sábado, 20 de abril de 2019

Calçamento Piso Paulista - Mirthes Bernardes














Calçamento Piso Paulista - Mirthes Bernardes
São Paulo - SP
Design

No constante vai e vem de quem passa pela cidade de São Paulo, é possível que você já tenha percebido o típico grafismo que se repete em diversas calçadas. 

A clássica padronagem por trás dos módulos que conformam graficamente o mapa do estado de São Paulo foi criado em 1966 pela arquiteta e artista Mirthes dos Santos Pinto. Tudo começou quando o antigo prefeito, João Vicente Faria Lima, lançou na década de 1960 um concurso para o desenho do novo calçamento da cidade. Mirthes, que na época trabalhava como desenhista da Secretaria de Obras da Prefeitura de São Paulo, criou um mapa estilizado do Estado de São Paulo, a partir de módulos quadrados em peças geométricas brancas e pretas, que se alternavam, ora em cor sólida, ora pintada com a variação pela diagonal da peça, criando um padrão.

Segundo a artista, em entrevista audiovisual concedida ao jornal Folha de S.Paulo em 2015, tudo aconteceu de maneira espontânea: “Eu comecei a rabiscar e surgiu o mapa. Foi sem querer! Rabisquei um desenho lá e larguei na gaveta. Meu chefe na época abriu a gaveta, pedindo um lápis e viu o desenho, comentando ‘Nossa, que legal, de quem é?’. Falei ‘eu que rabisquei’ e ele então disse, ‘passa no vegetal que você vai concorrer!’”. Na época, ainda descrente com a proposta de linhas puras e incerta quanto ao potencial artístico do trabalho, concretizou os desenhos e enviou-os à competição.

Na comissão julgadora de 17 pessoas, a proposta de linhas simples, modular e original consagrou-se como vencedora.

Após o concurso, por motivos legais a artista realizou a patente da criação em desenho industrial, sendo informada que teria direito a uma “porcentagem por calçada implantada”, com exceção a canteiros centrais. Infelizmente, mesmo com a execução de centenas de metros quadrados por toda a cidade de São Paulo ao longo dos mais de 50 anos, a autora não recebeu nenhum valor: “Eu acho que merecia. Afinal de contas, tentei embelezar São Paulo”.
Apesar da lamentável situação, considera-se homenageada ao ver proprietários debruçando-se sobre sua criação ao utilizá-la como calçamento, mas acredita que produtos, marcas e publicações envolvendo a criação, deveriam citá-la enquanto criadora.
A padronagem apresenta duas versões materiais, em lajota e pedra portuguesa seguindo o mesmo padrão de cores. Mirthes também salienta que a cidade carece de manutenção e restauro de suas calçadas. 
Contornos que representam o mapa do estado de São Paulo, em um formato geométrico que passou a simbolizar a cidade paulistana a partir de suas calçadas. Você sabia que uma artista e arquiteta foi a criadora deste símbolo? 
Tudo começou em um concurso cultural, em 1965, para a escolha daquele que seria o padrão das calçadas paulistanas. Mirthes Bernardes, na época desenhista da Secretaria de Obras, entrou no concurso, mas não imaginava que logo o seu desenho seria o eleito como ganhador.
Mirthes considerava simples o esboço que tinha feito, e não imaginava que ficaria entre os quatro finalistas. A votação final seria feita após a aplicação dos desenhos nos ladrilhos da Av. Consolação. A criação de Mirthes concorria com um desenho de grãos de café e outro que representava pés caminhando. “Foi uma festa com meus colegas. Concorri e trabalhava com arquitetos. Foi muito legal, fiquei feliz”, disse em entrevista ao blog Perfis Paulistanos.
Mesmo não tendo a pretensão de ganhar o concurso, para a criação Mirthes tinha se inspirado em um símbolo bastante famoso: as ondas do calçadão de Copacabana. Sem copiar a ideia, a inspiração fez com que contornos simples passassem a representar a capital paulistana, assim como havia sido no Rio de Janeiro. E o símbolo não se restringiu apenas ao calçamento da cidade, mas ao longo dos anos chegou aos souvenirs, propagandas e até aos chinelos.

O “piso paulista”, como ficou conhecido este calçamento, chegou primeiro à Av. Faria Lima, depois na Av. Amaral Gurgel e até na tradicional esquina da Av. Ipiranga com a Av. São João. Hoje, entretanto, os tradicionais ladrilhos aos poucos estão sumindo das calçadas paulistanas, sendo substituídos por concreto, cinza, não mais com o símbolo tão tradicional da cidade.

Mirthes, mesmo com a representatividade que o desenho ganhou, após ter vencido o concurso não recebeu valores ou direitos pela criação. Os anos se passaram e a artista continuou lutando pelo reconhecimento, mas não disfarça o desapontamento por não ter alcançado este objetivo e por ver a cada dia a substituição dos ladrilhos com seu desenho nas calçadas paulistanas. “Qualquer piso desses que está aí em São Paulo está esculhambado. Vão passando por cima, vão tapando buracos ao invés de restaurar”, disse em entrevista à Folha de S. Paulo.

A arquiteta e artista já passou dos 80 anos e permanece desenvolvendo trabalhos artísticos, com cobre e esmalte. Seu engajamento sempre esteve presente nos trabalhos que desenvolvia, incluindo a Fundação Casa e a Secretaria de Cultura do Estado. Tudo isso em paralelo à arte.

Apesar de não guardar objetos que remetam ao símbolo, a matéria publicada no jornal “Diário da Noite”, seis anos após o concurso, ainda está em uma pasta da artista. A matéria conta a história do concurso e de Mirthes, a ganhadora – história essa que foi adaptada para atualidade através até mesmo de enredo de escola de samba, sendo o tema da Mocidade Alegre, no desfile em 2007, em São Paulo.

As calçadas na cidade de São Paulo, conforme a possibilidade de que cada morador e comerciante cuide do seu pedacinho de calçamento, se tornaram desiguais e, na maioria dos exemplos, mal conservadas. A troca do “piso paulista” pela calçada de concreto é justificada pela Prefeitura como um modo de aumentar a drenagem.

O fato de não ser tombado faz com que os ladrilhos possam ser substituídos facilmente, o que leva à defesa por especialistas de que a solução seria a consideração dos ladrilhos como patrimônio histórico, ou que ao menos houvesse a mudança quanto a quem cabe a responsabilidade pelas calçadas, retornando então ao município.

Até que mudanças sejam feitas, o incentivo a que os paulistanos conheçam o trabalho da artista Mirthes Bernardes chegou até a exposição que está em cartaz em exposição “São Paulo Não É Uma Cidade”, no recém-inaugurado SESC 24 de Maio, chamando a atenção do público para o trabalho e a contribuição à cidade.

Pisar nos ladrilhos pretos e brancos com o formato do mapa do Estado de São Paulo certamente também faz alguma coisa acontecer no coração dos paulistanos.Mas parte da emoção sentida ao cruzar o marco geográfico da canção de Caetano Veloso pode diminuir porque o famoso 'piso paulista' está sumindo de parte da cidade, inclusive do cruzamento mais famoso de Sampa, a Ipiranga com a São João.
desenhista Mirthes Bernardes, 80, se entristece ao falar do descaso com os ladrilhos, mas o orgulho de ter criado um dos principais símbolos da cidade é maior. Em 1965, o desenho dela venceu o concurso que padronizou todas as calçadas da capital paulista, na gestão do prefeito Faria Lima.
"Eu achava que tinha coisas bem mais bonitas [entre as concorrentes], mas não acharam", diz, rindo.
A desenhista aposentada pela Prefeitura de São Paulo conta que não tinha pretensões de vencer a disputa na época, quando rascunhou o desenho, mas confessa que buscou inspiração nas calçadas cariocas. "As ondas [do calçadão] de Copacabana, um traço lindo por sinal, e eu não quis imitar, mas queria fazer alguma coisa parecida. Se lá [no Rio] tem uma coisa tão linda, por que aqui não pode ter?", questiona.
Meio século depois, o "piso paulista" ainda faz muito sucesso, mas Mirthes, a dona da patente, diz que nunca ganhou um centavo por isso. "Faz 50 anos que eu estou lutando. Não consegui nada, nem um alô. Eu acho que eu merecia", diz.

O famoso símbolo já estampou panfletos de grandes bancos, chinelos e propagandas de toda a sorte.

Mirthes disse que vai continuar brigando na Justiça contra as empresas e se desanima ao falar do cuidado com os ladrilhos. "Qualquer piso desses que está aí em São Paulo está esculhambado. Vão passando por cima, vão tampando buracos ao invés de restaurar."
Seu maior medo é que o todo o "piso paulista" desapareça.

Em 2012, a avenida Amaral Gurgel, uma das primeiras vias a receber o "piso paulista", teve todas as suas peças arrancadas e trocadas por concreto "para melhorar a drenagem e aumentar a durabilidade", diz a prefeitura.


As calçadas da São João, Consolação e parte do centro velho também estão sumindo porque os comerciantes tem a opção de restaurá-las ou não, pois elas não são tombadas. O município diz que o "piso paulista" implantado nas calçadas de prédios públicos são sempre restaurados.


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