Ford Landau, Brasil
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O “Sucatão”, velho Boeing 707 a serviço da presidência, não foi o único meio de transporte a ser motivo de preocupação nos deslocamentos do chefe da nação. No fim da década de 1980, o Landau presidencial pregava suas peças.
Por vezes deixou o então presidente José Sarney a pé. Bem, quase. Como quando foi recebido na base aérea de Brasília, na volta de uma viagem à Colômbia. Depois de se despedir dos ministros, embarcou no Landau para desembarcar logo em seguida, diante da negativa do carro em se mover.
O Landau 1982 ocupou a vaga principal do Palácio até 1991. Sua longevidade no poder se justificava: mesmo após anos sem ser produzido, nenhum nacional chegava perto dele em termos de espaço, conforto e silêncio ao rodar. Até hoje, não é raro vermos nas ruas os últimos modelos azul-clássico, que parecem flutuar sobre o asfalto.
A Ford deu novo significado à palavra luxo aplicada a carros nacionais com a apresentação do Galaxie 500, no fim de 1966. E avançou ao lançar o modelo LTD, que passou a integrar a linha 1969.
Ainda mais bem-acabado, o LTD ganhou motor de 4.800 cm3, que se tornaria padrão para toda a linha (o original do Galaxie tinha 4.500 cm3). Trazia direção hidráulica de série, ar-condicionado e uma novidade inédita entre os nacionais: câmbio automático.
Mas o mais nobre dos nossos Ford ainda estava para nascer, o que ocorreu dois anos depois, com a chegada do LTD Landau. Apesar de ter a carroceria comum a todos os Galaxie, ele era inconfundível. Na coluna traseira, sobre o vinil do teto destacava-se o ornamento em forma de dobradiça, lembrando as que eram usadas na capota das carruagens conversíveis, os chamados landaus.
No entanto, o detalhe mais marcante do carro era a pequena vigia traseira, que dava um toque exclusivo ao carro e maior privacidade a quem viajava atrás – geralmente, o dono.
Os modelos da linha Galaxie 1976 ganharam o motor 302 de 5 litros que já equipava o Maverick, mais leve e potente. O LTD Landau passou a ser só Landau e por dois anos foi fabricado só na cor prata Continental, com teto de vinil da mesma cor. Como o que você vê nesta reportagem, do dentista Márcio Rossato.
Fã de carros americanos dos anos 70, ele vê no painel um dos grandes encantos do modelo. “A luz azul com a palavra ‘frio’ – indicando que o carro não chegou à temperatura ideal – é inesquecível.” Apesar de as luzes-espia quadradas terem seu charme, um termômetro fazia falta, pela tendência do motor ao superaquecimento quando exigido.
Apesar de contar com um V8 de 199 cv, igual ao do Maverick GT, desempenho nunca foi o forte do Landau, com seus 1.728kg de peso. Na edição de dezembro de 1975, o Ford chegou aos 154 e 158 km/h e acelerou de 0 a 100 km/h em 16 e 14 segundos, com ar-condicionado ligado e desligado, respectivamente. Por outro lado, no posto de gasolina ele não foi fraco: durante o teste, sorveu a média de 5,58km/l.
Na hora de fazer curvas, o Landau apresentava a fatura do conforto que proporcionava: a suspensão macia fazia o carro adernar. Algumas carências no Landau eram inexplicáveis. Como acionamento elétrico dos vidros, por exemplo. E o que dizer do antiquado módulo do ar-condicionado sob o painel, sem graduação de temperatura? Até o VW Passat já contava com ar embutido.
Em 1980, o Landau entrou na era do álcool, quando a família já não contava com o pioneiro 500, desaparecido no ano anterior, e muito menos com o entusiasmo das vendas dos primeiros tempos. Em janeiro de 1983, o Landau encerrou a dinastia dos grandes Ford por aqui.
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