domingo, 10 de julho de 2022

Os Cobradores "Vermelhinhos", Curitiba, Paraná, Brasil

 



Os Cobradores "Vermelhinhos", Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Fotografia


Eles eram cobradores especializados, quando batiam na porta de alguém era para receber, de qualquer jeito, a dívida atrasada. A primeira visita era feita à paisana. Bem educados, até deixavam cartão de apresentação. Mas se fosse necessário uma segunda visita surgia o inusitado: o cobrador ia vestido com um uniforme vermelho, com a identificação "cobrador" às costas.
Era um acontecimento na rua, todo mundo parava para ver quem era o devedor que, "vermelho de vergonha", quase sempre pagava.
Quando o devedor era caloteiro do tipo contumaz, os "vermelhinhos" expunham o morador daquele endereço à execração pública. Suas estratégias de cobrança denunciavam o caloteiro, desmoralizavam o vivente. Eram coercitivos ao limite. Quando um deles aparecia num bairro, ou num lugar qualquer, seus passos eram acompanhados com curiosidade pelos bisbilhoteiros para saber qual seria seu alvo. O mau pagador morria de vergonha e, alguns, após a exposição, até mudavam de endereço. Havia devedores que partiam para a ignorância. Não foram poucos os casos de "vermelinhos" que saíram correndo para não serem agredidos por caloteiros. Mas quando isso acontecia, voltavam sempre em duplas, trios ou quartetos, para desestimular o devedor e evitar agressões.
Em Curitiba a moda foi posta em prática por um grupo de funcionários públicos recém-exonerados (todos rapazes entre 16 e 18 anos) que resolveram montar uma firma de cobrança, liderados por um tal de Zanoto, no início dos anos 1960.
Primeiramente alugaram um ponto na Avenida João Gualberto e constituíram a "Agência de Cobrança Os Vermelhos do Paraná", mais conhecidos como "os vermelhinhos".
Começaram modestos, cobrando contas penduradas em armazéns, ambulantes, cadernetas, até que passaram a se arriscar mais, cobrando aluguéis atrasados, notas promissórias e outras dívidas maiores. No começo faziam cobranças à pé ou de bicicleta. Posteriormente as bicicletas foram substituídas por lambretas, também vermelhas, é claro. Prósperos, "os vermelinhos" mudaram seu escritório para a Praça Generoso Marques.
Mas o "terror dos devedores" não durou muito. Tempos depois receberam "cartão vermelho" do chefe de polícia, que achou ilegal esse tipo de cobrança. E isso no momento em que seu ofício estava no ápice da lucratividade.
Tal prática não era uma exclusividade deles em Curitiba. Em muitas capitais e outras cidades, os "vermelhinhos" trabalhavam arduamente, desde os anos 1950. Cada empresa tinha suas particularidades: registros citam que até bandinhas tocavam à porta daqueles que não atendiam ou se escondiam dos cobradores.
Certos cobradores tinham técnicas próprias: não falavam com o devedor, não cobravam, sequer olhavam para a pessoa. Vestiam-se inteiramente de vermelho. O método de cobrança deles consistia em seguir o caloteiro pela cidade, aonde quer que ele/ela fosse. Se a pessoa entrasse na farmácia, o “homem de vermelho” ficava encostado na porta, bem em frente. E assim ia seguindo o devedor, às vezes por dias, até que a pessoa finalmente quitasse sua dívida. Enquanto o devedor não pagasse, o homem de vermelho era sua "sombra"...rs.

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