Rua das Casinhas, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
Em 1773 a Câmara Municipal ergueu seis quartos enfileirados que
foram arrendados como mercado. Eram as casinhas. Cada uma tinha banquetas
de tábua, pesos, balanças e ganchos de ferro. Aqui eram comercializados feijão,
milho, toucinho, carne, aguardente, fumo, rapadura, etc. Ficavam no nosso lado
direito na foto e tomavam todo o começo da atual Rua do Tesouro, que então
avançava um pouco mais na direção da Rua XV de Novembro.
Em 1797 as casinhas foram demolidas e depois
reconstruídas. Toda a Rua das Casinhas e parte do largo mais abaixo tinha
intenso movimento de negros, escravos de ganho ou forros, sitiantes,
caboclos, comerciantes e fregueses. Mas não vá o amigo, ou amiga, que nos
acompanha esperar alguma noção de ordem e higiene no local.
Auguste de Saint Hilaire, o viajante da década de 1820 que
esteve por um bom tempo em São Paulo, descreveu o local:
“Em S. Paulo não são encontrados negros a percorrer as ruas,
como no Rio de Janeiro, transportando mercadorias sobre a cabeça. Os legumes e
as mercadorias de consumo imediato são vendidos por negras que se mantêm
acocoradas na rua, que, por motivo de tal comércio, tomou o nome de Rua da
Quitanda. Quanto aos comestíveis indispensáveis, tais como farinha, toucinho,
arroz, milho, carne seca, os mercadores, que os vendem estão, em sua maior
parte, estabelecidos numa única rua denominada Rua das Casinhas, porque,
efetivamente, cada venda forma uma pequena casa isolada. Não é, evidentemente,
nessas vendas, que se podem encontrar a limpeza e a ordem: são obscuras e
enfumaçadas. O toucinho, os cereais, a carne estão atirados em promiscuidade, e
não existe ainda, nem por sombra, aquela arte com que nossos mercadores de
Paris sabem dar um aspecto agradável aos alimentos mais grosseiros”.
À noite, porém mudava o cenário. O mesmo viajante francês nos
conta que: “… os animais de carga e os compradores cedem lugar a
verdadeiras nuvens de prostitutas de baixa classe, atraídas pelos camaradas
[servidores livres] e pelos roceiros, que elas tentam pescar em suas redes”.
Vida longa tiveram as casinhas, duraram até 1874,
quando então foram demolidas, pois a municipalidade tinha intenção de enfim
construir um mercado de verduras, neste mesmo local, a execução deste projeto
foi cheia de trapalhadas, mas, como dizia Júlio Gouveia quando apresentava o
Sítio do Pica-Pau Amarelo, “isto já é outra história que fica para outra vez…”.
Texto de Edison Loureiro.
Nota do blog: A foto do artigo é do Largo do Tesouro em
1862. A Rua das Casinhas ficava ao lado do prédio de 4 pavimentos, de Domingos
de Paiva.
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