quinta-feira, 4 de junho de 2020

História do Livro: Os Livros Medievais - Artigo


História do Livro: Os Livros Medievais - Artigo
Artigo



Quando falamos em “livro medieval”, o que nos vem à mente é, quase sempre, um volume ornamentado, com desenhos coloridos, letras maiúsculas trabalhadas em arabescos e provavelmente um toque de ouro. No entanto, esse tipo de livro representa apenas uma pequena fração dos códices manuscritos da Idade Média, a qual – é bom lembrar – se estendeu ao longo de 10 séculos e teve muitas nuances de acordo com o local e a época.
Nos primeiros séculos dessa era, a Igreja foi a depositária quase exclusiva do saber e do conhecimento. O material escrito circulava entre as comunidades cristãs sob a forma de textos sacros, epístolas e sermões; sacerdotes atuavam como professores e secretários dos nobres. Soma-se a isso o fato de que as bibliotecas monásticas foram praticamente as únicas a preservar seus livros durante as chamadas “invasões bárbaras”.
Assim, não é de estranhar que os mosteiros e abadias mantivessem centros de produção de livros -- comumente chamados de scriptoria -- e que muitos manuscritos preservados tenham sido produzidos por eles. Isso, porém, não quer dizer que todos os textos eram de teor religioso. Havia obras sobre os mais diversos assuntos, desde crônicas de reis e cidades até livros sobre caça, culinária e boas maneiras, bem como traduções de clássicos, obras poéticas e literárias. Da mesma forma, os códices tanto podiam ser luxuosos, ilustrados, iluminados, como volumes simples, feitos de pergaminho grosseiro ou reaproveitado (e mais tarde papel) e tendo como ornamento apenas algumas letras em tinta vermelha.
Um dos destaques da história do livro, no início da Idade Média, é o surgimento de oficinas de copistas e ilustradores em Bizâncio, já no século VI. Ali também se usou o papel, invenção chinesa obtida através dos árabes, antes dos países da Europa Ocidental. Notáveis, também, são as obras produzidas na Irlanda, onde o estilo desenvolvido em centros religiosos incorporou elementos da arte celta e saxônica.
A partir do século VII, se deu o período de dominação muçulmana, que atingiu regiões da Itália, da França e boa parte da Península Ibérica. A transmissão da herança clássica ao Ocidente em muito se deve à ação de eruditos muçulmanos, e alguns monarcas patrocinaram a criação de grandes bibliotecas, tais como a de Córdoba, que, segundo algumas fontes, chegou a ter 500.000 livros. Além disso, houve um período de integração entre o mundo muçulmano, o cristão e a tradição judaica, notadamente durante o reinado de Afonso X de León e Castela, chamado O Sábio (1252 – 1284).
Outro momento importante na história do livro manuscrito foi a promoção, pelo imperador Carlos Magno (768-814), da chamada Renovatio Romanorum Imperii, com a qual pretendia revisar toda a literatura à luz dos modelos romanos. O movimento se constituiu numa verdadeira revolução, o renascimento carolíngio. Deu origem a um estilo e a uma escrita característica, também chamada “carolíngia”, usada até meados do século XIII.
Nesse mesmo período, os livros começaram a ser mais e mais produzidos por artífices e oficinas laicas, enquanto a produção dos mosteiros diminuiu até quase desaparecer por volta de 1300. Por outro lado, as bibliotecas de catedrais começaram a crescer a partir do século XII, juntamente com as universidades. Estas contavam com bibliotecas ligadas aos cursos, onde os estudantes podiam alugar cópias – de livros inteiros ou de partes de livros, chamadas “pecias” -- ou tomá-las emprestadas. Isso permitia que os estudantes menos abonados tivessem acesso às obras, já que os livros, mesmo confeccionados em papel, continuavam a ser bastante caros. Os manuscritos passavam de mão em mão entre mestres e estudantes, às vezes por gerações.
Na segunda metade do século XII, o estilo carolíngio começou a dar lugar a uma escrita mais aguda, conhecida como “gótica”. Esse é o estilo mais comumente associado à ideia de escrita medieval, uma vez que foi empregado em manuscritos de grande divulgação nos dias de hoje, tais como o Livro de Horas do Duque de Berry.
No século XIV, os italianos – primeiros a entrar no período conhecido como Renascença -- retomaram a tradição carolíngia, adotando uma grafia de formas mais suaves e arredondadas, chamada de “humanística”. Nesse período, as regiões que mais se destacaram como centros de produção intelectual e livreira foram o Languedoc, na França -- que tinha sido o principal centro da cultura trovadoresca --, a Boêmia, notadamente Praga, e os Países Baixos, onde, por volta de 1375, surgiu o movimento chamado devotio moderna, que criou escolas e oficinas de produção de livros que, mais tarde, passariam a ser impressos. Thomas à Kempis, autor da “Imitação de Cristo”, pertenceu a uma dessas escolas, já no século XV.
Cerca de 70 anos antes do surgimento da imprensa, a xilogravura, originária da China, começou a ser utilizada pelos europeus. Primeiro, para produzir estampas, e depois para as ilustrações e iniciais nos livros manuscritos. Logo depois surgiram os libretos xilográficos, acessíveis às classes mais populares. No entanto, a demanda pela multiplicação dos livros ainda não tinha sido resolvida, apesar dos esforços de pesquisadores, inventores e artesãos que, desde o início do século XV, vinham trabalhando nesse sentido. E só com a soma de muitas artes e técnicas, após inúmeras tentativas e erros, finalmente surgiria a imprensa de tipos móveis, a qual, após os primeiros anos de estabelecimento em Mainz, se difundiria a partir da década de 1460. Texto da Biblioteca Nacional.

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