Mosteiro de São Bento, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia
Era o dia 14 de julho de 1945, quando a comunidade monástica beneditina olivetana de Ribeirão Preto reuniu-se em capítulo conventual para tratar de variados assuntos. Participaram, além do Abade Dom Miguel Ângelo, também os padres Dom Pedro Paolazzi, Dom Filipe Garzoni, Dom Isaías Jacozzili, Dom Hilário Pozzi e Dom Vitório Brenna. Os monges procuravam incrementar as vocações beneditinas olivetanas, e este foi o primeiro assunto a ser tratado. Combinaram então que o quanto antes iniciariam uma campanha vocacional.
Para tanto, decidiram pedir à “Pia União de Santo Antônio”, que há décadas agremiava os imigrantes italianos de Ribeirão Preto e das cidadezinhas e fazendas da região, arrecadando fundos para a construção de um Hospital no alto do Morro do Cipó que atendesse à comunidade italiana, a doação do terreno e do prédio ainda em construção para adaptá-lo a uma “casa de formação” para as vocações monásticas beneditinas olivetanas, haja vista que tal Pia União já não se encontrava em condições organizatórias e econômicas de terminar a construção do pretendido hospital e muito menos de tornar posteriormente viável o seu funcionamento. Com este fim, decidiram pedir também a Dom Manuel da Silveira D’Elboux a licença para reunir uma assembleia extraordinária dos zeladores da Pia União, com a finalidade de pedir oficialmente a doação do terreno e do prédio à Congregação Beneditina de Santa Maria de Monte Oliveto.
Aos 2 de setembro de 1945, no Salão Paroquial da igreja de Santo Antônio dos Campos Elíseos, estando presentes o próprio Dom Manuel da Silveira D’Elboux, o monsenhor João Lauriano, o abade Dom Miguel Ângelo Biondi, os padres Dom Hilário Pozzi, então diretor da predita Pia União, Dom Silvestre Asconati, e numerosos zeladores, decidiu-se em assembleia sobre o futuro do terreno e prédio do Morro do Cipó. Dom Silvestre demonstrou a impossibilidade de concretizar a construção do Hospital e então os zeladores, unânimes, declararam fazer doação do dito terreno e prédio em construção para as obras das vocações sacerdotais dos monges beneditinos olivetanos ou da diocese ribeirãopretana, conforme posterior combinação das duas partes. Posteriormente, com efeito, seria decidido que tal terreno e prédio pertenceriam definitivamente aos Olivetanos.
Nos anos sucessivos lá se organizaria uma comunidade monástica estável, lugar por excelência da formação de novos monges, que, juntamente com as comunidades monásticas anexadas à matriz de Santo Antônio dos Campos Elíseos e à matriz de Nossa Senhora da Esperança de Vila Esperança, São Paulo, constituiriam a presença da “Abadia” olivetana no Brasil. O “Mosteiro de São Bento” foi oficialmente inaugurado a 20 de julho de 1948.
Mediante incansáveis – e certamente desgastantes – trabalhos sucessivos, liderados por Dom Casimiro Masetti, depois por Dom Abade Ângelo Sabatini, depois ainda por Dom Abade Hildebrando Gregolini e tantos confrades, o prédio, nascido para ser um “hospital italiano”, converteu-se o mais precisamente possível, tanto quando dava para ajustá-lo arquitetonicamente, num mosteiro que ficaria conhecido em toda Ribeirão Preto e alhures como “Mosteiro de São Bento” e que levaria as autoridades municipais, por conta do mesmo, a renomear o Morro do Cipó como “Morro de São Bento” (hoje mais precisamente conhecido como “Alto do São Bento”), mediante a Lei n. 672, de 07 de março de 1951, que denominou “Via São Bento” ao caminho que, saindo do Bosque, dava acesso ao Santuário das Sete Capelas, que desde 1947 tinha começado a ser erguido, também sob a liderança do padre Dom Casimiro Masetti, auxiliado pela benemerência de generosas famílias ribeirãopretanas e de todo povo fiel católico.
Aqui merece nota também o fato, talvez já desconhecido por muitos munícipes, de que foi igualmente Dom Casimiro Masetti que, recordando o tradicional lema católico “Ad Jesum per Mariam” (Chegar a Jesus por meio de Maria), desejou erguer ao lado esquerdo do Mosteiro de São Bento um monumento ao Sagrado Coração de Jesus. Este devia consistir num grande pedestal de pedra e cimento, em cuja base haveria um altar para a celebração de santas missas e na sumidade a estátua em bronze do Salvador. A pedra fundamental fora lançada aos 05 de junho de 1947 e já em 1948 a construção alcançava a altura de quatorze metros. Na manhã de 05 de junho de 1947, primeiro aniversário do monumento, Dom Casimiro Masetti celebrou ali uma santa missa, presentes o prefeito de então, Dr. José de Magalhães, com sua esposa, e também a grande benfeitora Dona Sinhá Junqueira, além de numerosos fiéis. Aos 21 de abril de 1953, a estátua em bronze do Sagrado Coração de Jesus, obra de Laurindo Galante, da “Bronzarte” de São Paulo, achava-se ali para ser abençoada por Dom Luiz do Amaral Mousinho, bispo de Ribeirão Preto. Para dar boa conclusão a este monumento, a comunidade dos fiéis fez rifas, vendeu goiabada, entre outras iniciativas, contudo enfrentou dificuldades para arrecadar o dinheiro necessário à finalização do monumento; desta forma, por meio da Lei n. 326, de 12 de dezembro de 1953, a Câmara Municipal autorizou a Prefeitura a conceder um auxílio de Cr$ 10.000,00 para o término da obra.
Cerca de quatro décadas mais tarde, com o conhecido decréscimo do número dos monges e das vocações, e o consequente aumento dos trabalhos e custos para manter uma abadia em três comunidades monásticas, os monges beneditinos olivetanos começaram a amadurecer um projeto de se deslocarem do Mosteiro de São Bento, concentrando-se todos no mosteiro anexo ao lado da Igreja paroquial e abacial de Santo Antônio de Pádua nos Campos Elíseos. Após reformas da construção já existente e de construção de novas alas, aos 12 de janeiro de 1998, os monges residentes no Mosteiro de São Bento voltaram definitivamente ao mosteiro dos Campos Elíseos. Dias depois, aos 17 de janeiro, o arcebispo ribeirãopretano Dom Arnaldo Ribeiro, em visita aos monges, presentes também Dom Michelangelo Tiribilli, Abade Geral, e Dom Giacomo Ferrari, Ecônomo Geral, conheceu e abençoou as novas instalações monásticas dos beneditinos olivetanos.
Nos anos sucessivos, os beneditinos olivetanos prosseguiram dando seu testemunho de “oração e trabalho”, moldados pela antiga Regra de São Bento e pelas Constituições da Congregação Beneditina de Santa Maria de Monte Oliveto, residindo no mosteiro ao lado da igreja de Santo Antônio de Pádua dos Campos Elíseos e no mosteiro paulistano de Vila Esperança. Já o antigo “Mosteiro de São Bento”, foi locado à Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto (algumas alas desde 1992 e integralmente desde 05 de junho de 1998), que fez uso do mesmo para o funcionamento de três secretarias municipais, confiando o prédio de volta aos monges beneditinos olivetanos aos 31 de agosto de 2020.
Nota do blog: A Prefeitura, como era de se esperar, devolveu o prédio em péssimas condições (até incêndio teve). Estive por lá e posso afirmar que dá pena ver o atual estado. Dificilmente será alugado sem uma reforma de grandes proporções.