Interior do Theatro Pedro II, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia
Em 2022 foi comemorado o aniversário de 92 anos do Theatro Pedro II. O presente artigo retrata sua história abordando os seguintes tópicos:
nascimento, batismo, registro, vínculos com a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, palco e plateia, decadência, morte, abandono e protesto, ressurreição e Fundação Pedro II.
A abordagem foi elaborada com a transcrição de importantes documentos históricos até então inexplorados, constantes no Arquivo Histórico da Orquestra e no Centro de Documentação do Theatro.
Nascimento: Surge o Theatro Pedro II
O vocábulo grego Théatron estabelece o lugar físico do espectador, "lugar onde se vai para ver" e onde, simultaneamente, acontece o drama como seu complemento visto, real e imaginário. Assim, o representado no palco é imaginado de outras formas pela plateia. Toda reflexão que tenha o drama como objeto precisa se apoiar numa tríade teatral: quem vê, o que se vê, e o imaginado. O teatro é um fenômeno que existe nos espaços do presente e do imaginário, nos tempos individuais e coletivos que se formam neste espaço.
Na década de 1920, a cidade de Ribeirão Preto viveu seu apogeu econômico e político, desencadeado pela Cultura Cafeeira e pela implantação da Cia Mogiana de Estradas de Ferro que aconteceu em 1876. Para entender o progresso deste período e as atividades culturais e de entretenimento, devemos considerar que já existiam no final do século XIX em Ribeirão Preto a energia elétrica e o cinematógrafo. A cidade acabava por se beneficiar das novidades e novos locais foram feitos para o convívio social, principalmente da elite, como cassinos e teatros. Prova disso foi o Teatro Carlos Gomes, construído e projetado pela Companhia Ramos de Azevedo, que estava em atividade desde 1897 com bailes, apresentações teatrais, exposições artísticas, festas e banquetes. Esta importava os espetáculos das grandes companhias líricas para estreia nacional, entre eles o da Companhia de Operetas Clara Weiss, da Companhia Ermete Zarconi e da Companhia de Operetas Clara Della Guardia.
Além da função consumista que proporcionavam aos espectadores, o cassino e o teatro constituíram-se em espaços íntimos de afeições pessoais e decisões políticas. Este último, construído graças à posição política e à riqueza incalculável do Coronel Schimdt, foi edificado no final do século XIX e foi considerado o segundo maior teatro do país à época.
As atividades do Teatro Carlos Gomes tinham similaridade com as atividades dos Clubes e Sociedades de Concertos de São Paulo e Rio de Janeiro, instituições aristocráticas que também mantinham um corpo orquestral para atuar em seus eventos.
Com a abertura industrial em 1911, instalou-se na cidade a Companhia Cervejaria Paulista. Nesta época, o aristocrata Adalberto de Oliveira Roxo adquiriu alguns velhos prédios na esquina das ruas Duque de Caxias e Álvares Cabral para a construção de um hotel, o Central Hotel. Este edifício deu início ao Conjunto Arquitetônico conhecido como "Quarteirão Paulista". Os outros terrenos localizados em frente à Praça XV de Novembro, até a esquina com a rua General Osório, foram adquiridos pela Cia Cervejaria Paulista, com a finalidade de construir um conjunto arquitetônico composto por um teatro e um edifício de escritórios. Posteriormente foi adquirido também o edifício recém-construído do Central Hotel, que passou a ser chamado de Palace Hotel. Tratava-se de um grande e novo complexo arquitetônico para Ribeirão Preto que acontecia para representar riqueza e ostentação, oriundas da ascendente economia agro-industrial de Ribeirão Preto. Para a execução desse projeto, João Meira Júnior, um dos fundadores da Cia Cervejaria Paulista, contratou, entre 1928 e 1930, o arquiteto Hippolyto Gustavo Pujol Júnior, e a parte estrutural da construção coube à empresa alemã Kemmitz, dirigida por Fritz Hans Urlass.
Desta iniciativa, inicia-se a construção de um grande teatro de ópera com projeto inspirado em casas de espetáculos européias. A ideia era criar um local que simbolizasse o poder da sociedade cafeeira.
Ribeirão Preto, que então possuía condições favoráveis para assimilação das novidades que chegavam do exterior, desfrutou de uma política municipal que desde a década de 1910 organizou a estrutura social, planejou suas ruas, promoveu o saneamento e a iluminação de ruas e praças públicas baseada em modelos europeus, propiciando características francesas a todos os outros aspectos.
Historicamente, a economia cafeeira de Ribeirão Preto alcançou seu apogeu na década de 1920, mas, com a Recessão de 1929, tal desenvolvimento entrou em declínio. Diante da grave crise econômica mundial e do crack da Bolsa de Nova Iorque, os fazendeiros se uniram aos membros da Associação Comercial e Industrial (ACI-RP) para buscar meios de minimizar os efeitos da crise. Eles se reuniam para a discussão do quadro econômico e a aplicação de soluções de interesses das classes. A Associação enviou telegramas ao Presidente da República, Washington Luís, solicitando medidas urgentes para a situação aflitiva do comércio local, e ao presidente do Banco do Brasil, pedindo maior margem para as operações bancárias realizadas em Ribeirão Preto.
Em 1930, houve a revolução política nacional. Com estes acontecimentos, encerrou-se produção cafeeira em grande escala, e o cenário social iniciou uma nova fase que herdou a cultura da Belle Époque, mas não tinha meios para sua manutenção. O memorialista Rubem Cione (1987) define o período do café na cidade de Ribeirão Preto em três ciclos: o de pioneirismo (até 1870), o de apogeu ou consolidação (de 1870 a 1929) e o de decadência (de 1930 em diante). Ao todo foram sessenta anos de produção de café, entremeada por crises: econômica (1882), do elemento servil (1888), de superprodução (1906), da geada (1918) e da crise econômica mundial (1929).
A crise econômica mundial de 1929 refletiu-se na construção do Theatro Pedro II, o símbolo dos tempos áureos do café. A construção foi modificada em sua fase de acabamento; mesmo assim, foi inaugurado a 8 de outubro de 1930 o Theatro Pedro II, com a apresentação do filme "Alvorada do Amor". Desde então, tornou-se referência cultural e artística para a região de Ribeirão Preto e palco de acontecimentos políticos e sociais.
Batismo: A escolha do nome do Theatro
A designação do Theatro homenageia o último imperador do Brasil, D. Pedro II.
O adjectivo republicano pode caber-nos, na verdade, desde que lhe precisemos o sentido. Nos homens bons era forçoso reconhecer uma inegável independência republicana, aliada a uma inteira fidelidade monárquica (Antonio Sardinha 1887/1925).
Houve um plebiscito em Ribeirão Preto para a escolha do nome do Theatro. O memorialista Rubem Cione cita, em seu livro História de Ribeirão Preto - vol.1, o seguinte:
[...] ao ser iniciada a construção do Theatro Pedro II, o jornal local "A Cidade" promoveu um concurso por votos, para ser dado por esse meio, o nome do teatro. A contenda tomou vulto, e além de diversos nomes inspirados pelos votantes, sempre figurava em primeiro lugar os nomes do último imperador e de Cassoulet, e não poucas vezes Cassoulet figurava em primeiro plano.
François Cassoulet, nome que concorreu ao plebiscito, foi o produtor das diversões de Ribeirão Preto que mais se destacou na cidade no início do século XX. Viveu e trabalhou por aqui entre os anos de 1894 e 1917. Era grande empreendedor e inaugurou um dos primeiros cafés cantantes do Brasil, o Eldorado, e, posteriormente, algumas casas teatrais e de diversões para os endinheirados. Estes locais atraíam também frequentadores de toda a região e mesmo de algumas capitais.
Com enorme atenção à produção dos eventos apresentados nos estabelecimentos que eram de sua propriedade, Cassoulet trazia para eles artistas de renome e prostitutas, apresentava performances artísticas e oferecia mesas de jogos, mas também organizava os festejos de carnaval das ruas e dos clubes para a população em geral.
Apesar de seu envolvimento com atividades de meretrício, foi tolerado na cidade pelo refinamento de suas produções, que incluíam apresentações das Companhias de Óperas Italianas; muitas delas estreavam primeiramente em Ribeirão Preto, no Teatro Carlos Gomes, para depois seguir em turnê por todo o país. No Eldorado, oferecia apresentações para o público masculino em todas as noites e, como gerente do Teatro Carlos Gomes, promovia reuniões e conferências, entre outras atividades, incluindo curiosamente a apresentação de filmes em cinematógrafo. Segundo consta em sua massa falida, Francisco Cassoulet administrou além de um restaurante e Café Concerto, o Teatro Carlos Gomes entre 1905 e 1917, o Paris Theatre entre 1903 e 1917 e o Cassino Antárctica entre 1909 e 1917. Declarou, em 1917, quando de sua falência, ser comerciante e empresário teatral e residir há vários anos à rua Américo Brasiliense de número 27 em frente ao Cassino Antarctica.
Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga ou D. Pedro II, também chamado "O Magnânimo", foi o segundo e último Imperador do Brasil. Foi o sétimo filho de Dom Pedro I e da arquiduquesa Dona Leopoldina de Áustria. Pedro II governou de 1840, quando foi antecipada sua maioridade, até 1889 ano em que foi deposto com a proclamação da república brasileira.
Além dos registros históricos e jornalísticos da época, Pedro II deixou à posteridade 5.500 páginas de seu diário registradas a lápis em 43 cadernos, além de correspondências, que nos possibilitam conhecer um pouco mais do seu perfil e pensamento.
Ele é, ainda hoje, um dos personagens mais admirados do cenário nacional, e é lembrado pela defesa à integridade da nação, ao incentivo à educação e cultura, pela defesa à abolição da escravidão e pela diplomacia e relações com personalidades internacionais.
Durante toda a sua administração como imperador, o Brasil viveu um período de estabilidade e desenvolvimento econômico e grande valorização da cultura, além de utilizar o patriotismo como força de defesa à integridade nacional. Apesar de, muitas vezes, demonstrar certo desgosto pelas intensas atividades políticas, o último imperador do Brasil construiu em torno de si uma aura de simpatia e confiança entre os brasileiros.
Nota-se que, apesar da República, os referenciais de Monarquia continuavam presentes na população, assim como, nos dias de hoje o termo Theatro, com Th, se referindo ao Theatro Pedro II, é sempre utilizado justificando-se na tradição.
Registro:
Desde 1996, o Theatro Pedro II possui em sua sala principal, capacidade para 1588 espectadores e uma área total de 6500 m². Ainda no subsolo acomoda um público de 200 pessoas no Auditório Meira Júnior (teatro oficina).
Por sua excelente acústica, o Teatro Pedro II é considerado um dos melhores teatros da América Latina, destacando-se para a realização de concertos sinfônicos e em especial ópera (de acordo com seu projeto inicial), incluindo-se fosso com elevador para orquestra abrigando cerca de sessenta músicos.
Orquestra, Palco e Plateia:
Desde sua inauguração, o Theatro Pedro II foi a principal referência cultural da cidade. Tornou-se centro de acontecimentos políticos e sociais e grandes companhias teatrais e operísticas do exterior e corpos de baile do país se apresentaram nele. Era de propriedade da Cia Antarctica Paulista que também administrava suas atividades.
Em 22 de setembro de 1938, o Theatro Pedro II recebe o concerto inaugural da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, mantida pela Sociedade Musical de Ribeirão Preto. Apesar desta Sociedade ser fundada 8 anos depois do Theatro, o programa da Inauguração do Theatro Pedro II, de 1930, demonstra que a orquestra de mesmo nome, mas mantida por uma entidade anterior e mais antiga, participou deste fato, o que evidencia que a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto é mais antiga do que se pensava.
O vínculo Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto e Theatro Pedro II é tão intenso que é comum o Theatro ser confundido entre a população como sendo a sede da Orquestra, ou mesmo encontrarmos a errônea afirmação de que as duas entidades fazem parte da mesma administração: a prefeitura.
Desde a fundação de ambos, a Orquestra tem o Theatro como seu palco principal. A ligação é tão forte que devemos nos remeter a alguns documentos que pertencem ao Arquivo Histórico da OSRP, para conhecer e admirar a história destes dois maiores patrimônios culturais de Ribeirão Preto.
Transcrição do Jornal "Folha da Manhã" de 29 de setembro de 1938:
"A sociedade de Ribeirão Preto teve o prazer de apreciar novamente uma noitada verdadeiramente artística com o concerto inaugural da Sociedade Musical, ultimamente aqui fundada (...). O sumptuoso Theatro Pedro II apresentava-se repleto e às 20:30 horas, ergueu-se o panno, falando o Dr. Camillo de Mattos, que em ligeiras palavras se referiu aos sentimentos nobres dos artistas componentes da sociedade que estava sendo inaugurada, destinando parte dos resultados daquelle concerto ao socorro a um collega enfermo. A seguir deu início a um longo discurso fazendo a apologia da música e salientando a figura insigne do maestro patrício, Carlos Gomes. Ao terminar, foi o orador muito applaudido e abraçado por D. Joaquina Gomes, irmã de Carlos Gomes, que não conseguiu occultar sua comoção provocada pelas referências feitas a seu irmão. Em seguida teve início o concerto, sendo executadas, em sua maioria, obras de Carlos Gomes, tendo a execução de todas ellas dado um bello attestado de competência artística do maestro Antônio Giammarusti e seus companheiros. Durante o intervallo, Raul Laranjeira executou algumas músicas no seu violino, colhendo calorosos applausos. Está, pois, de parabéns a nossa população com o apparecimento de mais essa entidade artística e fazemos votos por que também o nosso povo corresponda à expectativa, cooperando no progresso da Sociedade Musical de Ribeirão Preto".
Transcrição do Jornal "Diário da Manhã" de 9/6/1957:
(...) Uma orquestra sinfônica não se improvisa, daí as grandes dificuldades dos idealizadores da Sociedade Musical de Ribeirão Preto, cujo principal fim seria a organização de uma orquestra para a difusão da música clássica. Houve necessidade de moldar elementos, estabelecer disciplina, programas de estudos e ensaios continuados. Finalmente, no dia 22 de setembro de 1938, no Theatro Pedro II, a Sociedade Musical de Ribeirão Preto apresentou ao público a Orquestra Sinfônica, executando um programa, ainda em homenagem a Carlos Gomes, o inspirador do movimento artístico.
Noite de gala a qual compareceram as mais altas autoridades locais e a senhora Joaquina Gomes, "nhá" Quina, irmão de Carlos Gomes. Regeu a orquestra o maestro Antonio Giammarusti, com o concurso de Raul Laranjeira.
O programa daquela noite constou dos seguinte: Abertura do espetáculo com o discurso do senhor Joaquim Camilo de Mattos, prefeito municipal, seguindo-se a execução pela orquestra de: "Fosca", sinfonia de Carlos Gomes; "Ma Belle qui Danse" de Von Westerhout; "Maria Tudor", sinfonia de Carlos Gomes; "Minueto em Si Bemol" de Boschini; "Salvador Rosa", ouverture da Opera de Carlos Gomes; "Preludio" da Opera "Lo Schiavo" de Carlos Gomes; "Momento Musical para cordas de Schubert, e finalmente "O Guarani", sinfonia de Carlos Gomes.
Sociedade Musical de Ribeirão Preto, sem sede própria... (extraído do capítulo do livro "50 anos de Orquestra Sinfônica em Ribeirão Preto 1938-1988" de Myriam de Souza Strambi (1989):
Desde a sua fundação até fins de 1958, a Diretoria e a Orquestra Sinfônica da Sociedade Musical de Ribeirão Preto vagaram de porta em porta, conseguindo por gentileza de cidadãos ribeirãopretanos, um lugar para realizar suas reuniões e ensaios, pois até então não haviam conseguido adquirir uma sede própria.
As primeiras reuniões foram realizadas na residência de Max Bartsch, presidente da Sociedade, que era gerente da Cia. Antarctica Paulista, na rua Luís da Cunha n. 2, e posteriormente em seu novo endereço, no n. 80 da mesma rua.
Muitas foram realizadas também na residência de Biase e de Edmunso Russomano, que antes de tudo, eram idealistas e amigos de Max, lutando ao seu lado, pela sobrevivência da entidade musical, que cuidava com muito carinho.
A Orquestra Sinfônica já havia conseguido espaço para seus ensaios no sub-solo do Theatro Pedro II, pois contava com o apoio do Dr. João Alves Meira Júnior, entusiasta do projeto e presidente da Cia. Cervejaria Paulista, proprietária do local.
Com muito esforço por parte dos dirigentes, e já contando um considerável número e sócios, conseguiu a Sociedade Musical inaugurar sua própria sede social, que era apenas uma modesta sala, n. 252 do 2º andar, do Edifício Diederichsen, no dia 3 de fevereiro de 1939.
Transcrição da reportagem de Mario C. Délia, em reportagem especial para o jornal "Diário da Manhã" de 09 de janeiro de 1940:
Em uma destas ultimas tardes mornas de Ribeirão Preto, convidados especialmente, fomos ouvir, no subterrâneo do Theatro Pedro II, o ensaio do próximo concerto da Sociedade Musical de Ribeirão Preto.
Lá estava o maestro Ignácio Stábile, a reger a nossa symphonica e, embora o adiantado da hora, ainda conseguimos ouvir algumas musicas. Terminado o ensaio, aproximamo-nos do maestro para cumprimentallo e este foi nos dizendo á queima-bucha como é de seu natural: "O Sr. que tanto tem escripto sobre a necessidade de se divulgar a musica brasileira, vae ter o seu desejo satisfeito. O 9 concerto da Musical, terá a segunda parte toda dedicada a músicos brasileiros..."
- "Bravos, maestro, até que enfim, vamos entrando nos eixos..."
- "Há de me permitir, no entanto, que eu lhe diga o que penso da musica brasileira e das grandes dificuldades na organização dos programmas nacionaes."
-"Terei immenso prazer em ouvi-lo e transmitir assim as suas impressões aos leitores do Diário da Manhã".
Transcrição do Jornal "A Cidade" de 13 de dezembro de 1939, Jornal "O Diário da Manhã" de 18 e 26 de julho de 1939 e arquivo da OSRP:
Na noite de 17 de julho de 1939, com o objetivo de levantar fundos para a compra de instrumentos para a Sociedade Musical de Ribeirão Preto (mantenedora da OSRP), Giammarusti conseguiu realizar no Theatro Pedro II um recital pianístico com suas alunas. Produziu esta apresentação com 12 pianos no palco, emprestados pelas famílias da cidade, um recital com apresentações de piano solo e de conjuntos com 12 e 21 executantes, todos tocados por suas alunas. No repertório, constavam a "Fantasia sobre o Hino Nacional Brasileiro" de Gottschalk, "Moto Perpétuo" de Weber, "Polonaiseem La bemol" de Chopin e na última parte a "2ª Rapsódia" de Liszt e trechos da Ópera "O Guarany" de Carlos Gomes. Por esta realização foi muito elogiado pela imprensa da época, sendo citado como idealista e pessoa admirável por seu feito.
Transcrição do Jornal "Diário da Manhã" de 26 de julho de 1939:
Agradecimento
A Sociedade Musical de Ribeirão Preto, sensibilizada, vem por meio deste, externar a sua mais profunda gratidão ao competente Maestro Sr. Antonio Giammarusti pela patriótica iniciativa que teve, realizando um explendido, um formidável concerto com 12 pianos em benefício desta Sociedade.
Ao mesmo tempo agradece à fina flor da sociedade riberopretana, às exmas. pianistas e alumnas do maestro Antonio Giammarusti que deram prova pública do progresso da arte em Ribeirão Preto e ao mesmo tempo forma infatigáveis no seu auxilio à Sociedade Musical(...)
Em 1950, Ribeirão Preto recebeu a menina italiana Giannella di Marco para reger a OSRP. Com apenas 5 anos de idade, sua precocidade e genialidade eram definidos pela imprensa mundial. Assim consta no programa de concerto da OSRP do dia 14 de julho de 1950: "Giannella é uma garotinha de 5 anos apenas, que comanda a orquestra e dela obtem efeitos que, por vezes, pretenciosos diretores, bracejando como epileptoides, não obtêm. Dirigiu a Orquestra Sinfônica de Roma como gente grande e triunfou
plenamente. O que ultrapassa os limites comuns do que é humano, é que uma criaturinha que apenas teve tempo para aprender a falar, dirija uma orquestra sinfônica importantíssima e com absoluta precisão e em obras com envergadura como sejam as de Mozart, Rossini, Grieg e Wagner desde, nada menos que a Abertura Tannhauser".
Decadência:
Até fins dos anos 60, o Theatro Pedro II, constituiu-se em importante marco cultural e artístico da cidade e da região, seu glamour durou quase 30 anos.
Entre 1950 e 1970, o subsolo do teatro era utilizado como salão em baile de carnaval. Fora do período carnavalesco era transformado em sala de jogos. O local ficou conhecido como "Caverna do Diabo".
Ainda na década de 1960, o prédio passou por uma reforma que o descaracterizou e seus sinais de decadência levaram o Pedro II a mudar de proprietários. Na década de 70, o prédio foi arrendado por uma companhia exibidora que transformou sua capacidade a um cinema de 800 lugares. Na sala principal vários elementos decorativos foram destruídos, a plateia foi reduzida e placas de madeira encobriam camarotes, frisas e galerias laterais para transformá-lo em cinema. Em 1978, o teatro já estava em péssimo estado de conservação.
Morte:
Depois de longos anos de subutilização, o único teatro de ópera construído no interior e terceiro maior do país, viveu a tragédia: o incêndio destruiu a cobertura, o forro do palco e grande parte do interior, comprometendo a estrutura do Theatro Pedro II. Aconteceu no dia 15 de julho de 1980. O fogo começou com um suposto curto-circuito ocorrendo o fato durante exibição do filme "Os Três Mosqueteiros Trapalhões".
Abandono e Protesto:
O único grande protesto contra o descaso do poder público em relação ao Theatro foi promovido pela OSRP quando, em 5 de outubro de 1980, ocorreu a comemoração do cinquentenário do Theatro Pedro II que estava em ruínas há quase 3 meses. Para este evento, o maestro Isaac Karabtchevsky veio como convidado reger a OSRP, ao lado do seu maestro titular, Lutero Rodrigues. O concerto aconteceu na esplanada do Theatro já que seria impossível ser realizado em seu interior. A população prestigiou o
concerto onde foram apresentadas obras de Schubert, Rossini, Brahms e Tchaikowsky.
Karabtchevsky foi homenageado pela então Sociedade Lítero Musical, mantenedora da OSRP, com inauguração em sua sede, de uma placa comemorativa de sua apresentação.
Desde então, era possível notar as ruínas do Theatro, apesar de se localizar no centro da cidade, como local perigoso e de permanência de mendigos.
Ressureição:
No dia 7 de maio de 1982 o prédio do Theatro Pedro II foi tombado pelo CONDEPHAAT, Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, órgão subordinado à Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. A partir disto, artistas, intelectuais, cidadãos e políticos realizaram em Ribeirão Preto campanhas pela preservação do prédio e pelo resgate de sua função cultural, o que desencadeou em 1991 o trabalho de restauração e modernização do edifício.
O projeto de recuperação do teatro demorou cinco anos. A reforma da estrutura do prédio, a modernização das instalações e o restauro das características arquitetônicas originais resgataram e ampliaram suas funções, tornando o Pedro II o segundo maior teatro de ópera do país, em capacidade
de público, atrás apenas do Teatro Municipal de São Paulo.
Em agosto de 1996, na administração do prefeito Antônio Palocci Filho, o Teatro Pedro II foi reinaugurado com um concerto da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto e o Coral do Teatro Colón, de Buenos Aires, apresentando a abertura Il Guarany de Antônio Carlos Gomes e a Nona Sinfonia de Ludwig van Beethoven, respectivamente sob a regência dos maestros Roberto Minczuk e Isaac Karabtchevsky, contando ainda com a presença de Fernando Portari (tenor solista). Em sua nova configuração após a reforma, ocorreram várias melhorias e foi ainda criada e instalada uma nova cúpula da artista plástica Tomie Ohtake, mas todos os demais detalhes do Teatro Pedro II foram reconstruídos e restaurados de acordo com as plantas e demais dados arquitetônicos originais.
Fundação D. Pedro II:
A Fundação D. Pedro II foi criada no dia 19 de julho de 1995 pelas Leis Complementares nº 465 e 503 para a administração do Theatro Pedro II. Sua sede está instalada no prédio do Theatro, na Rua Álvares Cabral, 370, em frente à Praça XV de Novembro. A Fundação tem por finalidade: orientar, incentivar e patrocinar atividades artísticas e culturais; promover a defesa do patrimônio histórico-cultural do município e em especial do Theatro Pedro II; promover cursos, reuniões e congressos visando a realização de objetivos artísticos, culturais e educacionais da cidade e região, atendendo também eventos sem cobrança de ingressos para a população carente.
Nota do blog: Crédito das imagens para o "Grupo Amigos da Fotografia".
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