quinta-feira, 28 de julho de 2022

Praça Santos Andrade, Década de 50, Curitiba, Paraná, Brasil


 



Praça Santos Andrade, Década de 50, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Fotografia

Texto 1:
Ao fundo, edifício da Universidade Federal do Paraná, totalmente concluído.
Texto 2:
"Meninos de calças curtas jogam bola e brincam com seus carrinhos de madeira. Lavadeiras, equilibrando suas trouxas de roupas em cima da cabeça, passam em direção às águas do Passeio Público. Transeuntes se dirigem à praça do Mercado, ponto de encontro dos moradores, que iam ao local em busca de gêneros alimentícios. Estas cenas faziam parte do cotidiano do Largo Thereza Christina, nos idos de 1890, rotina que só se alterava quando as companhias de espetáculos circenses e de inusitadas touradas ali se instalavam, atraindo grande público.
O logradouro já fora chamado Largo Lobo de Moura, denominação recebida em 05/04/1879, Largo Duque de Caxias, a partir de 16 de novembro do ano seguinte, e novamente Lobo de Moura, a 20/01/1881. Esta última designação permaneceu até 03/01/1890, quando o local passou a ser chamado Largo Thereza Christina.
Nessa época, o largo era um extenso campo, que se estendia desde a Rua São Francisco, ocupando a área onde atualmente está a Praça Santos Andrade, até as ruas Marechal Deodoro e Garibaldi (hoje Presidente Faria). Aproveitando o espaço, a Câmara aprovou, em 1893, a venda em leilão de parte do largo. Três anos depois, a Prefeitura quis construir naquele terreno o Paço Municipal. Um acordo, porém, entre o Município e o Estado, destinou o local para a edificação do Palácio das Secretarias. No entanto, nenhuma destas obras chegou a ser executada.
Desde 1901, o largo passou a ser denominado Praça Santos Andrade, em honra ao ex-presidente do Estado José Pereira dos Santos Andrade. Seu aspecto, contudo, em nada havia se modificado. A urbanização do espaço começou somente nos anos de 1910, incrementada pela construção do prédio da Universidade do Paraná. Nesse período, Victor Ferreira do Amaral, seu diretor, recebeu, por autorização da Câmara, parte do logradouro para edificar no local, a sede da Universidade.
Fundada em 19/12/1912, nas comemorações de aniversário de emancipação do Paraná, até então a Universidade ocupava um sobrado alugado na Rua Comendador Araújo, 42. Para o terreno da Praça Santos Andrade, o engenheiro Baeta de Faria, a quem coube projetar a obra, propôs “um majestoso edifício de cinco andares (três principais mais o porão habitável e o sótão), tudo em três módulos, um central, provido de bela cúpula, e duas alas laterais, a serem construídas posteriormente”. A empresa Bergonse ficou responsável pela construção da sede universitária.
A solenidade de lançamento da pedra fundamental do edifício ocorreu em 31/08/1913. Centenas de pessoas compareceram à praça para acompanhar o evento, amplamente notificiado pelos jornais da época. Um tablado foi erguido na praça para as autoridades. Às 10 horas da manhã, Carlos Cavalcanti, então Presidente do Estado, assinou a ata que registrou o acontecimento. Em seguida, políticos, docentes e discentes da instituição e jornalistas também assinaram o documento que foi guardado em um cofre, “juntamente com exemplares dos jornais do dia, do regulamento e programa da universidade, lista dos lentes e alunos e exemplares de todas as moedas metálicas circundantes no país”.
Nesse período, a Prefeitura pretendeu construir um novo Teatro Guaíra, na região que estava em processo de desapropriação desde a Praça Santos Andrade até a Rua Riachuelo. O projeto, ambicioso para a época, incluía um auditório com 1.200 lugares. Mas a idéia, como outras anteriores, não se concretizou.
As obras da Universidade tiveram início em setembro de 1913, com a construção do bloco central voltado para a praça. Na proposta arquitetônica constava um edifício quadrangular, com pátio central, circundado por uma galeria que interligava todos os espaços.4 A ocupação do prédio deu-se paulatinamente, à medida que as salas eram terminadas.
Durante a execução dos trabalhos, cuja primeira fase encerrou em 1916, a Praça Santos Andrade não recebeu quaisquer melhorias, dificultando o acesso ao prédio. Plácido e Silva, então aluno de Direito, ao rememorar o fato, comenta que, por sua sugestão, os funcionários da Universidade entulharam a grande baixada que vinha da Rua 15 de Novembro, à entrada do edifício “e que era vencida por um pontilhão de pranchões. Por ele é que se tinha acesso às escadas laterais da parte fronteiriça do prédio”.
Os demais freqüentadores da praça também enfrentavam certos percalços. Além de se esquivarem dos materiais de construção dispersos pelo logradouro, tinham que se habituar com toda sorte de entulhos, uma vez que o terreno servia como depósito do lixo urbano.
Reclamações a respeito foram encaminhadas pelo Centro Acadêmico, à administração pública e, aparentemente, surtiram efeito. Em 1917, tiveram início o nivelamento e a construção de bueiros, e houve a delimitação da área da praça, com a colocação de meio-fio. O local foi macadamizado, recebeu o delineamento dos passeios e um jardineiro foi contratado para cuidar de sua arborização.
A remodelação efetiva do espaço aconteceu em 1922, para as comemorações do Centenário da Independência do Brasil. A praça foi ajardinada, ao estilo dos jardins belgas. Na parte central, construiu-se um repuxo com três bicos d‘água, capazes de projetá-la a dez metros de altura. Próximo ao repuxo, foi colocado o monumento ao padre curitibano Ildefonso Ferreira, atribuindo nova característica à praça: a de espaço reservado à sacralização de pessoas e instituições proeminentes do Paraná e do Brasil. Para conforto e segurança de seus visitantes, nessa reforma, foram instaladas diversas lâmpadas, e bancos de madeira e outros, de cimento, imitando pedras.
O dia 07/09/1922 foi marcado por uma série de inaugurações, desfiles e manifestações patrióticas. À tarde, a entrega da herma do padre Ildefonso, à população, e a reinauguração da Praça Santos Andrade, foram festejadas com um desfile com cerca de cinco mil alunos das escolas de Curitiba. Caetano Munhoz da Rocha, então presidente do Estado, plantou um pinheiro, considerado um dos símbolos do Paraná, que ficou conhecido como a Araucária do Centenário.
O lançamento da pedra fundamental para a construção dos torreões laterais do edifício da Universidade, também foi incluído na programação das comemorações. A mudança definitiva da edificação, da qual se destaca a retirada de sua cúpula, ocorreu em 1955, sob influência do movimento de arquitetura moderna, então predominante no país.
O entorno da praça também sofreu alterações: o casario cedeu espaço para importantes edifiicações, representativas da arquitetura moderna. Em 1934, construiu-se a sede do Correio e, entre 1949 e 1951, o Edifício Marumbi. Inserido nos festejos do centenário de emancipação política do Paraná, o Teatro Guaíra começou a ser erguido em 1953. A falta de recursos e problemas inesperados como um incêndio, contribuíram para que o teatro fosse inaugurado somente em 1974.
A praça assistiu a essas transformações inalterada. Em 1977, entretanto, foi revestida com petit pavet, bem como o trecho da rua João Negrão que havia entre a Praça e a Universidade, foi fechada ao trânsito de veículos.
Um conjunto de monumentos, atualmente, integra-se à paisagem. Executados, em sua maioria, por renomados artistas locais, como João Turin e Erbo Stenzel, compõem o cenário da praça, que se sobressai com seu belo traçado."

Nenhum comentário:

Postar um comentário