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sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Aclamação de Amador Bueno, São Paulo, Brasil (Aclamação de Amador Bueno) - Oscar Pereira da Silva

                                   
Aclamação de Amador Bueno, São Paulo, Brasil (Aclamação de Amador Bueno) - Oscar Pereira da Silva
São Paulo - SP
Acervo dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo, Palácio dos Bandeirantes, São Paulo, Brasil
OST - 170x225 - 1931


Aclamação de Amador Bueno ou Revolta de Amador Bueno, ocorrida em 1641, na vila de São Paulo, é tida como a primeira manifestação de caráter nativista do Brasil colônia.
Durante a chamada União Ibérica, os moradores da Capitania de São Vicente, principalmente da vila de São Paulo, puderam ampliar para dentro da América Espanhola (de acordo com o tratado de Tordesilhas) o território de livre atuação das entradas de apresamento, que inclusive atacavam missões jesuíticas. Nesse período também floresceu o comércio e o contrabando com a região do rio da Prata.
Em dezembro de 1640, com a coroação de D. João, Duque de Bragança que marcou a restauração da independência portuguesa, os da colônia temiam que Portugal destruísse essa fonte de riqueza, impedindo o trânsito livre de mercadorias e proibindo o aprisionamento e a venda de índios capturados depois de intensos combates no sertão, vez que Portugal obtinha lucros com a exploração do tráfico humano africano. Ao proibir a escravidão indígena, Portugal forçava os colonos a utilizar a mão-de-obra escrava africana.
Assim os comerciantes da colônia sabiam que seus negócios com Buenos Aires e bacia do Prata seriam prejudicados por essa inquietante manobra da coroa portuguesa. A aclamação do duque de Bragança como novo rei de Portugal e sua obstinada política de substituir mão-de-obra indígena por mão-de-obra escrava africana - negócio lucrativo para Portugal e para a família real portuguesa - representava um duro golpe para os comerciantes da colônia e castelhanos estabelecidos há muito em São Paulo.
Querendo manter a autonomia da cidade, os castelhanos e demais moradores não tiveram escolha e, por "amor à terra", propuseram aos amigos, aliados e parentes, a escolha de um rei, convencendo os da colônia de que eles podiam se recusar a reconhecer o novo rei português, já que ainda não haviam jurado-lhe obediência, e que os da colônia ali sediados tinham qualidades pessoais que os habilitavam para maiores impérios, e que a vantajosa localização da cidade e o controle que tinham sobre milhares de indígenas os manteriam a salvo de invasores.
Assim, para ser seu "rei", escolheram Amador Bueno da Ribeira, filho de um espanhol de Sevilha, rico habitante do lugar, capitão-mor e ouvidor.
Amador Bueno ponderou mas rejeitou a proposta, mais por temor das consequências sobre seus negócios do que por fidelidade aos portugueses e seu rei. Dizem que foi até ameaçado de morte caso não quisesse empunhar o cetro tendo que sair de casa fugido para esconder-se no Mosteiro de São Bento. Porém, depois de intensas negociações, os castelhanos e apoiadores da proposta tiveram garantias de que seus negócios não seriam afetados por Portugal e assim declararam e prestaram juramento ao rei D. João IV.
O gesto acabou não tendo consequências sérias, São Paulo era uma região marginalizada economicamente e os castelhanos não tinham condições de iniciar uma luta contra Portugal sem apoio de Madrid. O episódio histórico serviu, entretanto, para demonstrar o descontentamento dos paulistas com a dominação portuguesa.
O episódio foi o primeiro gesto de autonomia ocorrido na colônia e, não por acaso, surgiu em São Paulo, terra de pouco contato com Portugal, e de miscigenação com indígenas e estrangeiros.
Há poucas fontes relativas ao episódio. O principal relato conhecido é o de Frei Gaspar da Madre de Deus, "Memórias para a História da Capitania de São Vicente".
Para alguns historiadores, a questão indígena foi o motivo básico das ações do movimento. Entretanto, outros historiadores têm interpretação distinta. Afonso d'Escragnolle Taunay, nos Ensaios Paulistas, diz à página 631:
“Quando D. João IV de Bragança assumiu o trono de Portugal em 1640, no ano seguinte Amador foi aclamado rei em São Paulo pelo poderoso partido de influentes e ricos castelhanos, liderados pelos irmãos Rendon de Quevedo, Juan e Francisco Rendón de Quevedo y Luna, naturais de Coria, partido ao qual ainda pertenciam D. Francisco de Lemos, da cidade de Orens; D. Gabriel Ponce de León, de Guaira; D. Bartolomeu de Torales, de Vila Rica do Paraguai, D. André de Zúñega e seu irmão D. Bartolomeu de Contreras y Torales, D. João de Espíndola e Gusmão, da província do Paraguai, e outros que subscreveram o termo de aclamação, a 1º de abril de 1641. Como os espanhóis não queriam ser súditos de D. João IV, que reputavam vassalo rebelde a seu soberano, resolveram provocar a secessão da região paulista do resto do Brasil, esperando talvez anexá-la às colônias espanholas limítrofes. (…) Oferecem o trono ao sogro, ele próprio filho de espanhol e homem do maior prol em sua república pela inteligência, a fortuna, o passado de bandeirante, o casamento, os cargos ocupados.”