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segunda-feira, 21 de março de 2022
Pantheon, Circa 1880, Roma, Itália
Pantheon, Circa 1880, Roma, Itália
Roma - Itália
Fotografia
Il Pantheon con ancora le "orecchie d'asino" del Bernini, demolite nel 1883, e l'Acqua Marcia (l'Acqua Pia Antica Marcia) proveniente dall'Acquedotto Marcio, costruito nel 1870 ed in grado di portare l'acqua da Roviano, nella valle dell'Aniene, a Roma.
Diferença de 70% Não é Mais a Regra Para Escolher Gasolina ou Etanol - Artigo
Diferença de 70% Não é Mais a Regra Para Escolher Gasolina ou Etanol - Artigo
Artigo
Há mais de 15 anos no mercado, os carros equipados com motor flex – que aceitam gasolina ou etanol em qualquer proporção – ainda são cercados de mitos. Um deles é quando usar gasolina ou etanol levando em conta o preço dos dois combustíveis.
No começo, foi estabelecido que, se o valor do etanol fosse até 70% do preço da gasolina, abastecer com o combustível vegetal seria vantajoso. Mas, pela evolução técnica dos motores e do próprio etanol, hoje, essa proporção está diferente e pode chegar a até 75%.
O presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos, sugere que cada motorista faça as contas e veja qual a proporção é a correta. Para ele, nem mesmo as medições do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular, feitas pelo Inmetro, refletem a realidade.
“Os testes feitos pelo Inmetro tem como base a gasolina com uma mistura de 22% de álcool anidro. Hoje, a gasolina é vendida nos postos com 27%. O número que está ali pra gasolina não reflete a verdadeira quilometragem que aquele carro poderá rodar com gasolina. Se o teste fosse feito com a gasolina com 27% de anidro, o consumo com esse combustível seria maior”, afirma Campos.
Para exemplificar essa diferença, a entidade que representa os produtores de etanol de São Paulo – Unica – contratou o Instituto Mauá de Tecnologia para realizar testes, em campo, com automóveis usando etanol hidratado e gasolina vendida nos postos, com 27% de álcool anidro, para mostrar que os números de consumo divulgados pelo Inmetro não refletem a realidade em relação a esses dois combustíveis.
Foram utilizados 20 veículos: cinco unidades de quatro modelos diferentes (compactos 1.0 e 1.6, sedã médio e utilitário esportivo). Eles percorreram 27 km em trechos urbanos e 30 km em rodovias. Cada um desses circuitos foi repetido 15 vezes. Os trajetos foram definidos seguindo o padrão de testes e análises já realizados pelo Instituto Mauá em vias públicas.
Avaliado por meio de análise estatística, o desempenho médio do etanol comum em relação à gasolina comum, que contém 27% de etanol anidro, para os modelos de veículos testados variou de 70,7% a 75,4%. Como referência, os valores encontrados para os mesmos modelos de veículos pela norma do Inmetro foram, respectivamente, 66,7% a 72,1%.
Além disso, tal percentual também varia, principalmente com o perfil de direção do motorista e a tecnologia embarcada no veículo.
Como calcular o consumo?
Carros equipados com computador de bordo apontam o gasto de combustível em quilômetros por litro (km/l). Dessa forma é possível avaliar melhor quando usar álcool ou gasolina.
Em modelos importados, pode não ser tão simples. Eles às vezes apontam o consumo em litros consumidos a cada 100 km rodados (l/100 km). Neste caso, é necessário fazer uma conta rápida para calcular o consumo: dividir a distância pela quantidade de combustível gasto. Por exemplo: um automóvel que faz 12 l/100 km tem uma média de 8,3 km/l (100/12 = 8,3)
Mas e nos carros que não tem computador de bordo? Neste caso, vai dar um pouco mais de trabalho. Complete o tanque (até o desarme da bomba) e zere o hodômetro parcial (ou anote o número exato do hodômetro total).
Após rodar a distância que for conveniente, complete o tanque mais uma vez (novamente, até o desarme) e divida a quantidade de litros abastecido pela quilometragem. O ideal, para calcular o consumo com maior precisão, é que a operação seja feita por três vezes.
O cálculo do rendimento do carro é importante, pois o motorista poderá verificar também qual combustível é mais econômico em função do preço na bomba. Existe a convenção de que o etanol é mais econômico se custar até 70% do preço da gasolina ou 30% mais barato (baseado no teste do Inmetro).
Mas se levarmos em conta os atuais testes do Instituo Mauá, o motorista poderá verificar que o carro rende muito mais e então economizará usando etanol, mesmo se o percentual estiver acima de 70%, podendo chegar até 75%!
Veja, passo a passo, como fazer o cálculo para saber qual combustível é mais vantajoso:
1-) Divida o desempenho do etanol pelo desempenho da gasolina (se seu carro faz 7,3 km/litro com etanol e 10 km/l com gasolina, você deve dividir 7,3 por 10, que é igual a 0,73 ou 73%. Pronto, você achou o rendimento do carro com etanol).
2-) Faça agora o cálculo da relação do preço etanol/gasolina na bomba: divida o valor do etanol pelo do da gasolina (exemplo: se o litro do etanol custou R$ 2,74 e o da gasolina R$ 4,64, a relação, então, é de 0,59 ou 59%).
3-) A relação de preço acima (59%) dá uma enorme economia ao consumidor que optar por abastecer seu veículo com etanol. Se este cálculo resultar em 73%, por exemplo, o motorista também estará economizando ao optar pelo etanol.
Reportagem "Vem aí o Carro a Água e Álcool", 1976, Revista Manchete, Brasil
Reportagem "Vem aí o Carro a Água e Álcool", 1976, Revista Manchete, Brasil
Fotografia
Reportagem da Revista Manchete, publicada em 1976, que tratava de experiências com carros movidos a água e álcool. Na época buscavam alternativas a caríssima gasolina (viviámos a "crise do petróleo", naquele momento ainda não éramos auto-suficientes em produção de gasolina, hoje somos e o combustível continua caro, a preço de ouro).
Dois "veneninhos": O primeiro é que os usineiros e sua ganância sem fim tornaram o álcool igual a gasolina no que tange ao preço, pois "indexaram" o valor do mesmo ao da gasolina, deixando a diferença de preço em 30% (as vezes até menos), não tendo nenhuma vantagem econômica no que tange ao consumo. É irrelevante usar um ou outro no que tange a economia. E a segunda, é que atualmente grande parte dos postos de combustíveis do Brasil, com intenção bem diferente da dos pesquisadores da reportagem acima, "pratica" a mesma coisa, "batizando" criminosamente os combustíveis vendidos com água, solventes, entre outras porcarias...
Igreja Evangélica, Circa 1919, Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil
Igreja Evangélica, Circa 1919, Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil
Rio Grande - RS
Fotografia - Cartão Postal
Avenidas Marquês de Olinda e Rio Branco, Recife, Pernambuco, Brasil
Avenidas Marquês de Olinda e Rio Branco, Recife, Pernambuco, Brasil
Recife - PE
N. 27
Fotografia - Cartão Postal
Secretaria da Agricultura, São Paulo, Brasil
Secretaria da Agricultura, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Edição H. Hosenhain
Fotografia - Cartão Postal
Parque Antarctica, São Paulo, Brasil
Parque Antarctica, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Edição H. Hosenhain
Fotografia - Cartão Postal
"A influência da Antarctica no urbanismo de São Paulo"
Um gole de cerveja pode ter feito a diferença na maneira como a cidade de São Paulo está organizada hoje. Como demonstra a tese de mestrado do historiador e urbanista Diógenes Sousa, de 35 anos, pelo menos 11 equipamentos urbanos paulistanos foram criados pela antiga Companhia Antarctica Paulista entre fins do século 19 e início do século 20, e se tornaram polos importantes que desenharam a própria malha do município.
"Meu desafio foi entender a participação da companhia no processo de urbanização de São Paulo", resume Sousa, que faz palestra sobre o assunto na noite do próximo dia 18, no Instituto Bixiga, em São Paulo. Historiador formado pela Universidade Federal de São Paulo, Sousa debruçou-se sobre esse material para sua dissertação de mestrado, defendida na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Agora, ele se aprofunda no urbanismo em seu doutorado, em andamento na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.A Antarctica foi criada em 1885. Originalmente, era um abatedouro no bairro da Água Branca. Que também contava com uma fábrica de gelo. Em 1888, Louis Bucher, filho de cervejeiros alemães, entra no negócio e começa a fabricar cerveja de forma mais industrial - ele já tinha uma pequena fábrica anteriormente. Formalmente, a Companhia Antarctica Paulista é fundada em 1891.
"Entre os equipamentos urbanos criados pela Antarctica com o intuito da venda de suas bebidas estão o Parque Antarctica, o Cine Central, o Cassino Antarctica, o Theatro Polytheama, o Cine Bijou e o Bosque da Saúde. Os equipamentos voltados à educação e à saúde são o Hospital Santa Helena e o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a Escola Vocacional Antarctica e a Escola Técnica Antarctica, além da Fundação Helena Zerrenner", cita o historiador.
Ou seja: a empresa acabou influenciando o desenvolvimento urbano de São Paulo ao criar "estruturas-âncora", fosse para atender aos funcionários de sua fábrica e a comunidade do entorno - como familiares e imigrantes -, no caso de equipamentos de educação e saúde, fosse na criação de locais de entretenimento e lazer, justamente para alavancar o consumo da bebida na cidade então muito provinciana.
Foi nesse contexto que São Paulo ganhou, por exemplo, sua primeira sala de cinema. Trata-se do Bijou Theatre, que abriu suas portas em 1907, em um imóvel que ficava na então rua São João - rebatizada como avenida apenas na década seguinte. Conforme o historiador José Inacio de Melo Souza relata no livro Salas de cinema e história urbana de São Paulo (1895-1930), o empreendimento era dos exibidores Francisco Serrador e Antonio Gadotti, mas ficava em um terreno de propriedade da Companhia Antarctica - arrendado para este fim.
O Bijou não foi o local da primeira exibição da sétima arte em São Paulo, mas antes dele os filminhos eram passados em espaços improvisados e, muitas vezes, itinerantes. Ele representa, portanto, um marco: foi o primeiro local fixo como cinema, o início do cinema como negócio na cidade.
Conforme o jornal O Estado de S. Paulo registrou em novembro de 1907, o galpão do Bijou, antes um teatro, foi "completa e luxuosamente remodelado" para a inauguração do cinema. A imprensa da época dizia que o ponto rapidamente se tornaria frequência obrigatória do "mundo smart" - sim, assim eram chamados os descolados e antenados da época.
O Bijou tinha sessões durante a semana às 18h30. Aos domingos, os filmes eram exibidos às 13h30 e às 19h30. Eram curtos, de pouco mais de 10 minutos, e cada sessão incluía, em média, cinco filmes. Mudos, tinham o acompanhamento de um sexteto. Dois terços da produção era europeia e o restante vinha dos Estados Unidos. Entre os títulos que estrearam ali estão 'A Dama das Camélias', 'O Fim do Mundo', 'Macbeth' e 'Sevilha'.
No estabelecimento da rua São João havia também um botequim sofisticado para a época. Ponto, portanto, para as vendas da cervejaria. E aqui cabe uma curiosidade: Serrador, o empresário que tocava o negócio, era desses visionários. Atribui-se a ele não só a primazia de ter transformado a sétima arte em algo sério na cidade, mas também à popularização do cachorro-quente no Brasil, porque ele importou a ideia dos Estados Unidos e passou a oferecer o lanche aos frequentadores de seu espaço.
Certamente, o empreendimento que mais alavancou o desenvolvimento urbano de São Paulo foi um imenso parque construído para o lazer na então pouquíssimo adensada região da Água Branca, na zona oeste da cidade. O Parque Antarctica, com seus 300 mil metros quadrados, era um espaço de entretenimento aberto ao público.
Em seu livro Anarquistas, Graças a Deus, a escritora e memorialista Zélia Gattai (1916-2008) conta que, quando criança, frequentava o local com sua família. E ela dá uma saborosa descrição de como era o parque. "Grande programa, o maior, o melhor de todos para mim - a ida ao Parque Antarctica, na Água Branca", relata ela, no livro. "Ai, que frio no estômago ao subir na roda gigante! E o carrossel? Era por acaso pouco emocionante galar nos coloridos cavalos de pau? Chegava a sentir vertigem daquele sobe-e-desce dos cavalinho rodando, rodando... Havia um hábito intolerável dos adultos: plantavam-se de pé, cada qual ao lado de uma criança. Eu detestava esta proteção, preferia andar solta, galopar em liberdade."
Ela prossegue se lembrando de trenzinhos "puxados a burro, circulando pelo parque todo", "carrocinhas arrastadas por bodes e carneiros" e "pirulitos de todos os formatos e cores". "As bolas de ar, subindo lá no céu, presos por um barbante? O algodão de açúcar? As gasosas e os sanduíches? O Parque era divino!"
Sim, as gasosas. No relato da escritora está uma das motivações da empresa para criar o local: a venda de refrigerantes. A outra era o consumo de cerveja, é claro, por parte dos adultos.
O Parque Antarctica já contava com um campo de futebol. E o local entrou para a história também por conta disso. Em 3 de maio de 1902, nesse campo o time do Mackenzie venceu o Germânia (atual Esporte Clube Pinheiros) por 2 a 1. A partida, válida pelo Campeonato Paulista, foi o primeiro jogo de futebol válido por competição oficial do Brasil. Por falar em futebol, até recentemente, Parque Antarctica era um dos nomes mais comuns utilizados pela população para se referir ao estádio da Sociedade Esportiva Palmeiras. Trata-se exatamente do mesmo local.
Em 1917, o então clube Palestra Itália passou a utilizar o campo da Companhia Antarctica para mandar seus jogos, alugando o espaço. Três anos depois, a agremiação esportiva comprou o terreno. Em 1933, ali, seria erguido um novo estádio, o Palestra Itália. Mas o apelido - Parque Antarctica - resistiu ao tempo. O estádio seria demolido em 2011, dando lugar ao moderno Allianz Parque, onde o Palmeiras manda seus jogos atualmente, no mesmo endereço.
"É interessante notar esse percurso", aponta Sousa. "O Parque Antarctica foi criado pela companhia primeiro para usufruto de seus funcionários, do pessoal da fábrica. Depois, a fábrica amplia esses acesso, abre para a população em geral. A essa altura, a região já se urbanizava em torno do parque, porque havia uma ânsia por espaços de entretenimento na cidade."
Outro aspecto interessante da pesquisa de Sousa são os anúncios antigos dos produtos da cervejaria. Ao contrário de hoje em dia, quando mulheres seminuas são utilizadas para turbinar as vendas, era comum que o discurso apelasse para supostas propriedades medicinais da bebida. Não raras vezes, a ilustração trazia crianças oferecendo a cerveja.
"Também havia a crença de que a cerveja preta, por exemplo, ajudasse mulheres lactantes a produzirem mais leite, ou um leite dito 'mais forte'", lembra o historiador. Em conversas com antigos funcionários da companhia, ele apurou que quando a mulher de um operário ficava grávida, era comum que este ganhasse uma caixa de cerveja escura como homenagem. "E quando a criança nascia, o presente era uma caixa de refrigerante", diz ele. Impensável nos tempos de hoje, quando o consumo de refrigerantes por crianças pequenas é visto com péssimos olhos.
Em suas pesquisas, Sousa encontrou um paralelo na cidade de Quilmes, na região de Buenos Aires. Lá, a cervejaria homônima também criou um complexo para atender aos funcionários e, na sequência, à comunidade - com igreja, escola e espaços de lazer.
Os equipamentos construídos pela Antarctica em São Paulo, como aponta o historiador e urbanista, mostram que a interferência da iniciativa privada dentro de uma questão pública, no caso o planejamento urbano, já era presente em São Paulo desde o fim do século 19. "Devo abordar este tema com mais profundidade em meu doutorado", adianta o pesquisador. "Mas ressalto que outras empresas adotaram o mesmo modus operandi. É o caso da Vila Maria Zélia, fruto da Companhia Nacional de Tecidos de Juta, de Jorge Street, um exemplo que me vem à mente."
"Penso que os equipamentos urbanos criados pela Antarctica respondiam a uma lógica de oferta e demanda", analisa. "A fábrica tinha a necessidade de popularizar seus produtos e acabou aproveitando o fato de uma cidade que estava passando por uma processo que ficou conhecido como 'segunda formação', tamanhas foram as transformações urbanísticas do período", prossegue Sousa. "Minha pesquisa não tem um cunho propagandístico nem tampouco de história institucional. Trata-se de um objeto de estudo que, ao fim e ao cabo, acabou por construir equipamentos urbanos que fizeram parte do cotidiano paulistano desde a passagem do século 19 para o 20."
O historiador não acredita, entretanto, que tais intervenções corriam à revelia. O município passava por processos de produção de seus códigos regras urbanas e, como tal, começava a regular tais interferências. "Em minha opinião, aliás, a responsabilidade do planejamento urbano deveria ser da iniciativa pública", diz Sousa. Texto de Edison veiga / BBC.
Nota do blog: Data não obtida.
Um gole de cerveja pode ter feito a diferença na maneira como a cidade de São Paulo está organizada hoje. Como demonstra a tese de mestrado do historiador e urbanista Diógenes Sousa, de 35 anos, pelo menos 11 equipamentos urbanos paulistanos foram criados pela antiga Companhia Antarctica Paulista entre fins do século 19 e início do século 20, e se tornaram polos importantes que desenharam a própria malha do município.
"Meu desafio foi entender a participação da companhia no processo de urbanização de São Paulo", resume Sousa, que faz palestra sobre o assunto na noite do próximo dia 18, no Instituto Bixiga, em São Paulo. Historiador formado pela Universidade Federal de São Paulo, Sousa debruçou-se sobre esse material para sua dissertação de mestrado, defendida na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Agora, ele se aprofunda no urbanismo em seu doutorado, em andamento na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.A Antarctica foi criada em 1885. Originalmente, era um abatedouro no bairro da Água Branca. Que também contava com uma fábrica de gelo. Em 1888, Louis Bucher, filho de cervejeiros alemães, entra no negócio e começa a fabricar cerveja de forma mais industrial - ele já tinha uma pequena fábrica anteriormente. Formalmente, a Companhia Antarctica Paulista é fundada em 1891.
"Entre os equipamentos urbanos criados pela Antarctica com o intuito da venda de suas bebidas estão o Parque Antarctica, o Cine Central, o Cassino Antarctica, o Theatro Polytheama, o Cine Bijou e o Bosque da Saúde. Os equipamentos voltados à educação e à saúde são o Hospital Santa Helena e o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a Escola Vocacional Antarctica e a Escola Técnica Antarctica, além da Fundação Helena Zerrenner", cita o historiador.
Ou seja: a empresa acabou influenciando o desenvolvimento urbano de São Paulo ao criar "estruturas-âncora", fosse para atender aos funcionários de sua fábrica e a comunidade do entorno - como familiares e imigrantes -, no caso de equipamentos de educação e saúde, fosse na criação de locais de entretenimento e lazer, justamente para alavancar o consumo da bebida na cidade então muito provinciana.
Foi nesse contexto que São Paulo ganhou, por exemplo, sua primeira sala de cinema. Trata-se do Bijou Theatre, que abriu suas portas em 1907, em um imóvel que ficava na então rua São João - rebatizada como avenida apenas na década seguinte. Conforme o historiador José Inacio de Melo Souza relata no livro Salas de cinema e história urbana de São Paulo (1895-1930), o empreendimento era dos exibidores Francisco Serrador e Antonio Gadotti, mas ficava em um terreno de propriedade da Companhia Antarctica - arrendado para este fim.
O Bijou não foi o local da primeira exibição da sétima arte em São Paulo, mas antes dele os filminhos eram passados em espaços improvisados e, muitas vezes, itinerantes. Ele representa, portanto, um marco: foi o primeiro local fixo como cinema, o início do cinema como negócio na cidade.
Conforme o jornal O Estado de S. Paulo registrou em novembro de 1907, o galpão do Bijou, antes um teatro, foi "completa e luxuosamente remodelado" para a inauguração do cinema. A imprensa da época dizia que o ponto rapidamente se tornaria frequência obrigatória do "mundo smart" - sim, assim eram chamados os descolados e antenados da época.
O Bijou tinha sessões durante a semana às 18h30. Aos domingos, os filmes eram exibidos às 13h30 e às 19h30. Eram curtos, de pouco mais de 10 minutos, e cada sessão incluía, em média, cinco filmes. Mudos, tinham o acompanhamento de um sexteto. Dois terços da produção era europeia e o restante vinha dos Estados Unidos. Entre os títulos que estrearam ali estão 'A Dama das Camélias', 'O Fim do Mundo', 'Macbeth' e 'Sevilha'.
No estabelecimento da rua São João havia também um botequim sofisticado para a época. Ponto, portanto, para as vendas da cervejaria. E aqui cabe uma curiosidade: Serrador, o empresário que tocava o negócio, era desses visionários. Atribui-se a ele não só a primazia de ter transformado a sétima arte em algo sério na cidade, mas também à popularização do cachorro-quente no Brasil, porque ele importou a ideia dos Estados Unidos e passou a oferecer o lanche aos frequentadores de seu espaço.
Certamente, o empreendimento que mais alavancou o desenvolvimento urbano de São Paulo foi um imenso parque construído para o lazer na então pouquíssimo adensada região da Água Branca, na zona oeste da cidade. O Parque Antarctica, com seus 300 mil metros quadrados, era um espaço de entretenimento aberto ao público.
Em seu livro Anarquistas, Graças a Deus, a escritora e memorialista Zélia Gattai (1916-2008) conta que, quando criança, frequentava o local com sua família. E ela dá uma saborosa descrição de como era o parque. "Grande programa, o maior, o melhor de todos para mim - a ida ao Parque Antarctica, na Água Branca", relata ela, no livro. "Ai, que frio no estômago ao subir na roda gigante! E o carrossel? Era por acaso pouco emocionante galar nos coloridos cavalos de pau? Chegava a sentir vertigem daquele sobe-e-desce dos cavalinho rodando, rodando... Havia um hábito intolerável dos adultos: plantavam-se de pé, cada qual ao lado de uma criança. Eu detestava esta proteção, preferia andar solta, galopar em liberdade."
Ela prossegue se lembrando de trenzinhos "puxados a burro, circulando pelo parque todo", "carrocinhas arrastadas por bodes e carneiros" e "pirulitos de todos os formatos e cores". "As bolas de ar, subindo lá no céu, presos por um barbante? O algodão de açúcar? As gasosas e os sanduíches? O Parque era divino!"
Sim, as gasosas. No relato da escritora está uma das motivações da empresa para criar o local: a venda de refrigerantes. A outra era o consumo de cerveja, é claro, por parte dos adultos.
O Parque Antarctica já contava com um campo de futebol. E o local entrou para a história também por conta disso. Em 3 de maio de 1902, nesse campo o time do Mackenzie venceu o Germânia (atual Esporte Clube Pinheiros) por 2 a 1. A partida, válida pelo Campeonato Paulista, foi o primeiro jogo de futebol válido por competição oficial do Brasil. Por falar em futebol, até recentemente, Parque Antarctica era um dos nomes mais comuns utilizados pela população para se referir ao estádio da Sociedade Esportiva Palmeiras. Trata-se exatamente do mesmo local.
Em 1917, o então clube Palestra Itália passou a utilizar o campo da Companhia Antarctica para mandar seus jogos, alugando o espaço. Três anos depois, a agremiação esportiva comprou o terreno. Em 1933, ali, seria erguido um novo estádio, o Palestra Itália. Mas o apelido - Parque Antarctica - resistiu ao tempo. O estádio seria demolido em 2011, dando lugar ao moderno Allianz Parque, onde o Palmeiras manda seus jogos atualmente, no mesmo endereço.
"É interessante notar esse percurso", aponta Sousa. "O Parque Antarctica foi criado pela companhia primeiro para usufruto de seus funcionários, do pessoal da fábrica. Depois, a fábrica amplia esses acesso, abre para a população em geral. A essa altura, a região já se urbanizava em torno do parque, porque havia uma ânsia por espaços de entretenimento na cidade."
Outro aspecto interessante da pesquisa de Sousa são os anúncios antigos dos produtos da cervejaria. Ao contrário de hoje em dia, quando mulheres seminuas são utilizadas para turbinar as vendas, era comum que o discurso apelasse para supostas propriedades medicinais da bebida. Não raras vezes, a ilustração trazia crianças oferecendo a cerveja.
"Também havia a crença de que a cerveja preta, por exemplo, ajudasse mulheres lactantes a produzirem mais leite, ou um leite dito 'mais forte'", lembra o historiador. Em conversas com antigos funcionários da companhia, ele apurou que quando a mulher de um operário ficava grávida, era comum que este ganhasse uma caixa de cerveja escura como homenagem. "E quando a criança nascia, o presente era uma caixa de refrigerante", diz ele. Impensável nos tempos de hoje, quando o consumo de refrigerantes por crianças pequenas é visto com péssimos olhos.
Em suas pesquisas, Sousa encontrou um paralelo na cidade de Quilmes, na região de Buenos Aires. Lá, a cervejaria homônima também criou um complexo para atender aos funcionários e, na sequência, à comunidade - com igreja, escola e espaços de lazer.
Os equipamentos construídos pela Antarctica em São Paulo, como aponta o historiador e urbanista, mostram que a interferência da iniciativa privada dentro de uma questão pública, no caso o planejamento urbano, já era presente em São Paulo desde o fim do século 19. "Devo abordar este tema com mais profundidade em meu doutorado", adianta o pesquisador. "Mas ressalto que outras empresas adotaram o mesmo modus operandi. É o caso da Vila Maria Zélia, fruto da Companhia Nacional de Tecidos de Juta, de Jorge Street, um exemplo que me vem à mente."
"Penso que os equipamentos urbanos criados pela Antarctica respondiam a uma lógica de oferta e demanda", analisa. "A fábrica tinha a necessidade de popularizar seus produtos e acabou aproveitando o fato de uma cidade que estava passando por uma processo que ficou conhecido como 'segunda formação', tamanhas foram as transformações urbanísticas do período", prossegue Sousa. "Minha pesquisa não tem um cunho propagandístico nem tampouco de história institucional. Trata-se de um objeto de estudo que, ao fim e ao cabo, acabou por construir equipamentos urbanos que fizeram parte do cotidiano paulistano desde a passagem do século 19 para o 20."
O historiador não acredita, entretanto, que tais intervenções corriam à revelia. O município passava por processos de produção de seus códigos regras urbanas e, como tal, começava a regular tais interferências. "Em minha opinião, aliás, a responsabilidade do planejamento urbano deveria ser da iniciativa pública", diz Sousa. Texto de Edison veiga / BBC.
Nota do blog: Data não obtida.
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