Grupo Escolar Santos Dumont / Atual Escola Estadual Santos Dumont, Penha de França, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
Quando se pensa em escola notamos o quão grandioso são os números do ensino nas instituições escolares públicas de São Paulo. De acordo com os dados do Censo Escolar do Governo Paulista, 3.5 milhões de alunos frequentam as mais de cinco mil escolas estaduais. São muitas crianças e adolescentes com pleno acesso à educação, entretanto nem sempre foi assim.
No início do século 20 não havia tantas escolas públicas e o ensino era muito deficiente. Para se ter uma ideia, a taxa de analfabetismo no Brasil em 1910 era de 76,1% da população. E foi nesta década de 1910 que começou aqui em São Paulo uma expansão do ensino, com a construção de inúmeras novas escolas, visando diminuir o triste índice de analfabetismo da época.
Corria o ano de 1913, durante o mandato do então governador Rodrigues Alves (1912-1916), quando se decidiu por instalar a primeira escola pública do tradicional bairro paulistano de Penha de França.
A capital não parava de crescer e seus bairros estavam cada vez mais populosos. Mesmo uma região distante do centro como a Penha, nos então chamados arrabaldes, recebia uma leva muito grande de imigrantes, principalmente pelo fato de na região ainda haver muita terra para plantio e pasto. Se hoje é rápido chegar ao bairro com Metrô ou ônibus e através de largas avenidas como a Radial Leste, naqueles tempos tinhámos apenas o bonde, carroças ou trem a vapor.
Assim se fazia necessário a construção de uma escola pública na região para comportar o volume de alunos novos que por ali estavam chegando e para a já existente população do bairro, carente de um ensino decente.
E foi em 24 de setembro de 1913 que se inaugurou o Grupo Escolar Santos Dumont, cuja existência perdura até os dias atuais. Projetado por Hércules Beccari, arquiteto de várias escolas estaduais, o grupo escolar foi uma verdadeira revolução para a pacata Penha de França, bairro que até hoje tem ares de uma cidade à parte, como um retrato do interior paulista dentro da capital.
O local escolhido para erguer a nova escola não poderia ter sido melhor: o coração do bairro, na então Praça Bernardino de Campos, posteriormente, em 1915, rebatizada para Praça 8 de Setembro em homenagem à padroeira do bairro Nossa Senhora da Penha.
Construída em estilo clássico, tem em seu frontão altas e luminosas janelas que dão vista para a referida praça e para a lateral da escola, tem um pé direito muito alto, característico das construções da época, o que combinado com as amplas janelas permite uma farta iluminação natural, algo fundamental naquela época em que a eletricidade ainda não era tão eficiente longe da região central.
Toda sua construção foi feita em alvenaria de tijolos e o prédio tem uma linguagem arquitetônica própria, pois foi erguido em um período em que as escolas não eram padronizadas, tempo que encontravam escolas estaduais bem diferenciadas uma das outras em estilo. Na lateral da escola, hoje ocupada por um estacionamento de veículos, existia um grande jardim e uma horta mantidos por estudantes e professores. Ao fundo existiam oficinas dedicadas à marcenaria e alvenaria. Outro destaque construtivo da escola são os portões e gradis em estilo art déco.
Falando do ensino, a escola – cujo primeiro diretor foi o normalista Galdino Lopes Chaves – seguia o padrão da época onde mesmo recebendo educação básica iguais, meninos e meninas estudavam em turmas separadas, sem classes mistas e com alguns cursos diferentes entre os gêneros, como carpintaria, alvenaria e horticultura para os meninos, e corte e costura, jardinagem e culinária e para as meninas.
Com capacidade à época para 585 alunos, o Grupo Escolar Santos Dumont operava em dois períodos e com 13 classes.
O prédio por sua relevância arquitetônica na história das escolas paulistas foi tombado como patrimônio histórico em 2010. No alto de seus 109 anos de trajetória a escola permanece funcionando e está muito bem preservada. Seu nome atual é Escola Estadual Santos Dumont e oferece ensino fundamental (da 1ª a 4ª série) e ensino especial.
A relação dos penhenses com o bairro, proporciona um fato que é raro em outras regiões da cidade: são três, quatro gerações da mesma família tendo a oportunidade de estudar na mesma escola, ainda no mesmo prédio de mais de um século. São bisavós, avós, filhos e netos utilizando-se da mesma estrutura educacional. Texto de D. Nascimento.
Nota do blog: O prédio, extremamente bem cuidado conforme as imagens, é uma bela e rara exceção do padrão atual, péssimo estado e degrado, das escolas públicas de São Paulo.
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