Normalistas, Instituto Superior de Educação ISERJ, Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
Fotografia
Chega ao fim a era das normalistas (26/11/2000):
A última chance de ver as normalistas do Instituto de Educação
do Rio de Janeiro com aquela saia azul-marinho pregueada, a camisa branca e a
gravatinha - uniforme que fez o escritor Nelson Rodrigues transbordar em
pensamentos atrevidos - será no próximo Carnaval do Rio de Janeiro. A escola de
samba Unidos da Tijuca, quinta colocada no ano passado, está conversando com a
direção do instituto sobre a possibilidade de ter normalistas entre seus 4.000
integrantes. O enredo da escola é "Nelson Rodrigues pelo Buraco da
Fechadura". O dramaturgo é autor da peça "Os Sete Gatinhos", em
que personagens são normalistas.
A Unidos da Tijuca já tem pronta a fantasia: o mesmo uniforme, só que em tecido mais transparente e, na cabeça, uma peruca pink com um adereço luminoso em forma de coração.
Pode ser mais uma festa de despedida das 370 alunas que se formam neste ano, um derradeiro adeus do mais tradicional curso de normalistas do país, que acaba em dezembro, atendendo à Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que determina que, a partir de 2007, o professor primário precisará ter nível superior para ser admitido. A base do raciocínio do então senador Darcy Ribeiro (autor da lei, aprovada em 96) era de que a qualidade do ensino depende da qualidade dos professores.
A lei chacoalhou o instituto da rua Mariz e Barros, na Tijuca, um marco na história do Rio de Janeiro, assim como suas normalistas, muitas delas ilustres. A escritora Cecília Meireles saiu professora de lá e hoje é a patrona das meninas (e meninos, ainda que em absoluta minoria).
A atriz Marieta Severo também frequentou a escola-modelo criada na época do império, pelo decreto número 7.684, de seis de março de 1880. A ex-aluna Tonia Carrero, na época Maria Antonieta Portocarrero, parava o trânsito da Mariz e Barros já aos 15 anos com sua beleza extraordinária.
A história da educação no país passa por essa escola pública que teve Villa Lobos como professor de canto orfeônico, Portinari, ele mesmo, nas artes, e três dos maiores educadores da história, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho (o primeiro diretor e introdutor do método Piaget no Brasil) e Anísio Teixeira.
"Os alunos aprendiam tudo com experimentação", conta Maria da Glória Bartholo, presidente da associação dos ex-alunos e militante incansável da recuperação da memória do instituto.
Na década de 30, a escola já tinha laboratórios de química e física, além de um museu de História Natural.
Em 1930, foi para o prédio em estilo neocolonial que alunos e professores se mudaram correndo - e carregando as escrivaninhas, cadeiras e livros - quando explodiu a revolução vitoriosa de Getúlio Vargas. Corriam boatos de que tropas gaúchas iriam aquartelar-se no Rio, mais precisamente na Escola Normal.
Temendo a invasão, alunos e professores abandonaram as instalações do largo do Estácio, deixando para trás o grupo de músicos que se encontrava num bar vizinho e que deu origem à primeira escola de samba do Brasil, a Escola de Samba Estácio de Sá. A palavra "escola" foi colocada em homenagem à então Escola Normal.
O prédio, já tombado pelo governo do Rio, foi reconhecido em outubro como bem histórico e cultural pela prefeitura.
O diretor-geral, Hasenclever Martinelli, cujo mandato de dois anos vence em 2001, diz que faz o que pode dentro dos limites de sua atuação. Na verdade, qualquer lâmpada tem que ser pedida à Fundação de Apoio à Escola Técnica, a Faetec, órgão da Secretaria de Ciência e Tecnologia, à qual o instituto está subordinado.
A Faetec, por sua vez, garante que as condições, ainda que aparentemente precárias, estão melhores desde que o professor Carlos Augusto Azevedo assumiu a presidência da fundação, em 1999. "Pegamos o instituto com um abandono de mais de 20 anos e, aos poucos, estamos recuperando", diz Azevedo.
Essa não é a única rusga entre as duas partes. O presidente da Faetec não vê mais sentido na continuação do curso normal de nível médio, em razão da lei que, em 2007, exigirá curso superior aos professores do primário. "Para que formar pessoas que daqui a pouco não poderão mais trabalhar?", pergunta.
Grande parte dos professores, pais, alunos e ex-alunos está contrariada com a lei. Eles acham que a escola que formou mais de 60 mil professoras deveria ser mantida não só por representar a vanguarda do ensino em seus anos dourados (como mostrou a novela de Gilberto Braga, em 1986, com Malu Mader no papel da normalista Lurdinha), mas pela realidade brasileira, em que 50% dos "professores" que alfabetizam crianças são leigos.
Eles ficaram aborrecidos com uma entrevista em que Carlos Augusto Azevedo disse que "normalista é o efeito fusquinha" ao criticar os que defendem a manutenção do "velho instituto". Azevedo confirma que disse isso mesmo, numa referência à história do resgate do velho Fusca pelo governador mineiro Itamar Franco. "As soluções para os problemas modernos têm que ser buscadas no futuro", diz ele. "Uma das maneiras de manter a vanguarda do instituto é o curso normal superior."
Ser normalista, 20 ou 30 anos atrás, era uma expectativa idealizada por muitas jovens, orgulho para os pais e razão de cobiça dos alunos do Colégio Militar: o bonde que deixava as meninas no Instituto também carregava os jovens que seriam oficiais, os maridos preferidos pelos pais das alunas, as "professorinhas" que, no passado, inspiraram canções ("vestida de azul e branco, trazendo um sorriso franco, num rostinho encantador, minha linda normalista...", diziam os versos do clássico "Normalista", de Benedito Lacerda e David Nasser) e se transformaram em fetiche nas mãos de Nelson Rodrigues. Texto de Célia Chaim.
A Unidos da Tijuca já tem pronta a fantasia: o mesmo uniforme, só que em tecido mais transparente e, na cabeça, uma peruca pink com um adereço luminoso em forma de coração.
Pode ser mais uma festa de despedida das 370 alunas que se formam neste ano, um derradeiro adeus do mais tradicional curso de normalistas do país, que acaba em dezembro, atendendo à Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que determina que, a partir de 2007, o professor primário precisará ter nível superior para ser admitido. A base do raciocínio do então senador Darcy Ribeiro (autor da lei, aprovada em 96) era de que a qualidade do ensino depende da qualidade dos professores.
A lei chacoalhou o instituto da rua Mariz e Barros, na Tijuca, um marco na história do Rio de Janeiro, assim como suas normalistas, muitas delas ilustres. A escritora Cecília Meireles saiu professora de lá e hoje é a patrona das meninas (e meninos, ainda que em absoluta minoria).
A atriz Marieta Severo também frequentou a escola-modelo criada na época do império, pelo decreto número 7.684, de seis de março de 1880. A ex-aluna Tonia Carrero, na época Maria Antonieta Portocarrero, parava o trânsito da Mariz e Barros já aos 15 anos com sua beleza extraordinária.
A história da educação no país passa por essa escola pública que teve Villa Lobos como professor de canto orfeônico, Portinari, ele mesmo, nas artes, e três dos maiores educadores da história, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho (o primeiro diretor e introdutor do método Piaget no Brasil) e Anísio Teixeira.
"Os alunos aprendiam tudo com experimentação", conta Maria da Glória Bartholo, presidente da associação dos ex-alunos e militante incansável da recuperação da memória do instituto.
Na década de 30, a escola já tinha laboratórios de química e física, além de um museu de História Natural.
Em 1930, foi para o prédio em estilo neocolonial que alunos e professores se mudaram correndo - e carregando as escrivaninhas, cadeiras e livros - quando explodiu a revolução vitoriosa de Getúlio Vargas. Corriam boatos de que tropas gaúchas iriam aquartelar-se no Rio, mais precisamente na Escola Normal.
Temendo a invasão, alunos e professores abandonaram as instalações do largo do Estácio, deixando para trás o grupo de músicos que se encontrava num bar vizinho e que deu origem à primeira escola de samba do Brasil, a Escola de Samba Estácio de Sá. A palavra "escola" foi colocada em homenagem à então Escola Normal.
O prédio, já tombado pelo governo do Rio, foi reconhecido em outubro como bem histórico e cultural pela prefeitura.
O diretor-geral, Hasenclever Martinelli, cujo mandato de dois anos vence em 2001, diz que faz o que pode dentro dos limites de sua atuação. Na verdade, qualquer lâmpada tem que ser pedida à Fundação de Apoio à Escola Técnica, a Faetec, órgão da Secretaria de Ciência e Tecnologia, à qual o instituto está subordinado.
A Faetec, por sua vez, garante que as condições, ainda que aparentemente precárias, estão melhores desde que o professor Carlos Augusto Azevedo assumiu a presidência da fundação, em 1999. "Pegamos o instituto com um abandono de mais de 20 anos e, aos poucos, estamos recuperando", diz Azevedo.
Essa não é a única rusga entre as duas partes. O presidente da Faetec não vê mais sentido na continuação do curso normal de nível médio, em razão da lei que, em 2007, exigirá curso superior aos professores do primário. "Para que formar pessoas que daqui a pouco não poderão mais trabalhar?", pergunta.
Grande parte dos professores, pais, alunos e ex-alunos está contrariada com a lei. Eles acham que a escola que formou mais de 60 mil professoras deveria ser mantida não só por representar a vanguarda do ensino em seus anos dourados (como mostrou a novela de Gilberto Braga, em 1986, com Malu Mader no papel da normalista Lurdinha), mas pela realidade brasileira, em que 50% dos "professores" que alfabetizam crianças são leigos.
Eles ficaram aborrecidos com uma entrevista em que Carlos Augusto Azevedo disse que "normalista é o efeito fusquinha" ao criticar os que defendem a manutenção do "velho instituto". Azevedo confirma que disse isso mesmo, numa referência à história do resgate do velho Fusca pelo governador mineiro Itamar Franco. "As soluções para os problemas modernos têm que ser buscadas no futuro", diz ele. "Uma das maneiras de manter a vanguarda do instituto é o curso normal superior."
Ser normalista, 20 ou 30 anos atrás, era uma expectativa idealizada por muitas jovens, orgulho para os pais e razão de cobiça dos alunos do Colégio Militar: o bonde que deixava as meninas no Instituto também carregava os jovens que seriam oficiais, os maridos preferidos pelos pais das alunas, as "professorinhas" que, no passado, inspiraram canções ("vestida de azul e branco, trazendo um sorriso franco, num rostinho encantador, minha linda normalista...", diziam os versos do clássico "Normalista", de Benedito Lacerda e David Nasser) e se transformaram em fetiche nas mãos de Nelson Rodrigues. Texto de Célia Chaim.
Viva minhas eternas lindas normalistas e seus parangolês plissados!
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