sexta-feira, 25 de agosto de 2017

A Pequena Madona Cowper (Madonna and Child, The Small Cowper Madonna, La Piccola Madonna‚ Cowper) - Rafael Sanzio

                                             
A Pequena Madona Cowper (Madonna and Child, The Small Cowper Madonna, La Piccola Madonna‚ Cowper) - Rafael Sanzio
National Gallery of Art, Washington, Estados Unidos
Óleo sobre madeira - 58x43 - 1504-1505



The Small Cowper Madonna is a painting by the Italian High Renaissance artist Raphael, depicting Mary and Child, in a typical Italian countryside. It has been dated to around 1505, the middle of the High Renaissance.
It is not known exactly why the Small Cowper Madonna was painted. It was probably either a private commission or for the general art market; images of the Madonna and Child were often given as wedding presents. It is widely thought that the church on the right hand side of the painting is the church of San Bernardino, where the Dukes of Urbino (where Raphael was born) were buried, and it has been suggested that the presence of the church means the painting may have been "commissioned by the family for devotional purposes." At the same time, it could just be Raphael drawing on memories of the church, which would have been near where he grew up in Urbino.
Sitting in the center of the work in a bright red dress is the Madonna. She is fair skinned with blonde hair. She sits comfortably on a wooden bench. Across her lap is a dark drapery upon which her right hand delicately sits. There appears to be a sheer translucent ribbon elegantly flowing across the top of her dress and behind her head. The faintest golden halo miraculously surrounds her head. In her left hand she holds the baby Christ, who embraces her with one arm around her back, the other around her neck. He, an undeniably precious child, looks back over his shoulder with a coy smile. Behind them, a beautifully clear and bright day unfolds. Off in the distance two figures appear to be ambling toward a reflective pond, enjoying the green scenery around them. A large and very impressing structure stands at the end of a long path, which one could presume to be a Catholic church. Its dome and other structural elements common of Catholic architecture add to the already omnipresent atmosphere of religious divinity and grace.
The “Small Cowper Madonna” by Raphael depicts Mary and the Christ Child, in a 1500s Italian countryside. It was painted around 1505 during the High Renaissance. The composition is centred on the seated Madonna in a bright red dress; she is shown with fair skin and blonde hair. She is sitting comfortably on a wooden bench and across her lap is a dark blue drapery upon which her right hand delicately rests. There is also a sheer translucent ribbon elegantly flowing across the top of her dress and behind her head. The faintest golden halo miraculously surrounds her head. In her left hand, she holds the baby Christ, who embraces her with one arm around her back, the other around her neck. He also has blonde hair and is looking back over his shoulder with a coy smile.
Behind Mary and the Christ Child is a clear and bright day with a lake on the left in the background and on the right is a large impressive structure that looks like a Catholic church. Its dome and other structural elements are typical to Catholic architecture which all add to the atmosphere of religious divinity and grace. It is not known precisely why the Small Cowper Madonna was painted. It was probably either a private commission or for the general art market. Images of the Madonna and Child were often given as wedding presents. It is widely thought that the church on the right-hand side of the painting is the church of San Bernardino, where Raphael was born and near where he grew up in Urbino. In this painting, Raphael expresses the influence of Leonardo in a broad, soft landscape.
This painting is known as the “Small Cowper Madonna” because it was the smaller of the two Raphael Madonna paintings owned by the English collector Lord Cowper (1738 -1789).
The Large Cowper Madonna is also known as the “Niccolini-Cowper Madonna” it is larger and depicts Mary and Child, against a darker blue sky. Cowper’s art collection absorbed a great deal of his time and money, and his most important possessions were the two Raphael Madonnas acquired in the late 1700s. Today, both of these Raphael masterpieces are in the National Gallery of Art, Washington, D.C.

Ressurreição de Cristo / Ressurreição Kinnaird (The Resurrection of Christ / Kinnaird Resurrection) - Rafael Sanzio

                                                 
Ressurreição de Cristo / Ressurreição Kinnaird (The Resurrection of Christ / Kinnaird Resurrection) - Rafael Sanzio
MASP, São Paulo, Brasil
Óleo sobre madeira - 52x44 - 1499-1502


Ressurreição de Cristo, também conhecida como Ressurreição Kinnaird, é uma pintura a óleo sobre madeira do mestre do renascimento italiano Rafael. A obra é uma das primeiras pinturas conhecidas do artista, executada entre 1499 e 1502. É provável que seja um elemento de uma predela, tendo-se aventado a hipótese do painel ser uma das obras remanescentes do retábulo de San Nicola da Tolentino, a primeira encomenda documentada de Rafael (seriamente danificada por um terremoto em 1789, e cujos fragmentos encontram-se hoje dispersos em museus da Europa).
A Ressurreição Kinnaird é uma das primeiras obras conservadas de Rafael em que já se prenuncia a natureza dramática de seu estilo compositivo, em oposição à poética branda de seu mestre, Pietro Perugino. A composição, extremamente racional, é regida por uma complexa geometrização ideal, que interliga todos os elementos da cena e lhe confere uma peculiar animação rítmica, transformando as personagens do painel em co-protagonistas de uma única "coreografia". É possível notar na pintura a influência estética de Pinturicchio e Melozzo da Forlì, embora a orquestração espacial da obra, tendente ao movimento, permita supor o conhecimento por parte de Rafael do ambiente artístico florentino, já por volta de 1500.
A obra, de uma fortuna crítica bastante contrastada, foi adquirida pelo Museu de Arte de São Paulo em 1954. Pietro Maria Bardi, então diretor do museu, assumiu a responsabilidade de incorporar a Ressurreição Kinnaird ao corpus de obras de Rafael, tomando por base a existência de dois estudos preparatórios para a composição, iniciando um acalorado debate sobre sua autoria. Atualmente, a atribuição a Rafael é quase consensualmente aceita pelos especialistas. É a única obra do artista conservada no hemisfério sul.
A produção de imagens ancoradas na temática hierática e, sobretudo, na emblemática figura do Cristo, remonta às representações artísticas da Alta Idade Média, documentadas a partir do século III. No período paleocristão, a concepção iconográfica de Jesus encontra-se representada quase que exclusivamente na figura do Cristo como o “Bom Pastor”. O enriquecimento da cultura iconográfica cristã após a promulgação do Édito de Milão permitiu a ampliação dos ciclos narrativos.
Na Baixa Idade Média, a predominância da figura de Cristo como “bom pastor” foi sendo progressivamente substituída pela do “cordeiro em sacrifício”, abrindo espaço para as representações do episódio da ressurreição. A fonte primária do tema é o Evangelho de João (capítulos 20 e 21), em que se narra de forma concisa o fenômeno da ressurreição e da aparição de Jesus a Maria Madalena.
A cena do Cristo ressuscitado, ostentando o estandarte da ressurreição, e elevando-se sobre o sarcófago na presença dos soldados – alternativamente retratados inconscientes, fascinados ou espantados diante do fenômeno que observam –, tornou-se relativamente frequente na cultura pictórica do renascimento. Artistas como Perugino e Piero della Francesca dedicaram-se ao tema, que, ademais, encontra ressonâncias para além das fronteiras italianas, notadamente na Alemanha, em obras de Matthias Grünewald e Albrecht Altdorfer.
A Ressurreição Kinnaird, no entanto, aparenta ser a única representação do episódio pintada por Rafael. Em seu último ano de vida, o artista chegou a receber uma encomenda de uma cena noturna da ressurreição, para decorar a capela de Agostino Chigi, importante mecenas do renascimento, em Santa Maria della Pace, Roma. Devido à morte precoce do pintor, aos 37 anos, a obra jamais foi realizada. Conservam-se, no entanto, alguns de seus estudos para a encomenda.
Não se sabe ao certo a data em que a Ressurreição Kinnaird foi produzida. Para Suida, a obra dataria dos anos 1502-1503. Roberto Longhi e De Vecchi antecipam a data para 1501-1502. Camesasca, por sua vez, data a obra da mais densa fase perugiana de Rafael, isso é, 1499-1500. De qualquer forma, há consenso quanto ao fato da obra ser um dos primeiros óleos conhecidos do artista, inserindo-se plenamente no contexto de sua produção juvenil. Isto é confirmado ainda pela cronologia dos estudos preparatórios para a obra, desde muito cedo datados entre 1499 e 1503.
Rafael jamais escreveu sobre sua arte e são raros os registros documentais de sua produção, o que torna difícil determinar a função da pintura. É bastante verossímil a hipótese de que a obra seja um elemento de uma predela desconhecida, como atesta o seu pequeno formato (52 x 44 cm) - possivelmente executada por Rafael como complemento de um retábulo encomendado ao ateliê de Perugino. Não se deve descartar, de toda forma, a possibilidade de que a Ressurreição Kinnaird seja uma obra independente, talvez o primeiro dos quadros de pequeno formato de uso privado, pintados pelo artista em sua juventude. Em 1955, William Suida conseguiu decifrar uma das inscrições que se encontram no verso da Ressurreição, reconhecendo o nome de Gioacchino Mignanelli, membro de uma importante família de Siena e, possivelmente, o primeiro proprietário da obra.
Para Roberto Longhi, a Ressurreição Kinnaird seria uma das obras remanescentes do Retábulo de San Nicola da Tolentino, a primeira encomenda documentada de Rafael, produzida a pedido da família Baronci. A obra foi parcialmente destruída por um terremoto em 1789, e quatro de seus fragmentos encontram-se hoje dispersos por museus da Europa. A associação se apóia nas similaridades entre as figuras da Maria Madalena no painel do MASP e da Virgem Maria do retábulo supracitado.
Os elementos formais e estilísticos presentes na composição confirmam as intercorrências entre a obra de Rafael e a de Perugino. A Ressurreição Kinnaird guarda muitas similaridades com uma outra Ressurreição de Cristo, encomendada a Perugino pela igreja de San Francesco al Prato, em Perúgia (atualmente conservada nos Museus Vaticanos). É perfeitamente possível que o jovem aprendiz tenha então reinterpretado a composição de seu mestre, como faria outras vezes ao longo de sua vida (notadamente em seu célebre Casamento da Virgem, em que retoma a composição de Perugino, mas alongando as figuras, acentuando a perspectiva e reformulando os elementos arquitetônicos).
Na Ressurreição de Rafael, no entanto, é perceptível a preocupação com o movimento e com a orquestração compositiva, o que parece indicar o conhecimento de elementos da arte florentina. A obra parece ser efetivamente uma das primeiras em que se notam duas das tendências que acompanharão Rafael ao longo de sua produção: a prática de incorporar e reinterpretar a estética de outros mestres e a preocupação com o equilíbrio e com a animação rítmica de suas composições - características que o afastarão gradualmente da influência de Perugino.
Para a obra em pauta, Rafael parece ter executado ao menos três desenhos preliminares, com esboços dos soldados e da figura do Cristo. Destes, dois encontram-se conservados no Ashmolean Museum de Oxford. Foram atribuídos a Rafael por Robinson em 1870 e aceitos de forma praticamente consensual pela literatura posterior. Datados alternadamente entre 1499 e 1503, esses desenhos eram inicialmente considerados como estudos preparatórios para a supracitada Ressurreição de Cristo de Perugino, para a qual Rafael teria colaborado extensamente, segundo o senso comum.
Em 1927, Regteren van Altena vinculou os dois desenhos de Oxford à Ressurreição Kinnaird, o que mais tarde forneceria a Pietro Maria Bardi elementos suficientes para propor a atribuição da obra a Rafael, dando início a um longo debate acerca da função desses desenhos.
Um terceiro desenho, com estudos para a figura de Cristo, encontra-se conservado na Biblioteca Olivariana, em Pesaro. Assinado pelo pintor, o desenho foi descoberto apenas recentemente por Anna Forlani Tempesti, que imediatamente o vinculou à Ressurreição Kinnaird.
Na Ressurreição Kinnaird, Cristo ergue-se sobre um pomposo sarcófago, adornado com golfinhos dourados. Os guardiões, imersos em uma singular mistura de cores fortes e luminosas, contorcem-se de espanto ao presenciar o fenômeno sagrado, em marcante contraste à presença calma e linear do Messias na parte central da composição. Rafael utiliza-se do desenho e da simetria para forjar um ambiente complexo e amplamente detalhado, ao mesmo tempo em que se esforça para garantir que todos os pormenores da composição conduzam o olhar do espectador à figura do Cristo.
O equilíbrio da obra é obtido através da geometrização ideal da composição: o retângulo central da tumba expande-se em um outro, que circunscreve os quatro soldados. A posição diagonal da tampa do sarcófago, por sua vez, traça as linhas que ligam as personagens, quer no sentido longitudinal, quer no sentido da largura. A animação rítmica da imagem é obtida a partir do gesto de alçar o braço – desencadeado no guardião sentado, à esquerda, até a figura do Cristo -, como se a orquestração compositiva correspondesse a um único movimento. A pequena escala da obra é contrabalanceada pelo acorde interno das personagens, dispostos em uma peculiar configuração espacial que parece dilatar a composição.
Esta singular habilidade no manejo estrutural da composição torna-se evidente também na análise individual das figuras que compõem a cena. O guardião em pé, à direita, retomado de um dos desenhos preparatórios do museu de Oxford, executa um "gracioso rodopio ascendente". Esse efeito espacial é obtido por meio do deslocamento da perna do personagem para trás, movimento que ressoa no alçar do braço oposto e na rotação da cabeça, que fixa seu olhar no Cristo ressuscitado. Este encontra-se na metade superior do painel, exatamente sobre o eixo vertical central do quadro. É sobretudo nesse intricado jogo estrutural que se percebe claramente a mão de Rafael, como observa J. Barone:
“Trata-se de uma qualidade essencialmente coreográfica já evidente no 'assassino' da predella Raleigh (O Milagre de São Jerônimo que Salva Silvano e Pune Sabiniano, North Carolina Museum of Art), posteriormente desenvolvida no São Miguel Arcanjo (Louvre, Paris) e maximizada na figura de 'Heliodoro' (Expulsão de Heliodoro do Templo, Stanza di Eliodoro, Vaticano). A preocupação com o ponto de equilíbrio figura-espaço circundante, traduzida em uma leve e graciosa estrutura estelar, é uma qualidade tipicamente rafaelesca, alheia ao universo úmbrio, como alheia a esse universo é também a pronunciada perspectiva da tumba e, enfim, a orquestração espacial da obra.”
A vinculação da Ressurreição Kinnaird aos desenhos conservados no Ashmolean Museum fomentou o debate sobre a possibilidade de participação de Rafael nas obras de Pietro Perugino, ao evidenciar a proximidade estilística entre a obra de Rafael e a Ressurreição do Vaticano. A estas duas, somam-se outras pinturas de mesmo tema, todas de evidente inspiração peruginiana, como a predela do políptico da Ascensão de Cristo, no Museu de Rouen e uma terceira Ressurreição, conservada em uma coleção particular de Londres.
O ambiente artístico da Perúgia ecoa em diversos elementos da pintura, especialmente no que tange ao tratamento decorativo. São evidentes as "divagações técnicas" emprestadas de mestres da Úmbria, a começar pela intensa luminosidade do painel, acentuada pelo uso de cores fortes e brilhantes. Pinturicchio e Melozzo da Forlì parecem fornecer a inspiração para os rebuscados ornamentos que cobrem a tampa do sarcófago e as armaduras dos soldados. A preocupação com o domínio do escorço (sobretudo no sarcófago) e a granulação luminosa da vegetação são também tributárias da poética de Pinturicchio.
Tomando-se como referência a datação antecipada proposta por Camesasca para a Ressurreição Kinnaird, os vínculos entre a pintura e as demais representações do episódio mencionadas acima (atribuídas com maior ou menor segurança a Perugino e a seu ateliê) tornam-se perfeitamente inteligíveis. Apesar dessa constatação, a Ressurreição Kinnaird apresenta uma série de características singulares em relação a estas, tanto na construção individual dos personagens, quanto na construção compositiva da cena, que já denotam um afastamento da influência de Perugino.
Estudos recentes apontam que a obra evidencia certo conhecimento por parte de Rafael do ambiente artístico florentino, observável sobretudo nas afinidades entre o Cristo da Ressurreição Kinnaird e o de Luca della Robbia no Duomo de Florença (inspirado, por sua vez, no Cristo da Ressurreição Careggi, atribuído ao ateliê de Verrocchio, atualmente no Museu do Bargello). Da mesma forma, os anjos da obra do MASP parecem possuir certa semelhança com dois modelos em terracota de Verrocchio, conservados no Museu do Louvre, e com os anjos em vôo presentes no retábulo da sala degli Otto, de autoria de Filippino Lippi (Galleria degli Uffizi, Florença).
A hipótese ganha força ao analisar as considerações de Dal Pogetto, segundo quem, por volta de 1500, o universo pictórico de Rafael já era, "rico de experiências muito mais vastas e complexas que os exemplos estreitamente peruginescos, aos quais alguns gostariam de restringir sua formação", acrescentando que "faz-se necessário pressupor o conhecimento, por parte de Rafael, de uma alternativa, ou seja, de uma arte tendente ao movimento, como a florentina.” Segundo Barone, a Ressurreição Kinnaird parece ser uma das primeiras obras onde é possível observar este vínculo.
A mais antiga referência conhecida vinculando a Ressurreição Kinnaird a Rafael partiu de Wilhelm von Bode, em 1880. O historiador alemão escreveu uma carta a Giovanni Cavalcaselle, informando-lhe que havia visto a pintura na coleção de Lord Kinnaird, em Rossie Priory (Perthshire), na Escócia. Cavalcaselle anota a informação recebida de von Bode em seu Raffaello, de 1884. Sem conhecer a pintura, no entanto, prefere não tomar partido quanto à atribuição.
Em 1921, Umberto Gnoli sugeriria o nome de Mariano di Ser Austerio como possível autor do painel, mas retira a atribuição já em 1923. Pouco tempo depois, após uma visita a Rossie Priory, Regteren van Altena toma conhecimento da obra. Em comunicação oral a Oskar Fischel, feita em 1927, relaciona a obra aos desenhos preparatórios de Rafael conservados em Oxford, contrariando a tradicional vinculação dos estudos à Ressurreição Vaticana, de Perugino.
A obra só voltaria a ter registro literário quase vinte anos depois, em 1946 - tempo suficiente para que sua linha bibliográfica seja perdida. Nesse ano, reaparece em um catálogo editado pela Christie's. É então analisada por Bernard Berenson, reputado historiador norte-americano, que a atribui a um seguidor anônimo de Perugino. Quando a obra foi ofertada à National Gallery pouco tempo depois, a opinião de Berenson, então peremptória no círculo londrino, bastaria para que o museu recusasse sua compra.
No domingo de Páscoa de 1954, a obra é adquirida pelo Museu de Arte de São Paulo. Pietro Maria Bardi e Assis Chateaubriand encontravam-se em Nova York, acompanhados de Walther Moreira Salles, quando foram procurados por Walter J. Leary, funcionário da Knoedler Gallery. Leary apresentou a obra como um Rafael, pedindo um preço elevado e informando aos interessados que outro museu já tinha se decidido pela compra no momento em que desistissem. Sem conhecer a pintura, Bardi pede para verificar a documentação, mas não encontra nenhuma informação sobre a procedência do painel. Pressionado por Chateaubriand e Moreira Salles, comprometidos com um almoço de negócios, analisa a pintura por aproximadamente uma hora. Segundo Bardi:
“Eu estava completamente no escuro. Era a primeira vez na minha vida que enfrentava um caso tão repleto de incertezas. Porém meu pendor por uma conclusão definitiva transparecia em meus olhos. Procedi, como dizem certos experts, 'pelo faro'. Quando os brasileiros foram se retirando para o almoço, fiz sinal positivo a Assis. A pintura era do Masp. Moreira Salles foi um de seus doadores.”
Nesse mesmo ano seria organizada a exposição do acervo do MASP na Tate Gallery, em Londres. Bardi então comunicou aos diretores do museu a recente aquisição, com o objetivo de incluir o painel na mostra. Enfrentou a pronta resistência dos londrinos que, convictos na atribuição de Bernard Berenson, julgavam a inclusão da obra na exposição com a atribuição a Rafael como ato temerário e imprudente. Como maneira de conciliar as opiniões, chegou-se a um meio termo: decidiu-se anotar no catálogo da mostra que a atribuição era de inteira responsabilidade do diretor do museu brasileiro, o que, no entanto, não impediu que se registrassem ácidas críticas dos historiadores ingleses.
Seguindo resoluto em sua atribuição a Rafael, Bardi começou a pesquisar a procedência da obra na própria capital inglesa. Em pouco tempo, conseguiu restabelecer a linha bibliográfica perdida décadas antes, tomando ciência da informação de von Bode anotada por Cavalcaselle e da vinculação dos desenhos de Oxford à Ressurreição Kinnaird, feita por Regteren van Altena. A "descoberta" reafirmou a convicção de Bardi quanto à autoria, mas teve poucos efeitos práticos nos críticos europeus: quando a obra foi exposta no Palazzo Reale de Milão, a situação se complicou, registrando-se, segundo Bardi, "insinuações nas quais a descompostura superava a ignorância”. Chegou-se a por em dúvida até mesmo se a pintura exposta era de fato aquela de Rossie Priory.
O debate ocasionado pelo restabelecimento das fontes bibliográficas da Ressurreição Kinnaird não se limitou à pintura: a vinculação dos desenhos preparatórios de Rafael à obra do MASP dividiria a crítica européia. Parte dos estudiosos (Dussler, Beccherucci) acredita que os desenhos teriam servido de estudos preliminares para as duas ressurreições (MASP e Vaticano), e outra parte os associa exclusivamente à Ressurreição de São Paulo (Longhi, Parker, De Vecchi entre outros).
A discussão começava a tomar novos rumos, mas a atribuição do painel permanecia controversa. Os críticos europeus e norte-americanos só dariam crédito à opinião de Bardi após o posicionamento de Roberto Longhi, à época já consensualmente tido como um dos maiores especialistas em pintura do renascimento. Em visita à exposição do MASP no Palazzo Reale, procurou Bardi e lhe disse: “Hai comperato un bellissimo Raffaello” (“compraste um belíssimo Rafael”). À época, a ratificação de Longhi serviria efetivamente como um "ponto e basta" na discussão: a atribuição foi imediatamente aceita por Ragghianti e confirmada por Suida.
No ano seguinte, Longhi reitera a atribuição e associa a obra ao mencionado retábulo da capela Baronci, apoiando-se na semelhança entre as figuras da Maria Madalena da Ressurreição Kinnaird e da Virgem Maria do retábulo. Seu longo ensaio abordando a obra, intitulado “Percorso di Raffaello Giovane” granjearia à pintura certa consagração. Nos anos seguintes, a autoria de Rafael seria confirmada pela quase totalidade da crítica especializada (Parker, Dussler, Forlani Tempesti, De Vecchi, Camesasca, Ferino-Pagden, entre outros).
Em 1992, Anna Forlani Tempesti anunciou a descoberta de um desenho com estudos de uma figura de Cristo, assinado por Rafael e conservado na Biblioteca Oliveriana, em Pesaro, Itália. Com base nas similaridades das composições, Forlani Tempesti vinculou os estudos de Rafael ao Cristo da Ressurreição Kinnaird. Em 2003, a historiadora Carol Plazzotta, responsável pela retrospectiva das obras da juventude de Rafael, sediada na National Gallery de Londres entre outubro de 2004 e janeiro de 2005, viajou a São Paulo para examinar o painel do MASP, apresentado na mostra. Na opinião de Plazzotta:
“Essa bela pintura, aqui aceita como um trabalho de Rafael, ainda está por ganhar aceitação universal na literatura acadêmica, em especial porque raramente foi vista, tendo permanecido em locais remotos por quase toda a sua história. A recente descoberta de estudos assinados é uma prova conclusiva da autoria do jovem artista.”
A Ressurreição de Cristo provavelmente integrou a coleção de Gioacchino Mignanelli, membro de uma importante família de Siena e, na opinião de Suida, o primeiro proprietário da obra. A localização do painel no período anterior ao século XIX é desconhecida. Em 1880, a obra é registrada na coleção de Lord Kinnaird, de quem adveio seu título alternativo, em Rossie Priory, condado de Perthshire, na Escócia.
Em 1946, é registrada em um catálogo da Christie's, sendo nesse mesmo ano vendida a um colecionador particular. Em 1954, Walter J. Leary, funcionário da Knoedler Gallery, é encarregado de vender a obra a pedido de um marchand anônimo. É adquirida pelo MASP nesse mesmo ano, com recursos providos por vários doadores (Walther Moreira Salles, Ciccillo Matarazzo, Diários e Emissoras Associados, Gastão Vidigal Filho, etc.). A pintura integrou a turnê de obras do MASP por museus europeus e norte-americanos, realizada entre 1954 e 1957. Por ocasião da mostra itinerante, foi exposta na Tate Gallery de Londres, no Palazzo Reale de Milão, no Musée de l'Orangerie, em Paris e no Kunsthalle Museum de Düsseldorf. Nos Estados Unidos, foi vista no Metropolitan Museum of Art de Nova York e no Museu de Arte de Toledo, em Ohio. Em 1987, participou de um ciclo de exposições em museus de Milão, Martigny e Berlim. Entre outubro de 2004 e janeiro de 2005, a obra figurou na retrospectiva Raphael: From Urbino to Rome, realizada pela National Gallery de Londres.



A Escola de Atenas, Atenas, Grécia (Scuola di Atene) - Rafael Sanzio







A Escola de Atenas, Atenas, Grécia (Scuola di Atene) - Rafael Sanzio
Atenas - Grécia
Palácio Apostólico, Cidade do Vaticano, Vaticano
Afresco - 5000x7700 - 1509-1511



A Escola de Atenas (Scuola di Atene no original) é uma das mais famosas pinturas do renascentista italiano Rafael e representa a Academia de Atenas. Foi pintada entre 1509 e 1511 na Stanza della Segnatura sob encomenda do Vaticano. A pintura já foi descrita como "a obra-prima de Rafael e a personificação perfeita do espírito clássico do Renascença."
A importância da obra também está em demonstrar como a filosofia e a vida intelectual da Grécia Antiga foram vistas ao final do Renascimento
A "Escola de Atenas" é um dos painéis que compõem um grupo de quatro afrescos principais que retratam ramos distintos do conhecimento. Cada tema é identificado acima por um tondo em separado contendo uma figura feminina majestosa sentada nas nuvens, com putti carregando frases como: “Buscar o conhecimento das causas”, “Inspiração Divina”, “Conhecimento das coisas divinas” (Disputa), “Para cada um o que lhe é devido”. Assim, as figuras nas paredes abaixo exemplificam a Filosofia, a Poesia (incluindo a música), a Teologia e o Direito.
Não se sabe o quanto o jovem Rafael sabia da filosofia antiga, qual a orientação que ele poderia ter tido de pessoas como Bramante, ou se um programa detalhado foi ditado por seu patrocinador, o Papa Júlio II. No entanto, o afresco foi até recentemente interpretado como uma exortação à filosofia e, de maneira mais profunda, como uma representação visual do papel do amor em elevar as pessoas para o conhecimento superior, em grande parte em dívida com as teorias contemporâneas de Marsilio Ficino e outros pensadores neoplatônicos ligados a Rafael.
Uma interpretação do afresco relaciona as simetrias ocultas das figuras e a estrela construída por Bramante foi dada por Guerino Mazzola e colaboradores.
A identidade de alguns dos filósofos como Platão ou Aristóteles, são inegáveis. Além disso, as identificações de figuras de Rafael tem sido sempre hipotéticas. Para complicar, além de Vasari alguns receberam múltiplas identificações, não só com antigos, mas também com figuras contemporâneas a Rafael.
Luitpold Dussler conta entre aqueles que podem ser identificados com alguma certeza: Platão, Aristóteles, Sócrates, Pitágoras, Euclides, Ptolomeu, Zoroastro, o próprio Rafael, Il Sodoma e Diógenes. Outras identificações ele assegura serem "mais ou menos especulativas".
Rafael foi a escolha inspirada e corajosa o papa para decorar o salão chamado Stanza della Segnatura, no Vaticano, em Roma. Este são era usado como biblioteca; era ali que o papa Júlio II (1443-1513) assinava decretos da corte eclesiástica.
Há quatro temas (um em cada parede): filosofia, teologia, poesia e direito. A obra abaixo ilustra a filosofia e está repleta de imagens dos maiores expoentes dessa disciplina. Na época, Rafael era um artista pouco conhecido de 25 anos, sem muita experiência em pinturas de grandes dimensões e na técnica do afresco. Numa sala vizinha realizava-se outra grande encomenda papal: Michelangelo estava pintando o teto da Capela Sistina.
A figura do nicho à esquerda, segurando uma lira, é Apolo, deus do Sol, que representa a harmonia e a sobriedade. Representa também o estabelecimento filosófico e o poder civilizador da razão. A imagem baseia-se numa escultura de Michelangelo, “O Escravo Moribundo”, que hoje está no Museu do Louvre, em Paris.
A deusa representada no nicho à direita é Minerva, que preside a paz e a guerra defensiva. Encarnação da sabedoria, ela é a padroeira tradicional das instituições dedicadas à busca do conhecimento e da realização artística.
No centro do cenário arquitetônico estão os dois grandes filósofos do mundo clássico, Platão e Aristóteles. Platão, que representa a filosofia abstrata e teórica, aponta para cima. Aristóteles, à direita, indica com um gesto o que está logo ao seu redor; ele representa a filosofia natural e empírica.
No grupo da esquerda estão Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), rei da Macedônia e discípulo de Aristóteles, que possui um elmo na cabeça e escuta atentamente as palavras de Sócrates (c. 470-399 a.C.), O filósofo grego enfatiza com os dedos os pontos de sua argumentação. O questionamento e a análise são o cerne da filosofia socrática.
No canto inferior direito, sentado lendo um livro, está Pitágoras (c.580-c.500 a.C.), o famoso matemático grego, cujos postulados geométricos até hoje são ensinados nas escolas, demonstra um deles para grupo fascinado; um dos ouvintes segura uma lousa. Pitágoras também personifica a aritmética e a música.
A figura solitária nos degraus não foi incluída nos desenhos preliminares. Claramente, representa Heráclito, filósofo melancólico que costumava chorar devido à tolice humana. Heráclito vestido com roupas de pedreiro, na realidade é um retrato de Michelangelo. Assombrado com a força do trabalho desse artista, Rafael incluiu seu retrato como um tributo ao colega mais velho.
A figura esquálida esparramada nos degraus é Diógenes (c.412-c.323 a.C.), um pensador, que detestava as posses materiais e vivia dentro de uma barrica – de onde veio o apelido de “o cão”. Seu estoicismo ficou bem ilustrado quando ele ignorou um convite para a coroação de Alexandre, o Grande. O novo rei lhe fez uma visita, perguntando se havia algo que pudesse fazer pelo velho filósofo, e obteve a resposta: “Saia da frente do Sol”.
No grupo de pessoas abaixo à direita está Euclides, matemático grego do século 3 a.C. e discípulo de Sócrates. Ele aqui expondo um de seus princípios geométricos, ele está arqueado e escrevendo numa lousa pousada no chão. O grupo ao seu redor mostra alunos entusiasmados que parecem prestes a compreender um conceito difícil.
O segundo rosto, que aparece da direita para esquerda, no grupo próximo à Euclides, é o retrato do artista. Rafael incluiu um retrato de si mesmo: ele é o jovem ao lado de Ptolomeu, e olha diretamente para fora do quadro, como se quisesse captar nossa atenção e ser notado. Muitas outras figuras são homens famosos da época de Rafael: Platão se parece com Leonardo da Vinci, e Euclides com Bramante. Era uma maneira de conectar o passado com o presente e de prestar uma homenagem aos grandes homens de sua época.
Ainda no grupo da direita apresenta-se também Ptolomeu, astrônomo e geógrafo do século 2, ele, que ensinava que a Terra era o centro do universo, segura um globo terrestre. Junto a ele, uma figura ostenta um globo celeste. Trata-se provavelmente do profeta persa Zoroastro ou Zaratustra (c.628-551 a.C.).
O cenário arquitetônico é imaginário, mas sua escala, magnificência e harmonia representam os ideais da Renascença, que buscava expressar sempre valores sobre-humanos. Quando esta obra foi pintada, o papa Júlio II planejava a reconstrução da Catedral de São Pedro com o arquiteto Bramante. Em 1514, após a morte de Bramante, Rafael foi nomeado o arquiteto papal. Aqui o desenho arquitetônico de Rafael utilizando a sóbria ordem dórica, é um belo reconhecimento de sua admiração pelo estilo de Bramante.
Rafael foi um menino prodígio, nascido na cidade de Urbino, na Itália central. Em 1504, ao chegar em Florença, tinha apenas 21 anos; contudo, foi logo considerado do mesmo nível que outros dois gigantes da Alta Renascença: Michelangelo, na época com 29 anos, e Leonardo da Vinci, com 52. Rafael teve o patrocínio do papa Júlio II e de seu sucessor Leão X, que em 1514 nomeou Rafael arquiteto papal. Morreu atingido por uma febre no dia 6 de abril (que é também a data de seu nascimento) de 1520, com apenas 37 anos de idade.



Lista identificações prováveis:
1: Zenão de Cítio ou Zenão de Eleia 2: Epicuro 3: desconhecido (acredita-se ser o próprio Rafael) 4: Anicius Manlius Severinus Boethius ou Anaximandro ou Empédocles 5: Averróis 6: Pitágoras 7: Alcibíades ou Alexandre, o Grande 8: Antístenes ou Xenofonte 9: Rafael, Hipátia ou Monalisa, Fornarina como uma personificação do Amor ou ainda Francesco Maria della Rovere 10: Ésquines ou Xenofonte 11: Parménides 12: Sócrates 13: Heráclito ou Michelangelo. 14: Platão segurando o Timeu (Leonardo da Vinci). 15: Aristóteles segurando Ética a Nicômaco 16: Diógenes de Sínope 17: Plotino 18: Euclides ou Arquimedes acompanhado de estudantes (Bramante) 19: Estrabão ou Zoroastro (Baldassare Castiglione ou Pietro Bembo) 20: Ptolomeu R: Apeles (Rafael). 21: Protogenes (Il Sodoma ou Pietro Perugino).

Mulher Maravilha 2017 - Wonder Woman



















                                               
Mulher Maravilha 2017 - Wonder Woman
Estados Unidos - 141 minutos
Poster do filme

Cartaz de Propaganda da Primeira Guerra "Britons: Lord Kitchener Wants You", 1914, Inglaterra - Alfred Leete




Cartaz de Propaganda da Primeira Guerra "Britons: Lord Kitchener Wants You", 1914, Inglaterra - Alfred Leete
Propaganda


Lord Kitchener Wants You is a 1914 advertisement by Alfred Leete which was developed into a recruitment poster. It depicted Lord Kitchener, the British Secretary of State for War, below the words "WANTS YOU". Kitchener, wearing the cap of a British Field Marshal, stares and points at the viewer calling them to enlist in the British Army against the Central Powers. The image is considered one of the most iconic and enduring images of World War I. A hugely influential image and slogan, it has also inspired imitations in other countries, from the United States to the Soviet Union.
Prior to the institution of conscription in 1916, the United Kingdom relied upon volunteers for military service. Until the outbreak of the First World War, recruiting posters had not been used in Britain on a regular basis since the Napoleonic Wars. UK government advertisements for contract work were handled by His Majesty's Stationery Office, who passed this task onto the publishers of R. F. White & Sons in order to avoid paying the government rate to newspaper publishers. As war loomed in late 1913, the number of advertising contracts expanded to include other firms. J. E. B. Seely, then the Secretary of State for War, awarded Hedley Le Bas, Eric Field, and their Caxton Advertising Agency a contract to advertise for recruits in the major UK newspapers. Eric Field designed a prototype full-page advertisement with the coat of arms of King George V and the phrase "Your King and Country Need You." Britain declared war on the German Empire on 4 August 1914 and the first run of the full-page ran the next day in those newspapers owned by Lord Northcliffe.
Prime Minister of the United Kingdom H. H. Asquith had appointed Kitchener as Secretary of State for War. Kitchener was the first currently serving soldier to hold the post and was given the task of recruiting a large army to fight Germany. Unlike some of his contemporaries who expected a short conflict, Kitchener foresaw a much longer war requiring hundreds of thousands of enlistees. According to Gary S. Messinger, Kitchener reacted well to Field's advertisement, although he insisted "that the ads should all end with 'God Save the King' and that they should not be changed from the original text, except to say 'Lord Kitchener needs YOU.'" In the following months, Le Bas formed an advisory committee of ad men to develop further newspaper recruiting advertisements, most of which ran vertically 11 inches (28 cm), two columns wide.
Alfred Leete, one of Caxton's illustrators, designed the now-famous image as a cover illustration for 5 September 1914 issue of London Opinion, a popular weekly magazine, taking cues from Field's earlier recruiting advertisement. At the time, the magazine had a circulation of 300,000. In response to requests for reproductions, the magazine offered postcard-sized copies for sale. The Parliamentary Recruiting Committee obtained permission to use the design in poster form. A similar poster used the words "YOUR COUNTRY NEEDS YOU".
Kitchener, a "figure of absolute will and power, an emblem of British masculinity", was a natural subject for Leete's artwork as his name was directly attached to the recruiting efforts and the newly-forming Kitchener's Army. Le Bas of Caxton Advertising (for whom Leete worked) chose Kitchener for the advertisement because Kitchener was "the only soldier with a great war name, won in the field, within the memory of the thousands of men the country wanted." Kitchener made his name in the Sudan Campaign, avenging the death of General Gordon with brutality and efficiency. He became a hero of "New Imperialism" alongside other widely regarded figures in Britain like Field Marshal Wolseley and Field Marshal Roberts. Kitchener's appearance including his bushy mustache and court dress jacket was reminiscent of romanticized Victorian era styles. Kitchener, 6 ft 2 in (188 cm) tall and powerfully built, was for many the personification of military ethos so popular in the present Edwardian era. After the scorched earth tactics and hard-fought victory of the Second Boer War, Kitchener represented a return to the military victories of the colonial era. The fact that Kitchener's name was not used in the poster demonstrates how easily he was visually recognized. David Lubin opines that the image may be one of the earliest successful celebrity endorsements as the commercial practice expanded greatly in the 1920s. Keith Surridge posits that Kitchener's features evoked the harsh, feared militarism of the Germans which bode well for British fortune in the war. Kitchener did not see the end of the war; he died onboard in the sinking of HMS Hampshire in 1916.
Leete's drawing of Kitchener was the most famous image used in the British Army recruitment campaign of World War I. It continues to be considered a masterful piece of wartime propaganda as well as an enduring and iconic image of the war.
Recruitment posters in general have often been seen as a driving force helping to bring more than a million men into the Army. September 1914, coincident with publication of Leete's image, saw the highest number of volunteers enlisted. The Times recorded the scene in London on 3 January 1915; "Posters appealing to recruits are to be seen on every hoarding, in most windows, in omnibuses, tramcars and commercial vans. The great base of Nelson's Column is covered with them. Their number and variety are remarkable. Everywhere Lord Kitchener sternly points a monstrously big finger, exclaiming 'I Want You'". One contemporaneous publication decried the use of advertising methods to enlist soldiers: "the cold, basilisk eye of a gaudily-lithographed Kitchener rivets itself upon the possible recruit and the outstretched finger of the British Minister of War is levelled at him like some revolver, with the words, 'I want you.' The idea is stolen from the advertisement of a 5c. American cigar." Although it became one of the most famous posters in history, its widespread circulation did not halt the decline in recruiting.
The use of Kitchener's image for recruiting posters was so widespread that Lady Asquith referred to the Field Marshal simply as "the Poster."
The placement of the Kitchener posters including Alfred Leete's design has been examined and questioned following an Imperial War Museum publication in 1997. The War Museum suggested that the poster itself was a "non event" and was made popular by postwar advertising by the war museum, perhaps conflating Leete's design with the so-called "30-word" poster, an official product from the Parliamentary Recruitment Committee. The 30-word design was the most popular recruitment poster at the time, having been printed ten times more than Leete's image. Leete's image has been praised for being more arresting while his accompanying text is also far less verbose. The official wording, taken from a Kitchener speech, may seem more fitting for a character in a Henry James novel. The 30-word recruiting poster was developed as Britons' collective hopes of the war being over by Christmas were dashed in January 1915 and volunteer enlistments fell. A 2013 book researched by James Taylor counters the popular belief that the Leete design was an influential recruitment tool during the war. He claims the original artwork was acquired by the Imperial War Museum in 1917 and catalogued as a poster in error. Though the image of Kitchener (Britain's most popular soldier) inspired several other poster designs, Taylor says he can find no evidence in photographs of the time that the Leete poster was used, although a photograph from 15 December 1914 taken at the Lancashire and Yorkshire Railway station in Liverpool clearly depicts Leete's depiction among other recruiting posters.
The effectiveness of the image upon the viewer is attributed to what E. B. Goldstein has called the 'differential rotation effect.' Because of this effect, Kitchener's eyes and his foreshortened arm and hand appear to follow the viewer regardless of the viewer's orientation to the artwork. Historian Carlo Ginzburg compared Leete's image of Kitchener to similar images of Christ and Alexander the Great as depicting the viewer's contact with a powerful figure. Pearl James commented on Ginzburg's analysis agreeing that the strength of the connotation lies with a clever use of discursive psychology and that art historical methods better illuminate why this image has such resonance. The capitalized word "YOU" grabs the reader, bringing them directly to Kitchener's message. The textual focus on "you" engages the reader about their own participation in the war. Nicholas Hiley differs in that Leete's portrayal of Kitchener is less about immediate recruiting statistics but the myth that has grown around the image, including ironic parodies. Leete's Kitchener poster caught the attention of a then eleven-year-old George Orwell, who may have used as it the basis for his description of the "Big Brother" posters in his novel 1984. It remains recognised and parodied in popular culture.
In 1997 the British Army created a recruiting advertisement re-using Leete's image substituting Kitchener's face with that of a British Army non-commissioned officer of African descent. Leete's image of Kitchener is featured on a 2014 £2 coin produced by sculptor John Bergdahl for the Royal Mint. The coin was the first of a five-year series to commemorate the centennial of the war. Use of Leete's image of Kitchener has been criticized by some for its pro-war connotation in light of the human losses of the First World War and the violence of Kitchener's campaign in Sudan. In July 2014, one of only four original posters known to exist went to auction for more than £10,000. The other three originals exist on display in State Library of Victoria, the Museum of Brands, Packaging and Advertising, and the Imperial War Museum. Leete's design was also used for a corn maze in the Skylark Garden Centre in Wimblington to mark the centenary of World War I.
A recruitment poster of the stern-eyed Lord Kitchener has become a defining image of World War One. A clever illustrator's psychological trickery has spawned a thousand imitations, writes Adam Eley.
It is perhaps history's most famous pointing finger.
The image of British war minister Lord Kitchener's index finger unsettlingly aimed at the viewer remains immediately recognisable 100 years after its design. Still regularly copied in advertising, it has also served as a satirical motif in the media and inspired military recruitment campaigns across the globe.
Most people assume this image owes its fame to a government recruiting campaign during World War One.
But while an estimated 5.7 million official posters printed in the UK from 1914-18, as few as 10,000 copies of this particular image were made.
It was initially intended only as a front cover design for the London Opinion magazine on 5 September 1914, created by professional illustrator Alfred Leete, supposedly in a single day. The cover bore the message "Your Country Needs You".
The slogan was then slightly tweaked to simply "Wants You" and the image was privately produced as a poster shortly afterwards. But there is little photographic evidence of it on display in public places and only a handful of original copies survive today.
The authorities equally anticipated that an image of Kitchener - immensely popular with the public and seen as a great symbol of army and empire - would be good for recruiting.
But in the first instance the official Parliamentary Recruitment Committee poster used a completely different and far less dramatic image of the field marshal. It was next to a rather uninspiring quote from one of his speeches: "Men, materials & money are the immediate necessities. Does the call of duty find no response in you until reinforced - let us rather say superseded - by the call of compulsion? Enlist today."
With a print-run potentially 15 times that of the poster based on Leete's image, it was given the resources and prominence to be remembered above all others, but is now largely forgotten.
So why, almost 100 years on, does Leete's design retain such potency?
"Among the myriad of images pushed towards us each day, that of Kitchener pointing is an instantly recognisable symbol of World War One," says the Museum of Brands founder Robert Opie. "Television programmes have used the poster in advertising campaigns to immediately establish that the show is set at the time of the Great War."
Its longevity, he adds, is also a result of Leete's powerful design with "Lord Kitchener's eyes following you round the room like the Mona Lisa".
Leete's illustration carefully manipulates Kitchener's actual appearance. Firstly, his squint - clearly visible in the official, long-winded poster - is corrected. His moustache was darkened and widened. The design is probably based on a photograph taken some 30 years earlier, as by the start of the war, Kitchener was 64.
Kitchener's hand gesture is equally provocative in its directness. "Pointing is individualistic, it singles out one person alone," says University of Hertfordshire psychology professor Karen Pine. "This makes you more engaged and places you under an obligation to respond."
The illustrator's work also compared favourably with official recruitment posters of the time. As Richard Slocombe, senior curator of art at the Imperial War Museum, explains: "Poster design was a very mechanical process with little finesse. A large number solely used words."
In contrast, Leete was a renowned cartoonist "who knew how to connect with the wider public through his work and understood the importance of simplicity".
Those four words, "Your Country Needs You", also proved effective. "They evoke patriotism and guilt in those yet to enlist without straying as far as emotional blackmail," says the National Army Museum's David Bownes, co-author of Posters of the First World War.
The success of the image has arguably enabled it to transcend the legacy of Lord Kitchener himself. Leete's design has been copied by military recruitment campaigns from India to Canada to Germany. Four million copies of James Montgomery Flagg's Uncle Sam poster were printed by the US during WW1. Indeed, the image still features in the country's recruitment drives today.
As recently as 1998 a version of the Kitchener poster was used in a campaign to improve the number of ethnic minority recruits in the British Army. Kitchener's face was replaced in two posters by servicemen of African and Asian heritage.
As a humorous motif it is even more widely used.
The Sunday Times replaced Kitchener's face with David Cameron's after the prime minister used the phrase "your country needs you" when promoting his vision of the Big Society in October 2010.
Any nod to the famous poster can be humorous because of how unusual the pointing gesture now seems. "We're less deferential to authority now, so politicians are trained to use open-hand gestures rather than point," explains Karen Pine.
Opie explains that the poster remains widely used because "it contains everything a caricaturist needs - a strong, powerful image that can act as a quick and easy communicator".
In the 1960s, two boutiques called I Was Lord Kitchener's Valet - incorporating Leete's design in their advertisements - opened in London's Portobello Road and Carnaby Street. Selling military memorabilia and clothing to customers including Jimi Hendrix, John Lennon and Eric Clapton, they invoked ironic nostalgia towards the age of authority in which Kitchener lived.
Since then, everything from mugs to T-shirts have carried Kitchener's face, including duvet covers claiming "your bed needs you". And his image has recently featured on a special edition £2 coin commemorating the war.
Horatio Kitchener was born on 24 June 1850 in County Kerry, Ireland
Educated in Switzerland and at the Royal Military Academy, Woolwich
Took part in the unsuccessful operation to relieve General Charles Gordon at Khartoum in 1884-1885, and in 1886 was appointed governor general of eastern Sudan
In 1902 he was appointed commander in chief of India
In 1911, he became the proconsul of Egypt, serving there and in the Sudan until 1914
When war broke out, he reluctantly accepted the appointment of secretary of state for war
Credited with great foresight in recognising that WW1 would last several years and require a large army
Died on 5 June 1916 in the sinking of HMS Hampshire, as he journeyed to Russia
Kitchener and his pointing finger are still regularly used in the promotion of everything from local fetes to garage sales. But for Martyn Thatcher, author of the Amazing Story of the Kitchener Poster, the image has often become "a lazy piece of graphic design".
The controversies that surrounded Lord Kitchener - famed for his disputes with political and military figures of the time - have been widely obscured in favour of Leete's evocative caricature. His successes have been reduced to a single image.
Lord Kitchener was uneasy about his use in recruitment campaigns. He believed it should be the country's monarch inspiring people to sign up, and not him, hence his insistence on the words "God Save the King" at the bottom of many posters.
But whether with his permission or not, his image will live on.
World War One was a truly global conflict. The war was fought in Europe, the Middle East, Africa and Asia. Around 17 million soldiers and civilians were killed between 1914 and 1918.
Britain declared war on Germany on 4 August 1914. In 1916, conscription was introduced for the first time. As millions of men left for the front, women filled their roles in factories, shops and offices across the country.
On the Western Front the opposing armies were trapped in a stalemate. Many lives were lost fighting over just a few miles of land. The Battle of the Somme was one of the largest of WW1 and nearly 20,000 British soldiers died on the first day.
WW1 saw advancements in medicine and technology - the invention of plastic surgery, innovations in flight, and new treatments for mental health.







Alfândega de Veneza, Veneza, Itália (Die Dogana in Venedig) - Giovanni Antonio Canal "Canaletto"

                       
Alfândega de Veneza, Veneza, Itália (Die Dogana in Venedig) - Giovanni Antonio Canal "Canaletto"
Veneza - Itália
Museu Kunsthistorisches, Viena, Áustria
OST - 46x63 - 1724-1730

Vista de Viena do Alto do Belvedere, Viena, Áustria (Wien, vom Belvedere aus Gesehen) - Bernardo Belotto




                                     
Vista de Viena do Alto do Belvedere, Viena, Áustria (Wien, vom Belvedere aus Gesehen) - Bernardo Belotto
Viena - Áustria
Kunsthistorisches Museum, Viena, Áustria
OST 135x213 - 1758/1761



Esta panorámica de la ciudad de Viena es obra del sobrino del Canaletto, Bernardo Belloto (1721- 1780), pintor que tras aprender en el taller de su tío se especializó en este tipo de vistas y paisajes urbanos.
La parte de una serie de 13 vistas de la ciudad que el pintor hizo por encargo de Eugenio de Saboya para la Emperatriz María Teresa entre 1758 y 1760.
En esta obra el punto de vista se sitúa en el alto Belvedere. La perspectiva del cuadro está tomada desde un punto de vista muy cercano al suelo permitiéndonos, por la situación sobre elevada de esta zona del palacio, contemplar toda la panorámica de la ciudad.
En primer plano vemos el cuadro dividido en dos partes: a la izquierda el estanque de los jardines del palacio Schwarzenberg y a la derecha los jardines del Belvedere, ambos espacios separados por un gran seto.
Descubrimos en el horizonte urbano construcciones como la iglesia de San Carlos Borromeo, a la izquierda del palacio Schwarzenberg, el convento de las monjas salesas con su gran cúpula a la derecha del bajo Belvedere (al fondo de los jardines) y la catedral de San Esteban con su gran aguja gótica en el centro del cuadro y al fondo.
El autor nos “esconde” las murallas de la ciudad, tan importantes para defender a la ciudad de los numerosos asedios que sufrió a lo largo de los siglos, y que estaban sobre el actual Ringstrasse, avenida circular en torno a la cual se organiza el crecimiento de la ciudad.
Las vistas de Belloto destacan por la precisión geográfica, la exactitud de su perspectiva arquitectónica, el colorido sombrío y una atmósfera nítida bañada por una luz cálida, que le confería a sus vistas un carácter y estilo muy personales, que le convirtieron en uno de los paisajistas más destacados del siglo XVIII.

O Último Tamoio (O Último Tamoio) - Rodolfo Amoedo

                                                   
O Último Tamoio (O Último Tamoio) - Rodolfo Amoedo
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil
OST - 180x261 - 1883


O Último Tamoio é um óleo sobre tela pintado por Rodolfo Amoedo, no ano de 1883. A obra foi produzida na França, local onde o pintor morou por alguns anos e pintou suas maiores obras. Na imagem retratada, Aimberê, índio chefe dos Tamoios, está morto. Ao seu lado, segurando um pedaço de seu corpo, está o Padre José de Anchieta que, piedosamente, o acolhe. Atualmente, o quadro pertence ao Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
Vinte e sete anos antes de Rodolfo Amoedo pintar o quadro, o ensaísta Domingos José Gonçalves de Magalhães escreveu um livro intitulado "A Confederação dos Tamoyos". Com a obra, o autor pretendia trazer reconhecimento à luta indígena no Brasil durante os anos em que o País esteve sob o domínio de Portugal. A publicação do livro foi custeada pelo imperador Pedro II. A história traz Aimberê e o padre jesuíta como personagens e foca na luta que os índios traçaram contra os portugueses da época pela liberdade de vida e pela sobrevivência no Brasil. Foi inspirado nos últimos versos de um poema do livro, que relatam como teriam sido os momentos finais de vida do índio Aimberê, que Rodolfo Amoedo pintou o quadro "O Último Tamoio":
[...] "De Aimbire e de Iguassú os corpos eram! / Vio-os Anchieta com chorosos olhos; / Para a terra os tirou; e n’essa praia / Que inda depois de mortos abraçavam, / Sepultura lhes deo, p’ra sempre unidos!".
Alguns estudiosos atentam para a semelhança do quadro O Último Tamoio, de Amoedo, e a litografia Rua Transnonain, 15 de abril de 1834, do caricaturista e chargista francês Honoré Daumier. No entanto, não há fatos ou documentos concretos capazes de comprovar que Amoedo tinha conhecimento sobre essa obra de Daumier. Ainda assim, além de haver elementos bastantes parecidos na pintura em si, há também semelhança entre os momentos históricos retratados pelos autores: ambos focavam em importantes lutas populares da época.
O quadro em que O Último Tamoio foi pintado mede 180,3 centímetros de altura por 261,3 centímetros de largura. Os personagens principais são o índio Aimberê e o padre jesuíta José de Anchieta. De maneira geral, a pintura não possui uma única paleta de cores predominante. Como se houvesse uma linha diagonal invisível, a imagem é dividida em proporções iguais de cores claras e cores escuras. Diversos tons de marrons e verdes ajudam a compor o espaço mais próximo do Padre José de Anchieta, enquanto que as cores mais claras, puxadas para amarelo creme, dourado pálido e outros tons de bege compõem o espaço mais próximo onde se encontra Aimberê. De acordo com o professor de história Eduardo Scrich:
"Embora seja a região mais iluminada, os tons pastéis e a presença do índio vividamente morto não permitem conferir vida à obra".
Esta não foi a única vez que Amoedo utilizou o recurso da linha diagonal invisível. No mesmo ano em que pintou O Último Tamoio, 1883, o artista recorreu à divisão de cores para dar vida à outra pintura, intitulada Morte de Atala. Tanto essa obra quanto O Último Tamoio representam momentos de sacrifícios e fazem alusão aos instantes finais de vida de mestiços e índios que lutaram por sua liberdade contra aqueles que queriam escravizá-los. O local onde o padre e o índio estão é uma praia e, além deles, não há mais nenhum outro ser humano na imagem. Atrás de Anchieta, num plano mais distante, montanhas e matas, pintadas com cores escuras, complementam a paisagem onde ele e o índio se encontram. Há também pássaros brancos sobrevoando a área montanhosa e o céu é acinzentado. Em um artigo que escreveu, a professora de História da Arte Ana Maria Tavares Cavalcanti, ressalta os elogios feitos por Gonzaga Duque, um dos mais importantes escritores e críticos brasileiros já existentes:
"Segundo o crítico, os olhos e a alma do espectador eram atraídos para o canto da praia “tão perfeitamente reconstruído”. Nesse “detalhe fidelíssimo”, onde “a emanação salobra do oceano murmurejante tonifica e refresca”, residiria “a beleza empolgante do quadro”.
Na imagem, o corpo do índio morto Aimberê encontra-se deitado na areia de uma praia deserta. Sua pele é morena e ele tem cabelos longos e escuros, da cor preta, que vão até, aproximadamente, a altura de seus ombros. O desenho de seu rosto é marcado por expressões que se destacam e conservam o sofrimento de seus últimos momentos vivo. Seus olhos estão fechados e sua boa semi-aberta. Todo o desenho de seu corpo carrega um realismo marcante, deixando de lado, inclusive, as formas clássicas que Amoedo havia conferido a algumas de suas obras anteriores.
O corpo do índio também está roxo e inchado, o que indica, realmente, seu estado mórbido de vida. Assim como Jesus Cristo é retratado em seus momentos finais de vida em diversas pinturas, o corpo de Aimberê também está estirado em posição horizontal, os seus braços estão abertos e sua vestimenta esconde qual o seu sexo, embora, historicamente, seja de conhecimento nacional que o índio é um homem, e não uma mulher.
As únicas peças de roupas que cobrem o corpo do índio Aimberê são feitas com arranjos de penas vermelhas e azuis. A saia está estourada, portanto aberta, e uma parte das penas encontra-se no chão de areia; já o bracelete, que está em seu braço esquerdo, para quem enxerga a imagem de frente, aparenta estar intacto.
Agachado, ao lado de Aimberê, está o Padre José de Anchieta. Seu rosto está virado, de perfil, e ele fita atentamente os olhos fechados do índio. Embora esteja de lado, sua expressão facial aparenta ser de curiosidade e súplica pelo homem que está morto. A vestimenta que carrega em seu corpo é motivo de crítica para muitos estudiosos e professores: Amoedo retratou Anchieta vestindo roupas de um padre franciscano, quando, na realidade, Anchieta era um padre jesuíta.
Outro elemento interessante na imagem de Anchieta são as cores. Ele faz parte do espaço destinado às cores mais escuras do quadro. Assim, sua figura não está tão bem iluminada quanto a figura de Aimberê. Há um ponto de diferença na representação imagética do índio e do jesuíta, que é a intensidade com que as marcas de expressão foram desenhadas em cada um. Em Aimberê fica nítido todo o traçado do rosto e do corpo, mas, em Anchieta, as marcas são pouco acentuadas, algo que também tem ligação com a distribuição de cores na pintura. Isso faz com que o padre quase se misture à paisagem de matas escuras e montanhas altas.
Ao longo do processo de colonização do Brasil, europeus, principalmente os portugueses, e índios travaram diversas disputas pelo território nacional e em consequência de suas diferenças culturais, que eram pulsantes. Como, ao mesmo tempo, existiam disputas entre os próprios europeus, muitas vezes impulsionadas pela conquista de terras, não era difícil encontrar nações que se colocavam ao lado dos índios na guerra contra os portugueses. Foi o caso da França que, entre os anos de 1554 e 1567, se alinhou aos Tupinambás, nação que incluía os povos Tupiniquins, Aimorés e Temiminós, para travar luta contra a exploração dos índios pelos portugueses e, consequentemente, conquistar mais espaço geográfico podendo, então, implementar a França Antártica.
Esses três povos indígenas, embora reconhecidos como Tupinambás pela França, em documentos lusitanos constam como "Tamoyos", por isso, o conflito em que se envolveram contra os portugueses entre os anos de 1554 e 1567 ficou conhecido como Confederação dos Tamoyos. Foi esse episódio histórico que levou Gonçalves de Magalhães a escrever o livro que, mais tarde, inspirara Amoedo na realização da pintura O Último Tamoio. Assim como representada no quadro, a região onde as disputas aconteceram ficava entre o litoral paulista e o sul fluminense do Brasil.
Quando um país colonizava alguma terra, era natural que alguns de seus habitantes se casassem com os nativos da terra dominada, a fim de estabelecerem boas relações e consequentemente, conseguirem ter um domínio maior sobre o novo espaço, uma vez que eram considerados parte da tribo. Foi assim que João Ramalho, um português amigo de Brás Cubas, conseguiu estabelecer aliança entre a tribo dos Guaianases e os lusitanos, pois se casou com uma indígena dessa tribo.
Com a nova união, os portugueses se viram capazes de explorar e escravizar outros povos indígenas. Então, após convencerem os Guaianazes, comandaram um ataque contra os índios Tupinambás que, à época, não conseguiram vencer a disputa e tiveram seu chefe da tribo morto por maus tratos. Simultaneamente, os franceses chegavam ao litoral sul fluminense do Brasil, e para que pudessem colonizar as terras em que estavam, se uniram aos Cunhambebe. Enquanto os índios lutavam a seu favor, eles forneciam armamentos. No entanto, surtos epidêmicos, trazidos pelos europeus da época, levaram milhares de ameríndios à morte, o que enfraqueceu a luta pela liberdade que os índios vinham travando contra os portugueses. A responsabilidade de liderar os povos ficou, então, para Aimberê, índio que mais tarde seria reconhecido como o primeiro herói nacional. Formava-se, assim, a Confederação dos Tamoios, que incluía as tribos Tupinambás, Pindobuçu, Koakira e Cunhambebe.
Influenciados por Aimberê, os tupinambás, que haviam perdido a disputa contra os portugueses, resolveram se rebelar e fugiram. Como a França estava aliada aos Cunhambebe e os tupinambás se instalaram no mesmo local que eles, os franceses decidiram se aliar também aos tupinambás. Muitas lutas foram travadas e milhares de índios morreram nas batalhas. Então, em 1563, três anos antes de, de fato, essa disputa entre lusitanos e indígenas acabar, Aimberê conseguiu selar a paz por meio da participação dos padres jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta.
Porém, os padres não estavam verdadeiramente alinhados aos índios e, sem qualquer resquício de dó, os portugueses atacam novamente os tamoios e conseguem dizimá-los quase que por completo. Então, em 1567, a guerra entre tamoios e portugueses termina, após a morte de Aimberê.
Embora não tenha sido verdadeiro em suas intenções com os indígenas da tribo tupinambá, Anchieta foi um personagem historicamente muito importante para o conflito dos tamoios e portugueses. Ao longo de cinco meses, ele esteve junto ao povo indígena. Anchieta foi membro da Companhia de Jesus e, durante grande parte de sua vida, seu papel era o de mediar as relações entre europeus e ameríndios. Devido a conflitos religiosos, muitas pessoas da época acreditavam que os jesuítas, como ele, tramavam contra a pátria. Além de prezarem por territórios nacionais, ao colonizar o Brasil, os portugueses queriam também disseminar o catolicismo entre os que já habitavam o País, ou seja, os índios. E esse papel ficou destinado aos jesuítas, responsáveis por converter a crença indígena no cristianismo católico. Por isso, acredita-se que a representação de Anchieta no quadro de Amoedo, com o rosto virado de lado, observando Aimberê, não tenha sido mera percepção artística, mas uma crítica ao papel dos jesuítas da época.
Rodolfo Amoedo foi um pintor humanista, que nasceu no Rio de Janeiro, em 1857. Amoedo ingressou na Academia Imperial de Belas-Artes em 1873 e teve aula com importantes personagens da história da arte brasileira, como Víctor Meireles e Zeferino da Costa. O Último Tamoio é resultado dos cinco anos que Amoedo passou na França, onde estudou e aprimorou suas técnicas de pintura. Alexandre Cabanel, um importante artista do movimento neoclássico francês, foi um de seus professores na Academia de Belas Artes de Paris. Quando Amoedo voltou para o Brasil, passou a dar aulas de pintura e a receber diversos pedidos de quadros feitos por gente importante e da alta classe social da época.
De acordo com a professora de História da Arte, Ana Maria Tavares Cavalcanti:
"Embora tivesse sido um renovador da arte brasileira na década de 1880, no final de sua vida, em 1941, Rodolfo Amoedo era uma espécie de “último tamoio” do meio artístico nacional, um remanescente da arte do século XIX num momento em que mesmo as ideias modernistas da Semana de 1922 já eram passado, e estava em preparação o terreno dos primeiros embates da pintura abstrata no Brasil"
Alguns críticos e escritores, como Gonzaga Duque, afirmam que Amoedo era um autor de reflexão, fazendo alusões a fatos históricos narrados por meio da literatura. Esse traço é possível de enxergar em alguns de seus quadros, como O Último Tamoio e Morte de Atala. Amoedo também prezava muito pela representação da pintura indianista.
O Último Tamoio é uma referência história às lutas dos índios contra os portugueses do período oitocentista. Embora a pintura seja inspirada em fatos históricos, Aimberê e o padre José de Anchieta representam uma ficção poética, de acordo com alguns críticos de história da arte. Por ter sido pintado 316 anos depois do conflito conhecido como Confederação dos Tamoios, é impossível afirmar que Amoedo estava representando apenas, e somente apenas, o momento em que o corpo do índio Aimberê foi resgatado por Anchieta. De acordo com a historiadora Ana Maria Tavares Cavalcanti, tanto o escritor Gonçalves Magalhães quanto o pintor Rodolfo Amoedo:
"preferiram ligar à memória o anseio pela paz, expresso na figura do jesuíta".
A figura de Aimberê, na pintura de Amoedo, representa um sacrifício, uma morte digna, que não foi em vão. Afinal, Aimberê morreu lutando pela liberdade de seu povo. Alguns críticos e estudiosos citam uma semelhança entre a representação imagética dos últimos momentos de vida de Jesus Cristo. Na pintura de Amoedo, Aimberê é segurado pelos braços do jesuíta Anchieta, que o acolhe piedosamente, tal qual Maria faz com Jesus, logo após sua morte. E, assim como Jesus se transformou num herói por morrer pela liberdade de seu povo, Amoedo representa Aimberê como aquele que perdeu sua vida lutando pelo fim da exploração de seu povo.
No entanto, a partir do momento em que seu corpo é acolhido pelo padre, Aimberê não é mais um herói, mas, sim, apenas mais uma vítima da grande batalha que havia se estendido entre lusitanos e ameríndios. A figura do jesuíta é que ganha destaque. Os jesuítas eram inimigos dos índios e, ironicamente, é um deles que segura o corpo morto do índio chefe da batalha. É pensando nisso que Eduardo Scrich, no periódico O Último Tamoio, de Rodolfo Amoedo, discorda da posição de Anchieta como Maria, e pontua:
[...] "O Anchieta de Amoêdo não executa um ato misericordioso, não ocupa o papel de Maria que acolhe o corpo de Cristo crucificado: está mais para a posição do apóstolo Judas, personagem ambígua por excelência, eternizada pela imagem tão reproduzida pelos artistas ocidentais, o Beijo de Judas – a traição que antecipou a crucificação de Jesus". [...] "É intrigante a posição das mãos e braços de Judas, semelhante à composição do Anchieta de Amoêdo, bem como a posição da cabeça direcionada ao rosto da vítima".
Não é possível, também, afirmar que Amoedo teve intenção de provocar jesuítas ou indígenas com sua pintura, entretanto, ela é uma representação das consequências de não seguir os mesmos ideias dos homens brancos da época. Ter outro Deus ou, então, o que era totalmente um direito dos indígenas, de não quererem ser escravizados, fez com que milhares deles morressem e, Aimberê representa o primeiro grande herói nacional por ter morrido em prol de seu povo. Os elementos que complementam a cena, formando a paisagem de matas e montanhas, são de extrema significância também para a obra de Amoedo. Assim como em Moema, de Victor Meireles, o mar é que devolve, antes de Anchieta acolher, o corpo de Aimberê, como se fosse o local onde os grandes heróis são deixados para terem um final mais digno. E essa representação foi escolhida propositalmente por Amoedo. O quadro, que representaria o grande momento de sacrifício do índio pelos seus irmãos e amigos, na verdade, sofre com a falta do ar heroico. Aimberê tem o corpo inchado, já em estado de decomposição, não há nenhuma beleza em seu corpo morto e seus traços são de um realismo invejável:
"O último Tamoio é, em essência, uma obra perturbadora, uma provocação colocada no seio da Academia para trazer à tona as incongruências e ambiguidades do Brasil do oitocentos".
Quando Rodolfo Amoedo pintou O Último Tamoio, seu quadro foi exposto na França, local onde ele residiu por alguns anos. Apenas um ano depois, a pintura já fazia parte da Exposição Geral de Belas Artes no Rio de Janeiro. E foi no Brasil que sua obra de arte ganhou maior reconhecimento. Fundador e jornalista da Revista Illustrada, Alexandre Cabanel teceu elogios a Amoedo, ressaltando que os seus trabalhos poderiam dar facilmente destaque ao pintor. Gonzaga Duque, escritor, pontuou sobre a paisagem praiana:
“tão perfeitamente reconstruído [...] onde a emanação salobra do oceano murmurejante tonifica e refresca”, residiria “a beleza empolgante do quadro”.
No entanto, alguns outros críticos da época não fizeram questão de elogiar o trabalho de Amoedo. De acordo com eles, vestir José de Anchieta com roupas de um padre franciscano foi um equívoco muito grande. Ainda apontam para a falta da companheira de Aimberê, a índia Iguassú, que teria estado ao seu lado nos momentos finais de sua vida também.

Corredeira (Corredeira) - Helvécio Morais

                                                       
Corredeira (Corredeira) - Helvécio Morais
OST