Viagem à Lua 1902 - Le Voyage dans la Lune
França - 13 minutos
Poster do filme
As atividades de Méliès como diretor começaram em 1896, ano em que dirigiu nada menos que 81 curtas-metragens, dentre obras de ficção e pequenos documentários, panorâmicas simples e cenas do cotidiano. A partir desse momento, ele tentou aplicar suas técnicas de mágica, ilusionismo e tendências teatrais ao espetáculo cinematográfico, uma arte ainda sem identidade e em fervorosa construção. Ele aprendeu a fazer truncagens, stop motions e aplicar efeitos especiais, tornando-se um pioneiro do cinema em vários aspectos e legando para os cinéfilos de séculos depois a sua imaginativa forma de ver o mundo.
Viagem à Lua (1902) é o mais importante dos filmes de Méliès, embora não seja, necessariamente, o seu melhor filme. O curta é uma adaptação do livro Da Terra à Lua (1865), de Julio Verne e também de Os Primeiros Homens na Lua (1901), de H. G. Wells. A trama se inicia em Paris, no Clube de Astronomia, onde o professor Barbenfouillis propõe ao renomado grupo que invistam em uma viagem à Lua, algo que não agrada a maioria e gera, claro, uma confusão com direito a coisas sendo jogadas no pobre professor (interpretado pelo próprio Méliès). Apenas cinco astrônomos –- Nostradamus, Alcofrisbas, Omega, Micromegas e Parafaragaramus -– concordam em realizar a ousada viagem. Então a mágica e as estranhezas típicas do Primeiro Cinema e deste tipo de filme começam a acontecer.
Quando eu falo “estranhezas”, não interprete como uma acusação negativa. Estou usando a palavra no sentido mais natural possível, com o fato de ser estranho vermos o que acontece a partir do momento em que as preparações para a viagem se dá. A mistura de cenários reais, cenários pintados e objetos construídos no estúdio de Méliès –- com muitos protótipos para os atores esculpidos em terracota e elementos do cenário que misturavam vários tipos e tratamentos de papel, madeira e chapas leves de metal –- o curta é claramente resultado de um grande esforço para parecer supra-realista dentro do seu gênero –- com licenças científicas como o fato de os astrônomos não utilizarem nenhum traje espacial na Lua –- e ao mesmo tempo não se importa em exagerar nas interpretações ou na sequência de acontecimentos, caraterísticas comuns do cinema daquele momento.
Com ampla exploração das técnicas que tinha desenvolvido até o momento e observação atenta para realizações cinematográficas dos Estados Unidos a que tinha cesso, Méliès conseguiu um resultado deliciosamente satírico de temas científicos que, guardados os avanços tecnológicos e o estabelecimento de uma linguagem cinematográfica, são utilizados até hoje. Além disso, o longa tem uma daqueles cenas absolutamente inesquecíveis da Sétima Arte, a chegada da cápsula dos astrônomos à Lua. O satélite é mostrado com face antropomorfizada e dá língua para a tela quando é atingido, sem necessariamente demonstrar dor. A aproximação por cortes bruscos e a súbita chegada da cápsula são parte de um trabalho que diverte, encanta e segue misturando grande número de espaços e personagens curiosos, como os cogumelos lunares, os Selenitas (habitantes da Lua, assim denominados em homenagem à deusa grega da Lua, Selene) e o fundo do mar, onde a cápsula cai após a fuga dos astrônomos do palácio dos Selenitas — indicação de Méliès contra a colonização?
Em 1993 foi encontrado, na Espanha, uma cópia do filme colorizada a mão. Acredita-se que o trabalho tenha sido feito apenas em 1906. De 1999 a 2011 foi realizado um longo e penoso processo de restauração, que terminou com a exibição do filme restaurado no Festival de Cannes, em 2011, e com o seu lançamento em Blu-Ray, no ano seguinte. Mais um novo capítulo – e não necessariamente o último – é escrito na história de um dos primeiros filmes de ficção científica do cinema. Viagem à Lua é uma daquelas grandes obras que atravessam gerações, avanços e modelos de sociedade mas permanecem vivas e seguem causando grande admiração em quem as vê.













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