domingo, 5 de novembro de 2023

Vendedor de "Raspadinha", 1960, Parque da Independência, Ipiranga, São Paulo, Brasil

 


Vendedor de "Raspadinha", 1960, Parque da Independência, Ipiranga, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia


De autoria de Joe Julius Heydecker e registrada em 1960, vemos a imagem de um carrinho de raspadinha. Raspava-se o gelo de um grande bloco e acrescentava-se licores diversos a gosto do freguês.


Rua do Meio / Rua Amador Bueno / Rua do Boticário, São Paulo, Brasil

 













Rua do Meio / Rua Amador Bueno / Rua do Boticário, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia


Décadas passadas, a então Rua do Meio (porque estava entre as avenidas São João e Rio Branco), era muito utilizada para acessar o largo do tanque do Zuniga — em referência ao proprietário da área, o sargento-mor Manoel Caetano Zuniga, na região conhecida atualmente como largo do Paissandu. Era um ponto de nascentes, onde as águas formavam lagoas e fluiam ao ponto mais baixo do terreno, dando-lhe o aspecto de um tanque. No início do século 19, chegou a ser conhecido como praça das Alagoas. Em novembro de 1865, a Rua do Meio foi renomeada como Amador Bueno e a partir de 17 de janeiro de 1979, como Rua do Boticário.
Vemos trecho do citado logradouro em 1908 e 1916, tendo ao fundo (no Largo do Paissandú), a fachada posterior da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, inaugurada em 22/4/1908. O sobrado à esquerda abrigou no início do século 20 um bordel de luxo muito frequentado por boêmios e intelectuais da época. Após permanecer abandonado por anos, o imóvel demolido cedeu o espaço para um estacionamento. Na imagem capturada pelo Google Maps em janeiro de 2023, o estado atual do referido local.

Os Avós Que Não Querem Ser Explorados: "Cuidar dos Netos Ocasionalmente é Diferente de Virar Cuidador Principal - Artigo


 

Os Avós Que Não Querem Ser Explorados: "Cuidar dos Netos Ocasionalmente é Diferente de Virar Cuidador Principal - Artigo
Artigo




Ao passar perto de um parquinho, em qualquer tarde de um dia de semana, é possível ver uma cena típica: avós cuidando dos netos depois da escola.
O que a princípio pode parecer uma bela imagem, para alguns se tornou uma obrigação, com consequências até para a saúde.
Cayetana Campo deixou claro desde o início que não queria ser uma daquelas avós e comunicou isso aos quatro filhos, quando começaram a ter parceiros estáveis, ​​para evitar problemas futuros.
"Eu fui clara sobre isso. Tenho quatro filhos e se você faz com um tem que fazer com todos", explica em conversa com a BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Para essa mulher de 71 anos, que vive entre Benavente (no norte de Espanha) e Madrid, uma coisa é ajudar os filhos quando surge um problema específico e outra é estar sempre com os netos.
"Se um dia eles não puderem e precisarem que eu vá buscar a criança na escola, tudo bem. Mas pegar o neto de manhã e ficar com ele o dia todo até os pais voltarem do trabalho definitivamente não é correto, porque eu tenho a minha vida e agora que me aposentei tenho tempo para fazer outras coisas", afirma.
"Tenho visto avós que vão buscar os netos de manhã, levam eles à escola, dão alimentação e às vezes até os filhos saem de férias e deixam os netos com eles", acrescenta sobre os idosos que passam a ser os principais cuidadores dos netos.
Embora admita que seus filhos gostariam de poder contar mais com ela, eles não reagiram mal. "Pra mim, essa de deixar o filho comigo e viver a vida, não é o certo. É por isso que eles têm filhos, certo? Para que eles possam cuidar deles."
Ela critica a crença que muitos carregam de que "você pode ter filhos, porque os avós irão cuidar deles".
"Eu tinha quatro filhos e trabalhava, e eles (os avós) não cuidavam deles para mim. Eles cuidavam quando podiam."
"Na minha época pode ter havido uma avó que poderia ter feito mais, mas em geral foi como o que aconteceu comigo: os avós não estavam lá o tempo todo como estão agora. Agora há avós que os estão criando."
Cayetana teve o primeiro filho aos 23 anos e o quarto aos 41 anos. "Já fiquei ocupada por um bom tempo", diz ela, que tem seis netos.
Ao longo da vida, a mulher sempre teve outras ocupações, além da maternidade: trabalhou com o pai na pastelaria da família e depois com o marido em um açougue.
Longe do que muitos possam imaginar, ela tem um relacionamento muito bom com os netos, com quem passa bons momentos.
"Temos uma relação avó-netos. Curtimos juntos, é para isso que servem os avós", afirma Cayetana ao contar como divide o seu tempo entre ajudar o filho na sua loja em Benavente, algo que adora, e passear com as amigas.
"Em Madri faço ginástica de manhã no Parque do Retiro e à tarde ou fico em casa fazendo coisas ou encontro as amigas para ir ao teatro ou dar um passeio", detalha.
Ela tem muitas amigas que, assim como ela, se recusam a cuidar dos netos o tempo todo, mas também conhece avós que cuidam dos netos em tempo integral, porque senão os filhos vão ficar bravos com eles.
"Cuidam um pouco como uma obrigação e isso não pode acontecer", comenta.
"Conversando com as pessoas você percebe que sempre tem alguém explorado."
Medo do que vão dizer:
Mas nem todos têm a força de Cayetana. Estabelecer limites nem sempre é fácil e movidos pelo sentimento de culpa, muitos avós acabam imersos num turbilhão de escolas, atividades extracurriculares, refeições, férias e outras atividades, quase sem tempo para mais nada.
“Eles se sentem culpados por não quererem cuidar tanto dos netos”, explica o psicólogo Ángel Rull sobre as pessoas que ele atende.
“Eles chegam como se houvesse algo de errado com eles por não querer cuidar dos netos, por imporem limites, por precisarem de um pouco mais de espaço, de poder viajar”.
“E é aí que a gente realmente se reestrutura para que eles saibam que o que eles sentem é normal, mas que socialmente não falamos tanto sobre isso, porque somos tradicionalmente obrigados a cuidar do silêncio, do ‘minha obrigação é cuidar de você e não posso reclamar disso’”, pontua, sobre um tema que continua tabu, como pôde constatar a BBC News Mundo ao procurar avós que decidiram estabelecer limites.
Sempre houve avós que se recusaram a estar o tempo todo com os netos, mas quando questionados se estariam dispostos a contar isso publicamente, a maioria recusou. O medo do que as pessoas vão dizer continua a ter um grande peso. Uma coisa é comentar sobre o tema confidencialmente e outra é contar ao mundo.
“É muito difícil para eles dizerem: ‘Bom, eu não cuido dos meus netos’, porque parece que dizer isso é como dizer que não quer contribuir com a família”, afirma José Augusto García Navarro, presidente da Sociedade Espanhola de Geriatria e Gerontologia.
Manuel Sánchez Pérez, presidente da Sociedade Espanhola de Psicogeriatria, enxerga a situação da mesma forma:
“O avô muito autônomo, que faz a vida, que viaja, que não quer começar a assumir aquela função de cuidar dos filhos, ainda é visto culturalmente como um avô, digamos, egoísta. Um avô que prioriza o próprio conforto, o próprio bem-estar e que, um pouco, deixa os filhos à margem. É uma avaliação injusta em muitos casos.”
“As pessoas que optam por esse tipo de posição estão defendendo o seu direito a uma velhice digna e saudável, e a poder usufruir do tempo extra que o não ter de trabalhar lhes proporciona, e isso é perfeitamente legítimo”, acrescenta.
Os especialistas insistem que a melhor alternativa é encontrar um meio caminho, em que as pessoas mais velhas possam desfrutar da autonomia, do seu tempo e da saúde que possuem e também possam, de forma razoável, ser um ponto de apoio para os seus filhos. Porém, em muitas situações não há esse equilíbrio.
A síndrome do avô explorado:
Na Europa, um em cada quatro avós cuida dos netos e faz isso, em média, sete horas por dia, porcentagem que aumenta nos períodos de férias, segundo a Pesquisa de Saúde, Envelhecimento e Aposentadoria realizada no continente.
A dificuldade de conciliar vida profissional e familiar devido à escassez de creches públicas e aos longos horários, à precariedade laboral, bem como à falta de recursos econômicos de muitas famílias e ao aumento da esperança de vida, que em 2020 era de 82,2 anos em Espanha, segundo dados oficiais, fez dos avós um fator fundamental no cuidado das crianças, chegando ao extremo em alguns casos.
“A síndrome do avô explorado é aquela obrigação moral, aquela pressão que os avós sentem para cuidar dos netos, que pode vir imposta diretamente pelos filhos ou porque enxergam que os filhos realmente precisam de ajuda, porque estão em situação de precariedade no trabalho. ou numa situação de necessidade de conciliação impossível com os empregos que ocupam”, explica García Navarro.
Essa necessidade de as famílias contarem com os avós na criação dos filhos não é algo novo, mas, segundo Sánchez Pérez, é uma situação que “embora sempre tenha ocorrido, é cada vez mais observada.”
“Constatou-se que uma percentagem significativa de idosos pode passar entre 6 ou 7 horas por dia, o que é quase um dia útil de qualquer outro trabalho, cuidando dos netos. E de fato a proporção, segundo diversos estudos realizados, de avós que fazem isso voluntariamente ou por prazer ou porque decidem, é muito pequena. Apenas 1 em cada 9 que fazem com essa intensidade faz por prazer, por decisão própria”, detalha.
“Agora há mais casos, porque há mais jovens que têm empregos mais precários e com conciliação mais difícil, embora a lei tente garantir a conciliação, na prática nem sempre isso acontece. Além disso, o seu poder de compra é menor e isso os impede de receber apoio. Acho que isso acontece claramente por esses dois motivos”, explica García Navarro.
Entretanto, Rull destaca que algo importante é que agora estamos conscientes do problema. “Nas últimas décadas nem sequer pensávamos que os avós pudessem estar sofrendo com isso. Agora vemos que existe sofrimento e é por isso que tentamos estabelecer limites.”
Isso acontece, sobretudo, nos países mediterrânicos e na América Latina. “Nesses países existe mais o sentimento de que somos todos uma família e que todos devem contribuir em qualquer idade”, afirma García Navarro.
Os efeitos na saúde:
“Essa obrigação moral de cuidar dos netos muitas vezes acaba resultando em uma situação de maior estresse do ponto de vista psicológico que pode ter repercussões reais como a ansiedade. Em alguns casos pode levar à insônia e, principalmente, àquela sensação de cansaço e sobrecarga”, acrescenta.
A insônia e a fadiga intensa podem causar efeitos colaterais, como erros de direção ou falhas de memória devido ao estresse e à ansiedade. Além disso, se o idoso tiver doença cardíaca isquêmica, pode ter maior propensão a sofrer um ataque cardíaco.
“A saúde física deles está sempre deteriorada porque uma pessoa de uma certa idade sofre mais cansaço, mais dores ou doenças, que pioram. E depois a nível psicológico aparece com muita frequência a frustração, a raiva, a culpa, a tristeza , ansiedade e o estresse. Normalmente são emoções que variam entre a tristeza e a raiva”, afirma o psicólogo Rull.
“A nível psicológico seria próximo do que se conhece como síndrome de burnout, quando se fica sobrecarregado por uma tarefa com pouca gratificação”, explica Sánchez Pérez, ao mesmo tempo que insiste em ter em conta que existe uma grande diversidade de pessoas com mais de 65 anos de idade.
Como não cair nessa:
A Sociedade Espanhola de Geriatria e Gerontologia (SEGG) recomenda cuidar da comunicação com os filhos para informá-los sobre quaisquer problemas que possam surgir, tendo espaço e tempo próprios, conhecendo as condições de saúde de cada um e até onde podem ir. E a SEGG ressalta que o mais importante é aprender a dizer “não” aos filhos.
“É importante que você aponte seus limites desde o primeiro momento e os deixe claros desde o início. Diga: 'Vou poder ficar com os netos um dia por semana, que será terça-feira', por exemplo, ou 'todos os dias das 10 às 12, mas depois não', porque aí sempre virão exceções e você muitas vezes terá que cobrir essas exceções, mas faça um acordo muito bom com seus filhos. Diga: ‘Sim, quero ou não quero, mas se quero são nessas condições’”, explica o presidente da SEGG.
“É importante também que você entenda que não está fazendo nada de errado ao fazer isso, mas sim está fazendo uma coisa muito boa para todos, porque quando estão sobrecarregados também cuidam mal do neto. Não há nada de negativo em estabelecer limites”, afirma.

Quanto Ganha o Panamá com seu Canal e Quem se Beneficia Desse Lucro - Artigo


 

Quanto Ganha o Panamá com seu Canal e Quem se Beneficia Desse Lucro - Artigo
Artigo




Desde que os Estados Unidos passaram o Canal do Panamá para as mãos dos panamenhos no dia 31 de dezembro de 1999, a rota interoceânica por onde passa 6% do comércio mundial se tornou uma fonte gigantesca de riqueza.
Até o final do ano fiscal de 2019, um recorde de 450 milhões de toneladas de carga circulou pelo canal. Sua receita anual alcançou US$ 3,3 bilhões (R$ 13,3 bilhões), o nível mais alto desde a sua inauguração há mais de um século, segundo a Autoridade do Canal do Panamá.
A Constituição do país estabelece que essa empresa pública deve transferir seus excedentes econômicos para os cofres fiscais, depois de cobrir os custos de operação, investimento, operação, manutenção, modernização, expansão e as reservas necessárias para contingências, previstas em lei.
Então, quanto o tesouro panamenho recebeu no período fiscal de 2019? US$ 1,7 bilhão (ou cerca de R$ 7,2 bilhões), o que é uma contribuição nada desprezível para o país da América Central, cujo PIB (Produto Interno Bruto, a soma de todos os bens e serviços) é de US$ 62 bilhões.
De fato, nas últimas duas décadas, o Estado alcançou um total superior a US$ 16 bilhões (R$ 67,7 bilhões). Não há dúvida de que o canal é um bom negócio, embora alguns analistas estejam se perguntando por que não chegam mais recursos para o tesouro e por que eles não são distribuídos de maneira mais uniforme entre os panamenhos.
Quais países se beneficiam do canal?
Construído pelos Estados Unidos entre 1903 e 1914 e transferido para o Panamá há 20 anos, o canal conecta mais de 140 rotas marítimas e 1.700 portos em 160 países.
As grandes companhias marítimas o utilizam para transportar sua carga mais rapidamente, diminuindo a distância entre os oceanos Atlântico e Pacífico.
De fato, entre seus clientes estão as maiores empresas de transporte de mercadorias do mundo, como a Companhia Sulamericana de Vapor, CMA CGM, China Ocean Shipping, American President Line, Hamburg-Sud ou Maersk, entre uma longa lista de conglomerados comerciais.
Todas pagam milhares de dólares para seus gigantescos navios porta-contêineres usarem a passagem marítima, por onde também passam navios com gás natural liquefeito (GNL), um produto que os Estados Unidos enviam regularmente aos mercados asiáticos.
Além do Panamá, "os países que mais se beneficiaram do canal são os Estados Unidos e a China", diz o economista Marco Fernández, da GlobalSource Partners, à BBC Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.
"O Canal do Panamá é uma conexão na cadeia logística internacional e um meio de transporte relativamente barato" comparado ao que seria o custo do uso de outras rotas marítimas.
Assim, segundo Fernández, a estratégia comercial do canal tem sido "obter o maior excedente financeiro possível para pagar seus custos diretos, criar as reservas necessárias e transferir os lucros para o governo central".
Como o negócio é tratado?
"A empresa privada não investe no Canal do Panamá", informou a Autoridade do Canal do Panamá (ACP), a entidade fiscal que a administra.
Desde que o quadro jurídico foi criado em 1997 e "devido à sua importância e natureza, o ACP goza de autonomia financeira, seus próprios ativos e o direito de administrá-lo".
Nesse sentido, opera como uma empresa estatal autônoma.
E, dependendo das circunstâncias, explica a nota, "você pode contratar serviços para projetos, como foi o caso da expansão do canal, por exemplo", que incorporou um terceiro conjunto de bloqueios para permitir mais tráfego marítimo e ficou encarregado de um consórcio liderado pela empresa espanhola Sacyr.
"O Cingapura da América Latina":
Michael Conniff, professor da Universidade Estadual de San José (Califórnia) e coautor do livro Modern Panama: From Occupation to Crossroads of the Americas ("Panamá Moderno: Da ocupação a centro das Américas", em tradução livre), publicado em 2018, estudou por anos o assunto.
Desde que o canal passou às mãos do Panamá duas décadas atrás, "o governo e as empresas cujas atividades foram vinculadas ao canal se beneficiaram", diz Conniff.
"Os panamenhos usaram o canal para gerar mais negócios que impulsionaram o desenvolvimento do país".
Nesse sentido, ele explica, "não é um país que apenas move embarcações de um oceano para outro", uma vez que se tornou a sede de empresas internacionais e impulsionou negócios como transporte, manufatura, serviços ou o setor bancário.
"É por isso que os panamenhos o chamam de Cingapura da América Latina", diz ele.
A recuperação após a transferência:
Gene Bigler, coautor do livro, explica que, nos anos 1990, quando o canal estava nas mãos dos Estados Unidos, apenas 200 contêineres passavam por ele por ano. Atualmente, são cerca de 13 milhões.
"Os Estados Unidos não o modernizaram, não investiram no canal".
"Agora é um centro internacional de logística", diz ele, acrescentando que "a transferência do controle do canal para o Panamá beneficiou a economia global".
Segundo Noel Maurer, coautor de The Big Ditch ("A Grande Vala") sobre a história política e econômica do Canal do Panamá, essa realidade tem duas faces.
"Os lucros diretos foram para os cofres do Panamá, que, apesar da contínua corrupção, financiaram uma melhoria impressionante na infraestrutura do país", diz Mundo Maurer, professor da Universidade George Washington, nos Estados Unidos.
"O problema é que não houve melhorias equivalentes no sistema educacional ou nas áreas rurais", enfatiza.
E esse é um dos grandes desafios do Panamá.
A dívida social panamenha:
Carlos Garcimartín, economista-chefe da representação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no Panamá e um dos autores do recente estudo "BIDeconomics Panamá", confirma à BBC Mundo como, apesar dos avanços, existem setores da população do país que estão em desvantagem.
Embora o Panamá tenha registrado uma das maiores taxas de crescimento do mundo nos últimos 15 anos e se tenha tornado, juntamente com o Chile, o país com a maior renda per capita da América Latina, "esse sucesso econômico não se traduz nas melhorias sociais que poderiam ser alcançadas", diz ele.
De fato, a desigualdade é o calcanhar de Aquiles do país.
"O Panamá continua sendo um dos países mais desiguais da América Latina e do mundo", diz Garcimartín.
A questão é preocupante já que, desde 2005, o Índice Gini (índice internacional que mede a desigualdade de renda) diminuiu muito pouco no Panamá em relação ao seu crescimento econômico.
"Para cada ponto de crescimento econômico, a desigualdade é reduzida a uma taxa duas vezes e meia menor em comparação com o restante da América Latina", diz o economista.
E, entre todas as camadas da população, as comunidades indígenas são as que menos viram os benefícios econômicos do país, concentrados nas elites.
Não é por acaso que o Panamá, considerado a "estrela do crescimento latino-americano", tem um nível de pobreza superior a 22%, segundo dados do Banco Mundial.
No entanto, em algumas comunidades indígenas, a pobreza é até quatro vezes maior que a média geral do país.
O desafio do canal:
Uma análise semelhante faz Michael Conniff sobre os desafios que o canal tem para contribuir para o bem-estar do país.
"Há um desafio que é mais político: os benefícios econômicos do canal não atingiram os setores mais pobres", afirmou ele.
Isso se deve, diz o pesquisador americano, a uma má distribuição de renda e ao trabalho pouco eficiente de diferentes governos a esse respeito.
"Chegará o dia em que os panamenhos se rebelarão contra a maneira como os governos administram o canal", prevê ele.
No momento, o que está claro é que a mina de ouro do Canal do Panamá continua a gerar milhões em lucro. E as projeções indicam que a demanda comercial continuará crescendo.

Por Que o Panamá se Separou da Colômbia e a Influência dos Estados Unidos na Questão - Artigo


 


Por Que o Panamá se Separou da Colômbia e a Influência dos Estados Unidos na Questão - Artigo
Artigo


A localização geográfica privilegiada do Panamá determinou a história do país e, também, a da Colômbia.
Os dois países eram um só no final do século 19 e início do século 20, quando o território panamenho começou a ser altamente cobiçado.
Seu atrativo era o acesso aos oceanos Atlântico e Pacífico, pois permitiria abrigar o que, naquela época, era um projeto de canal que prometia ser uma grande obra de engenharia que mudaria o mercado mundial.
Naquela época houve uma espécie de licitação internacional pelo Panamá, na qual a Colômbia, apesar de ter diversas vantagens, acabou perdendo.
O que era território colombiano tornou-se uma densa fronteira por onde hoje passa um fluxo migratório massivo rumo aos Estados Unidos.
Mas como ocorreu a separação entre Panamá e Colômbia?
Abaixo um resumo desta história, para entender como uma guerra sangrenta, uma ideia revolucionária e um tratado complicado levaram o Panamá a deixar de fazer parte da Colômbia há 120 anos.
Panamá na Colômbia:
No século 19 e após a independência da Espanha, foi criada a Grande Colômbia (ou Grã-Colômbia). Um país que incluía parte do que hoje são Equador, Venezuela, Panamá e Colômbia.
Então, em 1830, a Venezuela e o Equador se separaram e o país foi renomeado como Nova Granada e, mais tarde, Colômbia.
Entre 1850 e 1880, a Colômbia era um Estado federal, que garantia a liberdade religiosa e baseava sua organização política e administrativa na imensa diversidade cultural e econômica do seu território, que incluía o Panamá.
"O Panamá foi muito importante para a Colômbia e recebeu atenção considerável do governo central", explica a historiadora panamenha Marixa Lasso à BBC News Mundo.
"Os panamenhos também desempenharam um papel importante na história colombiana. Foram até presidentes", acrescenta.
Contudo, no final do século 19, chegou ao poder um partido conservador que impôs um modelo de Estado centralizado, estabeleceu uma ligação estreita com a Igreja Católica e defendeu o legado dos colonizadores espanhóis.
Esse período é conhecido como Regeneração e deu origem, em 1886, a uma Constituição muito questionada.
A principal objeção era que a Carta Magna enfraquecia o poder dos nove Estados soberanos que compunham o país, que se tornaram entidades político-administrativas dependentes do governo central de Bogotá, a capital.
Uma dessas entidades foi o istmo do Panamá, localizado entre os oceanos Atlântico e Pacífico, e que também não se alinhava com a hegemonia conservadora.
"O Panamá desempenhou um papel de liderança na história do federalismo colombiano. Os panamenhos tinham uma grande vocação federalista e autonomista e se ressentiam dos governos centralistas colombianos", diz Lasso, autora do livro Historias perdidas del canal de Panamá (Histórias perdidas do canal do Panamá, em tradução livre, sem edição no Brasil).
E foi esta tensão política, que se espalhou por toda a Colômbia, que serviu de prelúdio para uma guerra civil que mais tarde facilitaria a interferência internacional.
A guerra:
Na Colômbia, os dois partidos políticos tradicionais, o liberal e o conservador, têm historicamente entrado em conflito de forma muito violenta.
Mas talvez o confronto mais emblemático tenha sido a guerra que ocorreu entre 1899 e 1902 e é conhecida como Guerra dos Mil Dias.
Foram três anos de batalhas sangrentas que ocorreram como resultado da reação de conservadores moderados e liberais que se opuseram à Regeneração e à Constituição de 1886, por considerá-la autoritária.
Uma percepção que era compartilhada pelos panamenhos.
"O Panamá tinha uma população majoritariamente liberal. E no final do século 19 havia um descontentamento enorme com o centralismo conservador da Constituição de 1886", diz Lasso.
No final, os conservadores venceram a guerra e começou o que ficou conhecido como hegemonia conservadora.
"O fim da guerra com a vitória oficial dos conservadores e a execução judicial do general liberal Victoriano Lorenzo, que era indígena panamenho, só aumentou o descontentamento entre as maiorias liberais", lembra Lasso.
Somado a isso, estava o fato de que o resultado da guerra foi desastroso.
Cerca de 3% da população morreu, as infraestruturas e a indústria foram destruídas, a inflação e a dívida externa dispararam e milhares de pessoas deixaram as cidades.
Naquele momento da história era claro que a unidade de um país centralizado pela elite de Bogotá era bastante frágil.
Portanto, uma tentativa de separar qualquer uma das regiões poderia ter chance de sucesso.
A ideia de unir os oceanos:
É neste contexto de tensão política e pós-guerra que se materializa a ideia visionária de travessia do Oceano Atlântico ao Pacífico através do território centro-americano.
Mas essa não era uma ideia nova. Desde a colônia existiram projetos que buscaram unir os oceanos.
No final do século 19, já existiam estradas-de-ferro, mas à essa altura a revolução industrial estava em plena expansão e as grandes potências capitalistas como o Reino Unido, a França e os Estados Unidos começaram a pressionar pela ligação entre os oceanos.
Este projeto de canal representava a joia da coroa porque permitiria a quem o administrasse ter o controle de uma rota que transformaria o comércio mundial.
A primeira grande aposta ocorreu em 1880, quando Bogotá concedeu a concessão para a construção do canal ao engenheiro Ferdinand de Lesseps, francês que acabara de construir o Canal de Suez, no Egito.
Mas as doenças dos trabalhadores, muitos deles escravos africanos, a umidade do território e as chuvas constantes levaram o projeto francês à bancarrota.
E é aí que o interesse dos Estados Unidos nessa rota marítima se junta à dificuldade do Estado colombiano de manter o controle do seu território.
Ainda mais quando uma de suas regiões, o Panamá, estava separada do centro administrativo pela imensa e intransponível selva de Darién.
O papel dos Estados Unidos:
Naquela época, os Estados Unidos eram uma potência emergente que acabava de ganhar o controle de Porto Rico e Cuba e sabia interpretar a crise interna colombiana como uma grande oportunidade.
O país norte-americano propôs pagar US$ 40 milhões de dólares pela concessão da construção do canal.
Esse acordo materializou-se com o tratado Herrán-Hay entre a Colômbia e os EUA, que estabeleceu as diretrizes para a concessão e foi fechado entre o secretário de Estado dos EUA, John Hay, e o ministro colombiano Tomás Herrán.
Foi uma negociação complexa, que também contemplou a possibilidade da construção do canal na Nicarágua, mas levou em conta que os franceses já haviam feito um investimento inicial vultoso no Panamá.
Assim, ficou finalmente decidido que o canal seria construído no Panamá com capital norte-americano, que por sua vez seria pago à Colômbia e à empresa francesa.
O Congresso colombiano se opôs a vários pontos do tratado, alegando que ele violava a soberania do país. E, em 5 de agosto de 1903, Bogotá informou que rejeitava o documento.
Esta decisão da Colômbia acabou por dar origem à separação do Panamá.
"Quando a Colômbia rejeita o tratado Herrán-Hay, e havia boas razões para rejeitá-lo, vários fatores se combinam a favor da independência do Panamá da Colômbia", diz Lasso.
Por um lado, explica a historiadora, os panamenhos saíam da crise provocada pela Guerra dos Mil Dias e o canal era visto como uma salvação para seus problemas internos.
Por outro lado, havia grande descontentamento no Panamá com o governo conservador e com a derrota liberal na guerra.
Finalmente, os Estados Unidos encontraram nesta insatisfação panamenha "uma excelente oportunidade para obter o tratado que desejavam sem a interferência da Colômbia".
E foi então que o Panamá ignorou a rejeição do tratado e, em aliança com os Estados Unidos, que afirmaram que interviriam caso houvesse retaliação militar da Colômbia, declarou independência em 3 de novembro de 1903.
"Naquele dia, oito navios de guerra norte-americanos estavam estacionados nos oceanos Atlântico e Pacífico sob as ordens do vice-almirante Coghlan e do almirante Glass", descreve o historiador colombiano Alfonso Múnera no texto Fronteiras Imaginárias.
Ele cita o relato do general colombiano Rafael Reyes para reconstruir o cenário.
Múnera escreve que Reyes "não pôde pôr os pés no Panamá e, preocupado, escreveu ao presidente [colombiano] aconselhando-o a ser muito cauteloso, para evitar que 40 navios de guerra norte-americanos tomassem, além do Panamá, as cidades de Medellín e Cali".
Onze anos depois, em 1914, a Colômbia concordou com os EUA em reconhecer o Panamá e resolveu disputas territoriais e fronteiriças. Isto em troca de uma compensação de US$ 25 milhões.
Hoje, mais de um século depois, esta é uma história em que o papel desempenhado pelos Estados Unidos continua a ser tema de debate.
Quanto mais relevância é dada ao papel daquele país, menos heroica parece a independência do Panamá.
"Os panamenhos enfatizam sua atuação nesta separação. Embora seja reconhecido o papel desempenhado pelos EUA, lembram-se que a Independência de 1903 foi a última tentativa de uma longa lista de tentativas separatistas que ocorreram ao longo do século 19", diz Lasso.
"E que o Panamá teve, ao longo daquele século, uma vocação autonomista e federalista baseada nas particularidades de sua história e posição geográfica", conclui a historiadora.

Alfajores / Como um Doce Criado por Árabes se Tornou Símbolo da Argentina - Artigo

 


Alfajores / Como um Doce Criado por Árabes se Tornou Símbolo da Argentina - Artigo
Artigo




Os olhos da chocolatier Maria Romero brilham quando ela se lembra da infância em Quilmes, cidade argentina na província de Buenos Aires, e do seu primeiro contato com os alfajores.
"Minha primeira lembrança de comê-los é de quando era pequena", diz ela.
"Tinha um quiosque dentro da escola e corríamos no intervalo para comprar alfajor. Tenho uma lembrança muito forte de ficar de pé ouvindo as crianças gritando os nomes das diferentes marcas — Jorgito, Capitán del Espacio, Fantoche. Se você estava com fome, precisava de um doce, estava triste, você comprava um. Às vezes, você só precisa de um alfajor para sobreviver."
Em sua forma mais comum, o alfajor argentino é um doce feito com dois biscoitos macios que esfarelam, recheados com doce de leite e cobertos com chocolate ou polvilhados com açúcar ou coco ralado.
Romero descreve os alfajores como "biscakes" — algo entre um biscoito e um bolo (cake, em inglês) — e ganha a vida com eles.
Depois de trabalhar para a Savoy em Londres, os fabricantes de chocolate de luxo Artisan du Chocolat e Rococo, e o Hilton, em Buenos Aires, ela agora dirige a Sur Chocolates, no Reino Unido, que produz alfajores gourmet.
Romero coloca alfajores no mesmo patamar do vinho Malbec, da carne e da erva-mate no panteão culinário da Argentina — e ela não está sozinha.
Cerca de 1 bilhão de alfajores são vendidos na Argentina todos os anos, de acordo com o conselho de turismo de Buenos Aires, e centenas de variedades estão disponíveis em quiosques, supermercados e padarias de todo o país, desde a Tierra del Fuego, no extremo sul, às planícies áridas de Jujuy, ao norte.
"Você pode encontrá-los em qualquer lugar", diz Allie Lazar, crítica gastronômica de Buenos Aires e colaboradora do blog Pick Up The Fork.
"Cada quiosque vende uma grande seleção de alfajores. A maioria dos argentinos tem uma queda por doces, e doce de leite é basicamente um tesouro nacional, então os alfajores são há muito tempo a guloseima ou o lanche rápido perfeito. Também são um ótimo acompanhamento para contrastar a erva-mate, que tende a ser bastante amarga."
Os alfajores são parte integrante da cultura popular argentina, aparecendo em diversas obras — do conto O Aleph, de Jorge Luis Borges, às tirinhas da tão amada Mafalda, do cartunista Quino.
Quando era jovem, o jogador Lionel Messi era recompensado por um dos seus treinadores com alfajores por cada gol que marcava.
Eles são tão importantes para a vida argentina que a Constituição do país foi supostamente escrita em uma alfajorería (loja de alfajores) em meados do século 19.
Embora sejam um produto relativamente simples, os alfajores têm uma história longa e complexa.
Facundo Calabró, criador do blog Catador de alfajores e autor do livro 'En busca del alfajor perdido' (Em Busca do Alfajor perdido, em português), explica que eles datam pelo menos do século 8, quando um biscoito árabe feito de açúcar, melado, nozes e canela chegou à Península Ibérica durante a conquista dos mouros.
Foram desenvolvidas na sequência versões da Andaluzia e da Múrcia, que ganharam o nome de alajú ou alfajor — derivado, alguns linguistas acreditam, da palavra árabe al-fakher ("luxuoso") ou da palavra árabe antiga al-huasu ("preenchido" ou "recheado") .
Com formato cilíndrico e feito de amêndoas moídas, avelãs, farinha de rosca, açúcar, mel e especiarias como a canela, essas versões ainda são tradicionalmente consumidas em algumas partes da Espanha no Natal e em algumas regiões estão disponíveis o ano todo.
Mas os alfajores ganharam destaque de verdade na América Latina.
"No século 16, durante o [período colonial], o alfajor chegou do sul da Espanha e se espalhou pelas Américas, principalmente por meio dos conventos. Começou a se hibridar, pegando os ingredientes de cada região e perdendo outros", conta Calabró.
Os alfajores em Porto Rico são tipicamente feitos de mandioca moída, por exemplo; enquanto Chile, Peru e México — entre outros — usam suas próprias versões de doce de leite.
No entanto, embora sejam encontrados por toda a América Latina, eles são símbolo, antes de mais nada, da Argentina, maior produtora e consumidora do produto.
Hoje, os alfajores argentinos estão muito distantes de seus predecessores espanhóis e árabes. As versões caseiras mais comuns — e geralmente encontradas nas padarias — são conhecidas como alfajores de maizena, com recheio de doce de leite e cobertura de açúcar ou coco ralado.
"Mas, como a maioria dos alimentos que chegaram à Argentina, os alfajores passaram por reviravoltas provinciais", explicam Paula Delgado e Claudio Ortiz, chefs da Estancia Los Potreros, que vão publicar seu primeiro livro de receitas em 2021.
"Nossos chefs recorrem a receitas que aprenderam com suas mães, tias, avós. Aqui na província de Córdoba, os alfajores são tipicamente recheados com uma pasta de marmelo doce. Todos os nossos gaúchos, cozinheiros, faxineiros e funcionários se sentam à tarde para falar sobre a vida e política com alfajores e chá mate. Eles são uma parte importante da cultura argentina."
O tipo mais famoso de alfajor comprado nas lojas é o marplatense, que é recheado com doce de leite e coberto com chocolate. Seu nome vem da cidade costeira de Mar del Plata, berço da principal marca Havanna, que abriu sua primeira padaria em 1947 e agora tem lojas e cafés em toda a Argentina.
Mas há inúmeras variações além do clássico marplatense.
Se você explorar as prateleiras de um quiosque, vai encontrar versões cobertas com açúcar, merengue ou iogurte; recheadas com geleia, ganache, mousse ou pasta de amendoim; e aromatizadas com café, frutas, nozes ou bebidas como rum ou uísque.
Há variedades veganas, sem glúten, de arroz e até com três camadas. As pessoas estabelecem ligações profundas com marcas específicas, de acordo com o marido de Romero, Emanuel:
"Os argentinos precisam pertencer a um lado ou ao outro. Como no futebol, por exemplo, você torce pelo Boca ou pelo River. Com os alfajores é quase a mesma coisa — você tem uma marca (preferida) e a defende."
Apesar de sua popularidade na Argentina e em outras partes da América Latina, os alfajores são relativamente pouco conhecidos no resto do mundo, embora isso esteja começando a mudar.
A Havanna abriu uma loja na Flórida, a primeira nos EUA, em 2017.
"Há também lojas Havanna na Espanha e mais de 100 no resto da América Latina", afirma Mariano Oliva, CEO da Havanna USA.
"Vendemos cerca de meio milhão de alfajores por ano nos Estados Unidos e temos um plano — suspenso por enquanto [por causa da covid-19] — de abrir mais unidades. Os alfajores têm um potencial fenomenal."
No Reino Unido, os alfajores criativos de Romero — erva-mate, Malbec, chocolate amargo e menta são apenas alguns dos sabores — também se revelaram um sucesso.
"Nosso sonho é levar [alfajores] para todos os lugares", diz ela.
No entanto, enquanto os alfajores se expandem globalmente, a questão de por que exatamente eles são tão populares na Argentina, permanece sem resposta.
Delgado e Ortiz atribuem à paixão nacional por doces; Oliva sugere um forte apego emocional que se desenvolve na infância; e Romero acredita que se deve a uma "paixão compartilhada".
Para Calabró, as razões por trás do amor argentino pelos alfajores permanecem um "grande mistério".
"É óbvio que eles fazem parte de nossa identidade coletiva", afirma.
"[Mas] nós amamos alfajores porque eles fazem parte da nossa identidade ou porque, por alguma estranha razão, decidimos amá-los? Ainda não há resposta."

Propaganda "Uma Sobremesa Raffinée", 1938, Doce de Goiaba em Calda Peixe, Carlos de Britto & Cia Ltda, Brasil


 

Propaganda "Uma Sobremesa Raffinée", 1938, Doce de Goiaba em Calda Peixe, Carlos de Britto & Cia Ltda, Brasil
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Uma elegante ocasião social serviu como ilustração para promover o doce de goiaba em calda da marca Peixe. Estamos no ano de 1938 e, segundo a campanha, tratava-se de “uma sobremesa raffinée” (refinado, em francês). O texto recomendava o produto “nas mesas mais elegantes”. 
Campanha veiculada na revista "O Cruzeiro", edição do dia 1º de outubro de 1938.

Como Chuck Norris Ajudou a Derrubar um Ditador Comunista nos Anos 80 - Artigo


 

Como Chuck Norris Ajudou a Derrubar um Ditador Comunista nos Anos 80 - Artigo
Artigo



Nos anos 1980, Chuck Norris, assim como vários outros ídolos dos filmes de ação, teve um papel fundamental no esfacelamento da ditadura comunista de Nicolae Ceausescu na Romênia, que por 24 anos viveu isolada do contato com o cinema e a cultura ocidental.
Essa é curiosa premissa do documentário “Chuck Norris vs Communism”, da diretora Ilinca Calugareanu, que defende que o comércio, a reprodução e disseminação de fitas VHS de filmes americanos plantaram um ideal de liberdade no país, que culminaria na violenta Revolução Romena de 1989, que restaurou a democracia no país.
Com depoimentos dos jovens da época e outros personagens, que são mesclados a cenas com atores, o filme está na Netflix e é um fascinante mergulho em um dos corações da “cortina de ferro” europeia, quando a geopolítica global ainda se via dividida entre dois grandes blocos político-econômicos.
Entenda abaixo como esta curiosa história envolvendo o cinema americano influenciou o curso da Romênia.
A origem do comércio:
O contrabando de fitas VHS na Romênia era comandado por Teodor Zamfir, um funcionário do regime comunista que percebeu na população uma demanda reprimida por filmes ocidentais, maximizada em meados dos anos 1980, quando os primeiros videocassetes começaram a chegar no país. Nessa época, os poucos filmes estrangeiros que chegavam ao país, geralmente de países do próprio bloco vermelho, eram “tesourados” pela censura. Zamfir sabia bem o que precisava fazer. Em seu QG, ele trazia fitas de carro via Hungria, criava cópias e as dublava sem cortes. O preço para o consumidor: 100 léus, similar ao que hoje é pago por certas drogas. A proibição por parte do regime criou um novo tipo de tráfico.
Propinas pagas com filmes:
Com o crescimento do negócio clandestino, que chegou a contar com 360 videocassetes em operação, Zamfir se tornou um homem rico e poderoso. Com pouquíssimos funcionários, era capaz copiar em apenas três horas cerca de 300 fitas, faturando 300 mil léus —preço de uma casa na Romênia dos anos 1980. O comércio ilegal era feito muitas vezes com a conivência de autoridades, que recebiam propinas em dinheiro e também em fitas VHS. Sem concorrência, a atividade passou a fornecer o produtor até para membros do comitê comunista, incluindo o filho do ditador Nicolae Ceausescu, que acobertava o tráfico.
Dubladora virou "estrela" nacional:
As dublagens —geralmente de blockbusters americanos e filmes de Chuck Norris, Sylvester Stallone e Jean-Claude Van Damme— eram feitas no início por uma única pessoa: a tradutora Irina Nistor, que trabalhava para a censura e fazia “bicos” para Zamfir. O termo “dublagem” chega a ser um exagero, já que o trabalho consistia basicamente em uma tradução simultânea, na qual ela criava vozes e entonações diferentes para cada personagem. A popularidade das fitas, muitas vezes com imagem sofrível dadas as múltiplas cópias, fez de Nistor uma figura lendária na Romênia. Todos conheciam sua voz, mas ninguém conhecia seu nome nem seu rosto.
Cinema em casa:
A pirataria de filmes criou um novo negócio paralelo: o "cinema em casa". Os privilegiados donos de videocassetes tinham o hábito de chamar vizinhos e conhecidos para sessões que cobravam entradas. O medo de que alguém delatasse a atividade e chamasse a polícia era constante, tornando tudo mais perigoso e também atraente. Os eventos eram divulgados na base do boca a boca nas ruas, sempre com muita discrição. Apesar de todo o cuidado, as batidas de oficiais não eram raras. Várias pessoas foram presas e muitos aparelhos e fitas foram confiscados pelo governo.
A subversão de assistir a um filme:
A pirataria se alastrou rapidamente pela Romênia de meados dos anos 1980 até pouco depois do fim do regime, que ruiu em 1989 abrindo o país para a cultura ocidental. Durante esses anos, os romenos, principalmente os jovens, enxergavam na pirataria uma forma de protesto contra o governo, que condenava qualquer sinal de propaganda do “imperialismo” ocidental. Com o aumento da repressão, assistir a esses filmes virou uma espécie de provocação, que foi ganhando força quando a população saiu às ruas protestar. "No final tudo explodiu. As sementes da liberdade plantadas pelos filmes cresceram”, diz uma das entrevistadas no documentário.

Avenida Luiz Xavier, Curitiba, Paraná, Brasil


 

Avenida Luiz Xavier, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Paranacart N. 108
Fotografia - Cartão Postal

Vista Aérea, Curitiba, Paraná, Brasil



 



Vista Aérea, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Foto Postal Colombo N. 54
Fotografia - Cartão Postal


Esse postal tem uma curiosidade: mostra um uso que antigamente muitos faziam, que consistia em comprar um cartão postal como "souvenir" do local visitado ou que estava de passagem, para guardar de lembrança, ao invés do padrão de enviar para alguém pelos Correios.
No presente cartão postal é possível ver no verso a data que o viajante/turista o adquiriu em Curitiba, bem como para onde estava se dirigindo.
É uma pena que as gerações futuras não terão esse tipo de fonte histórica para ajudar a documentar os tempos atuais.