domingo, 29 de maio de 2022

Mapa "Americae Pars Meridionalis", Circa 1641 - Jan Jansson


 

Mapa "Americae Pars Meridionalis", Circa 1641 - Jan Jansson
Mapa


Colônia portuguesa na América que foi com a chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral, chamada de Ilha de Vera Cruz, teve seu nome alterado para Terra de Santa Cruz, mas era mais conhecida pelos marinheiros como Terra dos Papagaios. A abundância e o comércio intenso de um “pau de tinta” – o pau-brasil – acabaram por dar a denominação definitiva à nova colônia: Brasil. No início do século XX, autores como Adolfo Varnhagen e Capistrano de Abreu contestaram a versão original de que o nome Brasil teria surgido em virtude da extração de pau-brasil. Na concepção de Capistrano, a origem do termo relaciona-se à existência de um arquipélago imaginário na costa da Irlanda, representado diversas vezes em cartografias medievais e cuja existência não foi comprovada. O primeiro mapa conhecido a colocar o nome Brasil, designando a América Austral, foi o Planisfério de Jerônimo Marini, de 1511. Contudo, o Atlas de Albernaz, cartógrafo oficial de Portugal, de 1640, registrou que Brazil era o nome vulgar da Terra de Santa Cruz. A criação do governo geral, em 1548, englobando as capitanias hereditárias distribuídas na década de 1530, conformou o Estado do Brasil, que, a princípio, não passava de uma estreita faixa de terra no litoral ocupada descontinuamente entre o nordeste e São Vicente, mas que procedeu uma progressiva expansão. Com a vinda da corte do rei d. João VI, em 1808, o Brasil passou a integrar o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, nome oficializado em 1815. A Independência, em 1822, levou o país à condição de império, mudando seu nome para Império do Brasil, que prevaleceu até 1889, quando, por força da proclamação da República, adotou a denominação República dos Estados Unidos do Brazil. Atualmente, o nome oficial é República Federativa do Brasil.

O Primeiro Playcenter da Cidade de São Paulo, Brasil

 





O Primeiro Playcenter da Cidade de São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia


O primeiro Playcenter não surgiu na marginal Tietê, como a maioria pensa. Playcenter era o nome de um tobogã pertencente ao empresário Ricardo Amaral.
O parque começou em um terreno de 5 mil metros quadrados, em frente ao Ginásio do Ibirapuera, em 1971. Com ingressos a 1 dólar por brinquedo, o Playcenter funcionava 24 horas por dia para atender à alta demanda de público.
O primeiro Playcenter se orgulhava de abrigar a primeira montanha russa de metal do Brasil. 
O sucesso do parque foi aumentando e era chegada a hora de procurar um espaço mais amplo para abrigá-lo.
Assim, dois anos mais tarde, foi inaugurado, "no meio do nada", próximo à ponte do Limão, na Marginal Tietê, o segundo Playcenter, em uma área de 85 mil metros quadrados. E lá continuou até seu fechamento, em 2012.
As fotos mostram o parque ao lado do ginásio do Ibirapuera, em 1971.

Rua Aquidaban / Atual Rua Emiliano Perneta, 1916, Curitiba, Paraná, Brasil


 

Rua Aquidaban / Atual Rua Emiliano Perneta, 1916, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Fotografia


Honda Civic, 9º Geração, Brasil

 







Honda Civic, 9º Geração, Brasil
Fotografia


Apresentada em 2011, a nona geração do Honda Civic (quarta no Brasil) representou uma grande evolução sobre o antecessor, conhecido como “New Civic”: ele continuou agradando em estilo (menos ousado, é verdade), desempenho, economia e conforto, mas ficou mais robusto e ganhou um porta-malas maior, que saltou de 340 para 449 litros.
Bem equipado, o Civic traz airbags frontais, ABS, cintos de três pontos para todos os ocupantes, alarme, trio elétrico, ar-condicionado, computador de bordo, volante multifuncional, câmera de ré e rodas de aro 16.
Esse pacote integra a versão LXS, cujo único opcional é a transmissão automática de cinco velocidades. Quem optar pela LXL leva bancos de couro, faróis automáticos, repetidores nos retrovisores, grade dianteira brilhante e comandos para troca de marchas no volante (com transmissão automática).
A versão top EXS reúne ainda: ESP, airbags laterais, central multimídia e teto solar. Nos modelos 2012 e 2013, todas as versões são 1.8 flex (139/140 cv).
As principais novidades de 2014 foram as versões LXR e EXR, que substituíram as LXL e EXS e receberam o motor de 2.0 (150/155 cv), com câmbio automático de cinco marchas e sistema de partida a frio. O LXS ganhou câmbio manual de seis marchas e o LXR, faróis de neblina.
No modelo 2015, a versão LXR recebeu um discreto retoque: a grade passou a ter um grande friso cromado, os faróis de neblina foram redesenhados e as rodas ficaram maiores, com acabamento diamantado e aro de 17 polegadas. A versão LXS, enfim, ganhou a partida a frio FlexOne (sem tanquinho), enquanto a EXR foi apresentada apenas no modelo 2016.
O sucesso entre o público e a crítica explicam o elevado valor de revenda do Civic: há uma legião de interessados em pagar bem por um exemplar em boas condições, muitas vezes dentro do período da garantia de três anos. Com fama de inquebrável, ele não perde tempo nas oficinas: suas peças são acessíveis e facilmente encontradas na rede autorizada, famosa pela qualidade dos serviços.

Honda Civic / New Civic, 8º Geração, Brasil

 










Honda Civic / New Civic, 8º Geração, Brasil
Fotografia


Quando chegou ao Brasil, em 2006, a oitava geração do Honda Civic (terceira no Brasil) causou furor no mercado por seu visual futurista, bem diferente da tradicional sobriedade do segmento.
O design externo, o interior ousado e a evolução mecânica e tecnológica garantiram a ele o apelido de “New Civic”, reproduzido até hoje para identificá-lo. Venceu quase todos os comparativos, numa época em que a liderança entre os sedãs médios ainda era disputada palmo a palmo com o Corolla.
O “New” Civic estreou em duas versões diferentes: LXS e EXS, por R$ 59.600 e R$ 77.600 – mas o sucesso e a fila de espera foram tão grandes que houve gente pagando ágio de até R$ 10 mil!
O modelo lançado onze anos atrás, que durou até 2011, pode ser encontrado no mercado de usados por preços que variam de R$ 25.000 a R$ 45.000 em suas versões regulares.
Um dos chamarizes do sedã estava (ou está) na aparência, com traços que mesclam elementos futuristas e esportivos, como a frente baixa com faróis afilados e a traseira, com caída que remete a um cupê e lanternas com iluminação que imita a assinatura visual dos leds.
Ambas as versões têm rodas de liga leve de 16 polegadas e cinco raios – estes fechados na mais barata e vazados na mais cara. Mas há ainda outras três diferenças por fora, além do logotipo: a ponteira cromada no escapamento, os faróis de neblina e os repetidores de seta nos retrovisores.
O interior arrojado causou um impacto talvez até maior em quem entrou nele pela primeira vez: um quadro de instrumentos iluminado por leds dividido em dois andares – a parte superior mostra o velocímetro digital, a temperatura do motor e o nível de combustível, tudo acima do aro do volante.
O quadro de instrumentos inferior mostra as luzes espia, a posição do câmbio, o hodômetro e, em primeiro plano, o conta-giros. Na prática, as principais informações ficam bem à frente do motorista, como em um head up display – ideia que seria repetida pela Peugeot e seu iCockpit
As linhas curvas do painel, com comandos voltados para o motorista, dão aspecto moderno até hoje. Quem também está próximo ao motorista é o freio de estacionamento. Talvez, próximo até demais.
No lançamento, o modelo era equipado desde a versão de entrada com ar-condicionado, direção hidráulica, airbag duplo, alarme, cintos de três pontos para todos os ocupantes, banco traseiro bipartido, freios com ABS, trio elétrico e CD player. Uma chave dedicada aos manobristas também estava no pacote. Ela abre o carro e liga o motor, mas não permite acesso ao porta-malas.
A versão EXS adicionava piloto automático, volante multifuncional, aletas atrás do volante para troca de marchas, CD player com capacidade de 6 discos e ar-condicionado digital.
A mecânica é a mesma para todos os New Civic. O motor 1.8 a gasolina entrega 140 cv a 6.300 rpm e 17,7 mkgf a 4.300 rpm. O câmbio é automático de cinco marchas – na versão LXS, há a opção de transmissão manual, também de cinco velocidades. Apenas a configuração LX, na época destinada apenas a vendas para PCD, tinha 125 cv.
Só depois, em janeiro de 2007, o sedã adotou a motorização flex na versão LXS. A EXS permaneceu com o propulsor apenas a gasolina. Já na versão Si, esportiva lançada no final de 2007, permanecia o motor 2.0 de 192 cv a gasolina.
Os freios são a disco nas quatro rodas, a direção surpreendeu na época por ser bastante direta e a suspensão (independente atrás) tem caráter mais firme em relação à concorrência – para não dizer dura, principal reclamação dos proprietários.
Em 2009, o New Civic passou por uma leve reestilização para alinhar-se ao modelo americano. No entanto, a esperada barra cromada na traseira não veio e a mudança foi quase imperceptível.
O para-choque dianteiro ganhou novas aberturas nas extremidades e mais equipamentos, como piloto automático e USB na LXS e controle de estabilidade na EXS. As alterações visuais se estenderam para a configuração esportiva Si, que também ganhou rodas redesenhadas.
Mas um grave defeito para o segmento permaneceu até o final da oitava geração do Civic. O porta-malas de 340 litros era pequeno até quando comparado com o de seu irmão menor, o City, que tinha 506 litros. Entre seus concorrentes, o Vectra tinha 526, enquanto o Corolla tinha 437.
Em 2010, foi lançada a versão intermediária LXL, bem equipada e mais barata que a EXS. Em 2011, pouco antes da chegada da nona geração (quarta no Brasil), o LXL SE (Special Edition) passou a ser o único fabricado, com um pacote de equipamentos similar ao do top de linha EXS, incluindo câmera de ré e ar digital.

Propaganda "Escort 87", 1987, Ford Escort Ghia, Ford, Brasil



 

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Vista do Centro, Década de 30, São Paulo, Brasil


 

Vista do Centro, Década de 30, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia

Região do antigo Largo do Palácio do Governo, atual Pátio do Colégio.
Viaduto Boa Vista, sobre a Ladeira General Carneiro.
A direita o prédio da antiga Bolsa de Mercadorias, conhecido como o Palácio do Café, hoje parte do Tribunal de Justiça. Ao fundo o Edifício Rolim com sua torre.

Um Início Promissor 2015 - Un Début Prometteur

 























Um Início Promissor 2015 - Un Début Prometteur
França - 90 minutos
Poster do filme


Nota do blog: Excelente!

sábado, 28 de maio de 2022

Farus Beta, Brasil

 









Farus Beta, Brasil
Fotografia


Estrela do Salão de São Paulo em 1984, o Farus Beta marcou o retorno do fabricante mineiro aos motores transversais. Fornecidos pela General Motors, motor e câmbio eram os mesmos usados no Chevrolet Monza e foram essenciais para firmar o sucesso do Farus (cupê e conversível) no concorrido mercado de veículos fora de série da época.
A história da Farus tem início em 1976, ano em que o industrial Giuseppe Russo percebeu que a proibição das importações, em 1976, aumentaria a demanda por automóveis voltados ao público de alto poder aquisitivo. Entusiasta de esportivos, ele aproveitou a oportunidade para fundar a Farus (Família Russo) em parceria com seu pai, Alfio Russo.
Proprietário de um Puma, Giuseppe percebeu que a maioria absoluta dos fora de série nacionais se escorava na confiabilidade da mecânica VW, apesar de suas inúmeras limitações. Pensando nisso, decidiu desenvolver uma plataforma própria, impulsionada por um conjunto propulsor mais moderno e eficiente.
A busca por profissionais capacitados terminou quando Giuseppe conheceu o russo Arcadiy Zinoviev e o brasileiro Jose Carlos Giovanini, ambos integrando o quadro técnico da Fiat Automóveis. Egresso da Lotus Cars, Zinoviev tinha grande familiaridade com o chassi em formato de “Y” duplo, formado por chapas de aço dobradas e soldadas.
Aperfeiçoado por Colin Chapman, esse tipo de chassi funciona como uma espinha dorsal formada por chapas de aço dobradas e soldadas. A técnica dispensa o emprego de ferramental e prensas de estamparia e foi muito utilizada no mundo todo para reduzir os custos industriais de esportivos produzidos em baixa escala.
As extremidades do chassi serviam como ponto de ancoragem das suspensões independentes McPherson. Primeiro modelo da Farus, o cupê ML 929 foi apresentado em 1981 e era impulsionado por um motor Fiat transversal de 1.3 e 72 cv, logo substituído pelo motor (e câmbio) longitudinal de 1.6 e 96 cv do Passat TS no cupê TS.
Pensado também para o mercado internacional, o Beta adotou o motor de 1.8 e 106 cv fornecido pela General Motors como estratégia. Projeto mundial, o Chevrolet Monza representava o que havia de mais atual no mercado e seu conjunto mecânico facilitaria a manutenção do carro no exterior.
“As unidades exportadas para o Japão e a África do Sul exigiram uma revisão no projeto devido ao volante posicionado no lado direito”, conta Giuseppe. “O mercado alemão também exigiu alterações nos sistemas de alimentação e ignição devido a uma legislação de emissões muito mais rígida que a brasileira.”
A carroceria conversível consolidou o sucesso do Beta no Rio de Janeiro, capital onde os esportivos mineiros eram representados pela lendária distribuidora Lemos & Brentar. Em 1987, o Beta passou a oferecer o novo motor de 2 litros e 110 cv do Monza.
O interesse de investidores estrangeiros levou o Beta a participar do Salão do Automóvel de Nova York, em 1987, mercado em que receberia motores Chrysler de quatro cilindros com 2.2 litros, injeção eletrônica e turbo. Apesar do sucesso no evento, as negociações não prosperaram.
Realizada em outubro de 1988, a 15a edição do Salão do Automóvel de São Paulo exibiu o primeiro Beta com motor VW 2.0, o mesmo do Santana. Avaliado no ano seguinte, o protótipo impressionou pelas reações imediatas do acelerador, mas ainda precisava de acertos para melhorar a dirigibilidade em baixas velocidades.
Pouco tempo depois, a Farus foi vendida, ocasião em que o italiano Giuseppe “Pino” Marinelli assumiu o posto de diretor-geral. Caro e com apenas dois lugares, o Beta teve sua produção encerrada em 1989 em favor do Farus Quadro, desenvolvido para clientes fiéis que agora necessitavam de um banco traseiro para acomodar os filhos. Abalada pela concorrência dos importados, a Farus encerrou suas atividades em 1991.
Ficha Técnica Farus Beta – Farus Beta Conversível 1986:
Motor: transversal, 4 cilindros em linha, 1.796 cm3, comando de válvulas simples no cabeçote, alimentação por carburador de corpo duplo;
Potência: 106 cv a 5.600 rpm;
Torque: 15,6 kgfm a 4.000 rpm;
Câmbio: manual de 5 marchas, tração traseira;
Carroceria: aberta, 2 portas, 2 lugares;
Dimensões: comprimento total, 390 cm; largura total, 183 cm; altura total, 120 cm; entre-eixos, 240 cm; peso, 1.080 kg;
Pneus: 175/70 R 13.

Renault FT-17, Exército Brasileiro, Brasil





 



Renault FT-17, Exército Brasileiro, Brasil
Fotografia


Um barulho ensurdecedor de motor e lagartas anunciava o apocalipse mecânico representado por aquele gigante inglês de metal passando lentamente sobre as trincheiras alemãs do front ocidental da Primeira Guerra Mundial. Imagine só qual não foi a reação dos soldados!
Muitos eram simples trabalhadores no tempo da paz, pessoas que sequer tinham tido contato com um automóvel. O que dizer de um monstro daqueles, um veículo imune ao disparo das armas de fogo? Se alguém falasse que era uma das bestas bíblicas, certamente haveria combatentes que acreditariam.
O conflito durou de 1914 a 1918 e viu a estreia de vários armamentos modernos, incluindo tanques (Carro de Combate, segundo o Exército Brasileiro). Os ingleses foram os primeiros a usar o novo armamento com sucesso. Mesmo que não tenha sido o único projeto de tanque do período, o Mark 1 foi o primeiro a ser colocado no campo de batalha, no caso as trincheiras da França.
Foi um sucesso na prática e também no campo da guerra psicológica. A introdução dele mudou o panorama da guerra, pois o conflito naquele ano de 1916 se destacava pela imobilidade das linhas de batalha do lado ocidental. A despeito de toda essa primazia, foram os franceses que acabaram por inventar o tanque moderno: o Renault FT-17.
Ele foi o primeiro tanque a vir com elementos que estão em quase todos os veículos de combate atuais. A começar pela torre capaz de virar 360 graus, o que permitia atacar inimigos por todos os lados. A inovação continuava pela construção, que empregava motor traseiro. E fechava com o revolucionário arranjo com o comandante/atirador na torre e o motorista, no chassi.
“O FT-17 inventou praticamente o conceito de carro de combate, ele foi o precursor. Os ingleses fizeram o tanque, mas com um conceito e design diferentes. Foram os franceses que começaram isso”, explica Expedito Carlos Stephani Bastos, pesquisador de assuntos militares e autor de vários livros sobre o tema, incluindo um sobre o modelo, intitulado Renault FT-17 – O Carro de Combate – O pioneiro no Exército Brasileiro).
Embora ideias e conceitos de tanques remontem ao Leonardo Da Vinci, os projetos demoraram só alguns “breves” séculos para serem executados na prática.
Tratores já eram usados para transportar equipamentos para aqueles terrenos enlameados e perfurados por crateras de artilharia pesada, mas o conceito de unir a mobilidade sobre lagartas, blindagem e armas de grosso calibre era outro problema.
Os tanques britânicos eram a arma perfeita para dar mobilidade em uma época da guerra em que cada lado ficava entrincheirado frente a frente. Eles eram capazes de passar por cima de arame farpado, resistir ao fogo cerrado na chamada terra de ninguém e, a despeito da lentidão, avançar por entre crateras abertas pela artilharia e sobre as trincheiras inimigas.
A ideia original era a de construir um verdadeiro navio sobre lagartas, um veículo pesado, grande e capaz de abrigar a maior quantia e tipos de armas possíveis. Não é à toa que o comitê criado para o desenvolvimento de tanks era chamado de Landship, denominação que os próprios modelos receberam.
A origem do nome tank seria apenas um disfarce para os alemães não imaginarem qual era o projeto real, assim fazendo eles pensarem que se tratava de algo relacionado a tanques de água. Assim era o Mark 1, um modelo de cerca de 30 toneladas e dez metros de comprimento, o equivalente a duas picapes Fiat Toro. Um Golias quando comparado ao Renault de 6,5 toneladas e cinco metros.
O FT-17 não era um Kwid da categoria, mas era muito menor que o seu aliado inglês. O seu emprego era bem diferente dos primeiros tanques.
Se o Mark 1 havia sido criado para derrubar defesas, resistir e suprimir o fogo inimigo e, com isso, abrir caminho para a infantaria passar, o FT-17 foi desenhado para acompanhar os soldados desta infantaria dando a cobertura que os protegia.
Foi o próprio Louis Renault que desenhou o conceito geral do FT-17, observando as sugestões do General Jean Baptiste Eugène Estienne. Isso após muita insistência junto ao governo francês para que ele adquirisse um veículo de combate.
Os franceses já tinham outros tanques em projeto, exemplo do pesado Char 2C. A questão era estratégica: qual caminho seria melhor? Mais Carros de Combate leves ou investir em uma menor quantidade de poderosos navios terrestres (Landships)? Eles ficaram com os dois, afinal, a guerra estava no quintal deles. Para você ter uma ideia, a batalha do Somme vitimou sozinha cerca de 200 mil franceses.
A sigla significava… nada. Era apenas um nome código interno da Renault. Nem o 17 dizia respeito ao nome original do tanque, pois foi somente depois da guerra que ele passou a ser referenciado com essa nomenclatura.
Machos, fêmeas e hermafroditas:
Chamar um tanque de macho, fêmea ou hermafrodita tem um quê sexista, mas obedecia a um conceito curioso criado pelos ingleses.
Tanques machos carregavam canhões, já os tanques fêmeas eram equipados com metralhadoras e, por sua vez, os hermafroditas tinham armamento intercambiável. O FT-17 podia ser equipado com uma metralhadora de 8 mm Hotchkiss (7mm nas versões brasileiras) ou um canhão de 37 mm Puteaux.
A produção foi em série: foram mais de quatro mil tanques fabricados, um marco que seria superado somente muito tempo depois. A despeito da produção em massa, os defeitos deixaram um grande percentual de veículos fora de combate. Não era diferente dos modelos ingleses, os primeiros ataques foram marcados por problemas mecânicos e, não raro, apenas um dos veículos chegava a combater de fato. Eles eram lentos e poderiam ser superados por uma criança correndo.
A parte da lentidão não era problema, uma vez que o objetivo do FT-17 era de poder ser acompanhado por soldados dando-lhes cobertura “A ideia era que pudesse acompanhar a infantaria, 7 km/h é a velocidade que um ser humano anda”, relembra Expedito. A blindagem de até 22 milímetros não era pesada, contudo, era suficiente para resistir a alguns calibres e estilhaços de artilharia.
Com carinho:
O ponto mais engraçado da operação era a forma como o atirador/comandante e o motorista se comunicavam. Sem terem rádios ou microfones para lidar com o barulho interno, o jeito era o comandante dar mimosos chutes no lado correspondente das costas do motorista/operador para ele seguir a direção que ele desejava. Muita delicadeza e ternura nessa hora.
Os bancos eram formados por faixas de couro, não havia espaço para assentos convencionais, apenas uma almofada com encosto para o motorista.
O funcionamento era o mesmo dos tanques modernos, com comandos separados para a lagarta esquerda e direita e pedais. O motor 4,5 litros de quatro cilindros ficava atrás dos dois tripulantes e tinha alimentação de combustível por gravidade. Parece um detalhe bobo, mas ajudava o propulsor a não engasgar ao superar as altas inclinações das trincheiras e crateras. Para não cair nas trincheiras, uma barra de sustentação metálica em sua traseira o estabilizava quando ele passava sobre as mesmas.
Participação em revoluções no Brasil:
Um brasileiro foi um dos grandes entusiastas do Renault FT-17, o Marechal José Pessoa, sobrinho de Epitácio Pessoa, Presidente do Brasil de 1919 a 1922, e irmão de João Pessoa, presidente da Paraíba (como era chamado o governador do estado) de 1928 a 1930. Foi ele o idealizador da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e da construção de Brasília. Nada mal.
Quando ainda era segundo tenente, o oficial subalterno foi enviado para à França em 1918. Foi lá que ele frequentou o curso na Escola de Cavalaria de Saint-Cyr, onde começou a estudar a mecanização.
Pessoa não se fez de vexado e se voluntariou para combater junto aos franceses na Primeira Guerra Mundial, tendo sido comandante de um pelotão no 4° Regimento de Dragões, segundo o Exército Brasileiro. Ele se destacou pela coragem e foi promovido, por bravura, ao posto de capitão e recebeu a medalha Croix de Guerre. Logo depois, realizou um estágio no 503° Regimento de Artilharia de Carros de Assalto, onde conheceu o Renault FT-17.
Pessoa voltou ao Brasil e assessorou o governo, indicando a necessidade de comprarmos o modelo. De acordo com Expedito Bastos, os carros de combate foram comprados em 1919, chegaram em 1920 e foram incorporados no ano seguinte.
Foram adquiridas 12 viaturas, sendo cinco carros com o canhão 37mm, seis com metralhadoras de 7mm, um com armamento intercambiável e o último destinado às comunicações da companhia, que não possuía torre de armamento e funcionava com telegrafia sem fio.
O primeiro emprego dele no país aconteceu durante a Revolta Paulista de 1924. “A primeira vez que usaram foi em 1924, foi uma ação rápida e os veículos foram usados para ocupar a capital. Eles chegaram a combater, destruindo ninhos de metralhadora”, conta Expedito Bastos.
O levante militar foi organizado por jovens oficiais do tenentismo. Foram 23 dias de combate acirrado e, logo depois, os revoltosos se juntaram à Coluna Prestes. Não foi a única vez que o FT-17 entrou em ação no país. As revoluções de 1930 e 1932 também foram palcos de operação do Renault.
Além de ter trazido o Renault para o Brasil, Pessoa também se destacou por aperfeiçoamentos no projeto, entre eles, a possibilidade de trocar a correia do motor sem ter que sair da cabine e se expor ao fogo inimigo.
Segundo o Exército, o Renault FT-17 permaneceu em serviço ativo no Brasil de 1921 até fevereiro de 1942, ao lado dos Fiat-Ansaldo CV-32 II, quando foram substituídos pelos americanos M3-Stuart e M4-Sherman, duas estrelas da Segunda Guerra Mundial.
Há um exemplar em funcionamento no Brasil, oriundo da antiga Escola de Material Bélico, no Rio de Janeiro. Após ser minuciosamente restaurado, o FT-17 está no Pelotão de Manutenção do Centro de Instrução de Blindados, em Santa Maria, Rio Grande do Sul.
Em plena forma, a viatura foi protagonista nas comemorações do centenário da criação da Companhia de Carros de Assalto. Nada mal para um veterano da Primeira Guerra Mundial.