segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Estátua "Justiça" / "Mulher Nua", Praça 19 de Dezembro, Curitiba, Paraná, Brasil


 


Estátua "Justiça" / "Mulher Nua", Praça 19 de Dezembro, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Fotografia


A nudez deveria ser vista como uma das coisas mais naturais da vida. A verdade crua e nua, é que nus viemos, nus iremos e, por baixo dos panos, nus é o que somos.
Tudo começou nos anos 40, quando o Paraná se preparava pra comemorar o centenário de sua emancipação política, quando deixou de ser apenas uma província de São Paulo, que ocorreria em 1953.
Pensando nisso, Manoel Ribas (1873-1946), ora interventor, ora governador, ora interventor do Paraná, nomeado por Getúlio Vargas (1882-1954), ora presidente, ora ditador, ora presidente, contratou, em 1940, o francês Alfred Agache (1875-1959), ora arquiteto, ora urbanista, pra resolver os problemas estruturais de Curitiba, que deixava de ser uma menininha e, igualmente uma mocinha, crescia, mas de uma maneira orgânica e natural, com seus problemas de fluxo começando a despontar.
O francês planejou e criou, em 1943, o que ficou conhecido como Plano Agache, que envolvia o traçado de toda a cidade, prevendo soluções para o que já era problema e para o que, se imaginava, viria a ser.
Algumas obras criadas por Agache, como o Centro Cívico, o Centro Politécnico, o Viaduto do Capanema e as avenidas Arthur Bernardes e Presidente Kennedy, vieram a ser implantadas, enquanto outras, ignoradas, nunca saíram do papel.
O Centro Cívico, o responsável pelo tom moderno que se queria dar à capital, foi posto em prática por Bento Munhoz da Rocha (1905-1975), o então governador do Paraná, que foi quem botou as mãos na massa já no início de seu governo (1951-1955).
Assim como acontece hoje, quando botamos a boca no trombone, o projeto idealizado por Munhoz da Rocha pra modernizar a capital enfrentou diversas resistências dos cidadãos.
Entre as várias obras realizadas, as que geraram mais polêmica foram as de autoria dos artistas plásticos Erbo Stenzel (1911-1980) e Humberto Cozzo (1900-1981): as estátuas “Justiça” e o “Homem Paranaense”, ambas nuas, o que chocou a tradicional e nada moderna Curitiba dos anos 50.
A escultura popularmente denominada “Homem Nu”, de autoria de Erbo Stenzel e Humberto Cozzo, finalizada em 1955, representa o Paraná emancipado sem medo do futuro.
A popularmente chamada de “Mulher Nua”, também de autoria de Erbo Stenzel e Humberto Cozzo, representando a Justiça, foi projetada pra ficar na frente do Tribunal do Júri.
O monumento “Justiça”, inaugurado em junho de 1955, acabou "assustando" a liga de senhoras, o clero, os nobres desembargadores e os juízes da época, que consideraram aquela mulher pelada um "atentado ao pudor".
A solução foi arrastá-la para os fundos do Palácio Iguaçu, onde ficou, escondida, esquecida e entregue às traças, na solidão dos jardins do palácio, por quase 20 anos.
Em 1972, ela foi posta sobre uma carreta e levada pelo então governador Pedro Parigot de Souza (1916-1973) à praça 19 de Dezembro para fazer companhia, meio de ladinho, ao "Homem Nu". Este, talvez por ser homem, sempre teve sua nudez, mais vista como algo jocoso, do que devasso.
Nem Erbo Stenzel, nem Bento Munhoz da Rocha concordaram, na época, com a remoção feita em 1972. Acontece que a escultura, projetada por Stenzel e executada em granito por Cozzo, não tem a mesma escala que a do homem, ela é menor, pois não foi concebida para ficar no mesmo local, nem para formar um casal, nem para ficar num segundo plano, no canto da praça, como mera coadjuvante.
Ela foi concebida para brilhar sozinha na frente do Tribunal da Justiça. Ela não tem a tradicional faixa nos olhos, nem carrega a espada, nem a balança nas mãos, mas foi criada numa concepção modernista, nos anos 50, pra representar a justiça e brilhar em frente ao Palácio da Justiça.
Em segundo plano, ao lado do “Homem Paranaense”, na mesma praça, há 50 anos, a “Justiça” vem sendo aceita, ora pichada, ora restaurada, ora lembrada. Acredito que se fosse, por algum motivo, removida e devolvida à frente do Palácio da Justiça, de onde nunca deveria ter saído, sua nudez, mesmo com o avanço de décadas, ainda poria a liga das senhoras, o clero e os juízes da moral e dos bons costumes das redes sociais, em polvorosa. Texto de Luiz Renato Roble.
Nota do blog: Data da imagem não obtida / Crédito para Jaf.

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