Praça Onze de Junho, 1942, Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
Fotografia
Segundo Samuel Malamud, imigrante judeu-polonês e autor do livro Recordando a Praça Onze, a Praça Onze “do começo dos anos vinte até o final dos trinta, dava a impressão de um enorme gueto, sem muralhas ou restrições.” Para a comunidade judaica que se instalou a partir do final do século XIX, era um ponto de convergência de recém-chegados e catalisador da vida social (seis instituições judaicas funcionavam na região neste período, em que também havia vários jornais em iídiche).
Na primeira metade do século XX a região da Praça Onze abrigava, além de imigrantes judeus, portugueses, espanhóis, italianos (dentre os europeus, um sem número de sindicalistas, anarquistas e outros “esquerdistas”) muitos, muitos negros, descendentes dos escravos africanos da própria cidade ou vindos da Bahia após a abolição, que agora se constituíam em uma massa popular de renda baixa e incerta. Bairro de trabalhadores pobres (mas, ao contrário das favelas, sem alcançar a miséria aberta) e de boemia, berço do samba, atualmente a Praça Onze não passa de uma estação de metrô.
Antigo rossio pequeno (rossio eram terras comunais designadas pela Coroa nos tempos do Império), a região localizada além do Campo de Santana (atual Praça da República) ganhou um jardim com um chafariz de mármore desenhado por Grandjean de Montigny em 1846. Em fins do século XIX, a praça é rebatizada de Praça Onze de Junho (data da Batalha Naval do Riachuelo, na Guerra do Paraguai).
A forte influência da cultura africana fazia-se sentir na presença de batuques e terreiros, em que religião e festa se alternavam. As casas das tias baianas abrigavam rodas animadas de sambistas, e a região de fato é considerada o ponto de origem do samba e do carnaval cariocas (embora o título seja contestado por Madureira e Mangueira).
O primeiro desfile oficial de Escolas de Samba do Rio de Janeiro deu-se em 1935, na Praça Onze, palco de desfiles de anos anteriores, organizados pelos sambistas a revelia (e as vezes, contra) o poder público. Ali permaneceu até 1942, quando as obras de reforma urbana do governo Vargas alteraram radicalmente toda a região central da cidade e virtualmente destruíram o jardim que dava nome ao bairro Praça Onze.
Foi durante a administração do prefeito Henrique Dodsworth, que se estendeu por todo o Estado Novo de Getúlio Vargas, que o Rio de Janeiro passou por radicais transformações urbanas, tão drásticas quanto as realizadas por Pereira Passos no início do século. A avenida Presidente Vargas, maior entre as obras do período, foi inaugurada em 1944 e ligava, numa linha reta, a praça da Candelária até Avenida do Mangue, na Cidade Nova. Com cerca de 4 km de extensão e 80 m de largura, a construção da avenida monumental demoliu mais de 500 edificações, entre igrejas antigas, habitações populares, parte do Campo de Santana, e a própria Praça Onze. As obras realizadas durante o Estado Novo, assim como o bota-abaixo de quase 40 anos antes, tinham por objetivo eliminar os últimos resquícios da cidade velha, empurrar as habitações populares para locais mais distantes do centro, e ampliar a rede de circulação de veículos e pessoas, desafogando a cidade que crescia cada vez mais.
A fotografia acima foi tirada no alto de uma torre instalada na região, como diz o verso: “vista do alto de uma torre de madeira na praça 11 de junho, a fim de fixar um dos pontos de eixo da avenida Presidente Vargas (eixo da cruz existente acima do zimbório da igreja da Candelária)”. Data: 1942.
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