sábado, 3 de abril de 2021

História do Engenho Central de Piracicaba, Piracicaba, São Paulo, Brasil


 

História do Engenho Central de Piracicaba, Piracicaba, São Paulo, Brasil
Piracicaba - SP
Fotografia

A ideia de grandes engenhos centrais surge no Brasil durante o período Imperial, como uma alternativa para a substituição da mão de obra escrava pela assalariada, perante um cenário que, devido a pressões internacionais, leis como Eusébio de Queirós (4 de setembro de 1850), Nabuco de Araújo (1854) e Ventre Livre (1871) se consolidavam. A modernização da produção açucareira era um dos incentivos da política imperial e, é com ela, que surge o engenho Central de Piracicaba.
Em 19 de janeiro de 1881 o advogado e empresário Estevão Ribeiro de Sousa Rezende, junto com os agricultores Antônio Corrêa Pacheco e Joaquim Eugenio do Amaral Pinto, abre a Empresa Engenho Central de Piracicaba, equipada com maquinários da indústria mecânica francesa Brissonneau e Lotz, e com doação de parte do terreno de Estevão Rezende, conhecida no período como Fazenda São Pedro, para a construção. Em 7 de maio do mesmo ano, D. Pedro II assina o Decreto Imperial n° 8.089, autorizando o funcionamento do Engenho Central.
Com a chegada do maquinário em 18 de novembro de 1881, a montagem dos equipamentos é realizada pelo engenheiro industrial André Patureaux e o engenheiro Fernando Dumoulin. O Engenho funcionava com entradas automáticas das canas-de-açúcar e saída do bagaço pelas fornalhas, com três geradores de 100 cavalos de força, três tanques de cobre para saturação de garapa, em edifício servido por uma chaminé de tijolos. Quanto ao maquinário original do Engenho Central, este era composto com moenda brissonneau de oito cilindros, movida por uma turbina hidráulica acionada pela queda d’água, com capacidade de fornecimento regular de 120 a 150 toneladas de produção, com extração de 67%.
Em 31 de dezembro os estatutos da empresa Engenho Central são aprovados pela Câmara de Piracicaba, autorizando a exploração da indústria açucareira na cidade.
A Lei N. 12 concedia à Cia. Engenho Central de Piracicaba o privilégio de estabelecer uma linha de bondes em 1883, porém esses bondes jamais foram implementados nessa linha, mas é possível que essa lei seja a responsável pelas linhas internas do Engenho.
O jornal Gazeta de Piracicaba, anunciou em 30 de março de 1883 que o Engenho Central já possuía para-raios, instalados no alto de sua chaminé, o primeiro para-raios da cidade de Piracicaba. Nesse mesmo período, o açúcar produzido pelo Engenho Central era de qualidade superior e pronto para o consumo, e serviam como exemplos da modernização do Império.
Mais uma lei em favor aos escravos surge no Brasil, em 28 de setembro de 1885, a Lei Saraiva-Cotegipe, ou a Lei dos Sexagenários, onde escravos negros com mais de 65 anos estavam livres, a partir daquele momento.
A família real brasileira já havia passado por Piracicaba em 22 de setembro de 1878, e hospedando-se na casa de Estevão Rezende. A visita foi marcada pela comitiva de D. Pedro II, que fez um passeio de canoa até o Canal Torto, onde tomou o vapor da Companhia Fluvial até o Limoeiro. Permaneceram em Piracicaba por dois dias. Dessa vez, em 2 de novembro de 1886, a família real se hospeda, novamente, na casa de Estevão Rezende. Há relatos de que a princesa Isabel participou da visita e visitou o Engenho Central.
Em 29 de abril de 1887 o Engenho Central entrou em concordata, devido a finanças ruins, e os responsáveis por assumir a responsabilidade foram João Tobias de Aguiar e Castro e Estevão Rezende, que mais tarde, em 12 de maio do mesmo ano, recebeu o título de Barão de Rezende, pelo próprio D. Pedro II. Em 25 de maio o sistema de água encanada chega em Piracicaba, onde hoje é o Museu da Água.
O ano em que a Lei Áurea entra em vigor no Brasil (13 de maio de 1888), libertando todos os escravos e sob o comando e Marechal Deodoro da Fonseca, D. Pedro II é deposto e a Proclamação da República é anunciada, em 15 de novembro, é o mesmo em que o Engenho Centra passal por diversas dificuldades. Tudo se inicia em 16 de fevereiro, quando o Engenho Central é colocado a venda, com todos os seus pertences, um total de 410:000$000 (410 mil réis). A cidade contava nesse período com 36 ruas e 9 largos com nomes, 45 ruas e 5 travessas sem nome. O Engenho passa a ter um único dono em 17 de março, o Barão de Rezende. Inúmeras dificuldades surgem em encontrar mão-de-obra especializada e capacitada para o maquinário francês (manutenção e trabalho) e a falta de obra-prima começa a atrapalhar o nível de produção.
Em 11 de agosto de 1889 é anunciado, pela Gazeta de Piracicaba, que o engenho Central possuía uma safra de 40 mil sacas de açúcar, aproximadamente 160 mil arrobas. Nos anos anteriores a safra tinha orçado por 25, 28 e 30 mil sacras, sendo que em 1887 foram de 33 mil sacas.
Em 1889 o Barão de Rezende decide vender o Engenho Central de Piracicaba para um grupo de três franceses: Dorocher, Doré (seu fundador) e Maurice Allain, com a denominação de Societè de Sucrerie de Piracicaba. Após a venda o Engenho Central passa a ser o mais importante do país, com produção anual de 100 mil sacas de açúcar e três milhões de litros de álcool, incorporando-se a outras seis usinas do grupo do Estado de São Paulo. A companhia ainda adquire a fazenda Santa Rosa.
Em 25 de julho ocorre a inauguração da Chaminé do Engenho Central, de 41 metros de altura. Seu construtor foi o empreiteiro de obras, José Vicente Martinez, espanhol, residente em Piracicaba há muitos anos. Em 4 de outubro é inaugurado a monda de pressão e repressão e duas caldeiras multi-tubulares, alimentadas pelo bagaço da cana. Proporcionando ao Engenho uma produção de duas mil arrobas de açúcar por dia, na safra.
Em 15 de novembro é instituída a República no Brasil, por Marechal Deodoro da Fonseca, como substituição ao Regina Monárquico e fim do período imperial.
Ao final do ano, a partir de dados de recenseamento em Piracicaba, em 31 de dezembro de 1889, a cidade possuía 2.092 casas, 11.060 habitantes, sendo 8.054 brasileiros e 3.006 estrangeiros, 5.207 homens e 5.853 mulheres, 5.555 alfabetizados e 5.505 analfabetos.
A partir de 1903 o Engenho Central passou a ser abastecido pelos trilhos de trem que carregavam o açúcar e o álcool.
Em 1907 é fundada a sociedade anônima Societè de Sucrèrie Brèsilienne (SSB) presidida por Maurice Allain, que ocupou o cargo até 1932, sendo sucedido por Pierre Allain.
A Societè era um grupo parisiense que congregava seis engenhos e usinas, sendo eles o Engenho Central de Piracicaba, Villa Raffard, Porto Feliz, Engenho Central de Lorena, Usina Cupim e Usina Paraíso, sendo essas duas últimas em Campos – RJ.
Em 1909 o Barão de Rezende falece em Piracicaba, na Chácara São Pedro, aos 69 anos de idade. Seus restos mortais estão sepultados no Cemitério da Saudade, Travessa D, sepultura n° 1807.
A Primeira Guerra Mundial (1914-1919) faz com que o mercado internacional de açúcar cresça, favorecendo a produção piracicabana do Engenho Central. Esse crescimento de mercado torna-se ainda mais acentuado com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, fazendo com que o Engenho Central de Piracicaba produzisse ainda mais açúcar.
A década de 20 fez com que o Engenho Central, pelas mãos do Dr. Holger Jensen Kok, ou mais popularmente conhecido, Dr. Kok, passasse por melhorias em suas estruturas. Os antigos prédios do Engenho Central passaram a ser substituídos por edifícios de alvenaria aparente, conforme a necessidade. O prédio da Moenda foi ampliado pelo engenheiro químico Jean Balboud, ganhando nova fachada de linhas clássicas e simétricas, com um frontão ornamentado.
Até o final da década de 20 o Engenho Central de Piracicaba era a maior e mais importante indústria da região, os lucros da SSB eram crescentes desde sua fundação em 1907, e mesmo quando o vírus Mosaico começou a se propagar pelos canaviais a Estação Experimental de Piracicaba desenvolveu estudos para a erradicação do vírus, consolidando a modernização do Engenho Central.

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