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terça-feira, 29 de março de 2022
Hotel Majestic / Atual Casa de Cultura Mário Quintana, 1980, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Hotel Majestic / Atual Casa de Cultura Mário Quintana, 1980, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Porto Alegre - RS
Fotografia
Inaugurada em 25 de setembro de 1990, a Casa de Cultura Mário Quintana, que leva o nome de um dos maiores poetas gaúchos, se consagrou como um dos clássicos cartões-postais de Porto Alegre e como um dos principais centros de cultura e arte do Brasil.
A história da Casa de Cultura Mário Quintana começou anos antes de sua inauguração — com a criação do Hotel Majestic. Em 1916, Horácio de Carvalho, empresário ligado ao ramo de importação e exportação, iniciou a construção de um hotel na Rua da Praia. Nessa época, o local era uma das principais vias da cidade, concentrando bares, cafés e grande parte da vida social da Capital. Carvalho também viu muita potencialidade na localização pela proximidade do Guaíba — nesse período, o hotel chegava quase às margens do lago, onde atualmente é a Avenida Mauá. Projetado pelo arquiteto alemão Theodor Alexander Josef Wiederspahn, o hotel causava espanto e encantava a população, afinal era incomum encontrar passarelas suspensas sobre via pública no cenário da época. “Foi o primeiro prédio a usar concreto armado, era uma tecnologia super inovadora para a época. É o que permite que o espaço tenha aquelas passarelas”, explica Diego Groisman, diretor da CCMQ.
A construção do prédio foi finalizada apenas em 1933. Mas em 1923, o Hotel Majestic já havia aberto suas portas e recebia os primeiros hóspedes. Rapidamente, o local se transformou em símbolo do desenvolvimento e da modernização de Porto Alegre, tornando-se referência pela hospitalidade e pela infraestrutura luxuosa. Os anos 30, 40 e 50 foram seus tempos dourados. Importantes figuras populares como os ex-presidentes Getúlio Vargas e João Goulart, o poeta Oswald de Andrade, a vedete Virgínia Lane e o cantor Francisco Alves foram hóspedes do Majestic.
Um dos hóspedes ilustres foi o poeta Mário Quintana, que viveu por longos períodos no hotel entre 1968 e 1980. O escritor residia com frequência no quarto 217. Na época, Quintana trabalhava no jornal Correio do Povo, localizado a algumas quadras do Majestic. Segundo Groisman, diretor da CCMQ, Quintana não pagava pelo aluguel do quarto, vivendo no hotel em troca de favores. “Muitas vezes não tinha quarto, e ele era expulso”, relata Groisman. Foi o que aconteceu em 1980, quando Quintana foi despejado definitivamente do Majestic. Nessa época, o hotel já estava em decadência e não tinha mais como arcar com os custos de um hóspede morando gratuitamente. Desde a década de 70, o Majestic passou a sofrer com a concorrência de novos hotéis que contavam com instalações mais amplas e modernas, perdendo, assim, muitos clientes.
Após ser expulso do Majestic, Quintana se mudou para o Hotel Royal. O proprietário era o comentarista esportivo e ex-jogador da seleção Paulo Roberto Falcão, que cedeu um quarto para o poeta. Solitário, Mario Quintana passou grande parte da sua vida vivendo em hotéis. Atualmente, a Casa de Cultura Mario Quintana possui uma reconstituição do quarto ocupado pelo poeta, feita com base em fotos da época e utilizando objetos pessoais do escritor.
Na década de 70, o grande Hotel Majestic vai à falência e fecha suas portas. É nesse período que os sinais de abandono tomam conta do prédio: o telhado é destroçado pela ação das chuvas e ventos e alguns recintos são tomados pela água. Devido ao estado de deterioração do edifício, muitas pessoas lutaram por sua demolição. Apenas em 1980, o antigo prédio é comprado pelo Banrisul e, dois anos mais tarde, adquirido pelo governo do Estado. Nesse momento, a população do bairro e a Associação de Amigos começou a se organizar para que fosse criado um centro cultural no espaço. “A Associação de Amigos da CCMQ foi fundamental. Ela é um caso raro no mundo: é uma associação que surge antes do aparelho cultural”, ressalta o diretor da Casa. A partir desse movimento, em 1983, o edifício foi arrolado como patrimônio histórico, tendo início sua transformação em Casa de Cultura. No mesmo ano, por meio da Lei 7.803 de 8 de julho, foi aprovado que o local recebesse o nome de Mário Quintana.
Para transformar o antigo hotel em um espaço cultural, foram necessárias diversas reformas, que ocorreram de 1987 a 1990. O projeto arquitetônico foi assinado pelos arquitetos Flávio Kiefer e Joel Gorski. Aos poucos, os antigos quartos e áreas de convivência do Majestic foram dando lugar a espaços voltados para o cinema, a música, as artes visuais, a dança, o teatro e a literatura. Em 25 de setembro de 1990, a Casa de Cultura Mário Quintana foi finalmente aberta para o público.
“Ficamos boquiabertos. Deslumbrados, perplexos, maravilhados, atônitos, rigorosamente seduzidos pelos ambientes, as escadarias, o novo interposto com graça, bom gosto e magia ao velho das paredes, dos forros, das aberturas, vidro abrindo espaços para as passarelas, a cada andar a surpresa de novos conteúdos e pessoas, artistas, músicos, atores. Quase sucumbimos andar por andar, multidão em que nos metemos, atropeladamente, na Casa de Cultura Mário Quintana ontem inaugurada, feita de luzes e sons, como não se sonhava que pudesse ser tão linda, convidativa e provocadoramente inventiva de nós e dos outros”. No trecho, extraído da coluna “Nós, cidadãos da cultura”, escrita pelo jornalista Ruy Carlos Ostermann para o jornal Zero Hora, um dia após a inauguração da Casa, é possível sentir a alegria e a emoção que habitavam o mais novo centro cultural de Porto Alegre.
Ao longo desses 32 anos de história, a perplexidade e o encantamento com a querida casa rosa do Centro Histórico seguem os mesmos. Nessas mais de três décadas, a Casa se constituiu como parte importante da cartografia afetiva da cidade. Para Diego Groisman, um relevante fator para o sucesso do espaço é a transversalidade, abrigando em um único lugar teatro, cinema, biblioteca, museu, galeria e todos os tipos de segmentos artísticos. “Há 32 anos, a Casa vem se dedicando para oferecer uma programação de qualidade para a população. Mais de 90% das atividades da Casa de Cultura são gratuitas”, relembra o diretor.
Além da programação, a Casa também tem um importante espaço dedicado à pesquisa e à memória. Em 2013, iniciaram as atividades do Núcleo de Acervo e Memória na CCMQ. O setor é responsável pelo resgate histórico, identificando, reunindo e registrando tudo aquilo que se relaciona com a história da Casa e de Mario Quintana. “Esse trabalho tem como principal objetivo proporcionar maior conhecimento do público sobre a trajetória da CCMQ como um dos mais importantes centros culturais do Estado. Realizamos várias exposições que registraram eventos importantes, principalmente sobre a vida de Quintana, destacando aspectos que o público pouco conhecia”, explica o arquivista Alexandre Veiga.
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