Dia do Gari, 16 de Maio, Brasil - Artigo
Artigo
O lixo sempre foi um problema sério nos grandes centros
urbanos. Entretanto, o tratamento sistemático dos dejetos das cidades pelo
poder público é uma prática que não chega a 200 anos. No Brasil, o primeiro
passo concreto foi dado ainda no Império.
Em 1830, um decreto imperial estipulava o “desempachamento” das ruas da cidade. Na prática, a lei obrigava a retirada do lixo e determinava que as ruas fossem livradas dos mendigos, loucos, desempregados e até dos animais ferozes. Predominava, à época, a “teoria miasmática”, na qual gases e vapores – os miasmas – exalados pelo ambiente eram os responsáveis pelo adoecimento das pessoas. Higienizar o terreno era, portanto, uma necessidade de saúde pública. Estabelecer locais específicos para a prática de certas atividades, ditas poluentes – como a localização de curtumes, matadouros e cemitérios –, também. Essas posturas do poder público eram, basicamente, normativas, apenas definindo proibições e estabelecendo sanções quanto ao despejo de lixo nas vias públicas.
No Segundo Reinado, a prática da limpeza ganhou um caráter sistemático. Uma notinha discreta, no centro da primeira página do periódico Gazeta de Notícias (RJ), de 11 de outubro de 1876, anunciou a contratação dos serviços do francês Aleixo Gary para a limpeza das ruas da capital. Coube à sua empresa o transporte do lixo produzido no Rio de Janeiro para a ilha de Sapucaia, na Baía da Guanabara. Surgiu, então, a primeira empresa de coleta de lixo da cidade. Seu contrato durou até 1891 e no ano seguinte – já na República – instituiu-se a Superintendência de Limpeza Pública e Particular da Cidade.
Na mesma época, em 1884, Eugène Poubelle, então prefeito da cidade de Paris, decretou que os donos de prédios fornecessem latas de lixo aos seus inquilinos. A novidade pegou os parisienses de surpresa, que logo começaram a chamar essas latas de “boîtes Poubelle” (latas Poubelle). Mas não foram só os moradores dessa cidade que aderiram à ideia. Por aqui, Aleixo Gary já havia feito história na limpeza urbana da cidade e seu sobrenome se tornou uma marca registrada e indistinguível para todos os funcionários da coleta de lixo. Em uma compreensível corruptela, o nome do empresário deu origem ao termo “gari”.
Um século depois do início da empreitada de Aleixo Gary, com a fusão dos Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara – em 1975 – a então CELURB (Companhia Estadual de Limpeza Urbana) deu lugar a COMLURB (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), atualmente a principal responsável pelo tratamento de lixo no Rio de Janeiro.
A profissão de gari é serviço fundamental para as cidades e para a saúde pública. A limpeza eficiente dos logradouros públicos, o controle de pragas, manutenção de rios, canais e praias, bem como das galerias de esgotos, são práticas que ajudam a conter doenças e epidemias. Toda vez que esses profissionais se veem na necessidade de fazer uma greve, percebe-se o quanto esse trabalho é essencial quando, após dias sem limpeza, as cidades viram um caos. Nem sempre devidamente valorizados, os garis se queixam com frequência de certa “invisibilidade” diante da população.
Essa imagem vem mudando gradualmente e os garis tem ganhado mais visibilidade. Muito se deve à sua participação eficaz nos grandes eventos das cidades, como ocorre no réveillon e no carnaval no Rio de Janeiro. Foi após um desfile das escolas de samba no Rio que um desses profissionais galgou o estrelato. Com a passagem da tropa de garis ao final do espetáculo, Renato Luiz Feliciano Lourenço liderou seu time de varredores e, com muito carisma e ginga, sambou majestosamente com a vassoura na mão para o deleite da plateia que ainda se encontrava nas arquibancadas. Sempre sorridente – o que lhe rendeu o justo apelido de “Renato Sorriso” –, ele conta que, inicialmente, levou uma reprimenda de seu supervisor. Apesar disso, o sucesso foi tanto que, ano após ano, repete a performance. Seu feito não se limitou ao Rio de Janeiro. Renato foi convidado a participar – uniformizado, claro – da cerimônia de encerramento das Olimpíadas de Londres em 2012.
Parabéns a todos aqueles que, faça chuva ou faça sol, cuidam para que as cidades fiquem ainda mais bonitas, limpas e salubres! Texto da Biblioteca Nacional.
Em 1830, um decreto imperial estipulava o “desempachamento” das ruas da cidade. Na prática, a lei obrigava a retirada do lixo e determinava que as ruas fossem livradas dos mendigos, loucos, desempregados e até dos animais ferozes. Predominava, à época, a “teoria miasmática”, na qual gases e vapores – os miasmas – exalados pelo ambiente eram os responsáveis pelo adoecimento das pessoas. Higienizar o terreno era, portanto, uma necessidade de saúde pública. Estabelecer locais específicos para a prática de certas atividades, ditas poluentes – como a localização de curtumes, matadouros e cemitérios –, também. Essas posturas do poder público eram, basicamente, normativas, apenas definindo proibições e estabelecendo sanções quanto ao despejo de lixo nas vias públicas.
No Segundo Reinado, a prática da limpeza ganhou um caráter sistemático. Uma notinha discreta, no centro da primeira página do periódico Gazeta de Notícias (RJ), de 11 de outubro de 1876, anunciou a contratação dos serviços do francês Aleixo Gary para a limpeza das ruas da capital. Coube à sua empresa o transporte do lixo produzido no Rio de Janeiro para a ilha de Sapucaia, na Baía da Guanabara. Surgiu, então, a primeira empresa de coleta de lixo da cidade. Seu contrato durou até 1891 e no ano seguinte – já na República – instituiu-se a Superintendência de Limpeza Pública e Particular da Cidade.
Na mesma época, em 1884, Eugène Poubelle, então prefeito da cidade de Paris, decretou que os donos de prédios fornecessem latas de lixo aos seus inquilinos. A novidade pegou os parisienses de surpresa, que logo começaram a chamar essas latas de “boîtes Poubelle” (latas Poubelle). Mas não foram só os moradores dessa cidade que aderiram à ideia. Por aqui, Aleixo Gary já havia feito história na limpeza urbana da cidade e seu sobrenome se tornou uma marca registrada e indistinguível para todos os funcionários da coleta de lixo. Em uma compreensível corruptela, o nome do empresário deu origem ao termo “gari”.
Um século depois do início da empreitada de Aleixo Gary, com a fusão dos Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara – em 1975 – a então CELURB (Companhia Estadual de Limpeza Urbana) deu lugar a COMLURB (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), atualmente a principal responsável pelo tratamento de lixo no Rio de Janeiro.
A profissão de gari é serviço fundamental para as cidades e para a saúde pública. A limpeza eficiente dos logradouros públicos, o controle de pragas, manutenção de rios, canais e praias, bem como das galerias de esgotos, são práticas que ajudam a conter doenças e epidemias. Toda vez que esses profissionais se veem na necessidade de fazer uma greve, percebe-se o quanto esse trabalho é essencial quando, após dias sem limpeza, as cidades viram um caos. Nem sempre devidamente valorizados, os garis se queixam com frequência de certa “invisibilidade” diante da população.
Essa imagem vem mudando gradualmente e os garis tem ganhado mais visibilidade. Muito se deve à sua participação eficaz nos grandes eventos das cidades, como ocorre no réveillon e no carnaval no Rio de Janeiro. Foi após um desfile das escolas de samba no Rio que um desses profissionais galgou o estrelato. Com a passagem da tropa de garis ao final do espetáculo, Renato Luiz Feliciano Lourenço liderou seu time de varredores e, com muito carisma e ginga, sambou majestosamente com a vassoura na mão para o deleite da plateia que ainda se encontrava nas arquibancadas. Sempre sorridente – o que lhe rendeu o justo apelido de “Renato Sorriso” –, ele conta que, inicialmente, levou uma reprimenda de seu supervisor. Apesar disso, o sucesso foi tanto que, ano após ano, repete a performance. Seu feito não se limitou ao Rio de Janeiro. Renato foi convidado a participar – uniformizado, claro – da cerimônia de encerramento das Olimpíadas de Londres em 2012.
Parabéns a todos aqueles que, faça chuva ou faça sol, cuidam para que as cidades fiquem ainda mais bonitas, limpas e salubres! Texto da Biblioteca Nacional.
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