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segunda-feira, 12 de junho de 2023

Praça das Artes, São Paulo, Brasil































Praça das Artes, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia


Há projetos de arquitetura que se impõem soberanos em grandes espaços livres, situações aprazíveis e visíveis à distância, e há outros projetos que se acomodam em situações adversas, espaços mínimos, nesgas de terrenos comprimidos por construções preexistentes, em que os parâmetros para seu desenvolvimento são ditados pelas dificuldades. O caso da Praça das Artes se enquadra dentre esses últimos. E não é por decisão voluntária ou por opção entre esse ou aquele approach, por essa ou aquela direção a tomar. O que nos leva a uma escolha e decisão conceitual é, precisamente, a natureza do lugar. É sua compreensão enquanto espaço resultante de fatores sócio-políticos ao longo de muitos anos – ou séculos – de formação da cidade. Compreender o lugar não somente como objeto físico, como diz Siza, mas como espaço de tensão, de conflitos de interesses, de subutilização ou mesmo abandono, tudo importa.
Se, por um lado, o projeto deve responder à demanda de um programa de diversos novos usos ligados às artes musicais e do corpo, deve também responder de maneira clara e transformadora a uma situação física e espacial preexistente, com vida intensa e com uma vizinhança fortemente presente. Mais ainda, deverá criar novos espaços de convivência a partir da geografia urbana, da história local e dos valores contemporâneos da vida pública.
Concluindo, podemos dizer que neste caso, projetar é captar e inventar o lugar a um só tempo, numa mesma ação.
A edificação do Antigo Conservatório Dramático Musical de São Paulo, que se encontrava incrustado no coração de uma região degradada do centro da cidade, é um importante marco histórico e arquitetônico e abriga uma rara sala de recitais, que há décadas estava inutilizada.
O Projeto Praça das Artes restaurou e reabilitou este edifício, e vinculou-o a um complexo de novas construções e espaços de circulação e estar que abrigam as instalações para o funcionamento das Escolas e dos Corpos Artísticos do Teatro Municipal.
O novo conjunto integra as sedes das Orquestras Sinfônica Municipal e Experimental de Repertório, dos Corais Lírico e Paulistano, do Balé da Cidade e do Quarteto de Cordas. Abriga também as Escolas Municipais de Música e de Dança, o Museu do Teatro, o Centro de Documentação Artística, além de restaurantes, estacionamento subterrâneo e áreas de convivência.
A implantação desse equipamento cultural, além de atender à histórica carência de espaços para o funcionamento do Teatro, desempenha papel indutor estratégico na requalificação da área central da cidade, uma vez que o rico e complexo programa de uso, focado nas atividades profissionais e educacionais de música e dança, está fortemente marcado por funções de caráter público, convivência e vida urbana.
A partir do centro da quadra o novo edifício se desenvolve em três direções – Vale do Anhangabaú (Rua Formosa), Avenida São João e Rua Conselheiro Crispiniano, como um polvo a estender seus tentáculos e ocupar espaços. Um conjunto de edifício em concreto aparente pigmentado, com área total de 28.500,00 m², é o elemento principal que estabelece o novo diálogo, tanto com os remanescentes integrantes do conjunto (o edifício do Conservatório Dramático e Musical e a fachada do Cine Cairo) como com a vizinhança.
Endereço:Av. São João, 281 - Centro São Paulo - SP, Brasil


 

Palacete de José Paulino Nogueira, Rua Conselheiro Crispiniano, São Paulo, Brasil

 











Palacete de José Paulino Nogueira, Rua Conselheiro Crispiniano, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia

Texto 1:
Este belo palacete foi erguido em 1893 por Ramos de Azevedo com a colaboração de Domiziano Rossi para José Paulino Nogueira, empresário e político campineiro de grande destaque. Participante da antiga "Companhia Mogiana de Estradas de Ferro" e da "Companhia Funilense", posteriormente anexada à Sorocabana. Em 1919, o imóvel foi vendido e passou a ser ocupado pelo "Quartel-General do 2º Exército". Isto até 1968. Sem interessados pelo palacete vazio, a prefeitura o adquiriu em 1973 e após 4 anos, simplesmente o demoliu por decisão do então prefeito Olavo Setúbal. No início da demolição, os descendentes de José Paulino conseguiram autorização para entrar na casa e retirar alguns objetos. A porta de jacarandá foi parar na entrada da sede do "Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo". Consta que antes de servir de instalações para o "Q.G. do 2º Exército", o casarão foi utilizado pela famosa "Vila Tedesco" — habitada por moças de fino trato e dirigidas por "Madame Nina Della Paulera". Você certamente entendeu o eufemismo.
A foto inicial é de autoria de Gabriel Zellaui e as demais obtidas na internet. O belo (principalmente internamente) imóvel poderia abrigar outro órgão público ou privado. Veio ao chão para se construir a "Praça das Artes" — com entrada/saída também pela Avenida São João. Além de um estacionamento subterrâneo. Através do registro da foto N. 5, veja o local atualmente. Repare à direita, a mal cuidada parede lateral do abandonado Cine Marrocos.
Texto 2:
Quando falamos o nome “José Paulino” a primeira coisa que surge na mente é a famosa rua do bairro do Bom Retiro, repleta de lojas de vestuário, especialmente feminino.
Entretanto, este nome também pode ser associado a própria figura de José Paulino Nogueira, membro de uma família rica de Campinas, político que atuou na administração campineira, trazendo vários melhoramentos para a cidade, além de trabalhar para a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro.
Além disso, José Paulino foi bastante atuante no início da última década do século 19 no combate ao grave surto de febre que atingiu a cidade de Campinas e arredores, sendo ator principal nas obras de saneamento que trouxeram melhores condições aos moradores da região.
Foi também responsável pela fundação de uma da primeiras indústrias daquela cidade, a Usina Ester, cujo nome era homenagem a sua filha mais velha.
Mesmo sendo figura importante da vida cotidiana e política campineira, José Paulino mudou-se no final do século 19 para a capital paulista, onde residiu até falecer no ano de 1915.
Construída em 1893, foi projetada por Ramos de Azevedo para servir de residência para José Paulino.
Suntuosa, foi considerada naquele tempo como uma das mais ricas mansões paulistanas. 
Sua localização não poderia ser melhor, bem no chamado centro novo da cidade, no extinto bairro do Chá, na rua Conselheiro Crispiniano, entre a rua Barão de Itapetininga e a avenida São João.
O imóvel ficou grande demais para os filhos de José Paulino em 1915, quando o patriarca veio a falecer. Com isso a família mudou-se de lá, e o casarão acabou vazio.
Em 1918 seus herdeiros tomaram a decisão de vender o casarão para o governo federal, pela quantia de 270 contos de réis. A partir de então o imóvel passou a abrigar o Quartel General da 2ª Região Militar, que permaneceria no local até poucos anos antes do casarão vir abaixo.
Uma vez na mão dos militares, a mansão sofreu algumas modificações para deixar de ser uma típica residência de elite e dar lugar a um imóvel funcional.
Antes disso, durante o período em que serviu de residência a José Paulino e seus familiares, a casa era conhecida pelo seu luxo incomparável. Haviam escadarias e piso de mármore de Carrara, lustres importados de Paris, tapetes da Pérsia e portas e madeiramento de Jacarandá.
Na parte superior do imóvel, os quartos eram cercados de corredores e varandas. No andar de baixo haviam três grandes salas de visita, o salão nobre, a sala de jantar e o escritório de José Paulino. No fundo do terreno havia a cocheira, onde ficavam os cavalos, posteriormente transformada em uma garagem para automóveis.
Nos 50 anos em que o imóvel foi utilizado pelo exército, houveram poucas reformas e nenhuma restauração, transformando-se em um prédio cada vez mais deteriorado. Em 1968, quando foi colocado à venda pelo exército, pela quantia de 1 milhão e 100 mil cruzeiros, o imóvel estava quase arruinado, especialmente por dentro.
Adquirido pela prefeitura de São Paulo, o imóvel foi demolido em 1977 para dar lugar a um projeto idealizado pela Emurb (Empresa Municipal de Urbanização), que previa uma nova praça ocupando 90 metros quadrados da parte frontal do terreno, além do restante a ser anexado com a desapropriação do então Cine Cairo, somando um total de 315 metros quadrados.
A praça, de fato, foi inaugurada, chamada de Recanto Monteiro Lobato, focada nas crianças que viviam no centro. Já a ligação com o Vale do Anhangabau – através da demolição do Cine Cairo – nunca aconteceu.
Pode-se dizer que o projeto do então prefeito Olavo Setúbal (1975-1979) foi o embrião da Praça das Artes, inaugurada muito tempo depois já no século XXI.
O casarão de José Paulino foi demolido devido na época não haver muita preocupação pelo tombamento, acabando-se por se tornar uma das grandes obras de Ramos de Azevedo que desapareceram para sempre.