sábado, 19 de março de 2022

"O Retrato do Brasil Atual"


 

"O Retrato do Brasil Atual" 
Fotografia

Existe um chavão que diz que "uma imagem vale mais que mil palavras". Tomando tal afirmação por base, acredito que a imagem acima diz muito do Brasil e sua atual realidade, dispensando maiores comentários.
Mas antes de encerrar o post não posso deixar de escrever que a situação só tende a piorar, haja vista que estamos em ano eleitoral e, infelizmente, os dois principais candidatos ao cargo de Presidente da República são: 
A-) Um ex-presidente que criou a maior estrutura de corrupção e aparelhamento estatal da história do Brasil, condenado por inúmeros crimes de corrupção, que após cumprir parte de uma pena de "mentirinha" (ficou "preso" na Polícia Federal com TV, geladeira e outras benesses, recebendo políticos e fazendo contatos no local), acabou "inocentado" pelos ministros do STF (todos indicados por políticos, inclusive alguns por ele) ao ter seu processo anulado. Mesmo com esse histórico (ou seria ficha corrida?), é o atual líder das pesquisas eleitorais, provável novo presidente eleito;
B-) O outro é o atual presidente, responsável pela péssima situação econômica do país (ressuscitou a inflação, tornando quase impossível o consumo de carne e outros alimentos no país, fez parte da população voltar ao passado, tendo que cozinhar com lenha devido ao absurdo preço do gás de cozinha, permitiu que o preço dos combustíveis fosse às alturas, fazendo uma ida a um posto de gasolina uma "experiência de luxo"), retrocesso no combate à corrupção (99% dos políticos corruptos presos foram "inocentados" e soltos), escancarou o "toma-lá-da-cá" da política brasileira ao lotear todo o seu governo para o "Centrão" em troca de se manter no cargo, fez da "rachadinha" (jeitinho brasileiro de corrupção que consiste em contratar alguém para uma função pública, muitas vezes sem necessidade, e se apropriar de parte do salário desta mesma pessoa) algo normal, aprovou o maior fundo eleitoral (eufemismo para "corrupção legalizada" de bilhões de reais) da história, além de ser o principal responsável pelo excesso de mortes durante a pandemia do COVID-19, negando-se a reconhecer a gravidade da situação, além de incentivar o consumo de remédios ineficazes e não comprar vacinas quando deveria (crimes pelos quais deveria ser julgado, inclusive em tribunais internacionais).
Assim, diante desse quadro, fica a pergunta: Qual a saída?
Infelizmente a resposta é: o aeroporto... E como mais de 90% da população não tem condições para tal, a realidade é que estamos perdidos, sem futuro, presos a uma estrutura político-partidária que permite chance zero de mudança, condenando a população brasileira a uma miserabilidade sem fim.

sexta-feira, 18 de março de 2022

Propaganda "Ford Belina", 1976, Ford, Brasil


 

Propaganda "Ford Belina", 1976, Ford, Brasil
Propaganda

Rivotril da Depressão - Humor


 

Rivotril da Depressão - Humor
Humor

Nota do blog: Diariamente...rs.

Faculdade de Medicina da Bahia e Praça XV de Novembro, Início do Século XX, Salvador, Bahia, Brasil


 



Faculdade de Medicina da Bahia e Praça XV de Novembro, Início do Século XX, Salvador, Bahia, Brasil
Salvador - BA
Fotografia


Criada como Escola de Cirurgia da Bahia pela decisão nº 2, de 18 de fevereiro de 1808, esteve entre as primeiras medidas tomadas por Dom João em Salvador, concretizando a proposta do médico e cirugião-mor do Reino, José Correia Picanço.

Pavimentação da Avenida Presidente Vargas, 1944, Rio de Janeiro, Brasil


 

Pavimentação da Avenida Presidente Vargas, 1944, Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
Fotografia




Hélio Alves de Brito (1902-1978) foi engenheiro civil e trabalhou Secretaria de Viação e Obras Públicas do Distrito Federal durante a administração do prefeito Henrique Dodsworth (1937-1945), período em que a cidade do Rio de Janeiro passou por grandes intervenções urbanas. Esteve no cargo de diretor de obras da prefeitura de 1937 a 1940, quando foi criado o Serviço Técnico Especial (STE) da Avenida Presidente Vargas e Esplanada do Castelo, sob sua chefia.
A capital da República, então cidade mais populosa do país, passava por grandes problemas de circulação, habitação e saneamento, apesar das reformas realizadas já nas primeiras décadas do século XX. O plano de governo de Dodsworth reputava ao seu programa de obras públicas a grande solução para a ordenação dos espaços e modernização da infra-estrutura do Distrito Federal. Para tanto, foi recriada a Comissão do Plano da Cidade, um órgão colegiado responsável por traçar as diretrizes urbanísticas para o Rio de Janeiro. Hélio de Brito fez parte do corpo de engenheiros que compunham a comissão, cujas soluções projetadas engendraram uma série de intervenções viárias, que seriam as linhas mestras do Plano da Cidade, justificadas, sobretudo, pela saturação de suas principais vias e pelo traçado ainda colonial do espaço urbano carioca.
O processo de expansão da malha urbana da cidade teve como principais realizações: a abertura da Avenida Presidente Vargas e Brasil; a urbanização da Esplanada do Castelo; a remodelação das quadras do Centro; o alargamento do túnel do Leme; o Corte do Cantagalo; a urbanização do bairro de Botafogo; a remodelação da Floresta da Tijuca e a duplicação do túnel do Leme.
A construção da Avenida Presidente Vargas foi a intervenção mais simbólica do conjunto de obras planejadas pela Comissão. Como engenheiro-chefe da STE da Avenida Presidente Vargas e Esplanada do Castelo, Helio de Brito participou ativamente de todas as etapas de execução do novo eixo central de circulação do centro do Rio. Inaugurada em 1944, a nova artéria ligava, numa linha reta, o centro da cidade a zona norte, da praça da Candelária até Avenida do Mangue, na Cidade Nova. Com cerca de 4 km de extensão e 80 m de largura, a construção da avenida monumental demoliu mais de 500 edificações, promovendo um dos maiores bota-abaixo da cidade, com grande impacto social. Após três anos de obras, o traçado da via em rigoroso alinhamento com o canal do Mangue, arrasou ruas inteiras, velhas construções do centro antigo foram destruídas, igrejas como as de São Pedro dos Clérigos e Bom Jesus do Calvário, parte da Praça Onze, berço do samba carioca, um trecho do Campo de Santana e a antiga sede da prefeitura foram removidos. Apenas a igreja da Candelária resistiu, após resolução de integrá-la à avenida.
O fundo documental Hélio de Brito, de natureza privada e doado ao Arquivo Nacional em 1999, é formado por mais de 900 fotografias do acervo pessoal do titular, produzidas entre o período de 1922 a 1954. A maior parte das imagens revela aspectos e espaços do Rio de Janeiro envolvidos nas obras de urbanização do Distrito Federal durante o final da década de 1930 e início de 1940, sobretudo a construção da Avenida Presidente Vargas: mais de 500 diapositivos que registram a remodelação empreendida na área central da cidade. Também fazem parte do acervo imagens de outros logradouros cariocas, nomeadamente: Copacabana, Ipanema, praia de Botafogo, Avenida Brasil e Bicalho, Passeio Público, Canal do Mangue, esplanada do Castelo, estrada do Joá, Lagoa Rodrigo de Freitas, Floresta da Tijuca, praia Vermelha, Arpoador, Quinta da Boa Vista, Jardim Botânico, Paquetá, túnel do Leme, entre outros. Guarda ainda de fotografias de cidades como: Niterói, Piraí, Teresópolis, Piracicaba, Santos e São Paulo.

Pau Brasil: do Estanco à Extinção - Artigo

 


Pau Brasil: do Estanco à Extinção - Artigo
Artigo




A importância do pau-brasil para nossa história pode ser de certa forma medida pelas inúmeras denominações e expressões cunhadas pelas quais ficou conhecida tal madeira de cor abrasada. Ibirapitanga, orabutan, pau-da-rainha, pau-pernambuco, pau-rosado, pau-de-tinta, brasileto são alguns nomes registrados nas crônicas e demais documentos que relatam os primeiros anos da nova colônia portuguesa.
No campo das ciências naturais, o pau-brasil foi mencionado, pela primeira vez, pelo naturalista Jorge Marcgrave, em História natural do Brasil (1648), que, juntamente com o médico Guilherme Piso, compôs a missão científica e artística organizada por João Maurício de Nassau ao Nordeste. Um século depois, Jean-Baptiste de Lamarck (Dictionnaire encyclopédique de botanique, 1789) classificou o pau-brasil de acordo com os cânones da ciência da época. A Caesalpinia echinata, árvore muito dura, coberta de espinhos e de cerne vermelho, suscitou o interesse e a cobiça de portugueses e de mercadores de origens várias, não só por suas propriedades tintoriais, mas também por suas qualidades para a construção de embarcações, móveis e instrumentos musicais, em particular arcos para violino. A "caça" ao pau-brasil nas matas brasileiras deu origem ao estabelecimento do estanco por parte da Coroa lusa, como forma de proteger as matas litorâneas, onde essa espécie se concentrava; controlar a sua exploração e garantir os primeiros ganhos com a nova colônia. Calcula-se que dois milhões de árvores tenham sido derrubadas no primeiro século de exploração, o que corresponde a seis mil km2 da Mata Atlântica.
O pau-brasil se encontrou também no centro da discussão a respeito do nome que a nova colônia passaria a adotar. Denominada a princípio Terra de Santa Cruz, alguns cronistas atribuem à abundância do pau-brasil na faixa costeira entre o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Norte, ao triunfo do Demônio e à ambição pelos lucros "temporais" a mudança do nome dos novos domínios portugueses:
Porém como o Demônio com o sinal da Cruz perdeu todo o domínio, que tinha sobre os homens, receando perder também o muito, que tinha em os desta terra, trabalhou que se esquecesse o primeiro nome [Terra de Santa Cruz] e lhe ficasse o de Brasil, por causa de um pau assim chamado de cor abrasada, e vermelha, com que tingem panos, que o daquele divino pau, que deu tinta e virtude a todos os sacramentos da igreja...
(...) deu o título de "província de Santa Cruz", que a indiscreta política dos homens, ou a sua imprudente ambição mudou depois em o de Província do Brasil, mostrando, sem o querer, que fazia mais estimação do valor destes paus vermelhos, de que dependem os seus lucros temporais, do que do inestimável preço daquele sagrado Madeiro, donde com outra melhor cor, e sem comparação alguma, pendeu todo o nosso espiritual remédio.
Dentre a grande variedade de "páos selectos, e fortes" existente, o pau-brasil mostrou-se, desde os primeiros anos de colonização, um produto de alto valor mercantil. A procura por materiais corantes era crescente na Europa e a Mata Atlântica abrigava grande quantidade dessa madeira, cujo custo para sua exploração era considerado baixo, visto que a mão-de-obra indígena executava o duro trabalho de cortar, torar e transportar os grossos e pesados troncos até os navios em troca de "algumas roupas, camisas de linho, chapéus, facas, machados, cunhas de ferro e demais ferramentas". O lucro garantido por essa atividade, muito superior ao realizado com as Índias ou a qualquer outro comércio como sementes oleaginosas, escravos indígenas ou animais vivos, motivou o governo de Portugal a estabelecer, logo cedo, contratos de arrendamento com mercadores que perduraram até o século XVIII. Fernão de Noronha, um dos primeiros contratadores, Pero Lopes de Souza e outros se encarregavam, de acordo com os termos do contrato, de todos os gastos da extração, desde o corte até o embarque nos portos marítimos, garantindo aos cofres lusos receitas consideráveis.
Fernão de Noronha tomou o arrendamento, certo de que havia incontável pau-brasil, cuja procura pela tecelagem européia, então em franca expansão, aumentava de ano para ano. (...) Ora, na terra de Santa Cruz, podia o pau-brasil ser obtido mais proveitosamente em troca de bugingangas, pelas quais o indígena haveria de fornecer a força de trabalho indispensável para abater as árvores, torá-las e embarcá-las. O preço de custo, em Lisboa, todos os gastos incluídos, não passava de ½ ducado, conforme testemunho do veneziano Leonardo Cá Messer. Não somente resultava muito mais barato, que na Índia, mas oferecia ainda a vantagem de não se exigir numerário para pagamento das compras, ao contrário do que ocorria no insaciável mercado indiano.
Nessa época um dos principais mercados de distribuição do pau-brasil, juntamente com Inglaterra e Alemanha, localizava-se na Itália, mais precisamente na cidade de Florença, que abrigava uma importante corporação de tintureiros especializados em panos coloridos de vermelho. Não é de se estranhar, portanto, que algumas embarcações enviadas ao Brasil no período inicial de sua exploração tenham sido financiadas por ricos comerciantes de origem florentina.
Assim, os altos lucros auferidos pelos mercadores portugueses, os rigores do monopólio fiscal decretado pelo rei de Portugal, a frágil defesa da costa brasileira e até mesmo as notícias um tanto fantasiosas sobre as riquezas da nova colônia contribuíram para atiçar a cobiça de mercadores estrangeiros, em especial dos franceses, resultando nas primeiras disputas pelo litoral. Cristóvão Jacques, em 1526, e Pero Lopes de Souza, em 1530, tiveram que abater naus francesas, preludiando combates que se estenderam durante as décadas seguintes em que, além dos europeus, desempenharam papel importante os povos indígenas no litoral, com os quais alianças foram construídas e desfeitas em troca do trabalho no corte e transporte do pau-brasil.
Tal negócio exigia, pois, regulamentações por parte da Coroa portuguesa para que a exploração do pau-brasil e sua comercialização continuassem a apresentar a rentabilidade desejada. Além da fundação de feitorias no litoral, em que se destacavam as de Cabo Frio e de Pernambuco pelo volume de madeira armazenada, a exploração do pau-brasil deveria obedecer a uma série de rigores próprios de atividades sujeitas a monopólio real. O primeiro desses regulamentos - inscrito no Livro da viagem e regimento da nau Bretoa, de 1511, que levou para Portugal, além de raridades da terra (gatos maracajá, papagaios, macacos, sagüis, além de escravos índios), mais de cinco toneladas de pau-brasil - relaciona os interditos a que a tripulação estava expressamente sujeita, sob pena de castigos e outras penalidades em caso de desobediência.
E sereis avisado de não tirar em terra, nem deixar tirar, Brasil nem outra coisa alguma que da dita terra do Brasil trouxerdes sob pena de perderdes vossa capitania e ordenado e receberdes aquela pena corporal que el-rei nosso Senhor vos quiser dar, e os marinheiros e pessoas outras que o contrário fizerem perderão seu soldo e serão obrigados a dita pena. 
As proibições e as penalidades impostas pelo descumprimento às regulamentações para essa atividade exclusiva do governo metropolitano, que perduraram pelos séculos XVIII e XIX, podem ser observadas na documentação do fundo Alfândega da Bahia (códice 141), onde se registram provisões e alvarás de navegação autorizando o carregamento de itens do comércio colonial e em que fica "proibida a embarcação de munições e pau-brasil", sob pena de castigos estipulados em contrato, como degredo, perda de bens entre outros. Na carta de foral datada de 6 de outubro de 1534, o rei d. João III confirma a cessão de uma capitania de oitenta léguas na costa do Brasil ao capitão Pero Lopes de Souza, irmão de Martim Afonso de Souza (donatário da capitania de São Vicente), e dita as regras a serem seguidas. O documento determina que todo o pau-brasil e outras "mercadorias defesas", como especiarias e drogarias, pertenciam à Coroa portuguesa e o embarque ou comércio sem licença implicaria a perda de toda a fazenda e o degredo para a ilha de São Tomé. Os forais asseguravam o aproveitamento do pau-brasil que se fizesse dentro do próprio país desde que não fosse abatido por queimada, cuja prática incorreria nas penas determinadas.
De acordo com o jesuíta João Lucio de Azevedo, ainda no início do século XIX, o pau-brasil constituía receita significativa para o erário, o que o levou a registrar: "tanto basta para se reconhecer que o produto, em longo espaço de anos, não perdera seus méritos para a Coroa". A crescente vigilância contra o extravio e contrabando de itens "preciosos" para as finanças metropolitanas era insistentemente recomendada por autoridades do reino. Com freqüência, instauravam-se processos de devassa como forma de coibir o extravio de pau-brasil e punir os infratores. Uma ordem expedida em 8 de abril de 1806 prometia liberdade aos escravos que denunciassem contrabandistas de pau-brasil.
A vinda da Corte para a colônia, em 1808, e as decorrentes mudanças na estrutura política e econômica refletiram-se no regime do pau-brasil e de outros elementos do "patrimônio real". Ao Conselho da Fazenda, criado juntamente com o Erário Régio pelo alvará de 28 de junho de 1808, coube fazer as arrematações de todos os contratos da Coroa, incluindo o pau-brasil. O Banco do Brasil, pelos estatutos de 12 de outubro de 1808, tinha comissão na venda da madeira e de outros gêneros privativos de contrato e administração reais, a saber, diamantes, marfim e urzela. O pau-brasil, que até então era embarcado para Lisboa e de onde era distribuído para os mercados consumidores, passou a ser exportado diretamente para a Inglaterra, onde o embaixador português Domingos Antônio de Souza Coutinho, conde de Funchal, ficava encarregado da venda e demais procedimentos.
Os compromissos assumidos em função da transferência do governo português para o Brasil, na forma de empréstimos a serem pagos com as rendas auferidas pela venda de pau-brasil e de outros produtos, deflagraram a intensificação no corte dessa madeira. A provisão de 26 de abril de 1810, assinada pelo conde de Aguiar e dirigida à Junta da Fazenda em Pernambuco, determinava, por ordem do príncipe regente, "que o corte fosse elevado ao maior aumento de jeito que se exportassem para a Inglaterra 20.000 quintais anualmente, encarregando-se da remessa do dito gênero os agentes do Banco Nacional nessa capitania". O decreto de d. João sobre o lanço de contratos para o corte de pau-brasil na província do Rio de Janeiro e nas capitanias do Espírito Santo e da Bahia, no triênio 1818-1820, estabelecia o direito do contratador extrair a madeira independente de esta se encontrar em propriedades particulares, em terras devolutas ou de ordens religiosas.
A dependência das rendas advindas da exploração do pau-brasil, desde os tempos coloniais até depois de o Brasil se tornar uma nação autônoma, provocou um progressivo rareamento dessa árvore até a sua quase extinção. Em 1789, Manoel Ferreira da Câmara escreveu o Ensaio de descrição física e econômica da comarca de Ilhéus, na América, premiado pela Academia de Ciências de Lisboa, alertando para a paulatina escassez do pau-brasil e a necessidade de se adotarem medidas para sua reprodução: por meio de sementes, ou de estacas, enxertos etc. e bem que todo o Brasil tenha diferentes qualidades de brasiletes, que de algum modo afiançam por mais tempo a duração desta espécie, a superioridade contudo deste pau, e a destruição, que apesar de algumas ordens providentes, se faz na comarca dos Ilhéus a certa espécie, muito pouco inferior ao de Alagoas, e ao de Pernambuco, que se encontram à medida que nos avizinhamos para o Sul, fazem de dia em dia mais precário um comércio, que à nação tanto interessa.
Nos primeiros anos do século XIX, o governador da capitania de Pernambuco, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, expressava sua preocupação com a devastação das matas, creditada ao contrabando, à expansão das lavouras de algodão e, principalmente, ao não cumprimento das leis que controlavam essa atividade, e apresentava um projeto com medidas de preservação da mata. Henry Koster, inglês que chegara a Pernambuco em dezembro de 1809, registrava em seus relatos sobre sua experiência no Nordeste brasileiro, onde viveu por muitos anos se tornando proprietário de um engenho, a extração predatória do pau-brasil e o seu rareamento no litoral pernambucano, o que dificultava cada vez mais a exploração. Apontava como possível saída para a iminente extinção do pau-brasil a liberação do seu comércio.
Se o comércio dessa madeira fosse livre, a sua escassez se faria sentir mais rapidamente que no regime atual, mas, desde que se tornasse rara, seria objeto de novas plantações. Todavia, podendo ainda ser obtida em estado selvagem e com enormes lucros, o governo provavelmente continuará suprindo os mercados por sua conta. Em cada canavial poder-se-ia cultivar grande número dessas árvores sem obrigação das limpas nos terrenos adicionais.
João Paulo de Araújo, ainda no século XIX, elaborou uma memória sobre o pau-brasil na qual apresentava uma série de medidas para a conservação e propagação da preciosa essência, entre elas a criação do cargo de inspetor-geral do pau-brasil para identificar e autuar os devastadores da madeira e colher e analisar as "produções dos três reinos da natureza".
Nesse contexto, foi feito um roteiro de perguntas a serem aplicadas nas comarcas da capitania da Bahia com o objetivo de se obter um diagnóstico sociogeográfico da região, situação fundiária e potencialidades produtivas, com especial atenção para o registro de possíveis situações de risco de destruição de matas do pau-brasil por fazendeiros e moradores próximos a "esta riqueza".
Quando o Brasil tornou-se politicamente um país autônomo, o patrimônio do pau-brasil já estava visivelmente diminuído. Todavia, sua presença, muitas vezes simbólica, permanece como um componente do sentimento de brasilidade.
Oswald de Andrade, um dos grandes escritores e organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, lançou mão do pau-brasil como um símbolo do modernismo, juntamente com outras características da cultura brasileira como a mestiçagem. A árvore emprestou seu nome a duas de suas realizações: o Manifesto de poesia pau-brasil, editado no jornal Correio da Manhã, em 18 de janeiro de 1924, e o livro de poesias Pau-Brasil, publicado em Paris, em março de 1925, e que colocava em prática o programa modernista que se contrapunha ao conservadorismo vigente.
Todavia, nem a simbologia, as leis, as recomendações, as advertências feitas ao longo dos anos, tampouco as autoridades instituídas em funções de juízes conservadores, inspetores, fiscais de todas as categorias impediram que o pau-brasil se tornasse uma espécie ameaçada de extinção. Declarada "Árvore nacional do Brasil" (lei n. 6.507, de 7 de dezembro de 1978) e tendo sido instituído 3 de maio como o "dia do pau-brasil", só muito recentemente projetos de recuperação florestal vêm sendo empreendidos com algum sucesso para a preservação da espécie que não só deu nome ao país, mas se tornou um símbolo da nossa nacionalidade.

Rótulo "Xarope de Abacaxi", Final do Século XIX, H. Rouquayrol, Brasil


 

Rótulo "Xarope de Abacaxi", Final do Século XIX, H. Rouquayrol, Brasil
Rótulo

O Crime de Defloramento no Brasil 1890-1940 - Artigo

 


O Crime de Defloramento no Brasil 1890-1940 - Artigo
Artigo




Você já ouviu falar do crime de defloramento? Sabia que ele constava no Código Penal de 1890? O artigo 267 era definido como o ato de “deflorar uma mulher de menor idade, empregando sedução, engano ou fraude”. Na época, era menor de idade quem tivesse até 21 anos. Para o crime em questão, a pena era de um a quatro anos de reclusão ao deflorador. O artigo vigorou de 1890 até 1940, quando houve mudança no código penal brasileiro.
Há milhares de documentos referentes aos casos de defloramento no acervo das varas criminais sob a guarda do Arquivo Nacional do Brasil. Sua leitura nos traz informações relevantes: quase sempre são processos em que moças, geralmente ao lado da mãe, acusavam homens de desvirginá-las sob a promessa de casamento. Nos processos há relatos sobre os encontros entre os amantes, muitas vezes sendo anexados bilhetes com poesias e mensagens amorosas. A mulher passava por um exame médico para comprovar o ato sexual e o rompimento do hímen. Em seguida, o homem era chamado para depor. A maioria absoluta dos processos termina com a comprovação do crime e com o acusado se disponibilizando a casar com a moça denunciante. Raras vezes o homem se recusava ao matrimônio e cumpria a pena de reclusão.
A visão que a sociedade tinha sobre a mulher é um dos pontos a serem destacados. O defloramento não era considerado um crime contra a pessoa, mas sim contra os costumes. Além disso, a comprovação do ato sexual e do uso de “sedução, engano ou fraude” só levavam à condenação após uma detalhada investigação, pelas autoridades, da vida familiar, da “moral” e da “honestidade” da mulher. Isso, algumas vezes, acabava por beneficiar as ditas “damas da alta sociedade”, assim como os acusados que pertenciam a famílias mais ricas e poderosas, enquanto os homens mais pobres eram mais facilmente condenados e as mulheres de famílias mais humildes tinham mais dificuldade para obterem êxito em suas denúncias.
Entre os milhares de processos que constam no acervo do Arquivo Nacional, há um de 19 de novembro de 1934 em que o compositor Noel de Medeiros Rosa – conhecido como Noel Rosa –, à época prestes a completar 24 anos, era acusado por Lindaura Martins Neves, de 17 anos - na verdade, por sua mãe, que fez a denúncia. Acima, um trecho deste processo. Um mês depois da sua abertura, em dezembro de 1934, Noel e Lindaura se casaram e o processo foi arquivado. Viveram juntos até 1937, quando Noel faleceu vítima de tuberculose.

Projeto de Construção do Palácio do Congresso de MInas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

 


Projeto de Construção do Palácio do Congresso de MInas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
Belo Horizonte - MG
Fotografia


Durante a Primeira República, o Legislativo estadual se organizou em uma lógica bicameral. Havia uma Câmara dos Deputados estaduais e um Senado Mineiro, que formavam o Congresso Mineiro. Para a construção da nova capital de Minas Gerais, foi pensada a construção de um palácio para abrigar o Congresso Mineiro e, de fato, sua construção chegou a ser iniciada. Porém, divergências entre a Comissão Construtora e os executores do projeto, as obras foram suspensas ainda no ano de 1895.
Abílio Barreto, em suas memórias históricas, comenta que até meados da década de 1930 era possível ver os alicerces do Palácio do Congresso (ao lado da Prefeitura de Belo Horizonte, na Avenida Afonso Pena).

quinta-feira, 17 de março de 2022