quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Monumento à Independência, Parque da Independência, São Paulo, Brasil

 























































Monumento à Independência, Parque da Independência, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia

Texto 1:
A proclamação de Dom Pedro I às margens do rio Ipiranga não teve repercussão imediata pelo país. Ao contrário do que se pode imaginar, os jornais da Corte do Rio de Janeiro não acolheram o grito de Independência, tampouco Pedro I especificou o episódio em Carta dirigida aos paulistas à época. Em 1876, o periódico paulistano O Polichinello, do qual Luiz Gama era editor, dizia que o 7 de setembro é a página mais sombria que se pode escrever no livro de uma História Nacional; é a eterna condenação de um povo inteiro porque consentiu que no seio livre e democrático da América se assentasse um trono […]. Assim, a data teve que ser construída na história nacional, em meio a um processo social e político amplo que ocorreu ao longo do século XIX e XX.
No Rio de Janeiro, foram erguidas a estátua equestre de D. Pedro I na Praça da Constituição, em 1962, e a escultura em homenagem a José Bonifácio, o patriarca da Independência, no Largo do São Francisco, em 1872. Cinquenta anos depois do episódio, a falta de um monumento em solo paulistano incomodava, como se nota no discurso do vereador José Homem Guedes Portilho em sessão da Câmara em 1875, registrado em ata: Cuido não haver em São Paulo quem não veja com desagrado a gloriosa Colina onde irrompeu o imortal brado que trouxe ao Brasil a Independência ainda erma de simples marco […].
O desejo de imortalizar a data de fundação da nação se concretizou no marco do aniversário da Independência no ano de 1885, com a criação do monumento-edifício de Tommaso Gaudenzio Bezzi, o Museu Paulista ou Museu do Ipiranga. Além de sua dimensão simbólica e celebrativa, era também uma proposta urbanística. A abertura de rua ou avenida, bem como a delimitação dos terrenos destinados ao monumento e à praça, influenciaram a ocupação e o loteamento de importantes áreas no Ipiranga, uma das entradas de São Paulo e acesso ao principal porto exportador em Santos.
O edifício foi gradualmente adquirindo importância na cidade, tornando-se local de passeios e com seu entorno servindo de palco para festividades. Em outubro de 1912, a Lei número 1324 autorizou a construção de um monumento que deveria reforçar a memória da Independência, também no Ipiranga.
O concurso para o monumento do Centenário da Independência foi aberto apenas em 1917. Cerca de 20 projetos foram inscritos e o vencedor unânime foi o do escultor Ettore Ximenes. Para Affonso Taunay, secretário da comissão de julgamento e diretor do Museu Paulista desde 1917, esse projeto era o mais equilibrado. Segundo Taunay, grande parte dos concorrentes não levaram em conta, na medida desejável, a necessidade de incorporar elementos capazes de evocar fatos e pessoas da história; muitas vezes retratando-a de forma alienada. Seu parecer, registrado em ata da comissão de julgamento do concurso, dizia: À grande técnica do escultor alia-se a competência do arquiteto de primeira ordem que a ele se juntou. A sua nota brasileira é a única intensa, embora ainda me pareça muito insuficiente. Sendo assim, o júri do concurso deixou claro que o projeto de Ximenes não deveria ser executado tal como fora concebido. As figuras alegóricas que decoravam as faces do monumento foram consideradas inoportunas, por exemplo, e acabaram sendo substituídas por quadros de baixo-relevo, em que foram representados outros episódios da luta pela Independência outrora esquecidos.
O Monumento do Ipiranga tem Dom Pedro I como personagem principal, além de 30 figuras que influenciaram a Independência. Entre elas: José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência; Hypólito José da Costa, o jornalista da Independência; Joaquim Gonçalves Ledo, chefe do Movimento de Independência no Rio de Janeiro; e Diogo Antônio Feijó, regente no segundo Império. Tiradentes, o Mártir da Inconfidência mineira, encontra-se em um quadro de sete figuras com 3 metros de altura, e os revolucionários pernambucanos chefiados por Domingos José Martins, em outro. Com área total de 1600m², o concreto armado atinge altura de 12 metros, aprofundando-se 9 metros desde o nível do solo. O granito cinza foi trazido da Itália, assim como parte das peças de bronze fundido. O restante foi feito na Vila Prudente, em São Paulo, em uma fundição montada por Ximenes. A obra foi inaugurada ainda inacabada em 7 de setembro de 1922, e acabou custando o dobro de seu orçamento, só sendo concluída em 1926, ano da morte de seu construtor.
Para reforçar ainda mais o significado daquele local, projetou-se a construção de uma cripta no interior do monumento, que funcionaria como Capela Imperial, em 1953, onde hoje repousam os corpos de Dom Pedro I e de suas duas esposas, Maria Leopoldina da Áustria e Dona Amélia Beauharnais.
O caráter militar e religioso do monumento foi, com o tempo, perdendo notoriedade para a escala da cidade de São Paulo, ainda mais depois do fechamento do Museu Paulista, em 2013, para sua restauração. Texto de Giovanna Fluminhan / Demonumenta.
Texto 2:
Para celebrar o Centenário da Independência do Brasil, previu-se a construção de um monumento às margens do riacho Ipiranga, local onde Dom Pedro I teria proclamado a Independência em 1822. A Prefeitura de São Paulo cedeu o terreno, enquanto o governo do Estado se responsabilizou pela construção, para a qual contribuíram os governos dos demais estados brasileiros.
Um concurso internacional de maquetes foi aberto em 1918. Vinte e dois projetos foram inscritos. A comissão julgadora, nomeada pelo Presidente do Estado de São Paulo, Altino Arantes (1916-1920), era composta por Affonso d’Escragnolle Taunay, Adolfo Augusto Pinto, Francisco de Paula Ramos de Azevedo e Victor Freire. A comissão se reuniu em 1920 e as maquetes concorrentes foram expostas ao público no Palácio das Indústrias, logo despertando criticas e debates. Os projetos não diferiam muito entre si, fato observado pelo historiador Affonso Taunay: “...cabe-me a impressão de que estes autores têm aqueles projetos em reserva para, mudando-lhes o rótulo, e os nomes dos personagens, aproveitá-los aqui e acolá...” O projeto de Nicolla Rollo tinha a simpatia da população. As discussões se acirraram quando se anunciou o vencedor: o italiano Ettore Ximenes (1855, Palermo – 1926, Roma). Monteiro Lobato comentou: “Rollo teve a votação unânime da cidade de São Paulo com exceção apenas de quatro pessoas que, por coincidência, formavam a Comissão Julgadora”. Mário de Andrade criticou duramente o projeto escolhido: "O ilustre Sr. Ximenes, que de longe veio, infelicitará a colina do Ipiranga com o seu colossal centro-de-mesa de porcelana de Sévres". As críticas giravam em torno da ausência de fatos e nomes relacionados com a Independência do Brasil. A solução encontrada para minimizar o problema foi introduzir alterações no projeto de Ximenes, que concordou com algumas delas. José Wasth Rodrigues foi o responsável pela concepção de quadros em relevo, grupos escultóricos e estátuas.
Ainda inacabado (seria concluído quatro anos depois), o monumento foi o centro das comemorações pelo Centenário da Independência em São Paulo, inaugurado com grande pompa no dia 7 de setembro de 1922.
A construção monumental em granito e bronze se apresenta disposta em estágios alternados, ligados por degraus que a circundam desde a base. Na face frontal do monumento, encontram-se estátuas sedestres do Padre Diogo Antonio Feijó, “prócer da Independência e deputado às cortes de Lisboa” e de José Bonifácio de Andrada e Silva, “o patriarca da Independência”; na face posterior, estão as estátuas de Hipólito José da Costa, “o jornalista da Independência - fundou e redigiu o ‘Correio Brasiliense’ em Londres” e Joaquim Gonçalves Ledo, “chefe do movimento da Independência no Rio de Janeiro”.
Na face frontal do monumento, um grande baixo relevo em bronze reproduz o quadro “Independência do Brasil”, de Pedro Américo. No topo, está um grupo triunfal formado por 20 figuras em bronze e cerca de 6 metros de altura. Uma mulher aparece em primeiro plano, com um estandarte e uma lança nas mãos, sobre uma biga puxada por dois cavalos e seguida pelo povo – uma alegoria à Liberdade, muito comum à época. Relevos esculpidos no granito representam embarcações do tipo viking, figuras greco-romanas, armaduras, flâmulas, lanças e águias, locomotivas, engrenagens e trilhos.
Na lateral esquerda do monumento, um grupo escultórico em bronze representa “Os Inconfidentes Mineiros de 1789”, tendo logo abaixo um quadro em bronze ilustrando a “entrada de Dom Pedro na rua do Carmo em São Paulo na tarde de 7 de setembro de 1822”. Na lateral direita, outro grupo escultórico em bronze representa “Os Revolucionários Pernambucanos de 1817”. Abaixo, um quadro em bronze ilustra o “Combate de Pirajá - campanha da Independência para a libertação da Bahia - episódio do Corneta Luís Lopes”. Enquanto os grupos escultóricos abordam as tentativas de independência, os relevos tratam de sua consolidação.
Para reforçar ainda mais o significado daquele local como o do nascimento da nação brasileira, projetou-se a construção de uma cripta no interior do monumento, que funcionaria como Capela Imperial. Nela repousariam, definitivamente, os despojos do primeiro Imperador e de Dona Leopoldina, Imperatriz do Brasil. A cripta foi inaugurada em 1952, considerada, ainda, um cenotáfio – um túmulo vazio –, uma vez que os despojos do Imperador e de sua esposa não se encontravam ali. Posicionada na parte frontal do Monumento à Independência, voltada para o riacho Ipiranga, a pira do chamado "Altar da Pátria" foi acesa, simbolizando o amor incondicional à Pátria.
Somente dois anos depois, os despojos da Imperatriz Leopoldina foram transladados do Convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro, sob os cuidados do Instituto Histórico e Geográfico. A cerimônia integrou as comemorações do IV Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo. Da Catedral da Sé, o ataúde foi levado ao Ipiranga seguido por grande cortejo. Houve quem argumentasse que não era necessário perturbar o repouso eterno da Família Real, mas prevaleceu a ideia de reafirmar a sacralização do Altar da Pátria.
Os despojos de Dom Pedro I, por sua vez, foram transladados do Convento de São Vicente de Fora, na cidade do Porto, Portugal, em 1972, como parte das comemorações do Sesquicentenário da Independência, em solenidade transmitida para todo o país via satélite. Em 1982, também os restos mortais de Dona Amélia de Beauharnais, esposa de Dom Pedro I em segundas núpcias e Imperatriz do Brasil, foram transladados de Lisboa para a Capela.
O Monumento à Independência também abriga em seu interior, desde 2001, um espaço de exposições administrado pela Divisão de Iconografia e Museus do Departamento do Patrimônio Histórico. Texto do DPH.
Nota do blog: Imagens de 2024 / Crédito para Jaf.

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