quinta-feira, 29 de abril de 2021

BMW Série 7, Alemanha - Jeremy Clarkson



 

BMW Série 7, Alemanha - Jeremy Clarkson
Fotografia


Se for o ministro das Finanças da Áustria, um ditador africano ou o diretor-gerente de uma empresa de carpetes, você deve ter um Mercedes Classe S com motorista. E é fácil ver o porquê. A Mercedes-Benz testa cada nova invenção para ver se ela realmente traz algum benefício. Se trouxer, a Mercedes coloca no Classe S. Por isso, ele foi o primeiro carro do mundo a ter airbags. O primeiro com cintos de segurança com pré-tensionador e o primeiro com zonas de absorção de energia de impactos. Isso significa que ele está sempre à frente da concorrência. Ele é sempre o padrão de referência.
Mas a BMW veio com um plano astuto para seu novo Série 7. A empresa analisou o que o cliente tem disponível no Classe S e então acrescentou um pouquinho a mais. Deixe-me dar um exemplo. A Mercedes equipa o Classe S com um sistema que monitora o rosto do motorista. Se o sistema achar que o motorista está ficando sonolento, ele emite um alerta sonoro gentil e sugere que o motorista pare para uma xícara de café.
A BMW foi além: no seu sistema, o motorista pode escolher o nível de sonolência a que tem de chegar antes do alerta sonoro. Sério. Você pode dizer aos monitores para lhe deixar em paz se você só estiver pestanejando umas 40 vezes, mas acordá-lo se tiver caído em sono REM profundo. Você pode ver como isso seria útil? Não? Nem eu.
E daí você tem um sistema opcional que lhe permite estacionar o carro remotamente. Não estou brin­cando. Você pode parar o carro. Sair do carro. E dizer ao carro para ele estacionar por conta própria. Isso é fantástico, mas a Mercedes diria: “Por que alguém ia querer ficar do lado de fora do carro, na chuva, enquanto ele estaciona?” E é uma excelente pergunta.
A BMW também reinventou a chave de ignição. Agora ela é um tipo de mini-iPad, que pode lhe informar quantos quilômetros seu carro pode andar antes de precisar reabastecer e quando ele precisa de manutenção. Você pode usá-la até para ligar o ar-condicionado. Adorável. Mas ela é tão grande que no bolso parece que você está carregando um tijolo.
Mas o pior recurso do carro, de longe, está nos bancos traseiros, equipados com massageadores. Já vimos isso antes, mas a BMW perdeu a mão ao oferecer uma linha completa de massagens. Nenhuma delas vêm com um final feliz. Mas tem uma que chega perto. Ela lhe dá a sensação de que alguém está acariciando seu traseiro. Eu a achei um tanto apavorante. Eu quis desligá-la e procurei a tela de comando central, que fica no apoio de braço. Ela ligou e disse que precisava receber uma atualização de sistema. Cheio de vergonha e humilhação, esperei até a atualização ser concluída, mergulhei no menu, encontrei os controles do banco e apunhalei o botão do massageador, apenas para ser informado de que esse recurso também precisava de uma atualização de sistema.
Eventualmente, eu descobri que é possível desligar o massageador com um antiquado botão físico, mas quando eu fiz isso, uma daquelas pequenas bolsas que inflam e desinflam ficou cheia de ar, fazendo com que eu me sentisse sentado em uma bola de sinuca. E mesmo quando consegui fazer com que o banco se comportasse apenas como um banco, ele não ficou muito confortável. E ainda tinha um irritante barulho de chocalho, possivelmente da cortina do vidro traseiro ou, quem sabe, do frigobar.
Depois disso, eu resolvi brincar com o sistema ativado por voz, e descobri que ele só entende se você pronunciar as palavras pausadamente como se fosse o ator de um filme educativo para crianças.
Como isso é cansativo, chega uma hora em que você tem de usar a tela sensível ao toque. Nela, basta você desenhar as letras, digamos, da cidade para onde quer ir. Mas ela fica no console central; por isso, quem dirige sentado do lado direito do carro, como os nós britânicos, tem de usar a mão esquerda. Quer dizer que, se você não for canhoto, o carro vai achar que você é uma criancinha escrevendo.
Se não quiser escrever como alguém com 3 anos de idade ou falar como um ator canastrão, você pode usar o controle por gestos. Sério: se você balançar seu dedo indicador como se fosse o Robert Duvall chamando uma evacuação por helicóptero de um campo de batalha da Guerra do Vietnã, o volume do som aumenta. O que é tremendamente inteligente. Mas faz com que as pessoas dos carros ao seu redor acharem que você está fora de si. Mas fica pior: se você quiser pular para a próxima música, tem de fazer um V no ar para o sistema de som. E como ele não vai entender na primeira vez, você terá de fazer de novo. E, normalmente, mais uma vez.
E tem mais: o novo Série 7 usa o GPS para, por exemplo, decidir que tipo de pavimentação e que tipo de curva está à frente, e então ajusta a suspensão a ar para oferecer o equilíbrio ideal entre conforto e dirigibilidade. Eu nem consigo imaginar quantas linhas de código de programação são necessárias para fazer isso. Mas suspeito que um cientista em um jaleco conseguiria chegar a resultados melhores usando uma simples mola. O modo Comfort Plus de fato torna a suspensão quase inacreditavelmente macia, mas com vento forte em uma rodovia parecia um barco oscilando de um lado para outro.
Além disso, o Série 7 se confunde com os buracos na pista e não é tão silencioso quanto se poderia imaginar. Você sente que houve um dilema nos estágios iniciais do projeto do carro: ele deveria ser um BMW com esportividade inerente ou abertamente uma limusine? O resultado é que o carro não é nenhuma das duas coisas. Dito isso, o design do interior é adorável ­– bem melhor que o do Mercedes. E como há tanta coisa com que se brincar, você nunca ficará entediado num engarrafamento.
Mas eu acho que a principal razão para se comprar um Série 7 é que todas as outras pessoas milionárias e poderosas possuem um Classe S. É um argumento razoável, exceto que a razão pela qual todas as outras pessoas milionárias e poderosas possuem um Classe S é: porque ele é um carro melhor.

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