quarta-feira, 27 de maio de 2020

Igreja da Ordem Terceira do Carmo, São Paulo, Brasil







Igreja da Ordem Terceira do Carmo, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia



Em 1592, Frei Antônio de São Paulo Pinheiro fundou a Igreja do Carmo em terras doadas por Brás Cubas que ficavam num outeiro sobre a várzea do Tamanduateí. Quatro anos mais tarde, edificou-se o convento dos carmelitas. O prédio era dividido em velho e novo, “sendo que o antigo edifício ressentia-se da pressa que tiveram os religiosos de o edificar, pois foi o mesmo muito mal construído, fazendo-se mais tarde uma edificação moderna, ou o novo convento, como era denominado, contendo o mesmo um vasto dormitório, dividido em oito celas”. Em 1775 foi edificada a Igreja da Ordem Terceira do Carmo, contígua ao convento e que sobrevive no local até hoje. Além da igreja existente, uma nova igreja foi construída em 1804, e nessa igreja eram realizadas as mais suntuosas festas do período colonial e imperial, especialmente a procissão da Sexta-Feira Santa. A cerimônia era tão impressionante que os homens vestidos de centuriões romanos chegavam a serem agredidos pela multidão. O Convento do Carmo tornou-se um centro religioso muito forte no período colonial, com numerosos bens, conforme indica um relatório do século XVIII.
Mas, no século seguinte, o convento já passou a apresentar sinais de decadência. Em 1836, como consequência das leis anticlericais anteriormente impostas pela política portuguesa do Marquês de Pombal, era habitado por dois religiosos apenas. 
Em 1927, a Igreja do Carmo teve construídas novas torres, projetadas pelo Escritório Ramos de Azevedo, mas, no ano seguinte, o governo estadual desapropriou e demoliu parcialmente o conjunto para as obras de alargamento da atual Avenida Rangel Pestana. Uma nova igreja e convento foram construídos, com projeto do arquiteto polonês radicado no Brasil Georg Przyrembel, na Rua Martiniano de Carvalho, na Bela Vista. Esta nova igreja possui todos os altares barrocos, a imaginária e as alfaias da igreja original, com arquitetura exemplar neocolonial e é, talvez, a mais bela da capital. 
Em 2009-2010, a Igreja do Carmo passou por importante processo de restauração que revelou no forro do altar-mor as pinturas de Frei Jesuíno do Monte Carmelo. Possui, também, o conjunto de dezoito painéis provenientes do antigo Recolhimento de Santa Teresa, expostos no corredor lateral da igreja, assim como um rico acervo de bens móveis.
Os carmelitas foram a quarta ordem religiosa a chegar no Brasil e na região paulista, os primeiros frades desembarcaram nos idos de 1592, no porto de Santos. Nesse mesmo ano, surgiu neles o “pensamento de fundar um convento na povoação que começava em Cima da Serra”. O fundador de Santos, Brás Cubas, se tornou um grande amigo dos carmelitas e doou a eles dois grandes terrenos – um no litoral e outro nas terras de Piratininga (atual São Paulo).
O primitivo convento do Carmo surgiu então sobre um outeiro do qual dominava toda a várzea do Rio Tamanduateí, sendo que o grande terreno constituía uma verdadeira fazenda cortada pelas águas do rio. Com o avançar dos anos e o início das bandeiras, o povoado começou a efervescer. Consta que, durante algum tempo, os superiores carmelitas enviavam junto com os bandeirantes alguns moços para que “pudessem trazer alguma gente, pois sem ela se acabariam totalmente, não só as fazendas, como também o convento” – tal necessidade dizia respeito à mão de obra indígena.
Na segunda metade do século XVII, alguns leigos instituíram a Ordem Terceira do Carmo e sua primeira capela – anexada à igreja conventual – foi edificada em 1697. Porém, a construção definitiva da igreja dos Terceiros foi iniciada somente em 1747. No início do século XIX ganhou um novo frontispício, que foi realizado por Joaquim Pinto de Oliveira – o “mulato Tebas” – escravo de um requisitado mestre-de-obras chamado Bento de Oliveira Lima.
O historiador Leonardo Arroyo conta que, em 26 de julho de 1867, a igreja sofreu um roubo gigantesco, ocasião em que foram levadas alfaias, paramentos, cruzes, sendo tal crime nunca solucionado.
No interior da igreja, os altares laterais foram ornados com imagens de Cristo em sua Paixão, como é de costume nas igrejas de terciários carmelitas. E o belo altar-mor, em estilo rococó, é dedicado à Nossa Senhora do Carmo, que é ladeada por uma imagem de Santa Teresa e São João da Cruz.
O teto da igreja – tanto no forro da nave central quanto na capela-mor – foi ornado com belíssimas pinturas do célebre padre Jesuíno do Monte Carmelo, artista que também realizou obras em Santos e em Itu (por exemplo, na Matriz de Nossa Senhora da Candelária e na Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio).
Em 1906 houve nova reforma, e em 1922 novas modificações deixaram a igreja da forma em que se encontra hoje.
Em 1928 o governo do estado, já imbuído da febre urbanística do século XX, expropriou a ordem carmelita, demolindo o convento, ocasião em que os frades foram transladados para o bairro da Bela Vista, onde edificaram uma nova igreja. Mas a igreja da Ordem Terceira permaneceu no local primitivo, na mesma esplanada onde o Carmelo deitou suas raízes no século XVI, quando São Paulo era uma pequena vila rural.


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