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sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, 1500, Porto Seguro, Bahia, Brasil (Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, 1500) - Oscar Pereira da Silva


Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, 1500, Porto Seguro, Bahia, Brasil (Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, 1500) - Oscar Pereira da Silva
Porto Seguro - BA
Museu Paulista, São Paulo, Brasil
OST - 190x330 - 1900


Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 (por vezes citada como Descoberta do Brasil) é uma pintura a óleo sobre tela do artista brasileiro Oscar Pereira da Silva. A tela, que foi finalizada no ano de 1900, retrata o primeiro desembarque dos navios de Pedro Álvares Cabral em terras brasileiras, no que viria a ser hoje o território de Porto Seguro, no estado da Bahia. Pertencente ao gênero de pintura histórica, que combina retrato, natureza-morta e paisagem para representar um determinado acontecimento de relevância histórica, a obra foi recebida com grande prestígio da sociedade e da imprensa da época, sendo definitiva para o estabelecimento de Oscar Pereira da Silva como um pintor de destaque no cenário artístico nacional do começo do século XX. Após intensas negociações, a pintura foi vendida para o Museu Paulista, também conhecido como Museu do Ipiranga, em 1902, uma época em que o museu buscava construir uma ideia de identidade nacional por meio da narrativa artística de seu acervo. Em 1905, entretanto, o quadro foi transferido e passou a fazer parte do acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, onde permaneceu até 1929, quando foi transferido de volta para a coleção do Museu Paulista.
Atualmente, a pintura de Pereira da Silva é uma das imagens mais referenciadas quanto ao momento da chegada das caravanas de Pedro Álvares Cabral no Brasil, sendo a representação mais difundida entre livros didáticos e outras publicações acadêmicas.
A tela de Oscar Pereira da Silva mostra diversos índios na praia de Porto Seguro, na Bahia, enquanto alguns outros ainda chegam pelas densas matas que cercam a areia. Os indígenas são mostrados em posições de corrida, gritando e empunhando as lanças que carregam, se revelando muito eufóricos com a situação em que se encontram. No mar, é possível observar uma pequena embarcação que se aproxima da costa, em que são vistos dois índios que já haviam pernoitado na caravana de Pedro Álvares Cabral. Também há outros portugueses, sendo que alguns estão já vestidos. Na região central da tela encontram-se Cabral e um assistente, de pé na praia, entrando em contato com um índio. Do jeito que as figuras estão representadas, tudo indica que os índios fazem um alvoroço enquanto os portugueses não reagem com surpresa diante do território novo que adentravam.
O quadro, que retrata o primeiro encontro entre portugueses e indígenas, foi dividido entre duas zonas muito bem definidas. Na primeira, existe o plano do oceano, com barcos e seus tripulantes portugueses, que carregam a Cruz de Malta em estandarte e nas velas das caravelas. O outro é o plano da terra, onde está representada a zona dos índios brasileiros, que se mostram curiosos, encurralados, e que parecem ser confundidos com a densa vegetação que os cerca, que os assimila com o universo da natureza. Para retratar o encontro entre a civilização cristã dos portugueses e a natureza pagã dos indígenas, Oscar Pereira da Silva se utiliza da aplicação de luzes e zonas brancas e azuis para os portugueses que chegavam, ao mesmo tempo que destina um teor mais pesado e sombrio, com pedras e floresta para representar junto à população indígena.
Na virada do século XX, o governo de São Paulo estava encomendando e comprando pinturas históricas para tentar construir uma narrativa ilustrada da nação brasileira, a fim de exaltar a nova República e colocar em destaque o estado que a liderava. Diante deste cenário, Oscar Pereira da Silva viu a oportunidade de estabelecer-se como um pintor de história, gênero mais importante do sistema acadêmico na época, a fim de garantir prestígio social dentre a elite política paulista e contratos públicos. O resultado foi a produção, em 1900, da tela Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500.
A tela foi vendida para o Museu Paulista, também conhecido como Museu do Ipiranga, em 1902 - sendo não uma encomenda do governo, como é amplamente informado no senso comum, mas sim uma oferta por parte do artista. A tela acabou por ser definitiva para garantir tal destaque, assegurando ao pintor um grande passo em sua carreira e grande visibilidade na imprensa local. O valor pago pelo governo do estado pela obra foi de 8:000$000 (oito contos de réis).
A venda do quadro para o governo, na época comandado por Jorge Tibiriçá, entretanto, não foi feita de maneira simples. Diante de questões envolvendo o embate violento entre brancos e indígenas por terras paulistas, o governador demonstrava grande falta de interesse por telas que representavam o contato harmonioso entre os forasteiros invasores e os povos nativos, como nas obras Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 e em Fundação de São Paulo. Oscar Pereira da Silva apresentou a tela em entre o final de abril e o começo de maio, perto da data comemorativa do evento que ela representava - isso para que a exposição coincidisse com algum eventual festejo, já que naquele ano comemorava-se o IV Centenário do descobrimento do Brasil, o que gerava grande movimentação dos cofres públicos brasileiros. Entretanto, a exposição foi um fracasso, não resultando na venda do óleo sobre tela. Silva então apelou para outros meios e encaminhou, para o Congresso do Estado de São Paulo, um memorial que propunha a venda do quadro, para que a solicitação fosse direto para o órgão responsável pelas aquisições dos quadros, a Secretaria dos Negócios do Interior. A petição, feita simultaneamente à exposição para que os políticos pudessem visitá-la e decidir quanto à compra, também não foi aceita, como revela o parecer nº 50, da Sessão ordinária de 26 de julho de 1900 da Câmara:
“O pintor brasileiro Oscar Pereira da Silva propõe a venda ao Estado do seu quadro histórico "O primeiro desembarque de Pedro Álvares Cabral" pela quantia de 12:000$000. [...] A comissão de fazenda e contas, embora não desconheça o valor artístico do referido quadro, é de parecer que não seja aceita a proposta junta, não só porque é muito elevado o preço pedido de 12:000$000, como ainda porque é prudente não autorizar qualquer despesa extraordinária sem ser conhecido o projeto de orçamento para o próximo exercício. [...] Acresce ainda que, em ocasião oportuna, a Câmera dos Deputados poderá de novo ocupar-se deste assunto. [...] Sala das comissões, 26 de julho de 1900 - Eugenio Egas, Rubião Junior”.
Como diz o parecer, a petição do artista foi negada diante da justificativa de que o valor solicitado pela compra do quadro seria muito elevado. Dentre outros motivos que também contribuíram para esse parecer, estava o fato de que a história paulista não era representada especificamente na tela. Assim, a compra de quadros como Fundação de São Vicente, de Benedito Calixto, tinha mais apelo para o governo de São Paulo, sendo adquirido pelo Museu Paulista ainda em 1900.
Mesmo diante das dificuldades, Oscar Pereira da Silva não desistiu de tentar vender o quadro. Como o parecer sugeria que o quadro poderia ser de interesse do governo em alguma outra oportunidade, Silva enviou outro memorial, em que propunha um valor mais baixo, de 8:000$000 (oito contos de réis), se comprometia a pintar e doar mais dois quadros com representações de indígenas brasileiros, e ainda sugeria que, caso o valor fosse novamente julgado muito alto, ele se sujeitaria à uma eventual oferta por parte da Câmara. A Comissão de Fazenda e Contas então respondeu a Silva, dizendo que ele deveria fazer a proposta diretamente ao governo que, caso julgasse interesse em comprar a tela, solicitaria então o crédito necessário - o que aconteceria posteriormente, no começo do ano de 1902. Posteriormente, Pereira da Silva se utilizaria do mesmo recurso de enviar uma petição ao Congresso para conseguir efetivar a venda da obra Fundação de São Paulo.
No entanto, a obra Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 não se encaixava plenamente na ideia de narrativa de construção nacional idealizada pelo diretor do Museu Paulista, Affonso Taunay. Isso porque o diretor procurava, por meio do acervo do museu, contar a história brasileira por meio de quadros que retratassem alguns dos grandes feitos nacionais protagonizados pelos paulistas.
O quadro representa o primeiro desembarque dos portugueses na América, que aconteceu no território que viria a ser o atual estado da Bahia. Entretanto, a representação não tinha muita relação com a história regional paulista, no contexto de uma época em que os regionalismos estavam aflorados e em que o estado de São Paulo buscava reescrever a história do Brasil, dando destaque ao seu protagonismo e do povo paulista para os acontecimentos mais fundamentais da história do passado nacional. Isso fez com que Oscar Pereira da Silva se dedicasse à produção de uma obra que abordasse e retratasse grandiosamente um tema de maior relevância o passado dos próprios paulistas e da região.
Além disso, diante de sua habilidade para realizar telas tão diversas, que poderiam facilmente ser vendidas a compradores particulares, o pintor precisava realizar mais uma obra de destaque a fim de conquistar mais notabilidade para que fosse mais requisitado para a realização de obras para o Estado - visto que, mesmo apesar de todo o sucesso alcançado com Desembarque de Pedro Álvares Cabral em 1500, o prestígio ainda não havia sido suficiente para lhe garantir a todo o destaque que almejava. Ainda faltava um trabalho que o diferenciasse de outros artistas da época e que chamasse mais a atenção das autoridades do governo paulista. Resultado disso foi a produção da tela Fundação de São Paulo, pintada em 1907, que representava a imagem do ato de fundação da cidade de São Paulo.
A aquisição do quadro que representa a chegada dos portugueses à costa baiana pelo Museu Paulista foi uma complementação a um acervo que já celebrava a fundação da primeira vila em terras que posteriormente seriam consideradas paulistas.
A tela Desembarque de Pedro Álvares Cabral em 1500 se encaixa no gênero de pintura histórica, considerada um tipo artístico hierarquicamente superior aos outros, ao combinar retrato, natureza morta e paisagem através de uma articulação complexa, pautada pela narrativa de um acontecimento histórico.
O artista ainda sugere, por meio do efeito de luminosidade em volta das cruzes, certa sacralidade ao primeiro contato entre os dois grupos. Na imagem, o índio é representado como trejeitos eufóricos, como se estivessem vibrantes quanto à chegada dos navios portugueses que se aproximavam da costa. Na realidade, é sabido que o primeiro encontro foi, na verdade, pouco amistoso, e não tão eufórico quanto o representado no quadro, como descrevem documentos oficiais como a carta do escrivão Pero Vaz de Caminha enviada a Portugal. Apesar disso, Pereira da Silva se baseia em elementos narrados por Caminha em sua carta, unindo dois momentos descritos por ele que aconteceram separadamente - sendo um deles o desembarque do degredado, e o outro o momento em que Cabral, o capitão da expedição, desembarca de fato em terras brasileiras. Na tela de Pereira da Silva, esses momentos são retratados como se tivessem acontecido simultaneamente, sugerindo que houve uma certa precaução por parte do comandante em desembarcar antes no território.
A produção de Desembarque de Pedro Álvares Cabral em 1500, assim como sua consequente venda para o Museu Paulista, rendeu muito prestígio tanto no meio cultural quanto na mídia, e provou a capacidade técnica e artística de Oscar Pereira da Silva. Exemplo disso é que a imprensa não escondeu sua imensa satisfação quando, depois de um longo processo de negociações para a compra do quadro pelo governo de São Paulo, a venda finamente se concretizou, em 1902.
No contexto das comemorações dos quarto centenário do descobrimento do Brasil, foi promovido, pela Associação que organizava as festividades, um concurso para selecionar a melhor pintura que abordasse o tema. Apesar do prestígio, Desembarque de Pedro Álvares Cabral em 1500 não foi escolhida como a vencedora. Mesmo assim, o fato contribuiu para que a pintura ganhasse ainda mais destaque.
O quadro Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 constituiu também parte do acervo inicial da Pinacoteca do Estado de São Paulo, o primeiro museu de arte do estado paulista, inaugurado em 1905 sob iniciativa de Cardoso de Almeida, então Secretário do Interior e da Justiça. O acervo inaugural da Pinacoteca contava também com outros 25 quadros que, junto com a tela de Oscar Pereira da Silva, foram transferidos do Museu Paulista para a inauguração. O critério para as obras que foram transferidas era baseado na divisão entre pintura histórica, que representava personagens considerados históricos e grandes acontecimentos do passado, e pintura artística, de destacado valor estético. Assim, ficara designado que caberia ao Museu Paulista ficar com as pinturas históricas, desempenhando seu papel inicial de ser um museu voltado para a história paulista e para a história da pátria, enquanto na Pinacoteca caberiam as pinturas de maior valor artístico, formando uma galeria de arte por excelência. A transferência da tela Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500, que se encaixa no gênero de pintura histórica, foi uma exceção a esse critério que havia sido colocado. Outro caso excepcional foi a mudança do quadro Partida da Monção, de Almeida Júnior, também para a Pinacoteca. A transferência da tela de Pereira da Silva foi justificada sob a premissa de que, além do evidente valor histórico que apresentava, o quadro havia sido muito bem recebido pela crítica - além de que seu pintor gozava de grande prestígio, tendo suas técnicas e concepções formais bastante valorizadas no meio artístico, sendo fundamental para a Pinacoteca, como pretensa galeria de arte, possuir uma obra de tal artista. Outro fator que contribuiu para a transferência foi o fato de que a tela não reproduz nenhum acontecimento histórico que destacasse os paulistas nem a independência política do Brasil, temas mais prezados pelo Museu Paulista.
Em abril de 1929, a tela foi transferida de volta para o Museu Paulista, junto com Fundação de São Paulo, também de Oscar Pereira da Silva, e com Partida da Monção, de Almeida Júnior. As obras de Pereira da Silva, entretanto, nunca foram referidas nas correspondências de negociação entre Afonso Taunay, então diretor do Museu Paulista, e Fabio Barreto, então Secretário do Interior. Embora o estado de São Paulo tivesse grande interesse em recuperar os quadros, assim como todo o acervo da Pinacoteca, para o Museu Paulista, sabe-se que Taunay não compartilhava de tal opinião, alegando falta de espaço físico no Palácio do Ipiranga, como fica explícito no relatório anual do museu de 1930:
“Já por duas vezes foi a diretoria do Museu interpelada sobre a conveniência do transporte da Pinacoteca do Estado para o Ipiranga. Fiz ver aos Secretários do Interior a absoluta impossibilidade de se pensar em tal remoção. O Palácio do Ipiranga é todo em fachada, dispõe de insignificante profundidade. Nos dois primeiros andares metade da área é tomada pelos corredores e galerias. O que resta pois certo número de salas, geralmente não grandes, corresponde a pequenas superfícies se levarmos em conta que o Museu dispões hoje de imenso material digno de exposição”.
E em correspondência emitida por ele em abril de 1929:
“Recebo a informar uma conta do Liceu de Artes e Ofícios enviada a essa Secretaria ao transporte da Partida da Monção e mais duas grandes telas da Pinacoteca do Estado ao Museu Paulista. Realmente está a conta exata. Por ordem verbal do Exmo. Snr. Secretario do Interior, recebi a incumbência de tratar com o Liceu a desmontagem, especial acondicionamento, transporte, nova adaptação e remontagem no Museu dos três grandes quadros a que se refere a conta”.
Apesar da objeção, o diretor acabou aceitando a transferência das telas de volta ao Museu Paulista, embora as obras de Pereira da Silva não tenham sido recebidas com tanto festejo quando a volta do quadro de Almeida Júnior. A transferência foi feita sem chamar muito a atenção do público e nem da imprensa. Na carta, Taunay chegou a se referir à volta dos quadros de Pereira da Silva como "mais duas grandes telas", sem sequer mencionar os títulos das obras. No relatório de 1929 do museu, o fato também não chegou nem a ser citado. A imprensa tampouco deu importância à transferência, contrastando com a extensa cobertura da qual os quadros já haviam sido alvo em outras ocasiões. Apesar da transferência ter sido ignorada pelos diversos setores da sociedade, ela representou a volta dos quadros de Pereira da Silva para um museu mais importante e prestigiado pela imprensa. Além disso, esse passo marcava a volta das telas para a função para a qual haviam sido designadas, de servir como documento histórico em um museu que buscava relatar o passado do Brasil por meio da arte.
Em 2007, a tela foi exposta na mostra Imagens Recriam a História, que problematizava as representações e interpretações das pinturas históricas. Ela foi colocada na sala Imaginar o Início, que se dedicava a pinturas relacionadas aos primeiros momentos da conquista portuguesa das terras brasileiras, junto com obras como Fundação de São Paulo, também de Oscar Pereira da Silva, e Fundação de São Vicente, de Benedito Calixto. Atualmente, a tela de Oscar Pereira da Silva, imensamente popular, serve de iconografia para livros didáticos e publicações acadêmicas. É também considerada a figura mais popular de representação do momento histórico da chegada do navio de Pedro Álvares Cabral na costa brasileira.

domingo, 24 de setembro de 2017

Calçada de Lorena, 1826, Estado de São Paulo, Brasil (Calçada de Lorena, 1826) - Oscar Pereira da Silva



Calçada de Lorena, 1826, Estado de São Paulo, Brasil (Calçada de Lorena, 1826) - Oscar Pereira da Silva
Estado de São Paulo - SP
Museu Paulista, São Paulo, Brasil
OST - 65x123 - 1920


A Calçada de Lorena é o primeiro caminho pavimentado que ligou São Paulo a Santos, construído a mando do então governador-geral da Capitania, Bernardo José Maria de Lorena. O caminho se localiza na Serra do Mar, no estado de São Paulo, Brasil.
Um dos chamados Caminhos do Mar de São Paulo, foi aberto, ao final do século XVIII, em função das precárias condições do Caminho do Padre José de Anchieta, que inviabilizavam o transporte do açúcar e demais gêneros do Planalto de Piratininga, pela Serra do Mar, até ao porto de Santos, no litoral.
Desse modo, em 1790 iniciou-se uma nova via, calçada de pedras, por determinação do governador da capitania de São Paulo, Bernardo José Maria de Lorena. As obras ficaram a cargo do Brigadeiro João da Costa Ferreira, engenheiro da Real Academia Militar de Lisboa. Concluída em 1792, estendia-se por 50 km, reduzindo em cerca de 20% o percurso entre Santos e São Paulo de Piratininga.
É considerada uma das maiores obras da engenharia na colônia, à época, uma vez que transpor os mais de 700 metros de desnível representados pela Serra do Mar, numa região de mata densa e altos índices pluviométricos, foi um desafio que, para ser vencido, exigiu de seus construtores a adoção de técnicas ainda inéditas na Capitania de São Paulo. A pedra foi utilizada na pavimentação, na construção de muros de arrimo e de proteção junto aos despenhadeiros e nos canais pluviais da Calçada. Nas curvas do trecho de serra, caixas de dissipação desviavam para fora da via as águas conduzidas pelos canais pluviais.
Menos íngreme, foi a primeira via a possibilitar o trânsito de tropas de muares, consumindo apenas dois dias na subida.
Uma das mais importantes viagens realizadas por essa via ocorreu em 1822, uma vez que por ela, o Príncipe-Regente D. Pedro subiu a serra em direção a São Paulo, vindo a proclamar, a 7 de setembro, a Independência do Brasil.
Os remanescentes da calçada encontram-se preservados e abertos à visitação turística no trecho que se estende do seu início, no planalto, até ao seu terceiro encontro com a Rodovia Caminho do Mar. No governo de Washington Luís (1926-1930) foi recuperada a Estrada do Mar e construído o Belvedere e o Padrão do Lorena, em homenagem ao construtor da Calçada, que na época em que foi construída, era uma das mais modernas estradas do mundo.


Fundação de São Paulo, São Paulo, Brasil (Fundação de São Paulo) - Oscar Pereira da Silva





Fundação de São Paulo, São Paulo, Brasil (Fundação de São Paulo) - Oscar Pereira da Silva
São Paulo - SP
Museu Paulista, São Paulo, Brasil
OST - 185x340 - 1909


A Fundação de São Paulo é um óleo sobre tela, de Oscar Pereira da Silva, com proporções de 185 x 340 cm. Ela se encontra no acervo do Museu Paulista desde 1929 e retrata uma cena idealizada sobre a fundação da capital paulista pelos padres Manuel da Nóbrega, Manuel Paiva e Anchieta.
O projeto foi iniciado em 1903, mas a obra só foi concluída em 1907, mesmo ano em que ela foi exposta pela primeira vez. O pintor optou por retratar o momento da fundação da cidade de São Paulo pois o estado vivia, naquele início do século XX, uma extrema exaltação da história paulistana como essencial para o desenvolvimento nacional. Além disso, São Paulo vivia um crescimento econômico em razão da exportação do café, dando mais oportunidades no campo artístico.
O objetivo de Pereira da Silva era vender a obra para o estado, o que foi feito em 1910. Hoje, ela está na sala "Imaginar o Início", na exposição “Imagens Recriam a História” do Museu Paulista.
Na tela se vê representada um evento religioso do qual participam um grupo de padres e diversos índios. Eles se encontram em uma espécie de clareira elevada em relação aos demais planos da pintura. O local é a Vila de Piratininga, nome original para onde foi iniciada a edificação da cidade de São Paulo, próxima ao Rio Tamanduateí (no terceiro plano no canto esquerdo da tela), que corta a região leste da cidade de São Paulo, próximo à área metropolitana.
O grupo católico, que se encontra no centro do quadro, é composto pelos padres Manuel da Nóbrega (figura central), Manuel Paiva e Anchieta e eles benzem os índios e o local onde se dá a construção de uma igreja de mateira e folhas de bananeira (terceiro plano à direita). Eles vestem trajes brancos e carregam uma bíblia e demais objetos da sacristia. O principal, Manuel da Nóbrega, está de pé e usa uma estola dourada. É ele quem comanda a missa. Acompanhando os padres, na pintura encontram-se dois bispos de preto, um deles segura uma cruz e o outro abençoa uma criança indígena. Atrás do grupo, no terceiro plano e na região direita da tela, há ainda um altar com velas e uma cruz alta. e a construção de uma igreja de madeira e folhas de bananeira.
Os índios, por sua vez, dispersos ao redor do grupo, usam vestes e adornos típicos do grupo e carregam consigo lanças ou arco e fechas, mesmo que nenhuma das armas esteja apontada em direção aos europeus. A grande maioria deles está ajoelhada ou sentada assistindo aos padres. Poucos estão de pé. Entre o grupo de índios há um líder, que se encontra de pé na parte central e esquerda do quadro. Além daqueles que já estão no local do evento, outros dois índios caminham em direção a clareira.
Na virada do século XIX para o século XX, São Paulo vivia uma época economicamente favorecida pelo cultivo do café para exportação em razão do declínio da produtividade nas fazendas do Vale do Paraíba. A produção no Oeste Paulista ganhou força e São Paulo foi nomeada a segunda maior cidade do País. Devido a ascensão econômica dos paulistanos, um dos campos que também cresceu foi o artístico, refletindo no crescente número de exposições. Pensando nas oportunidades de reconhecimento na cidade, Oscar Pereira da Silva, artista formado pela Academia Imperial de Belas Artes, deixou o Rio de Janeiro, onde fez sua última exposição depois de voltar dos estudos em Paris, para lecionar no colégio Liceu de Artes e Ofícios na capital paulista. Em São Paulo, Oscar começou a ser notado pelos jornais, ganhou espaço em exposições e, então, passou a realizar obras por encomenda de órgãos públicos, instituições privadas e pessoas físicas. Ele teve duas obras compradas e expostas no Museu Paulista -- Desembarque de Pedro Álvares de Cabral em Porto Seguro em 1500 e Guerreiro Carajá, preparando o terreno para a grande obra que seria a Fundação de São Paulo.
O pintor optou por retratar esse momento da história pois, aliado ao crescimento econômico e cultural da cidade, estava em voga um movimento de exaltação do valor dos paulistas em relação ao restante do País. Algumas instituições, como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), foram fundadas com o objetivo de construir uma identidade local que colocasse seu povo como um dos principais agentes responsáveis pelo sucesso da nação, como um todo. Os pesquisadores procuravam heróis em comum na história do País e do estado para reviver a influência de seu povo na história nacional. Tendo em vista esse movimento e a vontade de se consagrar como pintor da história paulista para ganhar reconhecimento na arte, Oscar Pereira da Silva entendeu que era necessário consagrar São Paulo, como fez em Desembarque de Pedro Álvares de Cabral em Porto Seguro em 1500, adequando-se aos ideais pictóricos, históricos e políticos da época. Dessa forma, ele escolheu o momento embrionário da capital para consagrar e usou os jesuítas como os personagens da história paulista que se tornaram heróis nacionais para dar tom à importância dos paulistas.
Um relato de Wenceslau de Queiroz para a Revista Panóplia em 1917, no entanto, mostra outras motivações para o fluminense se estabelecer em São Paulo. Segundo ele, depois de voltar de sua viagem de cinco anos por Paris, depois de vencer o concurso Prêmio de Viagem ao Exterior, promovido pela academia onde estudava, em 1895, Pereira da Silva encontrou muitos de seus censores ocupando cargos elevados na instituição, o que poderia prejudicar o avanço de sua carreira. Mesmo que o Rio de Janeiro ainda mantivesse o título de capital artística, o pintor decidiu tentar a sorte na capital financeira.
O evento em questão foi inspirado em uma missa rezada em 25 de janeiro de 1554 para benzer o local destinado à construção da nova igreja e os índios ali presentes. O projeto da obra foi iniciado em 1903, mas foi exposta, pela primeira vez, entre 15 de dezembro de 1907 e o início de 1908 no salão nobre do restaurante Progredior, na rua Quinze de Novembro, no centro da capital paulista.
Como na época a elite paulista buscava resgatar os heróis nacionais que tiveram parte na história paulista, Oscar Pereira da Silva buscou dar destaque, na pintura, aos jesuítas europeus. Portanto, há uma hierarquia na posição que cada personagem ocupa no quadro. A missa e os padres estão no local mais elevado, embora a tipografia local indique o mesmo, e ganham maior destaque por uma série de elementos da pintura. Eles ocupam o centro da tela, para onde o olhar do espectador é atraído, o centro dos quadrantes. Além disso, o caminho de terra e o vazio da clareira até eles constitui outro elemento que chama atenção aos padres. A luz também se mostra mais incidente no grupo em comparação ao grande grupo de índios ao redor. Já os índios perdem destaque devido a grande quantidade deles e por estarem próximos as sombras das árvores e os limites da clareira. O instituto tinha vínculos com a Igreja Católica. Alguns dos intelectuais a eles filiados acreditavam que um dos principais métodos de integração do índio à civilização era por meio da catequese. Apesar de um judeu, João Ramalho, ter assinado a fundação de São Paulo, Oscar não deixou de o representar como coadjuvante do evento.
A atitude pacífica dos índios é outro elemento importante para o contexto em que a Fundação de São Paulo foi pintada. Na tela, os índios se encontram sentados, curvados ou ajoelhados, indicando uma atitude de passividade em relação a ação dos europeus, que, por sua vez, estão eretos e são os sujeitos do acontecimento. Tudo indica que os índios estão submissos e, ainda assim, aceitando a dominação por via da religião. O fato de alguns índios estarem a caminho da cerimônia de benzimento reitera o interesse do grupo no evento puramente religioso. Além disso, apesar de a maioria dos indígenas estar com alguma arma, nenhum a aponta para os europeus em objeção ao benzimento.
Ainda sobre os índios, no início do século, houve um debate assíduo sobre a tribo indígena a que pertenciam os primeiros moradores de São Paulo, os Kaingangs ou os Guaianás. Os primeiros eram descritos como mais violentos e objetos a dominação europeia, enquanto os outros eram mais mansos e tinham vestimentas próprias. Conhecido desse debate, o pintor optou por desenhar índios mais semelhantes aos Guaianás, mas ainda assim viris -- para mostrar que até os índios paulistas eram melhores--, já que suas características eram mais bem vistas pelos pesquisadores do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e para a história do estado. Afinal, o contato entre europeus e nativos precisava ser valorizado como positivo naquele momento em que muitos imigrantes vieram para o Brasil para trabalhar nas fazendas cafeicultoras.
A natureza, no quadro, reforça que aquele momento dava início a edificação da cidade, pois apenas a região da missa mostra-se desmatada, onde começava a construção de uma igreja, onde hoje é o Pátio do Colégio. O resto da paisagem retratada encontra-se intacta próxima ao rio e mais distante do evento.
A Fundação de São Paulo é inspirada em dois quadros que aludem momentos de fundação e dominação: Primeira missa no Brasil, de Victor Meirelles e Première Messe en Kabylie, de Horace Vernet. Nos três há um grupo religioso ao centro da tela, diferenças de iluminação e hierarquia entre os grupos e todos envolvem uma cruz.
Oscar foi assertivo ao escolher essa missa para retratar a fundação da cidade, pois não há nenhum documento ou depoimento a ser comparado, ao contrário da obra de Victor Meirelles que tem a Carta de Caminha como testemunho. Portanto a obra foi tida como documento e, desde então, é debatida em conferências e artigos que buscam um diálogo intelectual com o imaginado na tela.
Além disso, a imagem foi reproduzida em objetos como vitrais, selos, cartões telefônicos, porcelanas, bandeiras, postais, etc, contribuindo a difusão do conteúdo na tela como verdade.
Oscar Pereira da Silva concebeu Fundação de São Paulo com a intenção de que a tela fosse comprada pelo estado, embora não tenha sido feita por encomenda como muitas que retratam o imaginário histórico nacional por meio de símbolos que destacam as instituições religiosas portuguesas. Assim, depois de concluída em 1907, o pintor organizou uma exposição da obra junto com outros trabalhos dele no Progredior, luxuoso restaurante da capital na rua Quinze de Novembro, próxima ao Pátio do Colégio, onde o ato retratado na tela aconteceu. A exposição teve início em 14 de dezembro de 1907 e foi bem recebida pelos veículos da imprensa, que começaram a fazer campanha para que o estado a comprasse. A revista A Vida Moderna, inclusive, reproduziu uma imagem do quadro. Na época, jornais como o Correio Paulistano defendiam que o governo trouxesse a obra para exposição na Pinacoteca de São Paulo.
Como o estado não demonstrou interesse imediato na pintura de Oscar Pereira da Silva e muitas pessoas ainda queriam ver a exposição, o pintor postergou o encerramento do evento, marcado para 31 de dezembro de 1907, para o início de 1908. Em especial, Oscar contava com a presença do Presidente do Estado na época, Jorge Tibiriçá, para prestigiar a obra e avaliar a possibilidade de o estado a comprar. Não há notícias que comprovem a presença do presidente no restaurante, mas pesquisadores apontam que Tibiriçá divergia com alguns símbolos impressos na obra, já que teve, durante sua governança, embates ambos com a Igreja Católica, pelo espaço do Convento de São Bento, e com os índios na disputa por terras.
Depois de acabado o mandato de Jorge Tibiriçá, Oscar Pereira da Silva apresentou um memorial em que propunha a venda da Fundação de São Paulo ao Congresso do Estado. Em requerimento publicado no jornal Estado de S. Paulo, o pintor justificou o valor da obra pela sua relevância histórica e dos personagens retratados. No texto ele dizia que ter a pintura nos museus do estado era uma estratégia, já que não havia objetos de estudo suficientes sobre o marco. Mesmo depois de apresentar o memorial, as negociações não foram levadas adiante e, em agosto de 1909, Oscar Pereira da Silva deu início a uma nova exposição com enfoque religioso no Palácio Episcopal, na Rua do Carmo. Novamente os jornais foram em defesa do pintor, alegando em artigos que a obra deveria ilustrar as paredes dos museus estatais.
Por fim, em outubro de 1909, o pintor recebeu, em seu ateliê, o então Secretário do Interior, Carlos Guimarães e a petição de Pereira da Silva começou a ser discutida em 5 de outubro na Câmara dos Deputados. No mesmo dia, Oscar Pereira da Silva se tornou membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. No entanto, foi só em 23 de novembro de 1909 que a Câmara dos Deputados deu um parecer favorável a compra da obra pelo valor estimado de 8:000$000 réis. Em 1910, a Fundação de São Paulo foi instalada na Pinacoteca do Estado de São Paulo e houve um debate sobre qual era o melhor local em que o quadro deveria ser exposto -- se na Pinacoteca mesmo ou no Museu Paulista --, pois a Pinacoteca buscava quadros por sua composição artística em detrimento do conteúdo histórico, ao contrário do que ocorria no Museu Paulista. Mas foi só em 1929 que a Fundação de São Paulo foi transferida para o Museu Paulista.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Aclamação de Amador Bueno, São Paulo, Brasil (Aclamação de Amador Bueno) - Oscar Pereira da Silva

                                   
Aclamação de Amador Bueno, São Paulo, Brasil (Aclamação de Amador Bueno) - Oscar Pereira da Silva
São Paulo - SP
Acervo dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo, Palácio dos Bandeirantes, São Paulo, Brasil
OST - 170x225 - 1931


Aclamação de Amador Bueno ou Revolta de Amador Bueno, ocorrida em 1641, na vila de São Paulo, é tida como a primeira manifestação de caráter nativista do Brasil colônia.
Durante a chamada União Ibérica, os moradores da Capitania de São Vicente, principalmente da vila de São Paulo, puderam ampliar para dentro da América Espanhola (de acordo com o tratado de Tordesilhas) o território de livre atuação das entradas de apresamento, que inclusive atacavam missões jesuíticas. Nesse período também floresceu o comércio e o contrabando com a região do rio da Prata.
Em dezembro de 1640, com a coroação de D. João, Duque de Bragança que marcou a restauração da independência portuguesa, os da colônia temiam que Portugal destruísse essa fonte de riqueza, impedindo o trânsito livre de mercadorias e proibindo o aprisionamento e a venda de índios capturados depois de intensos combates no sertão, vez que Portugal obtinha lucros com a exploração do tráfico humano africano. Ao proibir a escravidão indígena, Portugal forçava os colonos a utilizar a mão-de-obra escrava africana.
Assim os comerciantes da colônia sabiam que seus negócios com Buenos Aires e bacia do Prata seriam prejudicados por essa inquietante manobra da coroa portuguesa. A aclamação do duque de Bragança como novo rei de Portugal e sua obstinada política de substituir mão-de-obra indígena por mão-de-obra escrava africana - negócio lucrativo para Portugal e para a família real portuguesa - representava um duro golpe para os comerciantes da colônia e castelhanos estabelecidos há muito em São Paulo.
Querendo manter a autonomia da cidade, os castelhanos e demais moradores não tiveram escolha e, por "amor à terra", propuseram aos amigos, aliados e parentes, a escolha de um rei, convencendo os da colônia de que eles podiam se recusar a reconhecer o novo rei português, já que ainda não haviam jurado-lhe obediência, e que os da colônia ali sediados tinham qualidades pessoais que os habilitavam para maiores impérios, e que a vantajosa localização da cidade e o controle que tinham sobre milhares de indígenas os manteriam a salvo de invasores.
Assim, para ser seu "rei", escolheram Amador Bueno da Ribeira, filho de um espanhol de Sevilha, rico habitante do lugar, capitão-mor e ouvidor.
Amador Bueno ponderou mas rejeitou a proposta, mais por temor das consequências sobre seus negócios do que por fidelidade aos portugueses e seu rei. Dizem que foi até ameaçado de morte caso não quisesse empunhar o cetro tendo que sair de casa fugido para esconder-se no Mosteiro de São Bento. Porém, depois de intensas negociações, os castelhanos e apoiadores da proposta tiveram garantias de que seus negócios não seriam afetados por Portugal e assim declararam e prestaram juramento ao rei D. João IV.
O gesto acabou não tendo consequências sérias, São Paulo era uma região marginalizada economicamente e os castelhanos não tinham condições de iniciar uma luta contra Portugal sem apoio de Madrid. O episódio histórico serviu, entretanto, para demonstrar o descontentamento dos paulistas com a dominação portuguesa.
O episódio foi o primeiro gesto de autonomia ocorrido na colônia e, não por acaso, surgiu em São Paulo, terra de pouco contato com Portugal, e de miscigenação com indígenas e estrangeiros.
Há poucas fontes relativas ao episódio. O principal relato conhecido é o de Frei Gaspar da Madre de Deus, "Memórias para a História da Capitania de São Vicente".
Para alguns historiadores, a questão indígena foi o motivo básico das ações do movimento. Entretanto, outros historiadores têm interpretação distinta. Afonso d'Escragnolle Taunay, nos Ensaios Paulistas, diz à página 631:
“Quando D. João IV de Bragança assumiu o trono de Portugal em 1640, no ano seguinte Amador foi aclamado rei em São Paulo pelo poderoso partido de influentes e ricos castelhanos, liderados pelos irmãos Rendon de Quevedo, Juan e Francisco Rendón de Quevedo y Luna, naturais de Coria, partido ao qual ainda pertenciam D. Francisco de Lemos, da cidade de Orens; D. Gabriel Ponce de León, de Guaira; D. Bartolomeu de Torales, de Vila Rica do Paraguai, D. André de Zúñega e seu irmão D. Bartolomeu de Contreras y Torales, D. João de Espíndola e Gusmão, da província do Paraguai, e outros que subscreveram o termo de aclamação, a 1º de abril de 1641. Como os espanhóis não queriam ser súditos de D. João IV, que reputavam vassalo rebelde a seu soberano, resolveram provocar a secessão da região paulista do resto do Brasil, esperando talvez anexá-la às colônias espanholas limítrofes. (…) Oferecem o trono ao sogro, ele próprio filho de espanhol e homem do maior prol em sua república pela inteligência, a fortuna, o passado de bandeirante, o casamento, os cargos ocupados.”