Forte de São Francisco da Barra / Forte do Picão, Recife, Pernambuco, Brasil
Recife - PE
Ramiro M. Costa
Fotografia - Cartão Postal
O Forte de São Francisco da Barra, também conhecido
como Castelo do Mar, Forte da Barra, Forte do Picão e Forte
da Laje, localizava-se no extremo norte da cidade do Recife,
sobre os recifes de pedra que protegiam o seu porto, no litoral do estado
de Pernambuco,
no Brasil.
Erguido a partir de 1608 (ou do último
decênio do século XVI, cf. GARRIDO, 1940:66) com risco do
Engenheiro-mor e dirigente das obras de fortificação do Estado do
Brasil, Francisco de Frias da Mesquita (1603-1634),
destinava-se a proteger a barra do canal de acesso e o porto do
Recife de Olinda. Com planta no formato de um polígono
hexagonal irregular, foi artilhado originalmente com seis peças de bronze.
Deve ter sido terminado por volta de 1614, uma vez "que
depois de haver acabado com grande louvor a Fortaleza da Lajem do Recife,
[Francisco da Mesquita] se ofereceu para acompanhar Jerônimo de Albuquerque
[Maranhão contra os franceses em São Luís]." (MARQUES, 1970:280).
Encontra-se figurado por João Teixeira Albernaz, o velho no
mapa de Recife e Olinda como "D - O forte novo da laje do porto" (Livro que dá
Razão do Estado do Brazil, c. 1616. Biblioteca Pública Municipal do Porto).
No contexto da segunda das Invasões holandesas do Brasil (1630-1654),
materializada a invasão da Companhia Neerlandesa das Índias
Ocidentais em Fevereiro de 1630, esta fortificação -
que os invasores chamaram de Castelo do Mar -, junto com o Forte de São Jorge Velho (o Castelo
de Terra), que lhe era fronteiro e com quem cruzava fogos, foram as únicas a
oferecer resistência, capitulando aquela a 20 de
Fevereiro, e esta a 2 de Março (GARRIDO,
1940:66-67).
Sobre esta estrutura, Maurício de Nassau, no "Breve
Discurso" de 14 de Janeiro de 1638, sob o tópico
"Fortificações", reporta:
"Defronte do Castelo de São Jorge, sobre o arrecife
de pedra, no mar e na entrada da barra, fica um outro belo castelo de pedra,
por nós denominado Castelo do mar. Este tem sido um tanto danificado pelo mar,
que, batendo nele com toda a força e em todas as marés, tem arrancado na parte
inferior algumas pedras. Tratamos com o mestre, que foi o seu primitivo
construtor, para que, com o auxílio de pedreiros portugueses, tape o rombo e o
segure contra o mar, o que é indispensável para prevenir futuros danos."
De fato, a estrutura recebeu obras de recuperação
em 1638,
a cargo dos Engenheiros neerlandeses Vasser e Castell (GARRIDO, 1940:66).
O "Relatório sobre o estado das Capitanias
conquistadas no Brasil", de autoria de Adriaen van der Dussen, datado de 4 de Abril de 1640, complementa:
"Em frente ao Castelo de Terra [Forte de São Jorge]
situa-se, do lado do mar, na entrada da barra, sobre o recife de pedra, o
Castelo do Mar, construído com pedras, elevado, sem flancos; é de forma
arredondada, octogonal. Ali há 7 peças de bronze, todas espanholas, a saber: 1
de 24 libras, 1 de 20 lb, 2 de 12 lb, 1 de 18 lb e 2 de 10 [lb]; domina a barra
e todo o porto e o istmo que lhe fica em frente, podendo alcançar com seus
tiros o Recife, o Castelo de São Jorge, o Forte do Brum e o reduto."
BARLÉU (1974) transcreve a informação:
"(...) Em frente do Castelo da Terra, vê-se o do Mar, de forma redonda,
formidável por sete peças de bronze, destinado à defensão do porto, da barra e
do litoral. Ficam-lhe ao alcance o Recife, os fortes de São Jorge e do Brum e o
Reduto." (op. cit, p. 142)
Figura nos mapas de Frans Post (1612-1680)
da Ilha de Antônio Vaz (1637), e de Mauritiopolis (1645. Biblioteca Nacional,
Rio de Janeiro), e no mapa "A Cidade Maurícia em 1644", de Cornelis
Golijath (in: BARLÉU, Gaspar. História dos feitos recentemente
praticados no Brasil. Amsterdã, 1647).
O francês MOREAU (1979), acerca do período entre
1646-1648, relata:
"O Recife está construído (...) numa das orlas desta
passagem [abertura no costão do recife de pedra], da largura de cem passos e
sobre a própria rocha, do lado meridional. Há um forte de pedra, redondo, de
cem passos de círculo, que o mar banha de todos os lados, munido de vinte
grandes peças de ferro fundido e de uma guarnição ordinária de cinquenta
homens, e do qual os navios que chegam devem dar-se conta para não se aproximar
muito; ancoram a meia légua dele e depois vêm dar-se a conhecer nos escaleres com
as cartas trazidas para Recife; isto feito, envia-se uma deputação a estes
navios a fim de examiná-los, antes de conceder-lhes entrada no porto. (...)"
Foi evacuado pelas forças neerlandeses quando da Capitulação do Campo do Taborda em 1654 (GARRIDO,
1940:67).
Em 1817, em ruínas, o Forte da Barra foi reconstruído
pelo Governador de Pernambuco, General Luís do Rêgo, com o formato
de polígono eneagonal irregular, artilhado com seis peças (SOUZA, 1885:83),
passando a abrigar o Farol do
Recife (inaugurado em 1821), também conhecido
como Farol da Barra ou do Picão. SOUZA (1885) complementa que, à época, este
forte estava classificado como de 2ª Classe (op. cit., p. 83).
No século XX,
a fortificação passou ao Ministério da Fazenda (1905), estando em ruínas
em 1906.
Quando das obras de construção do porto do
Recife, as suas ruínas foram cobertas pelo enrocamento do quebra-mar
Sul (GARRIDO, 1940:67), descaracterizando-o completamente. As reformas de que
foi objeto desde então visaram apenas consolidar e proteger a base quadrada do
farol, no formato artístico de um forte com ameias para recordar
a sua origem, no quebra-mar que atualmente dá acesso ao porto.

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