O Correto é Bairro da Moóca ou Mooca?, São Paulo, Brasil - Artigo
São Paulo - SP
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Peça para um paulistano com mais de 30 anos de idade para
escrever o nome do bairro paulistano, de origem operária e com forte tradição
italiana, e possivelmente ele vai escrever Moóca com acento agudo no
segundo "o", como era comum até os idos dos anos 1990.
Mas, ao encontrar placas de sinalização recentes pelas ruas, você notará o nome do bairro escrito sem o acento.
E é assim desde quando o professor mooquense Pasquale Cipro
Neto, no programa de TV “Nossa Língua Portuguesa”, no final dos anos 1990, explicou:
“A separação silábica de 'Mooca' é 'Mo-o-ca'; a sílaba tônica é
'o'. Não há acento porque a palavra é paroxítona terminada em 'a', como 'foca',
'broca', 'maloca', 'judoca', 'tapioca' e tantas outras, que também não levam
acento. Há quem queira afirmar que a palavra tem acento por causa do 'hiato'
(vogais que vêm em seguida, mas ficam em sílabas separadas). De fato, há hiato
na palavra 'Mooca', mas esse tipo de hiato não se acentua.”
Assim, devagar e sem alarde durante os anos 2000, a década da
inclusão mas também da parcimônia e do politicamente correto, as placas de sinalização foram sendo trocadas por uma prefeitura
que parecia envergonhada por um erro que nunca tinha percebido.
A mudança no acento (que não tem nada a ver com a reforma ortográfica)
parece um detalhe bobo, supérfluo e irrelevante, mas reflete a
transformação de um dos bairros mais tradicionais e símbolo do primeiro período
industrial de São Paulo, em uma região estritamente residencial onde o mercado
imobiliário aproveita o apelo acolhedor da Moóca para vender mais e mais
apartamentos.
O nome tem origem indígena e significa “Fazer Casa” (Moo: faz,
fazer + oca: casa).
Sobre a rua da Moóca, a sua primeira representação em um mapa
oficial da cidade é de 1842 onde aparece com o nome de “Caminho da Muóca”. Já
em 1897, a velha trilha indígena aparece como rua da Moóca.
Devido a sua proximidade com a ferrovia, responsável pelo
escoamento da produção cafeeira para o litoral, a Moóca foi o berço do processo
de industrialização de São Paulo, no final do século XIX. A proximidade com a
Hospedaria dos Imigrantes (situada no Brás) fez do bairro morada das primeiras
levas de imigrantes europeus, sobretudo italianos que povoaram a região.
Uma prova de bairro industrial e de casas operárias ao redor, é
a composição de Adoniran Barbosa, que seria a continuação da narrativa de “Saudosa
Maloca”. Em “Abrigo de Vagabundo”, o personagem que teria sofrido despejo na
região central encontra “lá no alto da Moóca” o abrigo que precisava.
Os processos de industrialização, povoamento operário e
imigração europeia fizeram da Moóca uma região única em São Paulo,
com características bem definidas. O bairro possui bandeira e até mesmo um hino,
coisa que a capital paulista ainda não possui. O mooquense é um sujeito
orgulhoso de suas tradições e origens, possui hábitos bairristas e dificilmente
compra ou migra em/para outro bairro. Quem vê a Moóca de
fora, sonha em morar no bairro e fazer parte desta “confraria”. É de olho nisso
que o mercado imobiliário direciona seus projetos para o bairro.
Para conseguir vender um empreendimento imobiliário, é preciso
muitas vezes convencer o público alvo quanto a localização, infraestrutura e
qualidade de vida. Quando se fala em Moóca qualquer empresa pode poupar este
discurso porque tudo já está implícito (bairrismo de novo...rs).
Tramita no Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do
Patrimônio Histórico) projeto da Câmara dos Vereadores com proposta
de tornar o sotaque da Moóca um patrimônio histórico da cidade. Se aprovado,
aquele jeito de falar cantado, muitas vezes errado, suprimindo o “S”, será considerado
o primeiro bem imaterial protegido de São Paulo. E se dá para proteger o
sotaque, cá entre nós, poderiam voltar a escrever Moóca com acento, “né
memo belô?”
Não é meu costume defender que se escreva o português de
maneira errada, mas, por outro lado, mesmo com a explicação do professor
Pasquale, ainda não há consenso sobre a forma correta de se escrever Moóca. Assim,
como uma pessoa apegada as tradições, escolhi escrever com o “ó” acentuado,
da maneira que aprendi, vi nas placas do bairro, na estação de trem, na rua dos
Trilhos, etc. E espero que esse movimento de elitização dos bairros através da
queda de acentos, pare por aqui! Texto do blog E agora Adoniran? Adaptado por
mim.

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