Refrigerante Maça Don, Indústria de Bebidas Don, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia
Esse é mais um daqueles textos no estilo "produtos que eu adorava e sinto falta", além de ser mais um post de memória afetiva e agradecimento a referida empresa.
Eu compreendo que a maioria das pessoas tem mais saudade e sentem falta da "Douradinha" e do "Guaraná Paulista" (que eu conheci nos seus tempos finais de fabricação), porém o refrigerante "barato" (modo carinhoso de se referir a essa modalidade de bebidas) da minha infância era a "Maça Don", vendida em suas tradicionais garrafas âmbar de 600 ml, objeto deste pequeno texto de lembrança.
Quando mudamos para Ribeirão Preto nos anos 80, nosso referencial de bebidas eram os produtos da Antarctica, Coca Cola, Brahma e Skol, que eram comercializados na capital. Bebidas oriundas de pequenos fabricantes só experimentávamos quando iámos para o interior, na casa de nossos parentes.
E quando iámos para o interior, havia uma infinidade de marcas, sendo a que mais recordo a "Cotuba" da Refrigerantes Arco Íris de São José do Rio Preto, mas que na época era conhecida como "Cotuba Tanabi" (perfumada e doce, totalmente diferente daquela "coisa" que vendem hoje).
Antes de mais nada, é necessário dizer que havia naquela época um fato que fazia toda a diferença (ao menos no meu caso) no estímulo de compra da Maça Don: o preço! Era extremamente barato, cabendo no bolso de um estudante de primeiro grau como eu, custava menos que uma garrafa pequena de Coca-Cola. Naqueles tempos era um grande diferencial para mim, eu vivia apertado...rs.
E, além disso, a garrafa vinha com 600 ml, muito mais que os 290 ml da Coca-Cola pequena. Para quem não se lembra, no balcão do bar, uma garrafa da Maça Don enchia quatro copos americanos, duas pessoas bebiam com tranquilidade (era normal duas pessoas chegarem no bar, pedirem dois salgados e uma Maça Don para dividir, "legítima refeição mata-fome" daquela época).
Lembro das inúmeras vezes que tomei Maça Don nos bares de Ribeirão Preto, notadamente no que ficava em frente a portaria do EEPG João Rodrigues Guião. E quando não tomava no bar, existia a modalidade "no saquinho com canudo" que era uma mão-na-roda para voltar da escola para casa nesse calor de Ribeirão Preto, onde iámos bebendo, devagarzinho, tentando diminuir o calor pelo caminho.
Dito isso, uma coisa tem que ficar clara: apenas o preço não era suficiente para que eu comprasse. Eu realmente gostava do sabor da Maça Don, especialmente por ser doce.
Continuando, após começar a trabalhar meio período com 12 anos (e registrado em período integral com 14), tive a oportunidade de conhecer a fábrica da Don (a empresa que eu trabalhava fornecia peças para eles) e tomei um refrigerante grátis lá dentro. Foi a "glória", não esqueço nunca do gosto de tomar um refrigerante na fábrica, o que mostra como éramos "bobos" em certo sentido. Inclusive, toda vez que faziam uma nova venda para o Don, quem ia entregar era eu (claro), para tomar aquele refrigerante "na faixa" (apenas a título de informação, a fábrica da Don ficava na rua Adalberto Pajoaba, número 202, no bairro do Sumarezinho).
E assim continuei por um bom tempo, sempre consumindo os produtos da marca, especialmente o meu predileto, a Maça Don.
Mas, e sempre tem um "mas" nestas histórias, o tempo foi passando e a Don começou a ter períodos de dificuldades financeiras, tendo problemas para enfrentar as grandes empresas do segmento (Coca-Cola, Ambev), especialmente quando veio a "inovação" da venda em embalagens PET, que demandou grandes investimentos para sua implantação, dinheiro esse que os pequenos fabricantes não tinham ou eram forçados a recorrer a bancos, sujeitando-se a juros escorchantes. E reparem que escrevi "inovação" entre parênteses, porque considero o advento da PET a maior tragédia que ocorreu no segmento de bebidas populares, foi imensa a quantidade de empresas que teve que encerrar as atividades em virtude dos altos custos de implantação e concorrência das grandes empresas do setor.
Inclusive, foi nesse momento que começou outro fato, que reputo como perda de identidade, sabor e, principalmente, perda da memória afetiva dos antigos refrigerante populares, que foi a substituição do açúcar por adoçantes, tentando economizar custos para a empresa ter uma sobrevida.
Gostaria de discorrer um pouco sobre isso, pois acho um ponto muito importante: todos sabemos que o consumo de bebidas açúcaradas, especialmente refrigerantes, faz mal à saúde. Isso é ponto pacífico, não se discute. É muito melhor tomarmos água ou sucos naturais. Mas o diabo da coisa é que eu gosto de refrigerante, não tem jeito. E gosto de refrigerante com açúcar (odeio adoçante, prefiro tomar um copo de qualquer bebida com açúcar do que litros com adoçante). Infelizmente é algo que terei que lidar com as consequências no futuro, igual acontece com quem opta por álcool, fumo, etc. Seria ótimo que eu parasse de beber refrigerantes, mas a questão é que não tenho vontade. Gosto do prazer de tomá-los, especialmente em um copo com gelo. Espero que meu corpo permita que isso continue por um bom tempo, ao menos os exames que faço vem mostrando bons números.
Dito isso, volto a questão da mudança efetuada pela Don, trocando o açúcar por adoçante e passando a vender o produto em embalagens de 2 litros. Ao menos no meu caso, foi a morte da marca. O sabor ficou horrível, perdeu a graça, a memória, enfim, não era mais o que eu conhecia. O resultado foi que parei de consumir, tentei duas ou três vezes, mas o novo sabor não bateu comigo.
Dando prosseguimento ao texto, diante das dificuldades que citei acima, uma hora a conta chega, e a Don acabou encerrando as atividades em Ribeirão Preto (segundo a Receita Federal, a empresa foi aberta em 29/04/1966 e considerada inapta em 14/12/2018), deixando algumas dívidas e processos trabalhistas.
Finalizando, de minha parte fica a saudade do refrigerante Maça Don, na sua versão tradicional com açúcar e na garrafa âmbar de 600 ml. Nunca pensei que mais de 30 anos depois, iria escrever um texto de homenagem à Maça Don (mas gostei muito de fazê-lo). Gostaria de deixar meu muito obrigado aos proprietários e colaboradores da empresa, podem ter certeza que fizeram muita gente feliz no passado, além de deixarem um bom sentimento de saudade nas pessoas que conheceram a referida bebida. No fim das contas, é isso que vale na vida, deixar boas lembranças...
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