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quinta-feira, 29 de abril de 2021
Volkswagen Touran, Alemanha - Jeremy Clarkson
Volkswagen Touran, Alemanha - Jeremy Clarkson
Fotografia
Depois de uma longa e aborrecida viagem pela rodovia M1, o GPS disse que só faltavam 10 km para chegar em casa. Mesmo sendo 10 km dentro de Londres, eu calculei que em meia hora estaria tirando meus sapatos e deitado no sofá. Então, você gostaria de adivinhar quanto tempo realmente levou para cobrir esses 10 km? Desculpe-me, mas você não chegou nem perto. Foram duas horas e 35 minutos.
Nunca vi tantas obras, cones, luminosos e ônibus sendo desviados. Em cada um dos bloqueios, havia um lento motorista do Uber no seu Toyota Prius deixando tudo ainda pior. Ou um velhinho num Peugeot.
É uma cena típica dos dias de hoje. Para onde quer que você vá, as ruas estão sendo transformadas em ciclovias, faixas exclusivas para ônibus e áreas para pedestres. O que significa que você está sofrendo enquanto a prefeitura está construindo algo que lhe fará sofrer para sempre. E na última semana isso me fez olhar com desdém quase explícito para a alavanca de câmbio do carro que eu estava testando, uma Volkswagen Touran.
“Por que”, lamentei para mim mesmo, “alguém compraria um carro com câmbio manual nos dias de hoje?” É como dizer: “Eu não preciso de uma televisão com controle remoto. Eu sou perfeitamente capaz de andar até o aparelho e trocar de canal por mim mesmo”. Sim, em uma pista de corrida ou uma estrada sinuosa na cadeia de montanhas Atlas, um câmbio manual é sublime. Trocar a marcha quando o conta-giros chega na linha vermelha e vê-lo descer de novo… Ah, isso deixa meu corpo todo aceso.
Mas não dirigimos em autódromos ou nas montanhas Atlas. Dirigimos nas ruas e avenidas, por vezes com faixas estreitas e placas dizendo que você é proibido de ultrapassar ciclistas. E nesse cenário, um carro com câmbio manual é simplesmente irritante.
Enquanto estava sentado impaciente na Touran, fiquei pensando que hoje, com câmbios com borboletas atrás do volante e aqueles totalmente automáticos sendo relativamente baratos, as únicas pessoas que comprariam carros manuais seriam as que prefeririam, em vez de ter uma lavadora de roupas em casa, lavar as peças no rio local.
Parece, no entanto, que eu estou errado. É fato que carros automáticos estão cada vez mais populares. Mesmo assim, mais de 70% dos automóveis vendidos na Grã-Bretanha são equipados com câmbio manual. Isso significa que mais de 70% dos motoristas britânicos são loucos.
Houve um tempo em que carros com câmbio automático eram beberrões, pesavam toneladas e custavam o mesmo que uma casa. E também houve um tempo em que o meio-termo – normalmente um câmbio manual operado sem pedal de embreagem (automatizado), via borboletas atrás do volante – fazia o carro andar aos trancos, era complicado e completamente incapaz de arrancar sem fazer mais fumaça do que um encouraçado da Primeira Guerra Mundial. Esses dias ficaram para trás. Câmbios automatizados atualmente são sublimes. Rápidos. Fáceis. Gratificantes. Legais.
Mas lá estava eu na Touran, bombando o pedal da embreagem e movendo manualmente o tipo de alavanca que deveria ser familiar a qualquer funcionário de sinalização de estrada de ferro do século 19. E eu me senti como uma daquelas pessoas que não têm um celular porque possui um telefone fixo de baquelite perfeitamente bom em casa.
Mas voltemos à VW Touran do nosso test-drive. Bem, ela pode ser chamada de Touran e ser vendida como minivan – e inclusive tem três fileiras de bancos – mas no fim das contas é um Golf. Então, você tem todas as coisas do Golf, inclusive dicas ecológicas que ficam piscando no painel pedindo para você considerar dirigir mais ecologicamente, ao que agora você pode responder: “Se quisesse dirigir ecologicamente, eu não teria comprado um Volkswagen a diesel, teria?”
Você também tem um GPS que às vezes desliga sozinho. Uma rápida pesquisa no Google diz que é uma falha comum e a solução é parar o carro, sair dele, travá-lo, destravá-lo, entrar de novo e ligar o motor novamente. Em outras palavras, a mesma coisa que você usa no seu notebook, celular e receptor de TV paga: desligar e ligar.
Quanto a falhas, é só isso. Até o design é apropriado, até porque não há nenhum. A carroceria da Touran deve ter tido como modelo aquelas caixas em que freezers horizontais são entregues. Mas isso é coerente, porque qualquer um que precise de três fileiras de bancos cumpriu sua cota de filhos e não tem mais qualquer necessidade de curvas marcantes e um rosnado saindo do escapamento. Ou é um taxista. Caso em que a mesma coisa se aplica.
Por dentro, os assentos podem ser movidos tão facilmente que eu consegui fazê-lo sem soltar um único palavrão. E quando eles são dobrados, o porta-malas fica 700 litros maior do que o do Golf. É tão grande que você conseguiria transportar um cavalo.
E veja esta: ela tem 47 compartimentos para guardar objetos. O que significa que ela é inútil para alguém que precisar de 48 lugares para guardar coisas. Mas para todos os outros, é ótimo. Outros mimos incluem um sistema opcional com um aplicativo chamado de Cam-Connect, que, quando usado com uma filmadora GoPro Hero4, envia uma imagem – ou, caso você esteja parado ou dirigindo devagar – uma filmagem do que está acontecendo na parte de trás para a tela do painel. No começo pensei que poderia ser algum tipo de recurso de pornografia, mas é para você não ter de virar para trás para ver se as crianças estão brigando. E você não tem de gritar com elas, porque sua voz é captada pelo viva-voz e levada aos passageiros de trás pelos alto-falantes. Nessa, a VW realmente criou uma coisa bem pensada.
E como é dirigir? Bem, tirando o câmbio manual, é bem boa. Talvez não tão confortável nos buracos como uma Renault Scénic, mas a vantagem é que as pessoas da parte de trás terão menor probabilidade de vomitar caso você um dia estiver dirigindo em uma estrada sinuosa na cadeia de montanhas Atlas.
Por anos tenho dito que o único veículo transportador de pessoas que vale comprar é o Volvo XC90, mas o último modelo é muito grande – e muito caro. Eu também gostava muito da Vauxhall (no Brasil, Chevrolet) Zafira, que tinha um esquema de bancos inteligente, mas agora vejo nos tabloides que, naqueles tempos, os carros da Vauxhall tinham mais chance de pegar fogo do que os hoverboards de hoje.
Então, se você desistiu da vida, tem crianças e precisa é de um carro familiar sensato para se locomover enquanto espera a morte, a Touran talvez seja melhor opção.
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