, o primeiro seis-cilindros automotivo da BMW. Tinha 2 litros, válvulas no cabeçote, taxa de compressão mais alta e dois carburadores Solex.
Seus 56 cv chegavam pelo câmbio Hurth de quatro marchas, com roda livre nas duas primeiras e sincronização nas duas últimas.
A tração traseira era beneficiada pelas eficientes suspensões, sendo a dianteira independente por braços articulados e mola semielíptica transversal e a traseira com eixo rígido e molas semielípticas longitudinais.
Era um conjunto adequado para a velocidade máxima de 126 km/h: os freios a tambor nas quatro rodas possuíam acionamento hidráulico. Precisa, a caixa de direção já adotava o sistema de pinhão e cremalheira.
Mas Fritz Fiedler desejava mais. A solução foi adotar o motor M328, desenvolvido para o roadster 328 em 1936.
Baseado no M78, o novo propulsor tinha cabeçote de alumínio com câmaras de combustão hemisféricas para chegar a impressionantes 80 cv. Rebatizado 327/28, o novo BMW era capaz de chegar aos 140 km/h.
O câmbio foi trocado por um ZF completamente sincronizado.
O novo padrão de desempenho fez o 327 disparar na preferência de oficiais da Wehrmacht, superando os Horch, Mercedes-Benz e Maybach e seus enormes motores de 5 litros.
Há pelo menos um registro do BMW 327 nas imediações do Berghof, a casa de veraneio de Adolf Hitler e Eva Braun nos Alpes bávaros de Obersalzberg.
No total, menos de 2.000 unidades do 327 e 327/28 foram fabricadas até 1941, ano em que a produção foi encerrada em função da Segunda Guerra Mundial.
Antes disso, o 327 foi produzido em pequenas quantidades pela inglesa Frazer Nash, representante britânica da BMW, administrada pelos irmãos Harold, Donald e William Aldington.
Após o término do conflito, a fábrica de Eisenach ficou sob influência soviética e produziu cerca de 500 unidades do 327 sob a marca EMW (Fábrica de Motores de Eisenach).
Na Inglaterra, Harold Aldington juntou a Frazer Nash com a divisão automotiva da Bristol Aeroplane Company: completamente revisto, o BMW 327 deu origem ao Bristol 400 de 1947.
Mercedes Benz 450 SL 1974, Alemanha
Mercedes Benz 450 SL 1974, Alemanha
Fotografia
Popularizado pelos fabricantes de Detroit, os motores V8 tornaram-se obrigatórios para satisfazer o mercado norte-americano, ávido por carros velozes.
O desempenho foi uma diretriz importantíssima no desenvolvimento da terceira geração do Mercedes-Benz SL, também conhecida pela nomenclatura R107.
Denominado W113, o pacato SL “Pagoda” de segunda geração atravessou os anos 60 encantando seu público com o elegante desenho de Paul Bracq, tão harmonioso que mascarou as limitações técnicas dos enormes cupês W111 que lhe serviram de base.
Seus motores de seis cilindros e a controversa suspensão traseira por eixo oscilante já estavam obsoletos.
Apresentado oficialmente no autódromo de Hockenheim em 14 de abril de 1971, o 350 SL foi um dos últimos trabalhos do Friedrich Geiger à frente do departamento de estilo da casa de Stuttgart.
Sua personalidade inconfundível foi definida pelo designer Joseph Gallitzendörfer: faróis retangulares e lanternas avançando sobre os para-lamas formaram um desenho clássico, sóbrio e atemporal.
Como no antecessor Pagoda, havia duas capotas: uma rígida removível mais adequada a condições climáticas ruins e uma de lona para enfrentar chuvas repentinas.
A moldura do para-brisa era um tratado de segurança automotiva assinado pelo engenheiro Karl Wilfert: suportava o peso do veículo em um capotamento.
A primeira impressão do 350 SL era a de um automóvel rígido e sólido, com qualidade de construção acima da média.
O R107 foi desenvolvido em conjunto com o cupê C107 de quatro lugares, ambos baseados na plataforma do sedã médio W114.
O acerto da suspensão dianteira por braços sobrepostos e da traseira com braços semiarrastados ficou a cargo de Rudolf Uhlenhaut, engenheiro com grande experiência nas pistas.
Os freios a disco nas quatro rodas indicavam aptidão para conter o novo motor V8 M116 de 3,5 litros e 200 cv, alimentado pela injeção eletrônica Bosch D-Jetronic.
Pesando pouco mais de 1,5 tonelada, o conforto de rodagem do 350 SL era similar ao de um grã-turismo: um conversível feito para rodar por horas em alta velocidade.
Com câmbio automático, era ligeiramente mais rápido e veloz que o antigo Pagoda, indo de 0 a 100 km/h em 9,5 segundos e chegando aos 205 km/h.
O desempenho melhorava com o câmbio manual: 0 a 100 km/h em 8,5 segundos e máxima de 215 km/h.
Os americanos só conheceram o 350 SL em 1972, com estranhos faróis duplos do tipo sealed beam e o V8 M117 de 4,5 litros e potência reduzida para 190 cv em função das normas de emissões: ia de 0 a 100 km/h em 9,9 segundos com máxima de 202 km/h.
O V8 M117 deu origem ao 450 SL alemão de 225 cv, sempre com câmbio automático de três marchas e desempenho similar ao do 350 SL com câmbio manual.
O sucesso dos 350 SL/450 SL só não foi maior devido à crise energética de 1973, que forçou a Mercedes a lançar o 280 SL em 1974.
A novidade ficava por conta do motor M110 de seis cilindros, com 2,8 litros, duplo comando de válvulas no cabeçote, injeção mecânica Bosch K-Jetronic e 185 cv.
Continuava rápido: 0 a 100 km/h em 9,5 segundos e 205 km/h de máxima.
Os motores V8 ficaram maiores em 1980: o 350 SL foi substituído pelo 380 SL (3,8 litros e 218 cv) e o 450 SL deu lugar ao 500 SL (5 litros e 240 cv). Nesse mesmo ano, o 280 SL recebeu um câmbio manual de cinco marchas.
Em 1985, o 280 SL tornou-se 300 SL (3 litros e 190 cv), o 380 SL abriu espaço para o 420 SL (4,2 litros, 218 cv e mais torque) e o 560 SL (5,5 litros e 227 cv) tornou-se o topo de linha nos EUA, Japão e Austrália.
Em agosto de 1989, o último R107 (um 500 SL vermelho) deixou a linha de montagem na fábrica de Sindelfingen, totalizando 237.287 unidades produzidas em 18 anos.
Até hoje se mantém como o carro de passeio mais longevo da Mercedes: a quarta-geração do SL (R129) vendeu muito bem, mas permaneceu por apenas 12 anos no mercado.
Glaspac Cobra, Brasil
Glaspac Cobra, Brasil
Fotografia
A ideia surgiu a partir da proibição das importações de automóveis e bens de luxo em 1976, medida que complicou a vida de entusiastas da Jaguar como Donald e Gerry. Naquele período a manutenção dos esportivos ingleses tornou-se impossível ou proibitiva devido aos valores cobrados por peças que sumiram do mercado.
Frente a esse desafio, os sócios decidiram produzir uma réplica do AC Cobra, impulsionada por um V8 de grande cilindrada oferecido no Brasil. O roadster inglês era perfeito para nossas condições: simples, bonito, com alto desempenho e manutenção facilitada pelo emprego de componentes nacionais produzidos em larga escala.
Gerry Cunningham aproveitou uma viagem de negócios e bateu às portas da lendária AC Cars, na Inglaterra, ocasião em que foi recebido por ninguém menos que Derek Hurlock. Após algumas xícaras de chá, o presidente da empresa lhe entregou uma série de desenhos originais do AC Cobra.
O ato de boa vontade resolveu parte dos problemas, pois não era possível reproduzir o chassi tubular do Cobra com o ferramental da Glaspac. As suspensões também eram sofisticadas demais, situação que quase inviabilizou o projeto. O custo do desenvolvimento era elevado para produzir apenas duas unidades, uma para cada sócio.
Para desenvolver os moldes da carroceria, foi necessário recorrer a um complexo e burocrático processo de importação de uma carroceria artesanal fabricada nos EUA. O chassi ficou a cargo dos argentinos Carlos Mazzeo e Enrique Carmona, que utilizaram a suspensão dianteira do Chevrolet Opala e o eixo traseiro do Ford Galaxie.
A carroceria foi ampliada para receber as largas bitolas e o habitáculo redimensionado para acomodar Donald e Gerry, ambos com mais de 1,90 m de altura. A iminência do 12o Salão do Automóvel encorajou os sócios a apresentarem seu novo modelo.
A recepção do público foi tão favorável que o acesso ao estande da Glaspac precisou ser limitado: 18 unidades foram vendidas durante o evento, realizado entre os dias 13 e 22 de novembro de 1981.
A produção do Cobra representou outro desafio para a Glaspac: foi preciso investir em ferramental, recursos humanos e fechar contratos com novos fornecedores. Tanto a Ford quanto a Chrysler manifestaram interesse em fornecer motores V8 para a empresa paulistana. A Glaspac optou pelo V8 Windsor de 5 litros empregado no Ford Galaxie, acoplado ao câmbio de quatro marchas do Ford Maverick.
Os enormes pneus Pirelli 215/70 eram os mais largos oferecidos no Brasil. O acerto dos sistemas de direção e suspensão contou com o apoio dos pilotos Ingo Hoffman e Emerson Fittipaldi, amigos de longa data.
Era o automóvel mais caro, rápido e veloz do Brasil. Testado por QUATRO RODAS em março de 1982, ele foi de 0 a 100 km/h em 7,9 segundos e alcançou 205 km/h na melhor passagem. Ficou devendo apenas freios mais eficientes: o conjunto era formado por discos dianteiros e tambores traseiros.
O fim do Ford Galaxie forçou a Glaspac a adotar o motor de seis cilindros do Chevrolet Opala a partir de 1983. Cerca de 120 Cobras foram produzidos até 1987, com unidades exportadas para Estados Unidos, Japão, Suíça e Inglaterra. Hoje, as poucas unidades remanescentes são cada vez mais disputadas pelos colecionadores.
Alfa Romeo Giulia 1965, Itália
Alfa Romeo Giulia 1965, Itália
Fotografia
Depois dos anos 50, a Alfa Romeo jamais foi a mesma. Graças à ampla aceitação da linha Giulietta, sua receita de sucesso passou a ser feita de modelos menores e mais acessíveis, mas sem dispensar a herança dos anos de vitórias nas pistas.
Desde então, quase todos seus carros seguem os preceitos do Giulietta, e o primeiro a fazer isso foi o Giulia em 1962. Até no nome ele evidenciava sua ascendência. Novamente o projeto previa carrocerias sedã e cupê, ambas com estilo bem distinto.
Num imbróglio familiar digno de comédia italiana, a princípio a Alfa manteve o Giulietta cupê e o conversível com o nome Giulia, renovando só o sedã.
Enquanto o Giulia sedã tinha desenho mais reto que o Giulietta, o novo cupê Sprint GT, desenhado por Giugiaro, na Bertone, e lançado no ano seguinte, dispunha de proporções próximas às da versão equivalente que substituía, com frente bem maior que a traseira. Se os faróis do sedã podiam ser duplos, os dele eram simples e mais centralizados.
O Giulia tinha motor 1.6 de 92 cv no sedã ou 106 cv no cupê. A lista de motores só aumentaria. Já em 1963, o sedã TI Super oferecia 112 cv e freio a disco nas quatro rodas, que logo viria de série em toda a linha. A versão 1300 contava com 78 cv e a 1300 TI, 82 cv. O Giulia Super de 1965 entregava 98 cv.
O melhor da esportividade, no entanto, sempre era reservado ao cupê. Com partes da carroceria de liga leve e motor com carburação dupla e 115 cv, o cupê Giulia GTA visava as corridas, e versões com compressor chegavam a 220 cv.
Em 1965 foi lançada a GTC Cabriolet, que, sem o apelo do Giulietta Spider, vendeu só cerca de 1 000 unidades. O Giulia GTV veio com 109 cv e outras alterações no ano seguinte, quando também surgiu o GT 1300 Junior, com motor 1.3 de 89 cv.
O cupê abandonou o nome Giulia em 1968 ao herdar o motor do novo e maior sedã 1750 Berlina, mas até hoje é chamado pelo nome original. Oficialmente, virou Alfa Romeo 1750 GTV, devido ao motor 1.8 de 118 cv.
A alteração mais notável eram os faróis duplos. Com motor 2.0 com injeção de combustível, o GTA fazia bonito nas corridas da categoria touring. Em 1971 veio o 2000 GTV de rua, com o 2.0 de 132 cv.
Diretor do Alfa Romeo Clube do Brasil, Emanuel Zveibil cedeu o exemplar das fotos, um 2000 GTV 1974. O carro veste o motorista. “Os pedais são ágeis, faz-se o punta-tacco com facilidade”, diz o dono, que tira partido do recurso nos ralis dos quais participa. São 200 km/h de máxima, segundo o manual, e 0 a 100 km/h estimado em 10 segundos. Com carburação dupla, o motor produz 150 cv.
“O torque aparece melhor em torno das 4 000 rpm”, afirma Zveibil. O carro senta na pista em curvas por ter diferencial autoblocante. “A Alfa foi a primeira a oferecer o sistema num modelo relativamente barato”, diz o dono sobre o que destaca como vantagem da marca, ao lado do motor de alumínio, do duplo comando no cabeçote e da dupla carburação.
Na genealogia da Alfa Romeo, a linha Giulia e suas derivações, descendentes diretas do Giulietta, seriam produzidas até 1978. Elas comprovam a tese de que a evolução pode ser feita sem rupturas. A continuidade é o melhor indício dos bons legados.
Se os Alfa Romeo pré-guerra não raro tinham carrocerias diferenciadas produzidas por algumas firmas especializadas, essa tradição se perdeu a partir dos anos 50. Um exceção foi a parceria com a Zagato.
Só com base no Giulia foram feitos o TZ, bólido para as pistas de até 170 cv (foto acima), entre 1963 e 1965, e o Junior Z, ameno e estranho cupê de rua com motores 1300 e 1600, que durou de 1969 a 1975.
Assinar:
Comentários (Atom)


























