quarta-feira, 25 de maio de 2022

Companhia de Jesus - Artigo

 



Companhia de Jesus - Artigo
Artigo


O papa Paulo III conferiu a existência canônica da Companhia de Jesus ao assinar, em 27 de setembro de 1540, a Bula Regimini Militantis ecclesiae, concretizando o projeto do espanhol Inácio de Loyola e de seus dez companheiros de fundar uma nova ordem religiosa. O impacto causado pelas devastadoras críticas luteranas à Igreja católica romana direcionou o projeto de reforma da Igreja e dos seus quadros. A partir de 1540, muitas das instituições do mundo católico, como as confrarias, as ordens religiosas, as faculdades teológicas das universidades, os cabidos da catedral, e outros corpos sociais já se mobilizavam em torno da idéia de reforma da Igreja. Os inimigos da ortodoxia católica não eram poucos:, alumbrados, conversos, erasmianos e protestantes. Todo esse quadro acabou conduzindo à abertura do Concílio de Trento, em 1545, pretendendo estender a Contra-reforma por todo mundo católico uma vez cindida a fé no centro e norte da Europa.
Inácio de Loyola era um soldado que havia recebido a rara educação cavalheiresca e acadêmica correspondente à sua classe social, contudo, teve sua carreira militar interrompida após ser ferido na batalha de Pamplona. Sua convalescência foi passada na abadia beneditina de Montserrat, na região catalã, selando assim o sentido de sua vocação surgida no cotidiano deste mosteiro já reformado e a leitura de obras de devoção que divulgavam as novas práticas da espiritualidade monástica, como a Imitação de Cristo de Thomas Kempis. A espiritualidade preconizada pela Devotio moderna, caracterizada por uma devoção mais pessoal, inspirou Inácio a escrever, em 1523, sua obra central, os Exercícios Espirituais para vencer a si mesmo ordenar a própria vida sem se determinar por nenhuma afeição desordenada, que foram publicados, na sua forma final, em 1548.
A Companhia de Jesus tinha como meta principal a defesa e propagação da fé visando o progresso das almas na vida e na doutrina cristãs. Na documentação jesuítica, sobretudo, na Fórmula, carta fundamental da ordem que foi redigida em 1550 e nas Constituições, impressas em sua versão latina, em 1559, os membros da Companhia foram autodefinidos como professores da cristandade (Christinitas or Christianismum), das crenças e das práticas fundamentais da religião católica. A Fórmula descreveu o membro da Companhia “como um soldado de Deus sob a bandeira da cruz” – militare Deo sub vexillo crucis. Militare Deo era um sinômino medieval para designar um membro de uma ordem religiosa; tal imagem era uma herança comum do mundo da religião católica da Europa, como já indicava o título Manual do soldado cristão, de Erasmo de Rotterdam.
A trajetória de conversão de Inácio de Loyola ajudou a construir a idéia central que nortearia, inicialmente, o modo de ser do jesuíta: seus membros deveriam estar preparados para passar parte de suas vidas em missões como pregadores itinerantes, vivendo de ofertas voluntárias e estabelecer algumas residências permanentes sustentadas por esmolas, denominadas casas professas. A Companhia consolidou uma das estratégias pastorais que caracterizaram o catolicismo do início do período moderno, que foi a chamada missão a aldeias e vilas que no século XVII foi estendida para incluir cidades e dioceses inteiras.
Os jesuítas eram por definição uma ordem de clérigos regulares, pronunciavam os três votos de obediência, castidade e pobreza, que eram vividos numa comunidade. Contudo, outra cláusula determinava que eles tinham que pronunciar um voto especial a Deus, o denominado o Quarto Voto dos jesuítas, que os obrigava a realizarem missões em qualquer lugar do mundo quando fossem designados pelo papa, sendo em essência um voto de mobilidade, um compromisso de viajar pelo mundo levando a fé católica, diferente do “voto de estabilidade que tornava um homem num monge, que prometia viver toda a sua vida no mosteiro, onde buscaria sua santificação”, assim, esse voto quebrava séculos de tradição monástica,diferenciando-os dos monges e dos mendicantes da Idade Média.
A bula Regimini determinou que os jesuítas eram isentos da jurisdição dos bispos e outra diferença os distinguia dos padres diocesanos e também das antigas ordens monásticas era os objetivos da Companhia expressos na Fórmula do Instituto, em sua versão de 1550, que determinou a realização de pregação pública, leituras e quaisquer outros ministérios por meio dos Exercícios Espirituais, a educação das crianças e das pessoas analfabetas no cristianismo, a consolação por meio de confissões e administração de outros sacramentos, assistir os prisioneiros e os doentes nos hospitais, e atuando em qualquer outro trabalho de caridade correspondente. Contrariamente a outras ordens religiosas, ficou estabelecido que a Companhia de Jesus não obrigaria seus membros a recitar ou cantar em conjunto as horas litúrgicas assim como ter penitências obrigatórias ou jejuns.
Quando a Companhia de Jesus foi fundada todos os seus dez primeiros membros tinham sido ordenados. Quando Inácio faleceu, do total de mil jesuítas, apenas 48 eram ordenados. A Companhia era formada pelos membros que estavam aguardando a ordenação, denominados escolásticos e pelos coadjutores temporais que nunca seriam ordenados. Os escolásticos faziam pregações, dirigiam as pessoas nos Exercícios espirituais e eram atuantes na catequese e realizando as obras de misericórdia e ocupavam-se com o ensino dos colégios e os coadjutores ensinavam catecismo, visitavam prisões e hospitais. A grande maioria dos jesuítas não era ordenada, que estavam autorizados, por diversos documentos papais, a pregar e realizar vários ministérios, exceto ouvir confissões e distribuir comunhão.
Desde o século XV que existiam nas cidades italianas escolas de doutrina cristã, onde eram ensinadas apenas aulas de catecismos, aos domingos e em dias de festas, ministradas por leigos. No século XVI, com a Reforma protestante, o ensino dos princípios básicos da doutrina cristã, que era antes apenas preocupação de poucos indivíduos e dos círculos da elite se expandiu para atingir maiores parcelas da sociedade, integrando a guerra contra a ignorância e a superstição que ambos, protestantes e católicos, combatiam implacavelmente.
Na primeira década de sua história os jesuítas não tinham escolas. Em 1548, a abertura do colégio de Messina, estabeleceu um marco cronológico e cultural na história da Companhia. Foi para a fundação dos colégios que a Companhia recebeu recursos da Santa Sé, de reis e de outros grandes doadores, e assim acabou construindo um imenso patrimônio, formados por colégios, residências e igrejas. Como ressaltou Serafim Leite, “pertence à noção mesmo de colégio a característica de autonomia econômica para poder subsistir por si mesmo". Os jesuítas fizeram sua entrada em Portugal sob o reinado do rei D. João III, que forneceu apoio e recursos para a instalação da Companhia de Jesus, guiado pelo desejo de propagar a fé cristã nos novos territórios da Coroa, da América até a Índia. A chegada dos jesuítas se fez sob o signo da missão ultramarina, graça à amizade nutrida pelos primeiros jesuítas em Paris com um português, Diogo de Gouveia (1471-1557), o Velho, assim nomeado para distinguí-lo de seu sobrinho, diretor do Colégio de Santa Bárbara, onde haviam residido Inácio de Loyola, Pierre Favre e Francisco Xavier. Foi estabelecida em 1546 a Província de Portugal, a primeira província no mundo da Companhia de Jesus, tendo como seu provincial Simão Rodrigues, tutor do filho de D. João III, e dando início ao programa de missionação, designando Francisco Xavier para ir à Índia.
A Companhia de Jesus chegou ao Brasil em 1549, quando os primeiros jesuítas liderados por Manuel de Nóbrega integraram a comitiva de Tomá de Souza, primeiro governador geral. À Companhia coube a conversão dos indígenas á fe católica e a instalação de colégios em diversas regiões que se tornaram os principais núcleos de formação cultural da colônia. Ao longo da colonização, obtiveram sucessivos privilégios para o desenvolvimento das atividades missionária e pedagógica, além de receberem doações que fizeram a Companhia ser detentora de um vasto patrimônio composto por sesmarias, propriedades urbanas, fazendas de gado, engenhos de açucar e escravos africanos.
No Brasil, como afirma Paulo Assunção, os jesuítas demonstraram em muitos momentos uma hábil administração dos negócios, controlando e gerenciando uma estrutura diversificada que incluía o cultivo de terras, os canaviais, o controle dos trabalhadores assalariados e da mão-de-obra escrava, a compra de materiais para equipar as propriedades e os escoamentos da produção.
Em Portugal, a consecução da política pombalina de fortalecimento do Estado luso, implicava na afirmação do poder do rei diante da alta aristocracia e da Igreja, vistos como poderes concorrentes ao da Coroa. O atentado fracassado à D. José I, ocorrido em 1758, deu a Pombal a oportunidade política para declarar com firmeza o regalismo do governo josefino. A Companhia de Jesus também foi acusada de envolvimento no regicídio fracassado e no ano de 1759, foi expulsa de Portugal e de todo o império ultramarino tendo todos os seus bens confiscados. Medida que foi seguida pela França, em 1764, e pela Espanha, em 1767, conduzindo à extinção da Companhia, em 1773 pelo papa Clemnete XIV. Quando a Companhia foi suprimida, estavam operando mais do que 800 estabelecimentos principalmente na Europa latina e América latina, entre universidades, seminários e colégios espalhados pelo mundo. A Companhia de Jesus seria restaurada em 1814, pelo papa Pio VII, com a Bula Solicitudo omnium ecclesiarum , quando reassumiram a tarefa de administrar instituições educacionais.

Quartel do Terceiro Batalhão de Caçadores / Atual Polícia Militar, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil



 

Quartel do Terceiro Batalhão de Caçadores / Atual Polícia Militar, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia


O Quartel ficava na Rua General Osório, em frente à Praça Carlos Gomes, até o início da década de 60. Depois mudou para a Rua São Sebastião, esquina com a Rua Sete de Setembro. Posteriormente, mudou novamente, agora para a Avenida Paschoal Innecchi, onde se encontra atualmente.

Chevrolet Opala Diplomata SE 1988, Brasil

 





















Chevrolet Opala Diplomata SE 1988, Brasil
Fotografia

Nota do blog: Azul Atlantis.

Bonde de Transporte de Carne, Matadouro Municipal da Vila Clementino, 1906, São Paulo, Brasil


 

Bonde de Transporte de Carne, Matadouro Municipal da Vila Clementino, 1906, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia


Na época a carne era transportada em bondes abertos, não haviam condições de armazenamento adequadas para conservar e refrigerar as carnes. Devido a isso o consumo tinha que ser no dia, se não o fosse tinha que se conservar o produto no sal, na gordura ou proceder secagem no sol.
A precariedade sanitária da época motivou um ditado, propagado especialmente pelos imigrantes italianos, que dizia o seguinte: "Se quiserem vida longa, comam pão de ontem, carne de hoje e vinho do outro verão".
Quanto ao prédio, felizmente foi preservado, ainda que com algumas modificações. Atualmente funciona a Cinemateca Brasileira no local.

terça-feira, 24 de maio de 2022

Vista do Parque do Anhangabaú, Anos 20, São Paulo, Brasil


 



Vista do Parque do Anhangabaú, Anos 20, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia


Na imagem vemos os famosos "Palacetes Prates". O primeiro dos palacetes, para quem vinha da Avenida São João em direção ao Viaduto do Chá, funcionou até o ano de 1951 como a sede da Prefeitura Municipal de São Paulo e posteriormente da Câmara Municipal.
O segundo palacete, na esquina da rua Líbero Badaró com o Viaduto do Chá, foi sede do Automóvel Club de São Paulo. O terceiro palacete, já do outro lado do viaduto, deu lugar ao Grand Hôtel de la Rotisserie Sportsman, sendo posteriormente utilizado como sede do jornal Diário da Noite.
Já o prédio visto à direita da imagem, destoando dos palacetes, era a gráfica dos irmãos Weiszflog.



Propaganda "Envemo, Especializada em Transformações GM", 1985, Envemo, Brasil


 

Propaganda "Envemo, Especializada em Transformações GM", 1985, Envemo, Brasil
Propaganda

Avenida Eduardo / Avenida Presidente Franklin Roosevelt, Década de 1930, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil


 

Avenida Eduardo / Avenida Presidente Franklin Roosevelt, Década de 1930, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Porto Alegre - RS
Fotografia - Cartão Postal


A Avenida Presidente Franklin Roosevelt estende-se pelos bairros Navegantes e São Geraldo. Principia na Avenida Sertório e acaba na Avenida Farrapos. Aberta por volta de 1890, até 1945 era oficialmente chamada de Avenida Eduardo, em homenagem a Eduardo de Azevedo e Souza Filho, proprietário de boa parte das terras da região, na virada para o século XX. A Cia. Territorial Porto-Alegrense, da qual era sócio, implantou o grande loteamento da região em 1895. A antiga Avenida Eduardo, ao longo da primeira metade do século XX, foi o boulevard do Quarto Distrito. Um intenso e vivo comércio já pulsou forte naquela artéria. Em 1913 contava com uma sala de cinema, a Força e Luz, signo da modernidade que se derramava sobre o arrabalde industrial, ultrapassando já naquela época, as áreas mais centrais. Pela Avenida Eduardo circulava a linha de bonde São João. A bela sede do Clube Gondoleiros, que até hoje ocupa a esquina com a Rua São Paulo foi, durante muito tempo, um dos principais espaços de sociabilidade dos habitantes da região. Seus carnavais de rua também são referências fortes na memória da cidade. Em 1945, a Avenida teve seu nome trocado para Presidente Franklin Roosevelt, em homenagem ao presidente norte-americano, um reflexo em nível local da política de aproximação com os EUA, no pós-guerra, implementada pelo ditador Getúlio Vargas. Mas a cidade mudou muito ao longo de mais de um século de vida dessa Avenida, que um dia foi moderna. As famílias operárias foram empurradas para mais ao norte ou para a zona metropolitana. As fábricas, que faziam a riqueza e ditavam o ritmo, os sons e a paisagem, tornaram-se ruínas.

Vista da Praça do Patriarca, São Paulo, Brasil


 

Vista da Praça do Patriarca, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia

Na imagem vemos a construção do Edifício Lutétia na Praça do Patriarca, segunda metade da década de 20. Em destaque a Casa Fretin e o Mappin. Foto tirada a partir do Viaduto do Chá.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

10 Perguntas Sobre Nossa Senhora Aparecida que Continuam Sem Respostas Definitivas - Artigo





 10 Perguntas Sobre Nossa Senhora Aparecida que Continuam Sem Respostas Definitivas - Artigo
Artigo


Ela é feita de barro, tem 36 centímetros de altura e pesa 2,50 kg. Mas, não se engane: essa frágil estátua de Nossa Senhora da Conceição Aparecida tem uma força excepcional. Todos os anos, ela recebe uma média de 12 milhões de visitantes em sua casa, o maior santuário mariano do mundo, a 180 quilômetros de São Paulo (SP). Só nesta quinta-feira, o dia em que se comemoram os 300 anos de sua "aparição" no rio Paraíba do Sul por três pescadores, são esperados 200 mil peregrinos.
"Aparecida conquistou o Brasil antes mesmo de existir em nosso país um hino (1822) ou uma bandeira nacional (1889). A santinha foi o primeiro símbolo realmente brasileiro e de alcance nacional", afirma o jornalista Rodrigo Alvarez, autor de Milagres - Histórias Reais sobre Acontecimentos Extraordinários Atribuídos à Intervenção de Nossa Senhora Aparecida (Record), o segundo volume dedicado à padroeira do Brasil.
Se a capela original, inaugurada em 1745, tinha 32 palmos de largura por 76 de comprimento (cerca de sete metros por 16), a basílica hoje ocupa uma área de 72 mil m². É no interior dela que está a principal atração do santuário: a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, com seu manto azul e sua coroa de ouro --esta, doada pela princesa Isabel, em 1884.
Um dos pontos mais visitados do santuário é a sala das promessas. Lá, romeiros do Brasil inteiro podem deixar fotos e objetos em retribuição a graças alcançadas. Todos os meses, cerca de 18,5 mil itens são doados --de vestido de noiva a foto de miss, passando por caixote de engraxate, placa de carro, luva de boxe e máquina de costura.
Mas, nem só de milagre e devoção é feita a história de Aparecida. O capítulo mais triste foi escrito no dia 16 de maio de 1978, quando Rogério Marcos de Oliveira, de 19 anos, tirou proveito de uma repentina queda de luz para tentar roubar a imagem. O sujeito correu até o nicho, bateu com força no vidro e, depois de quebrá-lo, fugiu em disparada. Perseguido pelos fiéis, deixou a imagem cair no chão.
Na mesma hora, Rogério foi mandado para a prisão e a Aparecida, para o Museu de Arte de São Paulo (Masp). "Mais do que restaurar a imagem, tive que reconstituí-la", conta a artista plástica Maria Helena Chartuni, de 75 anos, que ajudou a dar um final feliz à história que já dura 300 anos.
Uma história com vários detalhes interessantes e enigmas que ainda estão sendo esclarecidos, ou para os quais especialistas têm explicações diferentes. Veja só:
1. Quem batizou a santa encontrada no rio Paraíba do Sul de Aparecida?
Não houve um "batismo" oficial. "De tanto o povo falar em aparecida daqui, aparecida dali, o termo ganhou inicial maiúscula e virou nome próprio", explica o jornalista Ricardo Marques, autor de Nossa Senhora Aparecida - 300 Anos de Milagres (Record). A propósito, não foi a cidade que cedeu o nome para a santa, a exemplo do que aconteceu em Fátima, Lourdes ou Guadalupe, e, sim, a santa que, no dia 17 de dezembro de 1928, emprestou seu nome para a cidade.
2. Como ela foi parar no rio?
Há pelo menos duas hipóteses. A mais provável é que, depois de quebrada, algum fiel tenha se desfeito dela --jogando-a no rio-- para evitar mau agouro. "Manter defunto de barro dentro de casa era certeza de maldição", esclarece o jornalista Rodrigo Alvarez, de Aparecida - A Biografia da Santa que Perdeu a Cabeça, Ficou Negra, Foi Roubada, Cobiçada pelos Políticos e Conquistou o Brasil (Globo).
Outra hipótese, menos difundida, sustenta que a escultura, exposta numa capela de Roseira, município vizinho de Aparecida, teria sido arrastada durante uma enchente até o Paraíba do Sul.
3. Quanto tempo a imagem teria permanecido no fundo do Paraíba do Sul?
Difícil saber. Segundo estimativa de Rodrigo Alvarez, "não mais do que cinco anos". Na opinião do jornalista, a imagem pertencia à capela Nossa Senhora do Rosário, de propriedade do capitão José Correia Leite. Muito devoto, Correia Leite teria inaugurado a capela em 1712, cinco anos antes de a imagem ter sido resgatada pelos pescadores nas águas do rio. Já pelos cálculos do padre José Inácio de Medeiros, superior provincial dos padres redentoristas de São Paulo, a santa não ficou cinco anos no leito do rio, mas 50.
"Se a imagem foi esculpida na segunda metade do século 17 e encontrada no início do século 18, calculo que tenha permanecido entre 50 e 70 anos nas águas do Paraíba do Sul", analisa.
4. Quem esculpiu a imagem da santa?
Até pouco tempo atrás, a autoria da imagem era desconhecida. Hoje, acredita-se que tenha sido moldada pelo frei carioca Agostinho de Jesus. "Era discípulo do mais respeitado artesão da época, o português Agostinho da Piedade", elucida a historiadora Tereza Galvão Pasin, autora de Senhora Aparecida - Romeiros e Missionários Redentoristas na História da Padroeira do Brasil (Santuário).
Pelas características da obra, chegou-se a cogitar que a imagem tenha sido esculpida pelo santeiro português. Mas, já no século 20, essa hipótese foi descartada depois de concluírem que Aparecida fora moldada com barro paulista. "A argila usada era proveniente da cidade de Salesópolis, região onde nasce o Paraíba do Sul", explica Padre José Inácio.
5. Os pescadores que encontraram a imagem da santa eram, na verdade, escravos?
É bem provável. A Câmara de Guaratinguetá tinha prometido uma recompensa para quem conseguisse pescar a maior quantidade possível de peixes. A ideia era oferecer um banquete à comitiva de dom Pedro Miguel de Almeida Portugal, que estava prestes a assumir o cargo de governador da capitania de São Paulo e das Minas de Ouro. O futuro conde de Assumar passaria pelo vilarejo de Santo Antônio de Guaratinguetá no dia seguinte, 17 de outubro de 1717, a caminho de Minas Gerais.
Muitos barcos, inclusive o de João Alves, Domingos Garcia e Filipe Pedroso, saíram de um porto particular, na fazenda do capitão José Correia Leite, na vila de Pindamonhangaba, vizinha de Guaratinguetá. Dono de terras e muitos escravos, Correia Leite morreu em 1744.
Em seu testamento, deixou alguns escravos para seus herdeiros. Três deles se chamavam João, Domingos e Felipe. Seria coincidência?
"Sabendo que o capitão era o dono do porto de onde os três homens saíram no dia em que encontraram a santinha, não parece absurdo pensar que Felipe, Domingos e João eram escravos e foram pescar por ordens do homem poderoso que queria agradar ao governador", especula o jornalista Rodrigo Alvarez.
Coincidência ou não, um dos primeiros miraculados da santa foi um escravo, Zacarias, que teria fugido de uma fazenda do Paraná. Ao ser recapturado no Vale do Paraíba, pediu ao feitor para rezar aos pés da santa. Quanto o escravo se ajoelhou, as correntes se partiram, sem explicação.
O padre José Inácio refuta a tese de que os pescadores seriam escravos. "Não há comprovação histórica", justifica. Ele até admite que, naquela época, pescadores eram tão desvalorizados socialmente quanto escravos, mas garante que João, Domingos e Filipe eram homens livres.
6. De quem é a imagem encontrada no rio?
Para o jornalista Ricardo Marques, não há dúvidas: é de Nossa Senhora da Conceição. Foi dom João 4º que, em 1646, promoveu a Virgem Maria ao posto de padroeira de Portugal. "Por essa razão, é provável que o dono da imagem fosse português", acrescenta. O reitor do Santuário Nacional, padre João Batista de Almeida, concorda. E explica o motivo: "É Nossa Senhora da Conceição, sim, porque ela está grávida. Não tem o menino no colo porque o traz na barriga", esclarece o sacerdote redentorista, no cargo desde 2016.
7. A princesa Isabel dizia ter recebido um milagre da santa?
Tudo indica que não. O que se sabe é que Isabel e seu marido, o Conde d'Eu, eram devotos ilustres da santa. Tanto que, vinte anos antes da promulgação da lei Áurea, os dois visitaram a imagem. Casados havia quatro anos, não conseguiam ter filhos. Dezesseis anos depois, o casal regressou à Aparecida. E, dessa vez, levou a prole: Pedro, Luís e Antônio.
Milagre? Não se sabe. Pelo menos não é reconhecido pelo Santuário Nacional de Aparecida como um dos seis milagres históricos. Ainda assim, Isabel presentou a santa com uma coroa de ouro de 24 quilates, cravejada de diamantes.
8. Qual é a cor de Nossa Senhora da Conceição Aparecida? Branca ou negra?
Para alguns, a escultura de barro ganhou seu característico tom escuro por causa do lodo do Paraíba do Sul. "A cor escura foi resultado da ação do tempo e da água do rio", crava o jornalista Ricardo Marques. Para outros, o que teria enegrecido a imagem foi a fumaça das velas do oratório improvisado na casa de Silvana da Rocha Alves, a mãe de João, um dos pescadores.
"Desde que foi encontrada no Paraíba do Sul, em 17 de outubro de 1717, até o dia em que foi transferida para uma nova capela, em 25 de julho de 1745, a imagem foi submetida à fumaça de candeeiros, velas e tochas por 28 longos anos", explica a historiadora Tereza Pasin.
9. A imagem exposta no Santuário Nacional de Aparecida é a mesma que fora encontrada no rio?
Há quem diga que não. Que se trata de uma réplica perfeita da imagem original, guardada em algum cofre a sete chaves. O Santuário Nacional de Aparecida, porém, garante que sim. A imagem exposta na Basílica é a mesma que fora encontrada, trezentos anos antes, nas águas turvas do Paraíba do Sul.
Mas, por medidas de segurança, o nicho é protegido por um vidro à prova de balas e está a quatro metros do solo. Com a exceção da visita de papas, a santa só sai de lá uma vez por ano. Quem cuida de sua manutenção é Maria Helena Chartuni, a artista plástica que a restaurou em 1978. Depois de verificar minuciosamente se a escultura precisa de algum reparo, a imagem é devolvida ao nicho pelo reitor do Santuário.
10. A imagem foi encontrada no dia 17 de outubro de 1717. Por que, então, a festa da Padroeira do Brasil é comemorada no dia 12 de outubro?
Segundo o historiador Leandro Karnal, a escolha pelo dia 12 de outubro não foi aleatória. Ele cita outras datas, como o descobrimento da América (12/10/1492), a aclamação de Pedro 1º como imperador do Brasil (12/10/1822) e a inauguração da estátua do Cristo Redentor (12/10/1931), como prováveis fontes de inspiração para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
"A data passou a ser uma conexão cívica e religiosa, celebração do catolicismo pátrio, de identidade da fé e do nacionalismo", observa Karnal, autor de Santos Fortes - Raízes do Sagrado no Brasil (Rocco). Desde 1953, o dia da Padroeira do Brasil é comemorado em 12 de outubro. Antes disso, já fora celebrado no primeiro domingo de maio, no quinto domingo da Páscoa, no dia 7 de setembro (Dia da Independência) e no dia 8 de dezembro (Dia da Imaculada Conceição).

Azeitona é Fruta? Dá Para Comer Fresca? Por Que Algumas são Pretas? - Artigo



Azeitona é Fruta? Dá Para Comer Fresca? Por Que Algumas são Pretas? - Artigo
Artigo




Pequeninas e nutritivas, as azeitonas trazem, além de um sabor característico, uma série de pequenos mistérios ao seu redor. Por que sempre comemos em conserva, e nunca frescas? É fruta ou legume? As verdes e as pretas são espécies diferentes ou tingidas pelo homem?
Na Itália, segundo maior produtor de azeitonas do mundo (atrás da Espanha e à frente da Grécia), fica fácil encontrar essas respostas.
“Ninguém come azeitona fresca porque elas são superamargas. É preciso um processo de cura para que possam ser apreciadas”, disse Mikael Linder, especialista em alimentação e pesquisador da Universidade Livre de Bolzano, no norte da Itália.
Já a cor tem uma explicação menos simples. De fato, quando as azeitonas maduram, elas ficam escuras. Entretanto, hoje em dia, a maior parte das azeitonas pretas comercializadas adquiriu a cor durante processo de cura ser feito na presença de oxigênio. Trata-se de uma técnica inventada na Califórnia, nos fins do século 19.
Mas tem muito mais caroço nessa história. Para entender melhor algumas dessas questões, é preciso falar em química.
De acordo com a American Chemical Society, o maior culpado por não haver azeitonas frescas à venda é um composto amargo chamado oleuropeína. “As azeitonas frescas têm muito disso, cerca de 14% de seu peso total. E isso é horrível”, afirmaram pesquisadores da instituição, em vídeo produzido para a imprensa.
As azeitonas são os frutos das oliveiras, árvores chamadas cientificamente como Olea europeae.
Trata-se de uma espécie vegetal comum na região do Mediterrâneo, no atual Irã e ao norte do Mar Cáspio. De acordo com a American Chemical Society, enquanto a madeira e o óleo – o azeite de oliva – oriundos dessa planta já eram utilizados desde milênios atrás, o consumo dos frutos, as azeitonas, não era tão comum até o século 19.
“Porque, em suma, o gosto da fruta fresca é horrível”, afirmam os pesquisadores. Estudos mostram que o homem aprendeu a extrair o óleo das azeitonas ainda no período neolítico.
Transformando amargo em gostoso:
Há diversas técnicas básicas para retirar a oleuropeína, esse tal composto amargo fenólico, das azeitonas, deixando-as assim palatáveis ao gosto humano. “Embebendo-as em água, por exemplo, pode-se lentamente extrair o amargor”, explica a American Chemical Society.
Para remover a oleuropeína de azeitonas ainda verdes, o método mais simples é a imersão em água. As azeitonas precisam ser, uma a uma, rachadas levemente com um martelinho, para que a água penetre bem em seu interior. Elas precisam ficar embebidas em água por pelo menos uma semana – com trocas diárias do líquido. Só então, se já estiverem sem o amargor, podem ser imersas em uma solução de salmoura – para conservação.
Um método semelhante já permite que as azeitonas sejam curtidas na salmoura. O princípio é semelhante, mas, neste caso, os frutos ficam imersos já em uma solução de água e sal por uma semana, sem trocas. Ao fim desse processo, a salmoura é trocada por outra, mais salgada. Então, já entro de um vidro, as azeitonas precisam ficar pelo menos dois meses antes de serem consumidas. Caso o sabor amargo persista, recomenda-se repetir todo o processo.
Há ainda uma maneira menos popular de curtir a azeitona, a seco. Nesta técnica, os frutos precisam ser colhidos já maduros, salgados e deixados ao ar livre por um mês, com trocas semanais do sal.
Soda cáustica:
Mas um método industrial e muito mais prático surgiria nos Estados Unidos, graças ao engenho de Freda Ehmann (1839-1932), uma alemã que emigrou para a América e se tornou fazendeira na Califórnia.
Ehmann teve a ideia de utilizar soda cáustica no processo, tornando a cura das azeitonas mais prática, ágil e padronizada. Ela era produtora de oliveiras e, no fim do século 19, estava em busca de um método melhor não só para curar, como também para conservar as azeitonas, facilitando as remessas para mercados distantes.
A fazendeira contou com a colaboração de cientistas da Universidade da Califórnia para testar procedimentos, até chegar à fórmula ideal. Com a imersão em soda cáustica – geralmente em duas sessões de oito horas cada –, as azeitonas estão livres da substância amarga.
“Sim, o bom e velho NaOH, hidróxido de sódio, utilizado na fabricação de sabão”, ressalta o vídeo divulgado pela American Chemical Society. Aí basta deixá-las embebidas em água, com trocas diárias para limpeza. Quatro dias depois, elas estão prontinhas para o consumo.
“Em vez de absorver a amarga oleuropeína ao longo do tempo, como no processo da salmoura, o hidróxido de sódio acelera a degradação química de tal composto. Neste método, todo o processo leva menos de uma semana”, comparam os pesquisadores.
“A soda cáustica não vai acabar sendo ingerida pelos consumidores, porque as azeitonas são completamente lavadas. Só então elas são embaladas em uma conserva de salmoura que ajuda a preservar os frutos quando armazenados.”
Mas, conforme relata a American Chemical Society, esse procedimento tem um interessante efeito colateral: acaba transformando azeitonas verdes em pretas. Isto porque, durante o processo, o oxigênio reage com compostos das azeitonas. Tais reações químicas adicionais acabam pigmentando os frutos com manchas marrons ou pretas.
Como essa pigmentação não é uniforme – e o resultado é pouco apetitoso para os olhos –, a indústria adiciona gluconato ferroso, que age como um corante deixando as azeitonas homogêneas. Esse procedimento acabou conhecido como Ripe OliveStyle ou CaliforniaStyle.
Mas nem todas as azeitonas tratadas assim são depois comercializadas como azeitonas escuras. Hoje em dia há variações no processo e, na versão em que não há contato com oxigênio, as azeitonas verdes podem ser curadas com soda cáustica e, mesmo assim, se manterem verdes.
Nuances também são utilizadas para variações no sabor, eliminando menos ou mais a substância amarga. “É por isso que há azeitonas com sabores diferentes”, esclarece a American Chemical Society.
Mesmo fruto:
O intertítulo já adianta a polêmica: a azeitona é um fruto - mais especificamente, o fruto da oliveira.
E a mesma árvore origina as azeitonas que comemos verdes e pretas.
Além das diferenças no processo de cura, a cor da azeitona pode se relacionar ao momento da colheita: as verdes são, por casualidade, colhidas ainda verdes da árvore. Já as pretas, geralmente, são retiradas da árvore já um pouco mais maduras.