O Sucateamento da Força Aérea de Cuba - Artigo
Artigo
Na início da década de 1960, no auge da Guerra Fria, Cuba assinou importantes acordos comerciais e militares com a antiga União Soviética após a frustrada “Invasão da Baía dos Porcos” em 1961, operação realizada por paramilitares cubanos exilados e treinados pelos CIA nos Estados Unidos a fim de derrubar o governo socialista da ilha. Para evitar novas tentativas de invasão, Fidel Castro montou em menos de uma década a maior e mais poderosa força aérea da América Latina.
O acordo com a URSS trouxe para o país um enorme fluxo de armamentos. A “Defensa Antiaerea y Fuerza Aerea Revolucionaria” (Defesa Antiaérea e Força Aérea Revolucionária-DAAFAR) de Cuba foi uma das partes mais beneficiadas.
A força aérea cubana nos anos 1960, equipada ainda no regime anterior a tomada de Castro, era formada basicamente por aeronaves norte-americanas, como o bombardeiro B-25 e os caça P-51 Mustang e o rústico jato T-33. Com o acordo, que foi oficialmente assinado em 1959, Cuba passou a receber novos jatos e aviões de transportes aos montes da URSS.
O primeiro caça a jato soviético de Cuba foi o lendário MiG-15. O país recebeu 24 aeronaves e os primeiros pilotos, 74 ao todo, foram treinados na URSS, China e Tchecoslováquia. Em 1961, todos já estavam preparados para domar o novo avião soviético. Mas eram tempos de rápidos avanços tecnológicos e o Fidel Castro voltaria a fazer um novo pedido de aeronaves, desta vez por modelos MiG-17.
Entre 1960 até o final dos anos 1980, com a queda da URSS, Cuba recebeu uma invejável quantidade de aeronaves de todos os tipos, que fazia da força aérea não só um meio de defesa, mas também de projeção, que permitia deslocamentos intercontinentais, como viria a acontecer em uma série de conflitos que o país se envolveu.
A “marca favorita” da Força Aérea de Cuba é a Mikoyan-Gurevich, ou simplesmente MiG. Cuba, em seus melhores tempos, chegou a ter em condições de operação uma frota composta por 120 MiG-21, 74 MiG-23 e mais 12 MiG-29. Um total de 206 caças e armados até os dentes. A URSS também enviou a Cuba os seus mísseis mais modernos da época, alguns capazes de abater alvos a até 100 km de distância, como o R-27 (AA-10 Alamo na OTAN) que pode ser lançado a partir dos caças MiG-23 e MiG-29. Os EUA realmente tinham o que temer.
Além dos MiGs, Cuba também recebeu 60 aeronaves de transporte dos mais variados portes. Entraram na frota os Antonov AN-2, AN-24, AN-26 e AN-32 e o Ilyushin IL-76, que é até hoje a maior aeronave em operação no país. Helicópteros também reforçaram a frota em versões de transporte e de ataque, como o temível Mi-24.
Os aviadores cubanos criaram alguns apelidos engraçados para as aeronaves russas. O MiG-21, por exemplo, é o “salsicha”, enquanto o MiG-23 é chamado de “chorizo”. Apesar do humor, os pilotos de Cuba estavam entre os melhores do mundo e voavam até 250 horas por ano.
Entre 1961 e 1980, Cuba se envolveu em uma série de conflitos militares, demonstrando superioridade em todos os embates. O país caribenho foi um dos protagonistas da “Guerra de Ogaden” que envolveu a Somália e Etiópia e que teve apoio dos cubanos. Nesse combate, entre 1977 e 1978, a Fuerza Aerea Revolucionaria usou tudo o que tinha de melhor, transportando material e soldados de Cuba diretamente para o front na África.
Caças MiG-17, MiG-21 e MiG-23 bombardearam diversas posições somalis, realizando mais de 3.000 missões em oito meses de guerra. As forças armadas da Somália, que também possuía aeronaves MiG-21, conseguiu abater duas aeronaves cubanas com disparos de artilharia antiaérea, matando um piloto – o outro foi capturado e depois solto. Ao todo, 400 militares cubanos morreram no conflito de apoio a Etiópia, que conteve a tentativa de invasão de seu vizinho e ainda aniquilou toda sua capacidade militar.
O bloqueio naval imposto a Cuba após a descoberta da instalação de mísseis soviéticos de longo alcance por pouco não levou os EUA e URSS a terceira guerra mundial em 1962. A ilha foi cercada pela Marinha dos EUA e aviões de patrulha passaram a vigiar todos os navios e portos cubanos.
O governo de Cuba não impediu as ações de bloqueio naval, mas ficou de olho no céu. Um avião espião Lockheed U-2 foi abatido por um míssil terra-ar, matando o piloto. Os restos dessa aeronave estão em exposição até hoje no museus das forças armadas em Havana.
A crise dos mísseis foi resolvida em menos de um mês, com os EUA e a URSS chegando a um acordo. Moscou pediu como condição para retirar os artefatos de Cuba que o governo norte-americano fizesse o mesmo com seus mísseis de longo alcance posicionados na Turquia.
Enquanto mantinha uma frente de batalha na Etiópia, Cuba teve de acionar os esquadrões que se encontravam na ilha para conter uma ameaça local. No início de 1977, barcos de pesca cubanos foram confiscados pela marinha da República Dominicana sob a acusação de estarem operando em águas estrangeiras. Fidel Castro pediu os barcos de volta, o que foi negado. Não só isso, aviões dominicanos passaram a vigiar de perto embarcações cubanas em águas estrangeiras, assustando os tripulantes com rasantes.
Para reaver os barcos e “assustar” o governo da República Dominicana, Fidel Castro lançou a “Operacion Pico”, que consistia em enviar 12 caças MiG-21 para um sobrevoo rasante sobre a capital Santo Domingo. A incursão foi realizada na manhã de 9 de setembro, quando a dúzia de aviões partiu para uma viagem de 900 km até a capital dominicana.
Ao chegarem na cidade, os MiG cubanos voaram rasando o telhado das caças, alguns rompendo a velocidade do som. Não só isso, os aviões (desarmados) simularam posições de ataque contra alvos estratégicos sobre Santo Domingo, como a central do governo, o aeroporto e bairros residenciais. A população entrou em pânico e muitos correram para se esconder.
Para o dia seguinte, Cuba pretendia repetir a mesma missão, mas desta vez com os aviões armados para atacar a base aérea das forças armadas de seu vizinho caribenho. Com as aeronaves já preparadas, a missão acabou cancelada após o governo dominicano (avisado pela CIA sobre o plano de ataque cubano) anunciar a devolução das embarcações.
Além desses conflitos, Cuba também ajudou forças revolucionárias na guerra de independência da Angola, entre 1975 até 1989, e também apoiou a Síria e Argélia contra ofensivas do Egito e Israel.
Com a queda do bloco soviético, Cuba caiu em desgraça econômica. Orçamentos foram cortados em todas os gabinetes e a força militar que era a mais poderosa da América Latina, superando países como o Brasil, Chile e Argentina, se tornaria uma unidade limitada e quase que inteiramente sucateada nos tempos atuais.
A força aérea de Cuba não recebe uma nova aeronave desde 1990 e por isso foi forçada a desativar grande parte de seus mais de 200 caças para manter alguma condição de operar. Desta forma, a força que antes tinha poder de projeção, se tornou um meio de defesa deficiente. Muitos aviões foram desmontados para ceder peças a outros em melhores condições, o que reduziu drasticamente o tamanho da frota.
Segundo relatos mais recentes, Cuba tem em condições de operação cerca de 25 caças, sendo apenas quatro MiG-29. E esse número vem caindo a cada ano. Após o fim da URSS, parte dos aviões de transporte e carga foi compartilhada com a companhia aérea estatal “Cubana”. Devido a falta de orçamento, o país ainda utiliza aeronaves “pré-históricas”, como o biplano AN-2, desenvolvido na década 1940.
Nota do blog: Essa matéria é de 2015. Como já se passaram 8 anos, Cuba deve ter, provavelmente, menos de 20 caças em condições de operação.